O director do meio
O homenzinho, pequeno e envaidecido, estava há muito tempo instalado no pedestal do poder em que um qualquer acaso o investiu. Nas dúvidas calava-se ou, por cautela, opinava pelo "não", muito a medo, muito a custo. Nas certezas, gritava-as, triunfante, pelas regras estudadas de cor. Nos conflitos retirava-se, incerto e dissimulado, para que não lhe sobrasse o ingerível ajuste de contas. Aos fracos e aos novatos ordenava sem regra nem critério, enebriado pelo delírio do comando. Vivia acossado, sozinho, encurralado no último gabinete do corredor onde não passava ninguém, sentado em frente à secretária onde assinava as burocracias dos finais dos processos onde nunca participava a não ser para que se cumprisse o regimento. Nunca quis saber ao certo onde lhe falhava a eficácia, mas sabia-se tão fraco na frustre inabilidade que se deixou aprisionar de vez naquele sossego entorpecido, no dia em que se deu conta que nem os outros sabiam dele, nem ele os via.
<< Home