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28.10.04

A vichyssoise

É simples, Alonso. É evidente que Marcelo não mentiu. Repara:

- Foi o último a falar. Falou depois de Santana Lopes, de Gomes da Silva, de Paes do Amaral e, sobretudo, depois de todo o país ter percebido que, aqueles sim, omitiam o aspecto mais relevante do episódio de que cada um conhecia uma parte. Como naquele filme dos Irmãos Cohen, o Blood Simple, que acaba... enfim, não posso contar como acaba. Dele, até ontem, apenas se soube o mínimo indispensável - que se demitia da TVI, na sequência da dita conversa. E só depois de convocado pela AACS - só existindo pretexto, como se o assunto, por ele, estivesse encerrado - é que falou para pôr fim à bagunça (ou para iniciá-la de vez, pensando bem), mas não sem antes deixar que os outros se espalhassem ao comprido - pobres néscios - na suposição de que Marcelo se calaria para sempre quando ele apenas esperava pelo momento certo para regressar à boca de cena.

- Não vimos o Paes do Amaral a refutar com firmeza o que ele relatou. Viste? O que vimos foram evasivas, conceitos indeterminados, generalidades. Para refutar o que Marcelo circunstanciadamente relatou, seria necessário contrapôr factos aos factos de Marcelo. Esperar-se-ia, também, indignação pelo facto de Marcelo ter mentido e ter revelado pormenores de uma conversa que ambos tinham acertado ser sigilosa. Também nada disso se viu.

O que se viu foi que Marcelo, velha raposa, percebeu imediatamente que a médio prazo rentabilizaria o seu silêncio. Assim, limitou-se a comunicar o estritamente necessário quando a bomba explodiu, deixou, no entretanto, correr todo o marfim e só depois voltou, para contar a parte que ele sabe, que a ele em tudo beneficia e aos outros em tudo amarfanha. Até o Alonso, mais a sua boa vontade para com a coligação governante, percebe que isto é a única coisa límpida de toda esta história. Tal como a Vichyssoise, que não passa, afinal, de uma sopinha aguada, só traumatizante para o Ministro de Estado, da Defesa e do... pois, do Mar. Ainda não é desta que o Portas se reabilita daquele barrete que tão candidamente enterrou(*).


(*) A faceta cândida do Portas é algo que me dá uma enorme vontade de rir...

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