Allez!
O povo gosta de hinos galvanizadores, com melodias lineares, de compassos binários e letras simples, como "força, pá frente Portugale" ou "avante, campeões" ou, ainda, "a caminho da vitória". Por isso a Nelly Furtado se safou muitíssimo bem com o "coum'uma fourza" e o Ricky Martin, no Mundial de França, melhor ainda com o "tu y yo: allez, allez, allez!". Para tais propósitos, exaltadores de sentimentos patriotas que todo o português dedica - acima de tudo - à selecção de futebol, bastaria até uma melodia inspirada numa qualquer canção infantil, como aquela dos
patinhos-que-sabem-bem-nadar, que encomendassem, digamos, ao José Cid. Mas não. Desta vez, temos o hip-hip bera da SIC, que não entra na memória nem com muito boa vontade; o hip-hop da TSF, que ouvi hoje, consegue ser ainda pior - o que, só por si, já seria muito difícil. Adquirido que está, ao que parece, que neste Mundial teremos de nos amanhar com os hip-hop's para encontrar a motivação de mais este desígnio luso, cumpre-se, também aqui, a tradição portuguesa no Festival da Eurovisão: os hinos à selecção no Mundial correm risco sério de integrar o nosso património cultural na prateleira onde se guardou o, aliás saudoso, "dali-dali-dou". Que, aliás, conseguia não ser assim tão mau, visto à distância, redimido entretanto pela estética kitsch do novo milénio.
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