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26.10.04

O Rocco, os pecados e os crimes

Não me parece relevante, para se analisar o grau de "modernidade" do Rocco, que ele distinga (pelo menos no discurso... eu desconfio dele, sim) entre censurabilidade religiosa e censurabilidade penal. Não é só pela via da penalização que se atribui desvalor ético aos comportamentos sociais; também o pode ser pela via da segregação, só para dar um exemplo. Parece-me é ser impossível que uma qualquer pessoa colocada em situação em que tenha de intervir sobre o bem-estar colectivo ou que tenha o poder, por qualquer forma que seja, de influenciar o curso da história, que o faça com total demissão das suas convicções políticas, éticas ou religiosas. É também por esta razão que tudo isto me parece um embuste.

Lembro, também, o Alonso (embora ele saiba, que eu sei que sabe) que o pensamento ultra-conservador Buttiglioniano não se limita à condenação da homossexualidade. O Rocco defende, por exemplo, que o homem é o protector da mulher e dos filhos e que o papel social fundamental da mulher é o de dedicar-se à família. Isto não é novidade, já o Ratzinger diz o mesmo. A questão é que o poderoso cardeal Ratzinger, que é poderoso no seio da Igreja, não foi proposto comissário da justiça, da liberdade e das garantias de um organismo supra-estadual laico - e o Rocco foi. O que defenderá ele, pergunto, no que respeita à implementação de medidas para a garantia da igualdade de oportunidades, por exemplo, no emprego?

O Alonso refere-se à forma ostensiva com que o Rocco mostra a sua condição católica destacando-a quase como um acto de coragem. Ora isto parece-me um preconceito virado do avesso. Não me tinha apercebido de que ser católico é uma condição não divulgável ou, pelo menos, contidamente divulgável. Tenhamos em conta, Alonso, outro dado não dispiciendo: nem todos os católicos são ultra-conservadores. A polémica da nomeação do Rocco não reside, assim, no facto de ele ser católico - o que seria, de facto, persecutório e absurdo, mas sim na circunstância de ele sustentar doutrinas incompatíveis com as actualmente unânimes políticas europeias da defesa dos direitos, liberdades e garantias em relação a, pelo menos, estas duas matérias: sexualidade e família.

Por isto tudo, espero eu que o braço de ferro entre o Zé Manel e os socialistas do PE penda para o lado destes. Em alternativa, e porque assim é mais democrático, espero que a nomeação do Rocco integre um período experimental de... cinco anos.

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