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13.3.04

Sonhos

Na Cidade da Praia, numa escada irregular que ia dar a uma rua de terra batida, parti, mais uma vez, os óculos. Desta vez sem que a queda tenha sido provocada por atrapalhação embaraçada, como já me aconteceu. E aquele sol é demasiado luminoso, pelo que tratei de saber onde podia comprar outros. Levaram-me ao Plateau, a baixa da cidade de arquitectura colonialista, onde existe a única óptica de toda a ilha de Santiago. Ao lado, havia uma pequena loja de artesanato, onde parei, a ver na montra umas curiosas miniaturas de motas feitas de latas de sardinha. Há muito poucas motas em Cabo Verde. E aquelas miniaturas eram tão minuciosamente perfeitas que imediatamente se percebe que, quem as faz, constrói sonhos.

Apresentaram-me, pouco depois, a presidente da Associação das Mulheres Cabo-Verdianas, à qual a tal loja pertence. Uma mulher alta, pujante, de olhar firme e seguro e sorriso rasgado, africano. Mais tarde explicaram-me que, durante décadas, tinha lutado ao lado do Amílcar Cabral, de G3 na mão, pelas matas da Guiné. Não quer ter nada a ver com a política activa, apesar dos repetidos convites. Sonha, ainda.

Lá comprei os óculos. Uns ray-ban caros demais, apesar de tudo os mais baratos das várias marcas internacionais que vendiam na única óptica de toda a ilha de Santiago, onde ainda há gente a construir sonhos e que vive bem sem os poder comprar.

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