blog caliente.

31.10.05

Porque é que eu voto no Poeta

Gosto de políticas e de políticos socialmente solidários. Acredito na necessidade de um estado protector dos desfavorecidos e suficientemente interventor para redistribuir a riqueza de forma a assegurar o nível mínimo de bem-estar a todos, sem cuidar de saber, nesse nível mínimo, da contribuição de cada um para o bem comum. A democracia cumpre-se, acima de tudo, na dignificação da cidadania e é indigno, para um país, que se assista passivamente à acumulação desenfreada de riqueza sabendo-se que há quem passe fome todos os dias. Fome de tudo. Isto para falar, apenas, em exemplos extremos de indignidades reais.

O besugo acusa-me, muitas vezes, de ser "equidistante" sempre que critico partidos ou políticos (o que acontece muito) ou mesmo quando os elogio (o que, enfim, acontece pouco). No fundo, acusa-me de indefinição política, o falsário. Mas tenho a informação - privilegiada - suficiente da vida partidária de aparelho para não ter qualquer ilusão grandiosa a esse respeito. Conquistar o poder é um iter com tendência irresistível para o apodrecimento decadente. Para além disso, custa-me muito perceber o que é ao certo a disciplina partidária, esse fenómeno que determina a escolha, por obediência ou gregarismo, do povo eleitor. Nunca me filiei em partido algum, acho que nunca me filiarei. Mantenho, e quero manter, a distância suficiente para, em cada momento, escolher o que melhor me parecer (ou não escolher, se for o caso) sem que me seja apontada incoerência ou até, para os mais fundamentalistas, actos de traição à causa.

Isto já vai longo e parece (calma, é só pelo tamanho) um manifesto político. O que quero, na verdade, é dizer porque é que decidi apoiar e votar em Manuel Alegre.

Antes de mais, por simpatia (ou empatia). Simpatiza-se muito facilmente com alguém a quem tiraram o tapete sem que para tal rasteira tenha contribuído e, pior do que isso, em favor de uma segunda escolha que, num raciocínio estupidamente serôdio, pensava Sócrates dar-lhe mais hipóteses de vencer o professor – mas que, afinal, dá todos os sinais de vir a ser humilhantemente derrotado. A menos que desista, no que faria um favor a si próprio e ao país, obrigando Cavaco Silva a disputar a esquerda unida numa segunda volta.

Mas não se escolhe um candidato apenas por sentido de justiça. Manuel Alegre é um político limpo e impoluto. Lembra-nos do amor à pátria. Orgulha-nos, pela consistência do ideário. Mostra, na incontornável vaidade pessoal, a exacta medida da firmeza de carácter. Em tudo, está nos antípodas da astúcia, sarnenta e inconsequente, daquele por quem foi preterido. O super, pois.

Muito me custa, por último, saber que há possibilidades reais de que o próximo presidente da república seja um homem certinho e organizado, daquele tipo que acorda muito cedo para o cumprimento do dever e manda trinta mails às sete da manhã sobre os factores decisivos de desenvolvimento da economia, sobretudo para que fique registada a hora nas caixas de entrada dos destinatários. Da minha parte, combatê-lo-ei hasta la muerte! - ou até perceber, se for o caso (que não acredito), que será Soares o adversário da segunda volta. Se assim for, e seja quem for que vença, só vencerão os aparelhos e os satisfeitos.
Não os homens de ideias. E de ideais.

Valha-me Santa Teresinha!

Se bem percebi a notícia, o advogado José Maria Martins sugeriu, eventualmente no tribunal, que fosse feito um exame pericial aos ânus dos arguidos no processo Casa Pia, baseado nuns estudos (vamos admitir que existem, esses estudos, não os conheço; mas mesmo que existam são irrelevantes para a questão) que apontarão para o facto de, algumas vezes (ou muitas, ou poucas, não interessa), os pedófilos serem, simultaneamente (ou em tempos diferentes), homossexuais passivos.

Que vem a ser isto?
Como é que se pode sugerir uma coisa destas?
Que se pretende provar com isto?

1 - Duvido que, mesmo perante ânus com sinais de "arrombamento" (cicatrizes, perdas de elasticidade esfincteriana e de continência, eu sei lá que mais!), se consiga estabelecer, só por aí, um nexo de causalidade entre essa eventual evidência e a penetração peniana. Quanto mais com a homossexualidade, que é uma questão mais abrangente. Mesmo que passiva.

2 -Mesmo que fosse possível demonstrar, inequivocamente (e não é) que "aquele penetrado ânus" só o poderia ter sido (penetrado, sim) por "erecto e alheio pénis" , apenas se demonstraria que o arguido teria, nesse caso, sido sodomizado, independentemente do seu gosto por esse tipo de comportamento.

3 - Os tais estudos (que, repito, não conheço, mas admito que os haja; e, em os havendo, é possível - mas não obrigatório - que sejam válidos) referirão que parece existir especial tendência para a homossexualidade nos pedófilos. Mas não apontarão o contrário, ou seja, que haja uma especial tendência pedófila nos homossexuais.

4 - Assim sendo, o mais que se conseguiria dizer, dum arguido que tivesse o ânus em mau estado de conservação, seria que "talvez, talvez, muito talvez, tivesse sido sodomizado".

Que acrescenta isto de relevante a um julgamento que se pretende, como todos, sério? Absolutamente nada.

É despropositado e, pior do que isso, parece malicioso. Penso, até, que, em não se tratando apenas de chicana, estamos perante uma perfídia.

Adenda: como o Dr. José Maria Martins tem um blog, apesar de a matéria em questão não ter sido abordada lá, decidi colocar, ali em cima, a ligação. Uma figura pública interpela-se onde se pode, quando se sente que há motivo para isso.

Em complemento...

Gostei do título, antes de mais. Conceptualmente, "Porque sabe bem" situa-se entre um anúncio à margarina Vaqueiro e um ensaio sobre filhotes e horários de Inverno, como aquele que abrilhantou a caixa de comentários do Francisco e que o besugo, ali em baixo, tão cruelmente maltratou.

Entretanto, devo pedir a ambos, caros Luis e Carlos, que desculpem o besugo. Eu mandei-o, ainda há pouco, dirigir-vos um post simpático e cortês, em não mais do que cinco linhas. Sabia que, em qualquer das suas dimensões, era meta difícil, senão impossível. Mas nunca, nem em sonhos, me passou pela cabeça que saíria aquilo que viram. Um hino à megalomania. Uma obra-prima do auto-endeusamento. Céus. Que vergonha a minha (a nossa: o Alonso, tu ajuda-me). Como julgo que sabem, ele não é sempre assim; quando lhe corre mal a jornada, piora. Mas depois passa.

Muito obrigada, Luis e Carlos. Um beijo solidário, claro, para a Tia Lolita.
E tu, besugo, vai varrer o chão da oficina, que já vai para três meses que andas armado em contra-poder. E espero, espero mesmo, que o Sporting comece a ganhar alguma coisa, a ver se te entreténs com isso e te deixas de aleivosias contra a Católica.

Porque sabe bem

O Tugir distingue-nos e nós agradecemos. Por ser uma distinção que nos coloca em boa companhia e, também, por ser o Tugir.
O "Tugir" é um companheiro antigo, daqueles que se escutam por serem sérios sem fazer da seriedade uma carranca. E por se lhes sentir alma e serenidade mesmo na divergência. Não é fácil.
Lembro-me que, há dois anos, perante um problema qualquer com o template do blog (eu não sei se já vos tinha dito que sou, praticamente, um génio da informática), de que me queixei em público, o LNT não esteve com delongas e mandou-me um e-mail com instruções claras, que me resolveu o problema. Ainda o guardo, a esse e-mail (sobretudo para não fazer a mesma figura, da próxima vez).

De nós diz, o Tugir, que somos um "blog quase íntimo de gente bem disposta (às vezes) em troca de galhardetes permanente".
Diz mais coisas, algumas imerecidas por demasiado generosas: nós não escrevemos assim tão bem, embora tenhamos a noção de parecermos, ao pé do Luís Delgado, uma coisa qualquer entre Eça e Camilo, uma espécie de vertigem um bocado híbrida de talento aos solavancos. Além disso, só a lolita sabe dançar o tango, eu embaralho-me com os vitorinos; e há, mesmo, quem pense, vendo-me dançar, que estou a convalescer duma doença neurológica qualquer. Já o alonso é mais dado a valsar e ao "hip-hop" (embora seja forçado a tomar broncodilatadores entre músicas).

Mas a definição que realcei ali em cima encanta-me. Penso poder dizer, em meu nome e no dos meus colaboradores (leia-se lolita e alonso, leia-se assalariados, e note-se que digo isto para acabar de vez com a cultura, ou seja, para ver se eles acabam comigo duma vez), que o blogame mucho agradece, sobretudo, aquela frase certeira, só possível de ser dita por quem, de facto, perde algum do seu precioso tempo connosco.

Um abraço e obrigado
besugo (e as outras pessoas, cuido eu que sim, que também agradecem).

Claro, depois dá nisto.

Caro Francisco: eu calculo que partilha comigo a ideia de que, quem inventou a hora de inverno, merecia ser empalado por dezassete zulus. Simultaneamente ou por turnos.
Eu digo isto, que calculo que partilha, pelo seu permanente e invejável tom bronzeado, evidentemente. E pelo seu tropical e quase obsceno (o que faz a inveja, meu Deus) deambular pelos verões do mundo, coisa que já me fez desejar-lhe, ao menos, dois anos de prisão. Enfim, três meses, pronto. Mas efectivos!
Se não for assim, se não partilha, desculpe: não partilha e pronto. Também, você é portista, pronto, percebem-se certas incongruências.

Agora veja só isto: se eu tivesse uma caixinha de comentários, como você tem, de certezinha que o anónimo que lá foi derramar-se de poesia, a meu respeito, nos termos que transcrevo deleitado ("um desabafo infeliz de quem não tem a felicidade de ter um filhote, daqueles filhotes que acordam cheios de energia e felicidade às 7 da manhã, felizmente a partir de hoje, mais manhã do que noite") , iria declamar a "cartilha maternal da jovem sopeira ainda no puerpério" na minha pobre caixinha. Eu digo "maternal" e "no puerpério" porque é uma frase de gaja, aquilo. Ou seja, deve ter sido um gajo que a escreveu, que um tipo demasiado babado por ser pai consegue convencer-se que foi ele que mamou com a episiotomia... ou com a raqui! E digo "sopeira" porque aquilo é uma frase típica da "Maria" - enchi-me de participar no consultório sexual e sentimental desse excelente e pequeno magazine - ou do Manuel Luís Goucha, em versão potente e terna (uma espécie de Seat Ibiza com aillerons e saias).

E, lá está, eu ia ter de lhe responder uma coisa deste género:

"Ó cromo: eu, desses que tu dizes, cheios de vida e felicidade, tenho dois; e, mesmo assim, mantenho o que disse. Não gosto do inverno e gosto que anoiteça tarde. Não lhes chamo "filhotes", como tu, porque prefiro chamar-lhes filhos, mas tu estás à vontade para chamar às tuas crias o que quiseres. Para ti, por especial deferência, havia de ser sempre inverno e sempre noite. Mais, tu havias mas é de ser um lapão a meio tempo e um imbecil no tempo restante. Ou seja, só te faltaria a parte da Lapónia, que o resto da noite já tu tens em ti que chegue e não há aurora que te salve!".

Como não tenho caixinha de comentários, escuso de me dar a este trabalho e a esta maçada. O que me acalma e descansa. E me inebria da felicidade dos justos.

Claro que isto não tem nada que ver com aquela desgraçada exibição no Bessa, eu nem vi o jogo, não ligo à bola, como sabe, não se ponha com coisas.

