Ao contrito
Abri esta página e deparei-me com o regressado Alonso em plena encruzilhada existencial. Agora percebo o motivo da prolongada ausência: quando se atinge uma idade lapidar, impõe-se o recolhimento sabático necessário à reflexão serena sobre a conta-corrente dos ganhos e das perdas da maturidade. Pelos vistos, deu-se bem e para tanto nem precisa de pagar quotas em ginásios, porque diz treinar em casa - suponho que pratica halterofilia.No meio dessa reflexão profícua o Alonso refere, além dos fenómenos do momento - o Professor Marcelo e o indefinível fulano das plumas e paetês - o menos polémico fenómeno dos Tios que, pelos vistos, o incomoda. Se pensarmos, é sobretudo prático. Convenhamos: é menos estranho que os putos com menos de trinta anos - sobretudo se tiverem quatro ou cinco - tratem o Alonso por "tio Alonso" do que por "senhor Alonso". De todo modo, o tratamento por "tio" ("tiú", em Lisboa) é, de facto, um indicador de pertença a um dado segmento social que separa, sem qualquer margem para dúvidas, o vaudeville do possidónio. Como o é o cumprimento com um beijito (um apenas) displicente na face, este ainda mais ilustrativo dos hilariantes tiques dessa tribo emergente e que geram o já corrente embaraço de se ficar com a outra face (a segunda) à deriva. O segredo, digo eu, é tirar-lhes a pinta mesmo antes do(s) beijo(s): se usar fato cinzento e gravata de nó gordo, cabelo com ondinhas estudadas sobre as orelhas e elevar a voz para dizer "oiçaaa! você não vai acreditaaaar!" há fortes possibilidades de que se vai receber um beijo solteiro. O melhor será, em qualquer caso e ocorrendo dúvidas, deixar a cabeça e respectivas faces no exacto local onde está e esperar que o parceiro lhe dirija o ósculo, a ver se saiem dois. Poupa constrangimentos e suscita diversão.
Bom. Encerrada a rubrica de boas maneiras, cabe-me desejar ao Alonso, quarentão a partir de hoje, um excelente aniversário e uma excelente filha (menos enérgica do que a lolita aí de casa, a bem dos pais). Se não te importas, passo a tratar-te por "tio" de ora em diante, que eu ainda não fiz quarenta...
Parabéns.
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