blog caliente.

19.12.04

A cinemática dos outros

Há umas semanas atrás pus aqui o retrato duma estrada que subia. Fui eu que tirei o retrato, mas não subi a estrada, fiquei ali a olhar para a boniteza dela. Não a subi, não fosse ela ser ainda mais íngreme depois da curva. Estava bem assim.

A estrada era esta:



Hoje deu-me para vos mostrar uma estrada que desce. Também fiquei ali a vê-la descer sozinha, bonita de sombria, não fosse encontrar-me ainda mais na sombra depois da curva.

A outra estrada, a que desce, é esta:



Não sabiam que há estradas que só sobem e estradas que só descem? Se não sabem, senhores, é porque estão sempre a bulir, sempre a mexer, sempre a percorrer estradas, para cima, para baixo. Assim nunca havemos de nos entender. Se nos pomos, só porque podemos, a percorrer todos os caminhos, acaba por nos parecer que fazemos parte deles. E não fazemos.
Qual a vantagem de provar que se pode subir e descer a mesma estrada? Já se sabe isso, pode-se quase tudo.

Prefiro estar ali a olhar, ver que uma sobe, que outra desce, vê-las subir até onde consigo, vê-las descer até onde posso. Deixá-las ir. Que as que sobem são sempre mais claras, é verdade. E as que descem mais sombrias, isso vê-se.
Eu não quero é misturar estradas só por ser curioso demais. Deixá-las ir não é uma desistência, é só decidir ficar, não ir com elas.

Tenho saudades do dia em que tirei ambos os retratos. Foi no mesmo dia e tenho saudades porque estava sol e porque foi um dia bom, mesmo não me tendo aventurado para lá das curvas da minha vista de homem parado ali.

View blog authority