30.10.05

Calma!

Para as portuguesas e portugueses que apreciam tanto Cavaco que vão votar nele mesmo que ele, como é previsível (e, mesmo, inevitável), desista, explico solenemente o seguinte:

1 - O problema não é ele ter uma reforma por ter sido primeiro-ministro (que é uma actividade política honradíssima).
2 - O problema é ele negar, parecendo honrado com isso, aquilo que é.
3 - Mais e pior: é ele dizer estas barbaridades de "mau presidente da junta independente", esperando que os senhores se sintam honrados com ele, como se vos pedisse que comungassem, só porque lhe vem das mãos, qualquer hóstia mal benzida que vos estendesse.

Ah! E falta a turma do "bamulábêre!"

E, claro, hão-de vir aí os moderados. Os moderadores. Os comentadores profissionais. Os "não vou lá nem faço missa, no entanto!"

"Bom, de facto, foi um tiro no pé. Mas que os portugueses não se esqueçam que ele tem dois pés! E dos grandes serviços, etc..." (deixem-no debater, deixem, que vão ver que dá tiros nos ossículos todos do corpinho, nem é só nos calcantes).
"Ele queria dizer que não é político profissional do ponto de vista moral, era só isto, seus palermas!" (pois, evidentemente, corococó).
"É claro que tem uma reforma! Ele trabalhou! É como os outros!".

Este último há-de fazer-me rir outra vez, porque é exactamente disso que se trata: no máximo, neste particular, é igualzinho aos outros! Mas é no máximo!

Oxalá o Luís Delgado se refira ao tema. Palavra de honra, é uma esperança que eu tenho.

Duvido que se cale...

É claro que ele esbracejará:

"Eu fui primeiro-ministro, mas nunca fui político profissional!"
"É muito diferente!"
"Os portugueses conhecem-me!"
"Deixem-me trabalhar!"
"Eu, basicamente, de política, fiz uma rodagem!"
"Não me limitei a sair do PSD, também abdiquei da reforma, que tenho depositado numa conta destinada à construção do novo parque infantil de Sobral de Monte Agraço!"
"Etecétara!".

Águias da Areosa?... Passarinhos de Boliqueime!

Pronto, passa já...

- Eu não sou profissional!
- Então és o quê? Amador? Jogas no Águias da Areosa, é?

(eu não consigo...)

Ai ele é professor da Cat... Ah!

Desculpa lá, lolita, mas a "politiquice" pode ser engraçada, de facto. E útil.

Tu já viste o tempo infinito que o professor da Católica (mais seus encefálicos apêndices, mesmo a Kátia, a Kátia também deve ter tratado disso tudo, com minúcia) gastou a congeminar a sua aparição aos pastorinhos, a tentar vender a imagem do "ser praticamente virginal, de túnica", tudo para agora se perceber que lhe desfazem o "praticamente", o "virginal", mesmo a "túnica", duma penada só? Ficando ali, nuzinho, só o "ser", igualzinho aos outros todos, afinal, nessas castidades que o professor da Católica cuidava serem só suas?

Concedo, pode ser "politiquice". Mas, nesse caso, ele é que começou. E penso que gozar com isto até à exaustão não é "baixa política" e não deve ser exclusivo de nenhum candidato. Nem de ninguém. Eu, por exemplo, que não sou candidato, hei-de falar disto algumas vezes, ao menos enquanto me fizer cócegas lembrar-me do professor da Católica assim... despenteado.

Quem é que decide estas coisas?

Pronto. Vai anoitecer mais cedo, outra vez.
Já não basta vir aí o inverno, ainda temos de lhe adoptar a puta da hora.

Aos tipos que gostam do inverno, e aos que acham bem que fique escuro mais cedo, havia a noite de lhes começar às onze da manhã. Todos os dias.

Beto e Miguel Garcia? Tá bem.

Palpita-me: feitas as contas, amanhã, ainda vamos concluir que os tipos, em lugar de terem perdido dois pontos, nos ganharam foi (mais) um.

Luta na lama

Sempre que Cavaco Silva diz que não é político profissional, está mais a apontar um defeito a quem o é do que uma qualidade a si próprio. Como está bom de ver, isto qualifica-o, do ponto de vista da lisura, até porque ele decidiu (melhor: foi aconselhado) que surgiria aos eleitores com uma postura austera e espartana - porém olímpica - e que se portaria como um anjo durante a campanha, no que respeita a críticas aos adversários.
Foi, por isso, hilariante a farpa que Mário Soares lhe dirigiu hoje sobre a reforma que ainda recebe por ter sido primeiro ministro. Trata-se, evidentemente, de politiquinha, essa área nobre do saber em que Soares é exímio. Mas, neste caso, é cirúrgica. Forçá-lo-á, ao professor, a tirar a máscara.
Entretanto, confio firmemente que Manuel Alegre deixará o trabalho sujo (este e os que virão) para Soares. Que os deixe discutir, além do limite do suportável, o que é um político profissional ou qualquer outra irrelevância que lhes apeteça arremessar um ao outro. No final, espero eu, o primeiro fica desempregado e o outro volta para a Católica.

29.10.05

Episódios de um orfanato

Tivémos hoje o grato prazer de saber que o CDS-PP, embora pequenino, não descura o cumprimento do dever. Com a solenidade que o momento impunha, juntaram-se todos os notáveis para discutir e deliberar, conscientes de que a decisão que dali saíria era decisiva para os resultados das presidenciais e de que o país conteve a respiração, enquanto aguardava o veredicto. Tudo fizeram para não parecer que estavam a cumprir calendário e o ajuntamento foi, aliás, amplamente coberto pela comunicação social.

O dilema que se lhes colocava consistia, resumidamente, em decidir se o partido apoia Cavaco Silva ou se o partido apoia Cavaco Silva. O debate foi intenso, mas o partido estava coeso e em total harmonia. Ficou claro, no final da votação, que todos querem que o CDS-PP apoie o candidato que não for de esquerda.

O homem do Compal Light não desiludiu o seu mestre (o ex-ministro da Defesa que acha que só saiu bronzeado do governo), ao agitar as hostes com uma moção que defendia que o partido apoiasse Cavaco Silva, mas com mais convicção.

Eu bem te topo

Eu sei, lolita, que me empurras para a redenção, sempre que podes.
Estou de acordo contigo. Até por isto: um dia, um imbecil que acabou por se licenciar num ramo da engenharia que lhe permitiu dar aulas de uma merda qualquer no liceu, antes de casar com a filha dum industrial que o libertou dessas maçadas, disse-me: "olha, besugo, tu dizes que o Marco Paulo é uma bosta dum cantor, que nem autor é, mas ele é que o ganha, ao pilim!".
Este imbecil, que desconheço se ainda vive, mas deve viver, o enterro dele há-de vir nos jornais, com o destaque que é devido aos pensadores, é o emblema dessa parte de portugueses de que falas. E da outra parte também.

Este cromo há-de achar, ainda hoje, que se der um beijo numa perdiz assada, apanha a gripe das aves e pode morrer dessa doença sexualmente transmissível; não percebe porque raio ainda não há uma vacina para os seus receios; e, ainda por cima, se lhe derem oportunidade, berrará que "isto é tudo uma escumalha!" para um dos microfones que por aí há, à espreita das reivindicações dos descerebrados. Eu depois ensino-te a reconhecer um descerebrado.
Com sorte, terá direito a título de jornal: "Mais um português vítima de negligência refere que isto está tudo mal!". E ninguém lhe dará um porradão na cabeçorra por nem sequer conseguir explicar o que entende por "isto": fará um gesto vago e amplo que, num amplexo chulo e afadistado, abrangerá a própria mãe, se estiver num dia normal de flatulência, derivado à chispalhada.

Não. Por agora não sigo o teu conselho (leia-se "provocação"). Importa manter os níveis de confiança do Tino, quando não ele amaina, afrouxa, vai-se embora. E perde-se a piada da coisa.

Efeméride importante

Ao que não importa, não se deve dar importância. Ao que importa, dá-se sempre - sem que seja, sequer, preciso ostentá-la.
O que importa, na verdade, é que o Nuno Guerreiro constrói a Rua da Judiaria há dois anos. Muitos e merecidos parabéns.

Sondagens

As sondagens de opinião, em política, deviam ser proibidas. São pívias perversas. Se eu mandasse, acabavam.

No futebol também. Vi uma (enfim, não é uma sondagem pura e dura, eu votei três vezes...)que apurou ser Beto o segundo melhor defesa central do Sporting de todos os tempos. Atrás do André Cruz mas à frente do Luisinho, do José Carlos e do Alexandre Baptista, por exemplo. O meu pai ficou descompensado, evidentemente.
Eu já fico suficientemente irritado pelo simples facto de o colocarem, ao Beto, à frente do Venâncio. Que diabo, o Pedro Venâncio só tinha aquele problema nos joelhos que o fazia estar sempre no estaleiro. Não havia mais nada de estruturalmente defeituoso no Venâncio, fora isso.

Outra coisa que, se eu mandasse, inibiria a capacidade eleitoral dum indivíduo: o facto de considerar que o problema da defesa do Sporting é o Polga. Não votavam. Para ser sincero, abatia-os à lista de eleitores e fazia-os, mesmo, engrossar a lista dos fiéis defuntos. Antes que se resolvessem como pequenas divindades potenciais votando no candidato do PSD, Mário Soares. Ou no do PS, Cavaco Silva.
Lê-se, para efeitos do Diário Económico, Cavaco & Silva. E Belmirinho, esse ilimitado. Topam bem a deriva que por aí vai?

Medidas simples (unidade métrica: o senso comum)

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Este ano, já que circula aí tanta informação, tentemos passar esta ideia adicional aos portugueses todos:
Não tenhais vergonha, portugueses. Alguns de vós (sobretudo os que trabalhais em marketing e em análise política), tendes, mesmo, focinheiras suficientemente horríveis para beneficiarmos todos desta medida. Mesmo que estejais saudáveis.

A sério, pelo amor de Deus: mesmo com a gripe comum, a de todos os anos, quando estiverdes com ela, ou apenas com um resfriadozeco, ó portugueses, ó europeus, ó mundo, quando andardes por aí a espirrar e a tossir, pelos autocarros, pelos botequins, pelas ruas, pelos cinemas, pelos hospitais (a pedir o teste da gripe, "eu quero já, mas é, o teste da gripe, caralho!"), usai a mascarinha. Sim?

É uma medida simples, embeleza cerca de 68% de vós, é barata, é eficaz e é, acima de tudo, civilizada.

28.10.05

Jornais e leitores: como fortalecer a relação.

Metem-nos pelos olhos adentro, as suspeitas. O repórter moderno fucinha tudo e todos, até encontrar a matéria própria para matar a sede da justiça popular - os podres dos notáveis e dos notórios que apaziguam a consciência moral do leitor.
Isto é simples de perceber. O leitor, posto perante uma suspeita de nepotismo, toma uma de duas atitudes, do ponto de vista moral: ou se reconforta na certeza de que está tudo mal mas que a culpa não é sua; ou imagina-se na posição do prevaricador, num arrepio de prazer perante a perspectiva dos benefícios do pecado e concluindo, sabiamente, que "no lugar dele, faria o mesmo".
O leitor do primeiro tipo é o típico ajuizador. Quer saber, reclama o direito de saber e exorta todos a querer saber também. Sabe-se que sossega assim que o cambão, fraude, pecado ou heresia é denunciado. Exulta, vitorioso, assim que os responsáveis são acusados, porque o prazer ajuizador se esgota na acusação, em relação à qual a certeza da culpa é só um epílogo.
O leitor do segundo tipo, como é sabido, é o leitor que elegeu a Wonder Team das autárquicas, que não honram a nação mas, ainda que com embrulhos suspeitos, trazem riqueza aos munícipes. Como super-heróis, são venerados pelo leitor astuto, espertalhaço, neo-existencialista, que só sabe, sem saber, da amoralidade.
Ciente desta plateia de leitores, o repórter moderno navega, em velocidade de cruzeiro, à cata de escândalos, negligências, dolos, negociatas, nomeações, rendimentos acumulados, rendimentos escondidos.
Há classes profissionais mais permeáveis do que outras a este tipo de investigação jornalística, dirigida à morbidez de quem lê. Mas isso é tema vasto.
O besugo devia falar nisso, em vez de se dedicar a chatear o Tino.

