blog caliente.

15.10.07

Eu estou aqui mas apesar de estar aqui não é aqui que eu quero estar, ok?

O meu pai levava-me sempre a ver o Sporting quando jogávamos em Guimarães. Era mais perto de casa, seria por isso.

Íamos de manhã cedo, não havia auto-estradas, chegava-se lá por volta do meio dia, dávamos uma volta e íamos almoçar ao resturante Jordão. Não sei se ainda existe, o restaurante Jordão, perto do estádio. Ainda o Jordão nem era do Benfica. À volta, parávamos sempre em Amarante, para comer um prego no Zé da Calçada. Mas eu falo agora de idas, não de regressos.

Estava sempre cheio de sportinguistas, o restaurante. Naturalmente, os vimaranenses almoçavam em casa.

Agora um aparte: nunca vi o Sporting perder sem ser na televisão. Sabiam? Pois nem eu, até me lembrar agora disso. Minto: vi uma vez, nas Antas. Ia levando no focinho porque marcámos primeiro, no 2-1, e atrevi-me a mostrar contentamento.

Uma vez o restaurante Jordão estava cheio. O serviço demorava e o jogo era às três horas. Havia tempo, o campo era logo ali, escutavam-se já ao longe aquelas buzinas que ainda hoje se escutam nos jogos da Bélgica, da Áustria e da Suíça, países recessos, parados, países bons para fotografias de calendários de parede.

Numa mesa ao lado também havia só homens, mas eram todos adultos. Penso que nenhum deles teria filhos, porque senão ali estariam, com os pais. Iam nos aperitivos, aquilo do pão com queijo Zeca, o cerimonial das azeitonas.
O serviço demorava-se, derivado às inúmeras encomendas de lombo de porco e perna de vitela, e um dos homens bradou, sotaque alcantarense, como se fosse para toda a gente:
"Ó senhor empregado, isso demora? É que eu vim aqui para ver o Sporting, não vim aqui para almoçar no resturante Jordão, ouviu?"

O Sporting ganhou esse jogo, um a zero, golo do Nélson; nem foi o Yazalde que marcou. Mas esta foi a primeira vez que eu percebi que um adepto do Sporting pode ser estúpido, ou dizer coisas estúpidas. Está certo, depois disso também tenho relido algumas coisas que já escrevi e que, relidas, me reforçaram a "desfloração".

Quando escutei Manuela Ferreira Leite, ontem, a fazer de Grão-Vizir, lembrei-me do irmão dela. Dias Ferreira. Mas hoje, que o Sporting nem joga, ao escrever isto, é só dela que me lembro.

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