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18.10.06

E o anel de rubi?

Não conheço nada do grupo de teatro "Plástico" que se encerrou no Rivoli. Nunca vi nada feito por eles, excepto uma espécie de poemeto-manifesto que terão feito publicar, que é, como poemeto, ainda mais fraquinho do que como manifesto.
A bem dizer, nem sabia que existiam. No entanto, o facto de eu não saber da sua existência não faz deles uma nulidade. Nem do ponto de vista da qualidade (sempre um bocadinho subjectiva), nem no que se refere à sua própria existência. Existem, provaram-me isso, eu é que não sabia.

Não gosto, por natureza, de grande salsifré. Sempre me chatearam gajos e gajas aos berros sem ser no futebol; mesmo no futebol, aliás, não raramente isso da berraria canalha me chateia. Já vi gajos e gajas, por exemplo, a berrarem em comícios de todo o espectro partidário português, em campanhas e depois delas, quando ganham, e isso irrita-me. É estúpido.
A questão de discutir se um grupo de pessoas pode ocupar um teatro municipal por não estar de acordo com uma coisa qualquer que envolve projectos de mudança desencadeados pelos representantes eleitos pelo dono do teatro (o dono é a cidade do Porto, que eu saiba) pode ser complicada, do ponto de vista político. Sobretudo quando os representantes eleitos pelo dono (o povo do Porto) são dum partido diferente do partido que o povo inteiro escolheu para o governar, bem ou mal, agora não interessa. Reparem que isto podia ser ao contrário do que é, tanto me faz.

Mas, se do ponto de vista da gestão política da imagem e dos actos este salsifré pode ser complicado, envolvendo direitos e deveres, dinheiros e vontades, egos e "játefodozinhos", maiorias e minorias, bom teatro ou mau teatro, teatro subsidiado ou teatro independente, o Luís Represas ou o Luís Filipe Vieira, já do ponto de vista do senso comum me parecem duas coisas:

1 - Trata-se ali duma forma de protesto não violenta, cujos contornos podem encerrar algo de pitoresco - e certamente encerrarão, acredito -, mas eu não conheço nenhuma forma de protesto que seja minimamente escutada (nem que seja para ser gozada, é sempre um risco que corre quem protesta, a humilhação, não sabiam?) se não envolver algum confronto. Vivemos um tempo em que se fala muito alto de cima para baixo. Os sossegadinhos costumam fazer mémé, bastante baixinho, quando se sentem um bocadinho fodidos e, geralmente, respondem-lhes assim: "nem mé nem meio mé, é para ali e já!". E eles vão. Estes do "Plástico", com ou sem razão, decidiram protestar e não fizeram mémé. Ocuparam aquilo. Isto é um facto. Não o discuto. Muito menos a sua bondade ou a falta dela.

2 - Quem quer cargos de poder, seja numa câmara, seja num governo, seja numa oficina de metalomecânica, tem de lidar com isto. E tem de saber isto claramente: o problema é mesmo com ele.
Bom. Se o "mandador" acredita mesmo que o protesto é ilegítimo, que prejudica a cidade - no caso é a cidade, penso eu, é a cidade que está em questão, não é? -, que aquilo não tem pés nem cabeça e, ainda por cima, contraria a lei (não sei se há alguma lei que proiba a ocupação de teatros sem haver espectáculo e/ou sem se pagar bilhete, deve haver, ou então aquilo há-de encaixar numa lei geral qualquer), tem duas alternativas:
a) Dialoga, vai lá, manda lá alguém, amansa as tropas, dá-lhes um bocado de protagonismo, aquilo demora meia dúzia de dias, e eles lá acabam por sair "não martirizados".
b) Não dialoga, assume isso, manda lá a polícia e tira-os de lá à força.

Agora, o que não pode é pôr-lhes o ar condicionado no máximo do frio, nem vedar-lhes o uso do quarto de banho, nem impedi-los de receberem comida, nem de comunicarem com o exterior. Se isto aconteceu, foi um erro e uma estupidez maldosa. Não pode ser. Eles não estão presos, não lhes foi judicialmente cerceado nenhum direito, não foram julgados. Estão lá.
Pode desligar-lhes a luz, isso acho que pode. Pode alegar que é uma despesa. Mas nem isso devia. O resto, decididamente, não. Até porque o ar condicionado no máximo gasta mais energia do que estando desligado e isso contraria o princípio de poupança que se pressupõe estar inerente ao corte de luz.

Rui Rio, a estarem as coisas passando-se como se tem lido, deve pensar que Pinto da Costa está por detrás disto.

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