Adoro quando um plano corre bem

Incapaz de resistir às minhas pressões, Cavaco não teve outro remédio: candidatou-se.
Agora, entramos na segunda etapa do meu plano: obrigá-lo a ir até ao fim.

Comecemos.
O homem não quer. Ele duvida das sondagens, o que não admira: eu vi uma, hoje, em que entrava, até, o Paulo Portas! Também não faz mal: aqui "há atrasado" houve sondagens em que Cavaco entrava e o distinto ex-primeiro ministro algarvio ainda estava a passar "Tabu" nos sovacos, já nada me admira.
Enfim, admira-me que ele persista: os portugueses são inteligentes (embora, como somos discretos, nos armemos em parvos sempre que nos dão oportunidade) e não deixarão passar em claro uma excelente ocasião de punir Sócrates. Refiro-me a foder-lhe o presidente da república que ele almeja, exactamente: o senhor professor.

Não. Pelas minhas contas mais recentes, probabilidades de pandemia incluídas, com eliminação selectiva de parte significativa dos portugueses que querem que o país vá pá frente, 35% dos votos é o máximo que Cavaco vai conseguir. E, mesmo para atingir esta marca miserável, vai ter de contar com cerca de 80% do eleitorado convicto do BE, o que significa que até Ana Drago está, neste momento, em período de reflexão. E com o voto colectivo da família Portas, passe o pleonasmo parcial, que é inevitável quando se tenta separar a família Portas por ideologias. É mais fácil uni-la, mas isto é uma mera impressão pessoal, destituída de rigor científico.

Não. Isto, em correndo mesmo bem, vai desaguar numa segunda volta entre Manuel Alegre e Mário Soares. Só não será assim se os portugueses estiverem, na sua maioria, possuídos duma encefalopatia qualquer, uma coisa apaneleirada, uma virose.
Para já, porque haverá melhores debates se for como eu digo (alguém está genuinamente interessado em ouvir Cavaco debater seja o que for, seja com quem for, a menos que esteja num período oligofrénico da sua existência, ou doente dos intestinos?); depois, porque, perante uma pandemia qualquer, é sabido que Cavaco vai entrar em pânico e pedir uma calculadora que converta vírus em euros. para se orientar. E eu (e a maior parte dos portugueses que não são impotentes, nem imbecis, nem moles do corpo) antes quero um presidente da república que, nessas circunstâncias adversas, me venha dizer coisas simples ao local de trabalho. Do tipo "não saias daqui, não metas baixa, aguenta-te!". Um tipo com voz grossa e barbas, que fale comigo.

Há-de haver mais razões mas, por agora, chegam-me estas.

Aforismos

"Questionado sobre a fuga de informação relativamente à decisão do TC, noticiada há já vários dias por diversos jornais, Artur Maurício considerou-a "lamentável, mas corrente" e frisou que estes processos "passam por muitas mãos"."
(Público, parte grátis)

É. Isto é como a água da torneira em Vila Nova de Milfontes, no verão (lamentável, mas corrente), e como as pombinhas da cat'rina...
Isto anda mas é tudo ligado.

CDS-PP saúda decisão de Sócrates de manter compromisso do referendo*



Para se ter uma ideia de como se saúda no CDS-PP, aqui estão eles, em pleno acto.

*Aqui.

Não, só café, por favor

Quando contamos a verdade toda, que chega sempre um dia em que temos de a contar, é praticamente impossível não jantarmos, ao menos na noite da revelação, com a sensação funda de sermos um bocadinho filhos da puta. Não somos, mas parece-nos.
Invariavelmente, telefonamos à nossa mãe, em lugar da sobremesa.

Olhos

Quando, à cabeceira duma mulher agonizando numa apoteose de dezasseis lustros, já embrulhados (por dentro) no papel pardo dum cancro antigo, um filho mais velho do que nós nos pergunta "senhor doutor, é grave?", sabem o que é bonito e nos adoça?
Os olhos dele. Haviam de os ver.

27.10.05

Até à derrota final

A sondagem hoje divulgada sobre as intenções de voto nas presidenciais demonstra o desastre da estratégia bacoca de Sócrates. Cavaco Silva permanece intocável, a caminho da vitória à primeira volta. E Manuel Alegre, sem esforço significativo, ultrapassa, em intenções de voto, o candidato apoiado pelo PS. Só não causa espanto, esta inabilidade de Sócrates, porque é de Sócrates que se trata. É cada vez mais notória a valente cavalada que significou para o PS renegar Manuel Alegre em favor de uma figura de cera. E tudo isto pode ser o princípio da derrocada socratiana.
Para bem de todos, o PS está, pressente-se, a caminho de uma qualquer renovação.

26.10.05

Bonomias

No Blasfémias (sem link) faz-se link para o Timóteo (sem link aqui, mas não precisa, porque o link está lá, no sarcófago do Comércio do Porto alargado) mas não se faz para o Dragoscópio (também sem link, já agora), por exemplo.

Parece-me bem, não me incomoda, porque eu sei o endereço do Dragoscópio, conforme sei o do Blasfémias. E vou lá quando quero.

Por exemplo, o Dragoscópio é este. Isto é serviço público e é de borla, até ver.

Por outro lado, temos isto. É um inquérito à Badaró.

O Jardim Zoológico vai fechar? Não. Para já não, que se saiba. Não lê a OMS?
Que guarda-redes estarão impedidos de alinhar na próxima jornada? Os que os treinadores decidirem deixar no banco, ou na bancada; os lesionados; os castigados; o Quim; os guarda-redes do Passarinhos da Ribeira, do Rio Ave e do Desportivo das Aves. Não liguei para Freamunde a saber dos capões...
A proibição do "Lago dos Cisnes" será um acto de censura? Sim, evidentemente que sim. Costumam ser gajas a fazer de cisnes, não sabia? Ou sabia e mesmo assim, enfim?
O que se faz aos patos dos lagos e jardins públicos? Privatizam-se, fica você com eles e amanha-se com os patos, os lagos e os jardins. São seus, decreto de besugo. Faz-se-lhes isto e é merecido: para eles e para si.
E podem-se abater livremente as porcas das pombas que infestam a baixa? Rui Rio, estão aqui a fazer-lhe perguntas complicadas. Importa-se de chegar aqui a este senhor?

25.10.05

Sem qualquer fundamento

Os candidatos presidenciais apresentam-se. E quem quiser que venha atrás!
Ora, isto é a balela mais recente.

De Cavaco não falo. É por demais evidente que andou a encenar (e tempo demais, aquilo fazia-se em Julho ou Agosto da mesma maneira e com o mesmo efeito) a sua independência. Só cai quem quer, nisto. Sobretudo depois das redentoras sondagens, dos bitaites recorrentes de Marcelo, das "blogadas" e "jornaladas" amigas. Eu aceito isto. Os amigos são para as ocasiões, sendo que é, também, a ocasião que faz o ladrão. Sim, estive ver o Nero Wolfe, um bocadinho.

Mas falo de Sócrates, que não é candidato, mas é dele que tem de se falar quando se querem tecituras sobre as candidaturas fratricidas de Alegre e Soares.

O meu candidato (caramba, o homem ainda vem aí dizer-me que "sou teu, mas é o caralho, ó peixe!") chama-se Manuel Alegre. Eu não tenho de explicar porquê, ainda. Não tive tempo: explicar uma escolha é uma parcela de nós que se expõe na explicação; e isso tem de ser feito nos limites da inteligência e da "boa emoção". E eu ando irritado.

Mas ele disse, claramente, sem esperar pelas calmarias outonais, "quem quiser que venha atrás". Eu, por tendência, vou sempre ao lado. Atrás vão os maricas dos príncipes consortes, eu leio muito. Em querendo assim, ao lado, está bem, senhor.

Retomemos. Foi Sócrates (quem o aconselhou é dispensável, aqui) que avaliou a situação e decidiu. Escolheu mal, dispensou o óbvio, o melhor. Até porque traria consigo os amigos do passado, coisa que assim se perdeu, do ponto de vista estratégico. E é preciso recuperar os amigos do passado. Sempre. É preciso para mim, é desígnio fundamental de quase toda a gente. Para Sócrates não, pelos vistos. Não se iludam.

De Sócrates há quem diga que mediu mal. Não acredito. Mil virgens me fustiguem com seus óleos vulvares se estiver a ser injusto, mas não acredito.
Ele escolheu Cavaco - esta é de caras ; escolheu Soares para perder com Cavaco; e teve medo que Manuel Alegre, em o escolhendo, lhe ganhasse as eleições que mais deseja "perder".

Sócrates ficará na história como "o grande líder" que assumiu e implementou o maior número de medidas impopulares consideradas imperativas pelo maior partido da oposição. Excelente trabalho. Marques Mendes deve estar a "surfar" numa onda em que nem ele próprio esperava equilibrar-se: "quando for a minha vez, aquela merda já está toda feita! ganda nóia!".

Sócrates (e Deus me perdoe se estou enganado, e Sócrates também, que eu não tenho provas do que digo, é apenas o que me parece) foi desleal duas vezes: com Soares (que elencou para perder) e com Manuel Alegre (que dispensou por medo). Tudo isto para poder cumprir o programa do PSD ( e apêndices coligáveis). Isto é interessante, visto assim. E muito irritante, se for verdade.

24.10.05

Não sei se lance aqui um tabu se me vá deitar. Por via das dúvidas, lanço.

Este não é um blogue político. Os senhores bem vêem: nenhum dos membros activos do "blogame" (alonso, lolita e eu próprio) detém, da actividade política, mais que alguns ecos que lhe vão chegando. Talvez o alonso, neste aspecto, detenha algo mais. Nunca nos importou essa diferença, nem a nós, nem a ele.

Ora, para publicar ecos, basta um vale profundo: assim sendo, a montanha do lado de lá do fundo vale os publicará por nós, uns segundos mais tarde; e nós poderemos, entretanto, comer excelentes castanhas assadas.

Não sendo um blogue político, já aqui se tem falado de política. Como se tem dissertado sobre futebol, sobre a pesca, sobre culinária, sobre filmes, sobre música, sobre doentes e doenças, sobre livros, sobre nós, sobre os outros.
E, no entanto, também não temos aqui um blogue sobre nenhuma dessas coisas.

É um blogue que se vai fazendo das coisas de hoje, onde se reavivam recordações e se brinca com a amargura, muitas vezes. E onde sorrimos, sempre que podemos, do que nos alegra, sempre um bocadinho espantados de ainda nos irmos aguentando por aqui, um cisco em cada dia, praticamente todos os dias: é porque deve dar-nos prazer, deliberámos nós em assembleia geral. E porque havemos de dar prazer a mais alguém, delibero eu, já de repente.

Chega de definições. E considerem isto uma espécie de intróito duma coisa qualquer que não sabemos muito bem o que será. Ou que não dizemos, ainda.

