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18.3.04

Notas soltas

Presume-se que estas notas prescindem, por comodidade, de clave definidora.

1 - Recebemos um mail dum amigo meu (e do Paco), um dos piores feitios a norte da cidade do Cabo. Não o transcrevo porque não possuo autorização expressa para tal aleivosia.
É meu colega. Benfiquista, vaidoso (obviamente, não por este vermelhusco motivo), profissional competentíssimo, anancástico até ao desespero, admirável e odioso pelos mesmos motivos, dependendo de quem o aprecia. Costumo dizer que é um pavão legitimado pela plumagem: um daqueles seres execráveis em que se pressente categoria, carisma, bondade, desmedido orgulho. A gente inveja-os, detesta-os, às vezes apetece bater-lhes exaustivamente, mas gosta-se deles. Uma desgraça para qualquer auto-estima, encontrar e tentar ser amigo dum tipo assim.
Acredito que vai escrever aqui, de vez em quando. Não lhe digo o nome, porque ele há-de adoptar um pseudónimo hispânico qualquer, como nosotros. Mas faço-lhe esta apresentação introdutória como um acto de justiça: ele é um sacana vaidoso e apreciável. Foi o único colega que me veio ver a casa, no ano 2000, quando parti um pé. E cantou-me os reis, em altura de difícil digestão da minha vida. E trata-me mal, diz mal de mim sempre que pode, o que lhe pago com prazer vingativo e amigável.
Mais não digo, os vaidosos legitimados já têm que chegue, dado por Deus.

2 - A Lolita, outra admirável vaidosona, distribuiu tarefas com a sua habitual parcimónia. Concordo. Entre ser kamikaze condenado a explodir de fita na cabeça (não, não sou o Vítor Baía) e ser um ruminante de pastagens suaves, por muito que me sofra, antes a fita. Bum. Por muito que me chore, a fita. Paciência.
Confesso que pensava ser o Direito "ciência" mais acessível que a Medicina. Enganava-me: a Lolita descobriu, sem esforço, que os corticosteroides são a panaceia mais barata do mundo inteiro. São os corticosteroides e a bonomia, o gostar dos outros. E eu ainda me esforço, hoje em dia, no entendimento duma "não sei o quê precatória" que me enviaram, pomposa e ameaçadora.

3 - Durão Barroso estava a ser apertado por quatro jornalistas quando deixei a sala e vim para aqui. Eu não gosto dele. Mas eu, também, gosto de pouca gente ao mesmo tempo. Eu acabo por gostar de quase toda a gente, mas em tempos diferentes. Não tenho capacidade de gostar de toda a gente que gosto, igualmente, ao mesmo tempo. Isso é bom e mau, porque também não os detesto todos ao mesmo tempo. Mas, em havendo tempo, há um tempo para tudo.
Por falar nisso, hoje é, pelos vistos, tempo de apertar o primeiro ministro, na nossa pequenez. Afirmo, sem sombra de dúvida, que me repugna a retirada das tropas espanholas do Iraque, agora. Zapatero, rapaz, tem tino. E espero que a nossa GNR lá continue, pelo tempo previsto.
Nunca degluti a invasão do Iraque, não me deixo conduzir por americanos (ou gaboneses!) de olhos pequeninos e vis. Mas repugna-me, causa-me azia, qualquer agachar-se sob ameaça. Um homem tem medo, mas aprende a viver com ele, sobretudo se a alternativa for uma inglória declaração de menoridade.
Não me façam discursos de "olhem que somos pequeninos, não merecemos atentados!". Merecemos, pois! Tanto como os outros!
Eu não quero nenhum atentado terrorista no Mundo inteiro, senhores! Mas não quero estar isento deles por favor, por cedência, por retirada soez. Pretendo que eles acabem, por princípio bondoso! Que se constituam excepção de loucos a exterminar (não merece respeito nenhum, quem mata indiscriminadamente). Mas que não me condicionem nas minhas decisões e na minha vida mais do que o inevitável: viverei com mais angústia, mas irei vivendo.
Que a retirada seja digna, por motivos nobres, de fundo. Nunca por ser, agora, politicamente correcto. Que nem acho que seja.

Para já era só isto.

Notei, outrossim, as prosas diletantes do Alonso e do Paco. Hão-de pagá-las, em tempo competente.

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