blog caliente.

31.10.04

Lixo selectivo

Há um político, um político do aparelho socialista, que mora aqui perto. Há pouco tempo atrás, esse político teve um público desaguisado com o partido que lhe terá feito esmorecer a pequenita ambição de chegar ao poder autárquico - o poder que, em Portugal, mais se ajusta a uma gestão destutelada (e, portanto, desabrida) e que, para quem tem fígado suficiente, melhor serve de trampolim para negócios lucrativos e influências duradouras: é pequenino e interessa a poucos, o que garante a pouca ou, pelo menos, intermitente, intrusão dos media(*).

Esse político, dizia eu, zangou-se com o partido. O amuo, mágoa, fúria, seja lá o que for, que o ostracismo socialista lhe provoca fê-lo tomar uma decisão. Decidido que foi, tratou de executar. Tenho de tirar o PS da minha vida.

Hoje de manhã, junto aos contentores de lixo selectivo, já lá estavam os caixotes de cartão, cheios de livros, de recortes de imprensa, de registos partidários, de CD-ROM cheios de discursos, de medalhas comemorativas, de fotografias suas com notáveis do partido e do Governo, com outros autarcas e até com o Presidente da República. Limpou os resíduos do passado e respirou de alívio. Um verdadeiro divórcio, que lhe tornará o luto mais curto.

Umas horas depois, já os seus despojos de guerra tinham sido partilhados. Uns ficaram com os livros, outros com as papeladas, outros dividiram as fotos. A mim, mostraram-me algumas delas. Não é, porém, seguro que nenhum deles pegue no acervo que lhe coube e o vá mostrar... claro, aos media(*). E o político abandonado pelo partido, que tanto se pôs em bicos de pés para parecer o que nunca pôde ser, estará de novo na ribalta. Mais lhe valia ter esperado por uma fogueira do São Martinho para queimar tudo.


(*) A palavra Media é latina. A suprema e banalizadíssima parolice consiste em lê-la como se de uma palavra anglo-saxónica se tratasse. É mesmo media que se lê; não "mídia". Diz obrigado, besugo, pela acha que deitei na fogueira do Paes. Exultate.

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