(Espero que retenham este meu último momento "tabu-cavacô" (é francês fonético) e se penetrem do gozo que me deu escrever este último e ridículo parágrafo. Ai o resto também é ridículo, é logo tudo? Que encantos sois, "sapinhos"! Ide-vos foder, sim?
É um momento que dedico, com estima e amizade, a todos os varões e donzelas que anseiam entregar-se, já de cuzinho alçado numa inquietude oleosa de quem reclamasse um "spanking" redentor de todos os pecados, ao sensualíssimo chicote do espectro alternativo do Tino de Rans. Espectro que agora aí temos, outra vez).

A gente não lê.

Num bocadinho que vi, ontem, do Eixo do Mal, todos os presentes concordavam em lamentar a subalternização dos outros candidatos ao discurso de candidatura de Cavaco Silva. Se não me engano, foi a Clara Ferreira Alves que, colocando a voz e abrindo muito os olhinhos, deitou a verdade fulminante para a mesa; tão fulminante era que todos, iluminados pela súbita revelação, de imediato comungaram do verbo, que fizeram seu.
No fundo, o truque, denunciado, deste maralhar de intelectuais urbano-metropolitanos, empenhados em fazer crer a todos que as opiniões mais originais e inteligentes brotam, quase invariavelmente, das suas células cinzentas vanguardistas, consiste em achar sempre que alguém não devia ter feito aquilo porque. Não acreditam, não crêem em coisa alguma, a não ser no doce enlevo de se ouvirem a si próprios e de sustentarem tertúlias inconclusivas em que intervêem com ar de "tenho mais do que fazer".
Eu apostaria que, caso Alegre, Louçã e Jerónimo não tivessem aparecido na SIC, em directo, a comentar aquela redundância bacoca de banalidades a que Cavaco Silva chamou discurso, cá estariam os nossos meninos a falar em déficit democrático. Não ouvi o que acharam da ausência de Soares, mas aposto que hão-de ter arranjado um excelente pretexto para achar que, esse sim, devia ter aparecido.

Interlúdio silencioso

Apaguei esta manhã, cedinho, uma coisa que tinha escrito ontem à noite. Assinalo-o porque pode haver quem tenha reparado nisso. Duvido, mas pode sempre acontecer. E, a ser esse o improvável caso, o facto merece uma explicação.

Fi-lo porque a noite é boa conselheira. Acordamos com a certeza de que, não poucas vezes, estragamos conteúdos - não necessariamente bons, mas são os nossos conteúdos- com a forma que lhes emprestamos. Sobretudo se escrevemos irritados.

Guardei o texto, no entanto. Não é grande espingarda, já o reli, mas guardei-o. E se, num dia qualquer, penetrado de irritação semelhante à de ontem, conseguir depurá-lo dos excessos formais que o atraiçoam na sua essência, ainda que pobre, publicá-lo-ei. Não porque seja grande coisa, repito, que eu sobre os meus talentos não tenho grandes ilusões: mas porque corresponde a um pensamento que mantenho, a uma opinião que me permanece, atraiçoados ambos por uma verve destemperada de que me penitencio. Não receio destemperos, nem sequer os meus. Mas consigo entender que há alturas em que, enervados, tirados do nosso sério, tendemos a estragar tudo.

Por isso apaguei, calmamente, o que tinha escrito irritadamente.

Que quem o chegou a ler (se alguém houve que o tenha lido) tome isto em consideração, respeitando-me a decisão na exacta medida que achar que eu mereço.
E que me desculpe, nesse caso, ambas as coisas: tê-lo escrito assim e tê-lo apagado assim.

Charcos

"Há 30 anos, quando a China se começou a converter numa economia de mercado, toda a população da China era pobre. Se hoje a China só tem 150 milhões de pobres (menos de 10% da população) o crédito tem forçosamente que ser atribuido ao capitalismo. Entre 1978 e 2004 o desenvolvimento económico chinês tirou 224 milhões de pessoas da pobreza extrema (apesar do aumento da população, o que quer dizer que a percentagem da população na pobreza extrema diminuiu ainda mais). Os rendimento das famílias nos locais onde já chegou o capitalismo foi multiplicado por 10 ou 20. Acho por isso extraordinário que a pobreza na China seja atribuída à falta de socialismo e ao excesso de capitalismo. Socialismo era o que eles tinham há 30 anos e foram suficientemente inteligentes para perceber que enriquecer é glorioso."

Isto é merecedor do prémio "sou feio como o caraças mas tenho uma piada liberal filha-da-puta". Alguém que lho dê, que não estou para aturar "sapos".

Sobre música

Olá, Miguel.
Vi as fotos dos três pequeninos que tens em casa. Vai ver isto e mostra-lhes; depois compra a música. O ganapo mais velho do besugo conhece-a bem.
De futebol falar-te-á o besugo. Ouvi dizer que o Sporting hoje empatou, mas não se deixou empatar.
Até amanhã.

23.10.05

Tecno-política

A vitória de Cavaco Silva sobre Manuel Alegre não será mais do que a expressão metafórica do domínio. O poder só raramente cai nas mãos de quem pensa bem, mas pensa com paixão. A vitória de Cavaco Silva sobre Soares será, apenas, o desfecho natural da carreira, prevista e previsível, de cada um. A de Soares, claro, prolongada além da apoteose.

Parábola a despropósito

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É sabido que os cancros da tripa, em metastizando (espalhando-se) para o fígado, se transformam (nos transformam) numa questão de tempo.
Sendo a vida toda uma questão de tempo (o resto é uma espécie de folclore obrigatório, mais ou menos duradouro) que pasa?
Nada, hombre. No pasa nada. Quieres un chupito?

Acontece que, perto do fim, os tipos ficam assim, amarelos. E uns olhos amarelos não são folclóricos. São assim.

Por exemplo: Marcelo Rebelo de Sousa, se (um dia) vier a ter a sua bilirrubina à solta, pigmentando-lhe suas branquíssimas escleróticas, ficará com este olhar de medo. E tudo lhe parecerá menos dominável, mesmo do alto do seu pedestalzeco dominical, do que lhe parece agora.

"There are no more begginings", disse Steiner. Estava ictérico, Steiner? Estava? Então pode dizer o que quiser. As verdades brotam do recanto do cérebro que se encontra mais próximo da encefalopatia, em verdade vos digo. E a encefalopatia hepática é, muitas vezes, misericordiosa.

A Palmira é que já não diz mais nada, que morreu ontem.
A vida é um folclore que permite registos de demissão. Não?

Boa noite

Cuidavas que nos esquecíamos de ti, rapaz?
Não nos conheces. Vai ser sempre assim, entendes? Estás feito ao bife.
Por hoje, fazes isto: vais ao post da lolita, aquele que tem uma coisa preta, e carregas no "play". E escutas, que é para viajares no tempo, para veres como eram as músicas tontas dos meus doze anos. Dos seis anos dela, da lolita, que ela é uma miúda, ao pé de mim. Sim, é catraia. Nem quarenta anos tem, ainda.

E, depois, concentras-te: vamos ganhar ao Gil Vicente, nem que se fodam todos.

Um abraço
(e muda a puta da música!)

As lições da história

É perigoso, ser-se fashion victim.
Basta ver as imagens antigas do festival da Eurovisão para se perder a vontade de rever as fotografias tiradas há vinte anos atrás. Entre o glittering do Valentina style e o estilo vestal da Marie Miriam (versão francesa da inesquecível Manuela Bravo), há lições importantes a retirar.
Abandonemos, pois, essa ideia peregrina de tornar a usar corsários com atilhos ou blush cor de rosa, sob pena de, um dia, termos de reconhecer que a Serenella Andrade, comparativamente, até se veste bastante bem.

Eres tú



Mocedades

22.10.05

Festivais

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Quando eu era pequenino, o festival da eurovisão era uma sobremesa anual apetecida, em que Portugal se misturava com os outros a cantar e, depois, perdíamos sempre, mas ao menos estávamos lá, com os outros, o que era raro. Como era costume, isto de perder, nas outras coisas todas em que estávamos, tirando a selecção de 66. E, mesmo assim, perdemos. Era muito pequenino, eu.

Depois, passei pela fase em que achava que aquilo estava "tudo feito", porque nenhuma cantiga cantada pelo Fernando Tordo, pelo Carlos do Carmo, pelo Duarte Mendes, pela Simone, ou pelo Paulo de Carvalho, nem nenhum poema do Ary dos Santos (pérolas a porcos, pensei eu na altura), alguma vez, nem que fosse por milímetros (nano-decibéis?) ganhou aquilo. Era muito inocente, eu. E pequenino.

Agora, depois dum grande hiato em que não liguei àquilo mais que a ponta dum corno, revi-me a crescer ao som daquilo. Que todos os aniversários se podiam virar, naquela altura, pela data do festival.

Estive a ver um bocado da festa dos cinquenta anos, atreveram-se a começar aquilo um lustro antes de eu nascer. Pelos vistos.

Vai ganhar uma merda qualquer, talvez o "Waterloo", dos Abba. Logo que entraram os nórdicos se percebeu que, aos nórdicos, competiria, em matéria de musica, estarem caladinhos. Toda a gente percebeu isto, excepto eles, que desataram a votar uns nos outros e a ganhar festivais à conta disso, porque conseguem associar às suas grandes capacidades organizativas, e ao seu imenso sentido de justiça social, e à sua elevada taxa de suicídios, e ao seu talento para o automobilismo, uma parolice que só se encontra, hoje em dia, na Suíça e na Áustria. E lá, no norte da Europa.

Eu não falo aqui dos parolos do sul, porque falar dos parolos do sul, em Portugal, desencadeia logo histerias colectivas nos tipos e tipas que vivem do Mondego para baixo, que, em ouvindo "sul", cuidam logo que é com eles ou com elas: bússolas avariadas.

Ganhou "Waterloo". Disseram-me agora. Era de prever. Sem querer adivinhar, cuido que a lolita, em podendo, em querendo, em ligando a isto (que às vezes parece-me que só eu ligo, aqui, a certas coisas), aprovaria a escolha do grande público europeu. Aquilo é altamente dançável por qualquer émulo de Durão Barroso.

Eu não concordo. A mais bela canção, a mais bonita canção dos festivais, ao menos entre as seleccionadas pelo "Grande Júri", foi a única que se conjugava, toda ela, na segunda pessoa. Tu.

"Eres tú". Dos "Mocedades", em 1973, tinha eu doze anos e era mais novo um ano do que o meu filho mais novo é agora. Se a lolita me ajudar ponho aqui o "link" para a canção. É um rebuçado antigo, de quando eu só tinha um buço ténue acima das beiças.

Donde se depreende que ele, o meu filho mais novo, está novinho em folha. E que eu me vou gastando em quinquilharia, que guardo em relicários frágeis de papel "couché". Embora continue, sempre, pequenino.

E, já agora, o Duarte Mendes, militar cantor, era este.

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A Foz dormente

Sobre mundos

Recebi, tardiamente, o seu abraço. Mas recebi-o.

Tenho de me penitenciar por uma coisa: o malfadado título que dei ao meu desabafo pode tê-lo levado a pensar, de facto, que "a lolita não consegue compreender-nos, nem ao nosso mundo".
Nada mais falso.

A culpa foi minha e o título tem uma explicação: a lolita, que me conhece bem, tem uma procuração minha que lhe permite, perante determinadas (e, apenas, mentais, não se assustem, que não sou dado a abrir a gabardina) desnudações públicas, a que tendo a entregar-me com frequência variável, a lolita, dizia eu, tem procuração para passar ao "draft" alguns desses "strips" destemperados. Até eu pensar mais. Nem sempre até pensar melhor, só até pensar mais. Geralmente, até ao dia seguinte. Depois, ou eu próprio apago, ou eu mesmo publico. Não se trata aqui de censura: trata-se de um "dorme sobre o assunto, antes", que não só lhe não levo a mal como encorajo. E agradeço.

