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17.11.05

Uma coisa bonita e uma coisa feia

A coisa bonita fez a lolita. Escreveu-a. Quero lá saber se concordam, eu não faço perguntas a quem sabe menos do que eu. Ou a quem acho que sabe menos. Escolha minha, decisão minha, verdade absoluta. No que a este particular diz respeito, sim, eu é que sei.
Bom jogo, excelente jogo.

A feia faço eu. Estou com gripe, com o corpo dorido. Nada de grave. Vejo os doentes com máscara. Amanhã. Haverá menos desmaios de fascínio, eu sei, mas eu resisto a um dia de anonimato técnico. A gripe (ou o resfriado comum, que me parece ser mais o caso) dá má disposição.
De passagem pela televisão ouvi Pires de Lima a explicar que, quem desconta na vida activa inteira, 11% para "o fundo das reformas", "tecnicamente, não paga os vinte anos que andou a estudar, nem os vinte anos que ainda vai viver".
Eu gosto de Pires de Lima. Falta-lhe arcanho para ser um pugilista de mero peso-médio, mas cara já tem. E até parece bom tipo. Mas chateiam-me estas reduções técnicas quando se fala de coisas sérias e "finitas", que envolvem valores mais valiosos do que a técnica, passe a valia da técnica "itself". Envolvem os nossos velhos, os nossos "cansados da vida".

A coisa feia é esta, portanto: eu espero que Pires de Lima, já que os seus estudos de vinte anos estão pagos (e bem pagos) pelos meus pais, não nos sobrecarregue com mais de cinco ou seis anos de vida, depois de se reformar. Não sou eu que lhe digo isto, são os meus filhos. Os filhos dele poderão dizer isto aos meus, depois, que eu acho que Pires de Lima é mais novo do que eu. O meu filho mais velho faz amanhã dezasseis anos.
E assim sucessivamente, até que seja fornecido aos economistas e aos seus adoradores prostrados, em vida, por indecente e má figura, por verdadeira decência técnica, o papel que há-de competir-lhes por todo o resto da eternidade: um lugar no limbo das coisas precárias e acessórias.

Retiro o que disse sobre Pires de Lima e sobre os economistas. Estou com gripe. E é um tipo que até me é simpático, aliás, estou a falar a sério, emprestava-lhe o carro, gosto do queixo voluntarioso do tipo, punha-o a trabalhar para mim (se tivesse uma empresa, em lugar de emprestar o meu queixo espetado e com "pocinha" a uma empresa falida), se ele quisesse, mas duvido que quisesse, eu, trabalhar para ele.

Agora uma coisa média, nem bonita nem feia: desconfiem, sobretudo, dos tipos sem queixo. Um tipo com o queixo metido para dentro, a menos que aquilo traduza uma malformação, é um tipo infinitamente pior que outro que tenha o queixo para fora. É como se Deus o tivesse encolhido para caber melhor no purgatório.

Dezasseis anos. Ninguem dá os parabéns a um besugo que já fez obras primas, embora há muito tempo?

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