blog caliente.

31.10.07

Texto para o Paulo Bento ler alto no balneário, antes do Fátima, enquanto o Veloso se penteia

Há três anos atrás pus aqui o retrato duma estrada que subia.
Fui eu que tirei o retrato, mas não subi a estrada, fiquei ali a olhar para a boniteza dela. Não a subi, não fosse ela ser ainda mais íngreme depois da curva. Estava bem assim.

Pouco tempo depois, no mesmo dia, deu-me para vos mostrar uma estrada que descia. Também fui eu que tirei o retrato. E fiquei ali quedo, a vê-la descer sozinha, bonita de sombria, não fosse encontrar-me ainda mais na sombra depois da curva, caso a descesse.

Preferia, na altura, estar ali a olhar, ver que uma subia, que outra descia, vê-las subir até onde conseguia, vê-las descer até onde podia. Deixá-las ir.
Que as que sobem são sempre mais claras, é verdade. E as que descem mais sombrias, isso vê-se.
Hoje já não sei. Já não prefiro. Aprendi que todas as estradas se sobem ou se descem, conforme se combina a disjunção.
Eu não quero é misturar estradas.

Continuo a ter saudades do dia em que tirei ambos os retratos. Foi no mesmo dia e tenho saudades, porque estava sol e porque foi um dia muito bom, mesmo não me tendo aventurado para lá das curvas da minha vista.

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