blog caliente.

13.10.04

Calmarias gratas

Hoje cheguei mais cansado que o costume, da urgência. Estou quase sempre de pé, não consigo sentar-me mais de 5 minutos, tenho sempre receio de que esteja alguma coisa a escapar-me. Cansa, tentar estar atento, nem que seja só pelo medo de errar, que é um motivo menos nobre, eu sei, que a atenção sem medos.

Mas cuido que o meu cansaço de hoje nem sequer foi causado pelos doentes. Os doentes são, em regra, excelentes pessoas que nos tratam bem se não os tratarmos como se fossem acessórios "chatos" da nossa alva indumentária. Há de tudo, as urgências são uma amostra de nós, mas é assim, em regra.

Não, hoje cansou-me outra coisa. Que, palpita-me, vai cansar-me mais vezes. Quem sabe, vai até cansar-me em permanência.
E essa coisa vai acabar por me fazer, mais uma vez, entristecer-me de mim, porque nos assanhamos sempre contra nós quando sentimos que nos tratam mal: "às tantas têm razão, são tantos, são mais do que eu...".

Falo de colegas. Em que não pressinto, no trajecto sinuoso, outro fio condutor que não seja a incoerência entre a elevada auto-estima de quem se julga forte e a desconfiança malévola da "tentativa de clareza do outro".
"O outro", foi como me senti hoje. Como noutros dias, há quase um ano, desde que decidi impor-me restrições económicas em prol da minha qualidade de trabalho, da minha vida. Do meu empenhado sossego, para que se não transforme, nunca mais, num desaustinado inferno de horas extraordinárias, que me gastam e consomem.

Não querem deixar-me. Hoje senti, claramente, que não. E vão conseguir, sei calmamente que sim, que vão consegui-lo, nas calmas.

Cheguei triste. Depois, afaguei os miúdos que me esperavam, amigos de sempre do pai que vai lutando para não estar sempre, para sempre, fora do seu tempo. Do tempo deles.
Jantei, tarde, mas bem. Em paz. Vim ler a lolita, a calma tensa e lúcida da sempre amiga lolita; ler as outras pessoas. Li, também, o Tunes, esse João que parece dizer a toda a gente, em cada escrito que lavra, por outras palavras, que "tudo pode ser diferente daquilo que é: basta ser afável, basta não ser estúpido, basta não ser mau". E fiquei melhor. E comovidamente grato.

Há-de ser da hora e do cansaço.

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