Com esta lei com certeza há mais raptos
É assim que um leitor do Público se inicia a comentar a decisão de suspensão da pena de quatro anos de prisão à mulher que raptou a bebé recém-nascida. O cidadão em questão gostaria, mais até do que de castigo exemplar, que a mulher penasse de maneira tal que a pena fosse, também, inibidora de crimes análogos. Eu espanto-me sempre que vejo, e vejo tantas vezes, pessoas transbordantes de certezas, a ponderar sobre comportamentos alheios. Li (*), um desses dias, a Fernanda Câncio (não consegui encontrar o texto no 5 dias) a reivindicar de maneira inflamada o direito da pequena Esmeralda aos pais afectivos; o que fez, porém, foi apenas escolher a opinião fácil, a opinião óbvia, enfim, a opinião de curto prazo. A menos que se trate de alguém que esteja em perda emocional, a quem tudo se perdoa e entende, duvido sempre da boa ponderação de quem não é capaz de sentir compaixão pelo erro alheio. Relações afectivas são relações complexas, carregadas da nossa incontornável imprevisibilidade e circunstância; e, de dentro do problema, ninguém pensa ou age com essa sensata e ponderada consciência do Bem e do Mal (podendo, até, acontecer que o Bem se torne circunstancial). Foi por isso que a mulher de Valongo raptou a recém-nascida. E é por isso que o Baltasar quer a sua filha de volta. Ambos já penaram, por sua conta, o suficiente para saber que não quereriam voltar a fazer o que fizeram. Mesmo que, neste pré-juízo de improvável reabilitação, tornem a fazer o que fizeram.P.S. Ler, até li; mas, pelos vistos, imputei a autoria do que li à pessoa errada. Por email, a Fernanda Câncio esclarece não ter escrito qualquer texto sobre o tema em questão. As minhas desculpas, portanto. Terei, entretanto, de procurar o autor correcto (isto é para eu aprender a não saltitar de blogue em blogue).
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