Não. Não me tomem por tonto, também. Isto aconteceu, quando muito, duas vezes. E ela tinha razão. Em ambas.

A lolita percebe-nos (e ao nosso mundo) muito bem. O problema é que nem toda a gente (nem mesmo nós, médicos, admita isso, vá lá, MEM) o entende, ao nosso mundo. Sabe porquê? Claro que sabe. É porque só há um mundo e, caramba, nós fazemos todos parte dele. Andamos é a tentar explicá-lo uns aos outros como se houvesse muitos mundos, cada um com o seu.
Não há muitos mundos, há só um. E é muito simples de entender e muito difícil de explicar, como a maior parte das coisas simples.

Acompanho a sua batalha contra o sensacionalismo e a desinformação. Penso que MEMAI significa isto, depurados os resíduos de alguma pomposidade (que já lhe apontaram, aliás) no nome do blogue. Estou correcto? Muito me admiraria que não estivesse, eu, que o leio há mais de dois anos e o aprecio tanto.

E, como me recordo de, há uns anos atrás, ter tido (em várias ocasiões) de enfrentar 3-câmaras-3 de televisão, empunhadas por tipos "aparentemente" mal lavados que estavam a pensar no jantar de mais logo, enquanto respondia a perguntas de fedelhos (o da RTP portou-se sempre bem e não era fedelho, nem é, salvaguardo este) que queriam saber coisas duma rixa de ciganos, quando eu lhes tinha pedido (até porque o ambiente estava tão tenso, lá fora, que quase se podia escutar o silêncio das balas que, horas antes, se tinham gasto) que se contivessem, como me recordo disto tudo como se ainda tivesse a carne viva, aplaudo-o.

De facto, nessa altura... Escute esta.
Tinha havido forte escaramuça, com mortos, estando um dos intervenientes na rixa depositado no Bloco, pela segunda vez. Complicações de quem leva tiros.
Eu sabia, como toda a gente sabia, que, lá fora, na espera raivosa e solidária do costume - isto não é depreciativo, é um facto que nos acontece a todos nas condições próprias, ser raivoso e solidário ao mesmo tempo -, familiares próximos do homem (era um puto, caramba, ainda por cima) que estava no Bloco e familiares próximos da "outra parte", se miravam, prometendo-se, mutuamente, mais sangue.
O homem da GNR que comandava tinha-me pedido comedimento na informação. Por isso, também por isso, antes de ligarem a aparelhagem, pedi-lhes, aos repórteres: "não me perguntem sobre quantos tiros levou, se pode morrer, sosseguem por agora, que temos aqui montado, à porta, um vintecincodabril agitanado ".

Pois sim. "Que sim".

As questões da fedelha da TVI foram logo estas, assim que me sentiu a fronha suada enfocada pela câmara do compincha: "Quantos tiros levou ele? E corre muito perigo de vida? Pode morrer?".

Desejei-lhe a morte a ela, logo ali. Mas já não lha desejo. Aprendi que gente assim (muito mais do que nós, o MEM, a lolita e eu) acredita na existência de vários mundos, dando prioridade ao que cuida ser o seu.

Gente assim, no fundo, é como aqueles tipos que estacionam em segunda fila, entupindo o trânsito, regressando dez minutos depois, barafustando (ainda por cima) que "eu estou a trabalhar, pah!".
Não passa disso: há-os e pronto.

Se eu fosse um vírus

Seria um vírus muito simples.
1 -Enquanto tivesse hospedeiros que me chegassem, manter-me-ia neles. Intentando fugazes incursões em hospedeiros potenciais, para o caso de me falharem os actuais.
2 - Se me falhassem os hospedeiros habituais, passar-me-ia, de armas e bagagens, para os hospedeiros novos, cujo potencial investigara antes.
3 - Transformar-me-ia. Recodificar-me-ia. Baralharia o RNA do hospedeiro. Instalar-me-ia. Propagar-me-ia, num regabofe.
4 - Se os novos hospedeiros se vacinassem contra mim, vingar-me-ia: recodificar-me-ia todos os anos, obrigando os tipos a arranjarem novas vacinas a um ritmo alucinante. Para os sobreviventes.

Um vírus, mesmo simples, pode emprestar à sua existência um sentido comercial. E contratualizar, de forma obstinada, com revisões salariais sazonais, com as multinacionais.
Ainda bem que não sou um vírus. Aliás, se fosse, não seria assim. E, daí, não sei...

E se eu fosse, em vez disso, uma ambulância? Vou pensar nisso.

Razões? Bom.

Queres duas razões?
Pensa, lolita: é muito mais penoso, para gente de bem, ver tombar dum cavalo fogoso, derrotado numa justa, um velho cavaleiro orgulhoso, que ver desabar duma moldura foleira um qualquer "rascunho tosco de Modigliani".
Trata-se aqui duma mistura de gosto, de justiça funda e de sonhos de criança. E é por isso que a razão que te dou, pensando bem, são duas: que os sonhos de criança, quando não mirram, crescem. Como que duplicam, confortando.

Como combater o Cavaquismo

É saudável e redentor reconhecerem-se os erros do passado (eu avisei-te, não avisei?).
Não, não me refiro a Cavaco Silva, mas antes ao besugo.

No âmbito do plano de acção que delineou para moer o juízo do Cavaco Silva até à exaustão, o besugo exige-me agora que ofereça o meu voto ao bisavô, a quem ele sabe bem que eu devoto o mesmo fervor e simpatia que devoto ao "homem livre e sem ambição pessoal" e que, por isso, mesmo, em caso de segundo round entre ambos, eu digo "escolham vocês".

Razões, besugo. Dá-me duas razões para eu sacrificar assim o meu sacrossanto voto.
A primeira já deste e até me agrada, confesso.

Declaração a pedido, seguida de exigência.

Queres uma declaração de voto, lolita? Eu dou-ta.
Apoio Manuel Alegre.

Motivo?
Ora, um homem, uma pessoa, quando pensa num presidente da república, aparece-lhe logo uma imagem, um esboço dele. A mim, quando me ponho nestes esoterismos, nunca me apareceu imagem nenhuma com a cara do Tino de Rans, nem com a expressão de Santo Inácio de Loyola. Custa-me imaginar um bisavô fora do calor mimalho dos seus bisnetos, por outro lado. E tenho alguma relutância perante presidentes com imagem e discurso sindicalista. Em contrapartida, uma excelente contrapartida, gosto que me "digam" coisas. Em lugar de me compararem com o que produz um esloveno, o que é ridículo, porque depende do esloveno, o Zahovic produzia muito pouco, pergunta ao Altino, por exemplo, que ele diz-te.

Eis a minha declaração. Para já, é esta.

Mas digo-te já, também: se Cavaco, por um bambúrrio (que contraria toda a lógica, evidentemente, mas temos de considerar todas as hipóteses: mesmo Ana Drago pode vir a ser, um dia, secretária de estado da Cronologia, Luís Delgado pode passar a escrever sem erros duas ideias seguidas, etc.), não for derrotado logo na primeira volta, e se, por um bambúrrio ainda maior, for o "bisavô" a terçar armas com o Tino-intelectual fashion numa segunda justa, exijo-te, donzela, que emprestes tuas cores ao velho cavaleiro. Isto é o menos que te peço. Quanto mais não seja para foder a cabeça ao Sócrates, se me entendes, esta espinha encravada que aqui tenho, esse Cavaquista encapotado.
Topas?

Dois esclarecimentos

1 - Manuel Alegre não tem a voz grossa, seus incompetentes. Tem a voz profunda. Quando se tornar PR não discursará. Dirá. Eis a diferença.

2 - Este blogue apoia a candidatura de Manuel Alegre. Eu já disse isso ontem e falei neste blogue.
O Alonso já se declarou fã, muito embora eu suspeite que apoia o Manel por razões estritamente político-partidárias. Trata-se, afinal, de mais um exemplo do percurso previsível dos dissidentes da direita Portas ou da social democracia Marques Mendes: aliam-se ao socialismo. V.g. Freitas do Amaral e o amigo Valentim, que já nem disfarça.

Besugo: aguardamos a tua manifestação de voto. Nota bem: sem mencionar Cavaco Silva e com a devida demarcação face a outras candidaturas. OK?

Justiça sabe bem

De facto, Alonso, sinto aquele fogaréu calmo do dever cumprido.
Não me restam dúvidas de que fui eu, este besugo, quem o encurralou de tal forma, no quartinho escuro das suas dúvidas, que mais nada lhe restou senão fugir para a frente. Obrigado, companheiro, pelo teu reconhecimento. Eu sabia que tinhas de mim esta justa medida.

Agora vou descansar e ver doentes, durante alguns dias; analisar o Paulo Bento, informar-me sobre as capacidades científico-tecnológicas da Hungria para produzir vacinas, observar melros, dar-lhes aspirina a ver o que acontece, mas depois volto, para a batalha final: devolver Cavaco à rabona e às pantufas académicas, derrotá-lo, fazê-lo desabar do pedestal de "português especial" em que insistem em colocá-lo os tipos cujo maior sonho (a seguir a escrever num jornal qualquer, à peça) é ter dois ministros das finanças por legislatura: um em Belém, outro no sítio do costume.

Em frente, camaradas.

O tratante do Alonso veio aí dizer que apoia Alegre porque:
Tem barba na cara (nuances várias sobre a barba, algumas absolutamente narcísicas)
Chama-se Manuel
É heterossexual
É socialista
Usa fatos "Príncipe de Gales"
É poeta
Tem voz de bagaço
Já não gosta do Soares
Nunca gostou do Sócrates

Compete-me, como consciência (um verdadeiro grilo falante!) do Alonso, contar-vos isto, por ser verdade: o Alonso apoia Alegre porque ambos são homens de bem - embora o Alonso não seja poeta e não fale grosso. No resto é igual, asseguro-vos (tanto quanto se podem assegurar estas coisas todas, nos tempos que correm).
Sim, mesmo socialista, sim, asseguro.

Entusiasmos

Pode-se entrar? Pode? Muito bem. Obrigado.

1 - "Os Portugueses sabem que sou um homem de palavra" - Sabem? Isso vem em que livro de normas? Não sabem nada, eu sou português e não sei nada disso, por exemplo. Ele é que diz que é um homem de palavra. Baseado em quê? Na demora em chegar-se à frente? No facto de ter andado aí a empernar com o destino, não sei se lá vou, se faço missa, agora já sei mas não digo ainda? Só se for nisso. É uma afirmação demagógica e subjectiva, sem qualquer suporte a não ser a opinião do candidato sobre si próprio, o que é ridículo do ponto de vista da validação intelectual. Nem no futebol se aceitam estas coisas, já, sem crítica, excepto no Porto e no Benfica.

2 - "Não sou candidato para satisfazer uma ambição pessoal" - Vai dar no mesmo. Leia-se 1, para não vos maçar mais.

3 - Candidato-me como um homem livre. O meu compromisso é exclusivamente com Portugal e os portugueses" - Como homens livres candidatam-se todos. É por causa daquela cena dramática em que afirma que "já não sou militante do PSD" que nos aparece, agora, como arauto duma qualquer liberdade especialíssima? Não pode ser, pois não? Isso é, mais uma vez, subjectivo, ele é que o diz, não significa nada, é puro vazio sintáctico. Quanto aos compromissos: havia de assumir compromissos com a Eslovénia e com os eslovenos, que parecem marcá-lo pela positiva, não? Que tontice.

Cavaco dixit.
Que disse Soares?

