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30.5.06

O fenómeno explicado por quem não percebe nada da bola

Se for verdade que o gosto pelo futebol (lembro, sem se perceber nada da bola) pode servir de critério para definir estratos socio-económicos, graus de desenvolvimento moral ou sentido estético, é legítimo concluir que estamos perante um atraso civilizacional à escala planetária. Retiremos, por pureza de análise, desse largo espectro de populações idólatras dos ícones futebolísticos, as elites intelectuais que, auto-excluídas do futebol de massas, pensam o futebol e chegam a proclamar-se orgulhosos amantes da modalidade, desde que seja perceptivel por terceiros, nessa paixão futebolística, uma dimensão moral e estética muito acima do que é comum ou banal (de resto, extensível a qualquer outro fenómeno social). Desfeito o equívoco - isto é, esclarecida a pertença a estrato diferente - passa a ser socialmente correcto adoptar comportamentos neo-hooliganescos, que se recriaram à custa do estatuto, entretanto conquistado, de aficcionado intelectual - pressuposto essencial que se impõe esteja sempre presente em qualquer pronúncia pública sobre o tema. Por definição, qualquer análise será inevitavelmente credível e meritória, mesmo quando se limite a um esotérico "SLB, sempre!". Com a vantagem, se se apostar numa cuidada gestão de imagem, de se poder obter um gratificante séquito de admiradores incondicionais e acríticos.

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