O que pretende Marcelo?
Tomemos a evidência de base: muito mais do que frontalidade (ou a par disso) Marcelo possui notabilissimas inteligência e sagacidade. Muito mais do que emotivo, Marcelo é cerebral. Donde, o seu demorado silêncio, hoje quebrado em estilhaços, pode significar que cometeu um premeditado e intencional hara-kiri político, com efeitos devastadores não só no seio do PSD mas no seio de todo o espectro político e partidário.Ao explicar tudo o que se passou, sem sequer cuidar de evitar que se percebesse a forma obscena como foi pressionado, Marcelo rompeu com os ancestrais usos e costumes políticos em tudo a que respeite aos silêncios convenientes, ao tráfico de influências, às contrapartidas partidárias ou à cartelização de áreas eleitorais. A partir de hoje, Marcelo provavelmente tornar-se-á um proscrito da classe política: porque qualquer um deles pode vir a estar na berlinda, nenhum poderá confiar num homem que, a dada altura, divulgou o teor de uma cena explícita de pressão em tudo semelhante às que diariamente sucedem com outros protagonistas da política e da economia nacional e prosseguindo os mesmos exactos fins. A única diferença é que esta, por inabilidade do Ministro Gomes da Silva (o da tese da cabala subjectiva) e imediato aproveitamento de Marcelo, tornou-se pública. Não é inédita, mas é pública.
A ser assim, e como não acredito num Marcelo precipitado e inconsciente, nunca ele quis, afinal, candidatar-se a PR. De ora em diante, e depois de um providencial período sabático, colocar-se-á do lado dos críticos apartidários, onde dará largas à sua prodigiosa capacidade de influência das massas, ceifará estratégias políticas e promoverá novos talentos, eventualmente - quem sabe - num novo jornal, que ele próprio fundará à sua medida.
Isto não é, evidentemente, o que vai acontecer. É só o que me daria gozo que acontecesse.
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