Olhe, nem Soares, nem Alegre, nem nenhum dos outros, ao menos até agora, disseram aleivosias destas, pelo menos. Dignas dum candidato a presidente de junta pequenina, em fase de hipomania. Valha-nos ao menos isso, que já não é pouco, depois da festa pífia que Cavaco encenou ontem e que, aparentemente, o impressionou de forma marcante.

21.10.05

Alegre

É o candidato por nós (blogamemucho) oficialmente apoiado. Porquê? Há muitas razões, das quais passo a enunciar umas poucas, que me respeitam (sim, que o besugo tem outras e a lolita outras ainda):

- Tem barba na cara*
- Chama-se Manuel**
- É heterossexual***
- É socialista****
- Tem barba na cara*****
- Usa fatos "Príncipe de Gales"******
- É poeta*******
- Tem voz de bagaço********
- Já não gosta do Soares*********
- Nunca gostou do Sócrates**********
- Tem barba na cara***********

*No que revela bom senso. Portugal ganhará, se ele fôr eleito. 1/4 de hora por dia de exercício de funções presidenciais. Em cinco anos, faz toda a diferença;

** Mário e Aníbal, para além de serem nomes foneticamente desagradáveis, têm um elemento estrangeiro que não esconde o passado invasor desta bonita península;

*** O que não significa que os outros não o sejam, mas é reconfortante saber isto;

**** Ao menos é alguma coisa. O Mário e o Aníbal, nunca se percebeu bem o que são, sendo indiferente que se autorotulem, respectivamente, de socialista e social-democrata.

***** O que lhe confere ar tribunício e inegável vantagem política, face às bochechas do Mário e Ao ar patibular do Aníbal.

****** O que lhe permitirá algum apoio dos relutantes monárquicos, que nele reverão o saudoso, folião, mulherengo e apesar disso tudo grande estadista que foi o mais notável Príncipe de Gales e depois Rei Eduardo VII.

******* O que teoricamente é uma desvantagem em face do duro realismo que impregna o exercício da função presidencial. Mas o besugo acha que não, e portanto aqui fica como razão de apoio.

******** capaz de acordar até o segundo secretário do embaixador do Botswana, quando pela primeira vez discursar na Assembleia Geral das Nações Unidas.

********* O que é uma importante evolução. Mais vale tarde que nunca.

********** Referimo-nos ao Primeiro Ministro, não ao filósofo grego.

*********** como eu. Somos irmões na capilaridade facial e, nestas coisas, as afinidades contam muito.

Espero que Portugal, o Mundo e a blogosfera tenham ficado elucidados. Votem Alegre. Bom fim de semana!

A procuração

Existiu. Mas foi passada ao besugo, que a lolita, com os seus maquiavelismos ainda punha o meu voto no Louçã.

Injustiças da história

Antes de mais, parabéns, besugo. Depois de muito porfiar, conseguiste que o Cavaco finalmente esclarecesse que é candidato. Não se sei se nos anais da história o teu nome/nick virá um dia referenciado, mas merece-lo. A história é injusta, mas tu e nós (a lolita, eu, e a multidão - incluindo cães e gatos - que diariamente lê este blog) sabemos que a ti se deve o fim do tabu!

Sobre falares

A propósito duma ferroada do Guarda-Factos, que já tem uma quinzena mas mantém actualidade, gostava de dizer que nunca me passou pela cabeça que as pessoas de Lisboa levassem a sério uma caricatura que, bem vistas as coisas, nem sequer é com elas. Refiro-me à questão dos sotaques. Há sotaques (o micaelense, tão bonito, é totalmente diferente dos sotaques das restantes ilhas, já que falou nos Açores, onde vivi um ano) e há "afectações-chic", ou "pseudo-chic", que não são sotaques. Eu fico enervado é com estas, sobretudo, embora os nervos não me adiantem grande coisa. Estas é que traduzem menoridade, não acha? Os meus nervos também? Admito perfeitamente, paciência.

De qualquer forma, é por isso que me atrevo a pedir ao Guarda-Factos que leia este pequeno bocadinho de prosa que escrevi em Julho, numa altura em que o sol me brilhava mais do que, seguramente, me brilha hoje. Era sobre dialectos.
Embora eu possa ter rabiscado (e devo ter rabiscado, admito perfeitamente que sim, olha logo eu) coisas mais acintosas sobre o assunto, coisas mais "de cloaca" - também me acontece, sim... - o que eu gostava que retivesse do que penso sobre sotaques e afectações (que o que sempre me enervou, lá está, foram estas e não aqueles) é o que lhe relembro agora. Com estima e porque me parece importante que isto fique claro.

Nota de besugo: eu, quando falo do Beto, não conta. Pode ser?

Manifesto eleitoral(ista)

Considerando:

- que acabou a época da caça;

- que Cavaco Silva recuperou níveis de popularidade só comparáveis com os que alcançou quando se engasgou com o bolo-rei;

- que há esperanças de que o besugo tome finalmente consciência (se não antes, quando olhar para o boletim de voto) que Cavaco Silva efectivamente se candidatou e, pior do que isso, que pode ganhar;

- que se prevê que, como o besugo, Mário Soares continuará a sustentar que a derrota é possível (sem revelar a quem se refere);

- que Sócrates existe mesmo, é chefe do governo e tem maioria absoluta no parlamento (mas eu não tenho nada a ver com isso);

- que Luis Delgado, apesar de toda a vasta e meritória obra publicada, não será o próximo treinador do Sporting,

e após reunião regularmente convocada do Comité Central do blogame muxo, foi deliberado por unanimidade* expressar o apoio oficial deste blogue à candidatura de Manuel Alegre.

Também não o fazemos por ambição pessoal; cremos, outrossim, que podemos contribuir para enfrentar os desafios que se avizinham, no respeito da Constituição.

*O Alonso deixou procuração.

E vou-me

Boa noite, amigo.
Olha a música, muda isso duma vez: "Mr. Lonely" é o Cavaco, disse ele.

Um abraço.

Os populares

- Sou uma cidadã anónima de Famalicão.
- Anónima?
- Sim. É nessa qualidade que vim aqui para prestar o meu apoio ao Professor Cabaco Silba.
- Caluda. Ele vai falar.

Gravatas e gravatadas: o pescoço é mais acima

Não quero falar sobre pormenores, mas lembrei-me que Cavaco estava de gravata cor-de-laranja. Que alívio para Marques Mendes, hem? Que fungicida tópico para os entrefolhos!
Claro, eu sei que foi ao calhas, o homem tem outras, até tem onze às riscas, mas calhou-lhe assim, hoje. Para assinalar a saída do partido, pois, exactamente.

Bom, mas não era isto que eu vinha aqui dizer. Era isto: não sei se o Pedro Barbosa aceita ser adjunto do Paulo Bento. Eu ia buscá-lo mas era como jogador. Não? Púnhamos o Sá Pinto na SAD, como guarda-costas do Soares Franco, que é franzino, e tal. Dávamos-lhe uma gravata verde e branca, às riscas. Ao Sá Pinto. Não, por quê?

Adenda: a lolita informou-me que a gravata de Cavaco era vermelha. Quero que se lixe, na minha televisão não era, era alaranjada. Mais: a ser vermelha era apenas encarnada. OK, eu compro outra televisão. Aceito cheques. O e-mail está ali em cima, algures, ou ao lado, depende.

A reportagem (III)

- Professor Cavaco Silva, como se sente com esta estonteante manifestação de apoio?
- Eu disse-vosch que só reschpondia a perguntasch lá dentro!...
- Mas, Professor, nós lá dentro não sabíamos do que ia passar-se depois cá fora...
- Caluda. Ouça e reschpeite. Eu reschpeito tudo e sou honeschto! CA-VA-CO! CA-VA-CO! Ó Maria, não choresch!

20.10.05

A reportagem (II)

E do Brasil, vieram do Brasil de propósito, também!...
Quase vieram de propósito, pronto.

A reportagem

"Há populares que vieram de propósito da Alemanha!...

Enfim... pelo menos de Famalicão vieram, que eu falei com um deles."

Fracturas trocantéricas e pneumonias nosocomiais

Nesta fase do campeonato nacional das eleições não sei se posso meter uma cunha à Dra. Joana Amaral Dias em relação ao que, a seguir, exponho. Mas tento. Eu tento sempre, o mal é que depois me canso. Mas é só depois.

O assunto é este, e serei respeitoso, como sempre.

Senhora doutora: poderia, por favor, pedir à senhora doutora Ana Drago que evitasse reiterar, em tom agastado, que "há pessoas que já nasceram depois do vinte e cinco de Abril"?.
É para lhe evitar - a ela - respostas tortas. Do tipo "está bem, minha menina, mas sabes que todos os que ainda estamos aqui, e tu também, havemos de morrer depois dele, não sabes?". Este tipo de parvoíces que às vezes nos ocorre vociferar, perante pirralhas assertivas que gostam de discursos "fracturantes".
Muito obrigado.

P.S. - Caso a senhora não lho diga pessoalmente, contactarei Francisco Louçã. Ele diz-lhe, de certeza, com a sua voz cavernosa.
Dá-me o e-mail dele, por favor? Ao menos isso? Não, por quê?

Cavaquismo renascente

O aparato. As câmaras, as luzes, os repórteres. O CCB. A sala Pavel. O receio. O sorriso. Envelhecido. A mesma voz. A gravata. A sobriedade espartana. A Maria. A Katia fadista. "O" mandatário. O discurso, sem chama mas com brilho. Na testa, isto é uma neura. Os desafios, o estado da nação, os quatrocentos mil desempregados. Os desafios, outra vez, e o estado difícil da nação. Que canseira. I'm your man. Eu sou sério e honesto. Até podia ter nascido vietnamita, mas sou honesto. Como sou português, cá estou eu. Não por mim, mas porque o país precisa de mim. Precisa tanto de uma pessoa como eu que até o Morais Sarmento já falou demais. Respeito a Constituição, seja ela qual for. Votem em mim. A Maria está quase a chorar. Já acabei. Tenho a boca seca, raios. Já acabei, não notaram? Agora venham elas. As perguntas. Poucas, OK? Se me falarem de Soares, só digo que o respeito muito como pessoa. Não insistam. E a Constituição, claro. Já disse que sim. Raios partam o Morais Sarmento.

Ribombar! Pum! Pu...fffffff.

Afinal disse que sim.
Caramba: eu esperava que acabasse por dizer que não, que era para isto tudo fazer sentido, mas apresentou-se.
Agora vou resumir o que ele disse. É curto.

I- Razões duma candidatura (são quatro): 1 - que reflectiu, 2 - que pensou muito, 3 - que conhece bem e 4 - que quer. Por ordem.

II - Sobre os pressupostos: aceita-os. Isto é bom. Vamos indo. Ele podia chegar e dizer que queria outras regras, outra república, "quero ser presidente doutra república que não esta", podia gostar mais doutra, e lá teríamos nós de o recambiar para a Eslovénia ou para a Espanha. Aliás, não havendo em Espanha um presidente da república, aparentemente porque aquilo é uma monarquia, ainda bem para os espanhóis que ele aceita o que está na nossa constituição e não inicia uma deriva oriental. Ele foi claro: vai a jogo e aceita as regras, o que é o mínimo que se poderia esperar de qualquer tipo que fosse jogar ao casino mais reles que aí houvesse. Quanto mais a votos.

III - Sobre Ele: que já não é filiado no PSD. Ou seja, que mesmo que o PSD o apoie, em peso, se está defecando para o apoio. Aqui, foi "cagón". E logo no pai. É que o PSD apoia-o. Ele não quer, ele não pede isso, mas ele está cansadinho de saber; é como se alguém dissesse que não quer comer depois de se encher de cabidela de caça. Adiante.

IV - Sobre outras merdas: para a semana, no Porto, vai explicar-se melhor. "Mais? Ah, isso é p'rá semana". Isto entende-se, porque o homem teve pouco tempo para pensar, dez anos é muito tempo, mas isso é para o Paulo de Carvalho, para Cavaco é um nanossegundo. E, além disso, o professor ainda está numa fase de delírio emocional. Foi apanhado de surpresa.

Bom. Isto é pobrezinho.

Uma coisa é certa - e Marques Mendes pode começar a coçar a virilha onde sentir mais comichosas impressões (as virilhas, no caso dele, são aquelas coisas húmidas que lhe ficam a cerca de trinta centímetros do pescoço, "ó para baixo"), porque o surpreendente candidato enfiou-lhe lá uma coisa esférica, hidrocélica: se Cavaco ganhar, segundo Cavaco, não é o PSD que ganha. Ele saiu do partido. Já não é. Já tenho visto ao contrário, filiações a martelo para permitir candidaturas, em vários pontos do país. Agora, isto, é sublime. Ele vem sozinho. Viram-no de peito feito? Ah, pois é! Isto é interessante, porque vem sozinho, rejeita apoios, mas não veio dizer nada às tropas enquanto não contou as espingardas.
Que diferença para Manuel Alegre, meu Deus, que, de espingardas, quer saber que as há e usá-las na caça: "contá-las para quê, se EU decidi que vou, de qualquer forma?". Que diferença abissal pode existir entre seres da mesma espécie, não é? Há-de ser da coluna. Ou do país que se quer. Eu isto ainda não sei muito bem, mas estou quase.

Se Cavaco ganhar (hipótese remota, na minha opinião, mas o céu de Portugal está cravejado de estorninhos canoros, "olarilolé", nunca se sabe) sejamos claros: não ganhou mais ninguém nesse dia, não me venham com coisas. Levem as bandeirinhas que quiserem, da cor que quiserem, buzinem às cores, festejem-se nele. Porque está claro que foi só ele que ganhou.
Ganhou mas é o caralho.

Habituem-se? O caraças!

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- Então, sempre é hoje?
- Sim, bem vê: os tipos acabaram por preferir o Paulo Bento... portanto vai ser hoje, mesmo.
- Vai fazer um discurso sério?
- Sim, não tenciono rir-me. Até porque não sei. Eu sou bom é em esgares. Quer ver um? Olhe este...
- Não, deixe estar assim, se faz favor. Vai dizer que avança porque estamos num período incerto e difícil, quando é sabido que o senhor tem um perfil de fuga e refúgio no academismo pantufeiro perante incertezas e dificuldades, perante as chamadas "vacas magras"...
- Quem lhe paga para isto, seu cromo? Aquele coqueiro em S. Tomé era fácil de subir? Pareceu-lhe, a si, que eu ia de pantufas? Eu tirei-as!
- Bem, eu só faço perguntas...
- E eu dou respostas fantásticas. Mais alguma pergunta?
- Não.
- Não?
- Não...
- Não? Não? Ó Morais Sarmento, olhe esta espécie de albatroz constitucional a chatear-me!
- OK, eu faço mais uma: que pensa da idade do Dr. Soares e da existência duma idade mínima para se ser presidente da república?
- Ainda bem que me pergunta isso, que eu também leio o Vilacondense: é evidente que não concordo que haja uma idade mínima para nada, a menos que se crie uma idade máxima para tudo. Por exemplo: se um tipo de 81 anos se pode candidatar à presidência, não faz sentido que um tipo de 14 anos não possa tirar a carta, ou ser jurado num tribunal qualquer! Ou mesmo bispo!
- Ó senhor: isso é redutor, uma coisa não tem nada que ver com a outra!
- Então eu esmiúço, espere: se um tipo de 81 anos se pode candidatar à presidência, eu quero que possa candidatar-se, também, um tipo de 15! Ou de dezanove!
- Está a falar a sério?
- Estou a rir-me? Você está a ver-me os dentes, por um acaso?
- Eu não...
- Ah! Então, pronto!

Porque hoje é quinta! Sararararú!

Plano A:

"- Estive a pensar. Que isto merece reflexão. E sentido de estado. E coiso. Isto não é assim, "bora lá"!
Digo-vos só hoje porque só hoje me pareceu indicado dizer-vos. Não me perguntem porquê, que eu não sei explicar isto sem parecer ainda mais tonto que o Tino. Anda aí um boi, aliás, que diz que sou parecido com ele, com o Tino, anda aí um besugo; anda, anda: logo que mude a Constituição vou fazer uma sopa de peixe com o energúmeno piscícola e dá-la aos pobres. Ou derramá-la num eflúvio.
Atenção, eu tenho tino. Eu tenho disso. Isto é tudo pensado. Com a cabeça, embora um tabu rime com outras anatomias sem ser a cabeça. Sim, eu também sei fazer chalaças, fiz um curso com o Badaró.
Eis-me. A dizer que sim, que estou aqui, que cá me tendes. Tempos difíceis, lálálá, olarilolé, eis-me! Tempos difíceis, caspité!, exigem-me. Só me demiti de ministro das finanças, aliás, "in illo tempore", porque aquilo era fácil. Se fosse difícil, caramba, ninguém dali me arrancava sem resolver aquela merda toda duma penachada!
"Traz-me os chinelos, Maria, que estou a escrever um discurso. E vai buscar a chave à cozinha, a minha chave, aquela que eu tenho, que só eu possuo. Está debaixo do naperon". Sim, eis-me. Vou a votos. "E traz-me um lenço de papel, Maria, que estou com a saliva a escorrer pelo orbicularis oris de baixo, daqui a nada chega-me às truces e ainda penso que estou naquela idade revolucionária em que destruia candeeiros para protestar contra o facto de me debruçar demais dos eléctricos!"
Vou a votos, olhai para mim! OK, está bem, afinal é melhor não olhardes, parece que tenho um tétano na expressividade, eu sei. Mas vou. E eis-me. Que surpresa, hein?


Plano B:

Olhai, o sacana do besugo tinha razão. Boi de merda. Não vou. Afinal, que se lixe, não avanço. Fico.
Eu não tenho a vossa vida, sabeis? Nem estou para gozos, OK?. O Portas está à espera que eu avance para avançar também; e isso tira-me os 5% de votos que eu precisava para não passar pela suprema humilhação de baixar a votação na segunda volta e lerpar olimpicamente.
Reparem: eu penso. Logo, rápido. Eu já vos tinha dito que andei a aprender com o Badaró? Não? E com a Florbela Queirós? Também não? Ai já tinha dito? Que caraças...
Fodei-vos, vou antes continuar a tentar explicar a chave, em lugar de a usar. Vou explicá-la num seminário sobre "sei que sou bom, embora este texto seja de 2003, enfim, a repescagem dele, que o original era de 1987". Há-de ser em Londres, lá curtem-me, pareço-lhes um rascunho do Jeremy Irons em versão hirta e meridional. Aquilo é boa gente, chamam-me "old chap!", "querido amigo", disseram-me que é isto que "old chap" quer dizer, em Yale. Que é uma marca de chaves, pois, sois espertos.
Quem foi que disse que as minhas teorias já não eram grande merda, já nessa altura, em 1987, que eu fodo-o e volto imediatamente ao Plano A? "E tu, trazes-me o lenço ou não, Maria? Olha que eu uso as cortinas outra vez!" Pronto, adeus truces. A minha saliva corrói a porcaria do nylon.

19.10.05

Good expectations

Até acredito nas boas intenções do manifesto do blog não oficial de Soares, se nos entendermos quanto a boas intenções no próprio sentido tanto como no sentido impróprio. Acredito que se pretenda apoiar a candatura de Soares (como não? apoios precisam-se) e que se queira rentabilizar a descontracção blasé de Soares através do aproveitamento (fácil, já agora) do bonequito da Nintendo. Mas acredito, também, na oportunidade de auto-promoção dos fundadores, empenhados em colar-se, no tom e na rebeldia, ao falecido Barnabé que, como todos sabemos, alcançou expressiva notoriedade e deixou saudades. Há quem diga, até, que deixou um ground zero - que provavelmente será agora prenchido com este projecto (chavão próprio de quem age, seja em que circustância for, com sentido estratégico; perde-se em naturalidade, mas ganha-se em produtividade). Ora isto também constitui um último ramalhete de boas intenções - sobretudo na perspectiva de quem escreve.
Admiro-me que Vital Moreira, o sagaz e sisudo cronista da esquerda intelectual, se tenha metido nisto. Já li, por lá, demasiado "bota abaixo" em tom demasiado satisfeito, a par de trajectos do tipo "falemos de Mário Soares".
Curioso é que, com tão pouco tempo de vida, já tenham começado a pré-campanha definindo, involuntariamente, o inimigo natural: Manuel Alegre. Isto, se calhar, é bem mais preciso do que qualquer sondagem.

Estou a ver-te, pá!

Fui ao teu site e estou a ver-te aí, carequinha, vaidoso, no teu computador, a teclar. E a escutar a tua música. Tudo em directo, espero eu, se bem que de informática, eu, enfim...

Ficas a saber que gosto de te ver aí, meu irmão. Não gosto da música, desculpa lá. Mas eu devo ser mais velho que tu, entende-se, isto: tens aí Elvis Costello? Velvet? Van Morrison? Chico Buarque, Jobim? Bota lá, de vez em quando.

Sabes, a gente anda muito preocupada com outras coisas, tu também, claro, isto aqui é uma espécie de franganário: como dizia o Amaral, meu colega de curso que hoje é psiquiatra (dantes era só meu colega de curso, entendes?, e disse-o enquanto meu colega de curso, isto é importante), "sabes uma coisa? nós não passamos de frangos em ânsias". Tens de dar um desconto. É assim. No fundo, andamos todos a descontar, em ânsias. A descontar para quê? Perguntas-me a mim? A um besugo?

Olha bem: tu tens três filhotes, eu tenho só dois, tu tens um "site" com música, eu não tenho, tu tens um LNH, eu não sei o que tenho, ou o que vou ter, se queres que te diga cada vez sei menos. Sei é que soube de ti.

Estamos vivos, meu irmão. O nosso Sporting anda a jogar uma miséria, mas nós não somos do Sporting por aquilo que os tipos jogam, somos do Sporting pelo que calha sermos. Não é, amigo? É.
Eu sei, é uma merda, às vezes. Mas outras vezes não é, umas pagam as outras, isto é uma contabilidade que nem tu nem eu havemos de fazer, fá-la-ão os netos. Esta e outras contabilidades. Deixa andar.

Olha, estamos ambos vivos, hoje ainda é quarta feira, aceita a minha presença, manda notícias, aguenta-te à bronca, tens-me à perna, não te livras de mim (não me largues agora, eu também tenho um Opel, uma carrinha, azul, não havia verde, ouviste?...), por isso muda a música de vez em quando. Que raio de gosto o teu, pá! Só tens aí "canas-rachadas"?

Um abraço.

18.10.05

Pequenos atentados ao imperativo categórico

Em geral toda a gente tem, uma vez ou outra, a sensação de que nada se tem para dizer que interesse aos outros. Curioso é perceber quantos tontos existem para quem o interesse daquilo que pretendem que os outros ouçam se mede exclusivamente pela sua pequena-ocasional circunstância.

17.10.05

A origem do amor*

Há dois milhões de portugueses pobres.
Quase todos, desafortunados, hão-de ter tentado tanto como os outros milhões de portugueses para ter mais.
Outros amealharam e, do que tiveram, deram demais. Tanto deram que, quando lhes acabaram os haveres, não havia quem lhes quisesse dar.
Não se pode pagar a quem já deu tudo. Dá-se, mesmo sem receber, a quem, já nada tendo, ainda dá.

*Com a licença, espero eu, do Miguel.

Sobre quintas

Numa quinta-feira qualquer (os semanários saem em que dia, é à sexta?) Cavaco virá anunciar uma de duas coisas: que se candidata à presidência da república ou que, pelo contrário, não se candidata.
Ai não há esta dúvida? Nunca a houve, portanto?

Quem afirmar, garantir, jurar, eu sei lá que mais, que Cavaco é, inevitavelmente, candidato, passa-lhe um enormíssimo atestado de menoridade mental. De bobo da corte.

É o mesmo que admitirem que o homem tem andado a gozar com isto tudo. Que, de facto, nunca ponderou nada que se visse, que sempre soube. Apenas não disse. Apenas brincou às hesitações e às reflexões, primeiro; e, depois, sorrindo daquela forma rígida de quem tem um tétano a comer-lhe a alma, aos "timings".

E, a ser assim, em não sendo isto uma república das bananas, eu sugiro que se passe toda a campanha (que parece que vai ser "pequena e eficaz", diz este senhor *) a repetir-lhe que há uma grande diferença entre um tabú (que é uma merdice qualquer que parece que ele tem na cabeça, em permanência, e parece que há quem goste dele assim, mas também há quem goste do Beto, paciência) e uma figura ridícula de "brincalhão com coisas sérias", que é a figura que ele tem andado a fazer. E a atirar-lhe às austeras e severíssimas feições (tão semelhantes às de Tino de Rans, na essência estética) que se comportou com uma absoluta falta de respeito pelas pessoas. Excepto pelas que acham graça a esta espécie de chicana legitimada, que essas merecem todo o tipo de enxovalhos que dali se derrame.

* - Luís Delgado, a não lhe terem deturpado o texto que li hoje, não se limita a ser aquilo que tenho dito dele. É pouco. Passa a ser candidato a uma bolsa de estudo para ver se se consegue que repita o caralho da quarta classe, nem que seja por disciplinas, num sítio qualquer onde ainda haja palmatórias de "cinco olhos".

Pronto.

Dias da Cunha não tem razão quando diz que o problema do Sporting tem que ver com a comunicação social. Leia-se "os jornalistas".

Ontem, na derrota com a Académica, ouvi de tudo. Verdades evidentes (mas ainda bem, é melhor que sairem coisas de jerico) e perfeitas idiotices de quem não percebe patavina daquela merda.

Parece que descobriram, finalmente, que o maior equívoco da defesa do Sporting, quando não da equipa toda, há vários anos, se chama Beto. Nem sequer é um caso invulgar de falta de personalidade competitiva (há mais assim), mas é um dos mais gritantes exemplos de inaptidão para a liderança dum jogo colectivo que já vi. Não é pecado, ele é assim, merece viver uma excelente, longa e feliz vida, não é isso que está em causa. Não pode é ser capitão de nada. Já como general consigo imaginá-lo, tem piada. Como capitão, não. E puseram-no lá. Por mim não jogava e estava fora do Sporting há alguns anos. É a minha opinião.

O mesmo comentador (jornalista, presumo) que disse isto afirmou, depois, outra verdade que só não vê quem não quer: não parece haver qualquer tipo de comunicação, de empatia, de solidariedade entre os jogadores do Sporting. Quase todos parecem jogar sozinhos, cada um por si e para si. Não são todos, concedo. Mas o Beto é um deles.
Isto é normal e costuma acontecer na ausência de uma de duas coisas: de liderança ou de bons princípios. Ou, mesmo, na ausência de ambas. Ver-se-á se tenho razão, quanto a esta história dos bons princípios, quando correrem com o treinador (deve estar para breve) e vier outro.

Ainda o mesmo comentador (provavelmente jornalista), que tinha estado acutilante até ali, estragou tudo, ao afirmar, num lance em que a Académica desceu com muito perigo, em superioridade numérica, julgo que após uma perda de bola (mais uma) de Sá Pinto (outro caso flagrante da síndrome "que é que este gajo anda ali dentro a fazer!?"), ficando Polga "às aranhas" no meio de dois tipos.
E foi assim que as coisas se passaram, que eu vi: o que tem a bola, descaído para o lado esquerdo, já dentro da área, simula o remate; e Polga, que foi a ele "dobrando-se" a si próprio (Beto não estava lá, tinha ido à fruta), deslizou pelo chão, oferecendo o corpo à bola que estava para ser rematada. Remate que não saiu, de facto, mas que iria à baliza se tivesse saído, não fora qualquer imperícia grosseira do avançado. O jornalista em questão, perante o drible (fácil, evidente) a Polga, preferiu interpretar aquilo como uma "má queima" de Polga, que assim "se deixou fintar como um juvenil"! Que afirmação estúpida de ignorante! Polga nem sequer tentou o corte, apenas tentou oferecer o corpo à bola! Não queimou nada, está é a ser bem queimado! E Ricardo, que ganhou tempo e posição entretanto, acabou por defender, com alguma sorte mas muita bravura. É o melhor guarda redes do Sporting, reafirmo isto.

Isto é grosseiro e enerva. Há sportinguistas que caem nisto, devem ver a bola sempre de costas, sempre a cantar aquelas merdas giras que agora há, enquanto não avançam sobre a direcção a pedir mudanças, às tantas, em vez de se limitarem a ver o jogo e a berrar o nome do clube.

Polga é um grande defesa central, com bons pés, que joga sobre brasas porque o rodeiam de nabos e, ainda por cima, dão braçadeira de comando a alguns deles. Seria titular no Porto, no Benfica, num grande número de equipas estrangeiras de nomeada, em que o deixassem pensar em vez de andar a fazer tudo. Também aqui se verá se tenho ou não razão, porque me parece que tudo se encaminha para correr com ele, deixando lá ficar a "eterna promessa", o Betinho, a prometer enterrar-nos de cada vez que pisa um relvado. Sim, que os turcos do Besiktas não são parvos!

Relembro isto: fomos campeões quando Beto andou pelo banco. Em 2002, então, foi um regalo, ver Babb (um defesa normal, mas rijo e rápido) a jogar ao lado de André Cruz (classe pura, pés de veludo e inteligência específica, que eu não sei se ele tinha mais que esta, só o vi jogar, não lhe vi mais nada). Ambos quase no final da carreira, note-se. Beto nem carreira tem. Tem tido público e imprensa.

Repito que Dias da Cunha não tem razão, por isto: o Sporting tem má imprensa, personificada nas baterias assestadas em Peseiro, Polga e Pinilla, por exemplo; mas isso não basta para justificar, sequer, um empate com o Porto em casa, quanto mais.

Por isso, Dr. Dias da Cunha, faça-nos um favor: traga-nos o Jorge Costa, que o Porto não parece querê-lo, ponha-o ao lado do Polga e dê ao Jorge Costa, mesmo recém-chegado do inimigo, uma braçadeira. Ele já atirou uma braçadeira ao chão, uma vez, que eu vi. E foi punido por isso. Mas sempre que a usou, tirando dessa vez, honrou-a sempre. O Polga e nós todos agradeceremos esse gesto perspicaz. E nunca mais o desgraçado do Polga será humilhado por andar ali a fazer o trabalho de dois, como tem andado.

14.10.05

Micro-nésia

Via technorati (aquela coisa que é uma espécie de unidade para medir os centímetros da referência) fiquei ciente de que o Gabriel (via Miss Pearls) também ficou ciente (eu, em se tratando de cientes, é logo às golfadas) dum texto da lolita que considerou (ele, Gabriel, via Miss Pearls) "dizer tudo".
É assim a vida. Curiosamente, Miss Pearls também citou o texto. Mas parece ter ficado ciente dele - do texto - na nascente, que é onde se bebe (isto em geral) a melhor e mais pura das águas. Miss Pearls sabe disso, o Gabriel vai dependendo do que lhe sai da torneira.
Ou, então, é só deselegante. Sabe porquê, Gabriel? Por isto: mesmo que só tivesse lido o texto da lolita - que é muito bom, digo-lho eu, pense o que quiser da minha escala de valores - no blogue da Miss Pearls (ou noutro qualquer, houve outros que o citaram) ficava-lhe bem melhor citar, apenas, a fonte.
Claro que eu comecei por dizer que li o seu texto via technorati. Mas desfaço já essa deselegância: foi mesmo no Blasfémias que o li.

13.10.05

Esperando sinceramente que a emissão tenha sido do vosso agrado

Eu lembro-me, há vinte anos atrás, de toda a gente achar a Valentina demasiado kitsch, mesmo para a época, mesmo então, que toda a gente tinha consciência de que tudo era piroso, exagerado, brilhante em demasia. Conhecíamos a Valentina pimba, espécime das extintas locutoras da RTP que, no intervalo da programação, apareciam todas pimponas e todas sorrisos a debitar os highlights da sessão televisiva. A Valentina era, então, um ícone do telespectador dedicado, uma RTP-mate que se empenhava - notava-se - a fundo na missão informativa, ainda que sabendo que só se tratava de informação light, nada de fundamental para a nação.

A Valentina regressou, vinte anos depois, com vinte anos a mais, naquela nova quinta da TVI em que se brinca à recruta de tropa. Agora, a verdadeira Valentina, não a locutora. Hoje, num close-up, percebeu-se-lhe a realidade na expressão. A Valentina humana é mesmo humana: sabe-se envelhecida, sabe-se anafada, sabe-se obsoleta, sabe-se amada. Fraqueja muito, fortalece a seguir. Não sei se é incómodo, isto de sabermos da humanidade das estrelas televisivas, sobretudo as estrelas kitsch, ainda por cima em formato de entertenimento de massas. A Valentina estava, ali, tão despida, tão longe das permanentes de caracóis e das golinhas de renda fucsia dos anos oitenta. Tanto que inquieta imaginarmos quantas vezes nos aconteceu, com o mesmo despudor que a Endemol nos oferece, espreitarem-nos a alma sem darmos conta.

Parvoíces de besugo

Não se confirma que Sócrates tenha sancionado Carrilho, Assis e João Soares - como candidatos às câmaras que estavam difíceis de ganhar - para acabar, de vez, com eles (enfim, acabar de forma temporária, politicamente, essa maneira temporária de acabar que há).
Mesmo com a candidatura de Mário Soares isso não se passou. Estão enganados. Não se confirma que, em relação à família Soares, Sócrates (ou Coelho?, ou mesmo ambos?) se tenha limitado a engendrar uma maneira de eliminar quase toda a oposição interna, sobretudo com a oposição dinástica.
Não se confirma, sobretudo, porque, até prova em contrário, Sócrates (e Coelho?, e mesmo ambos?) não controla, minimamente, Alegre.

Mas é só por isso, basicamente, que não se confirma. Porque a confirmar-se, Alegre estaria a banhos em São Pedro do Sul, ou assim, e não está. Que se saiba.

12.10.05

Os remendos

O lado mais inquietante do lastimável estado da nação é o de que não parece ter fim. Há tempo demais que os vitoriosos são os condenáveis ou, apenas, os franzinos que sobram depois de rejeitados os derrotados. Depois há-de vir Cavaco Silva, ou Soares. E Sócrates, que já veio, e mais do mesmo, depois de Sócrates, mais ao centro ou à direita. Discutir-se-ão as mesmas coisas e lançar-se-ão as mesmas causas (incluindo as microscópicas); hão-de sempre aparecer os punitivos, porque por cada prevaricador há sempre, pelo menos, um punitivo, que a espécie humana distribui-se equitativamente, em matéria de malfeitorias. Mas é assim que, bem vistas as coisas, nos mantemos optimistas, crentes numa redenção possível, ainda que seja longínqua. Vamos mantendo-nos à tona à custa do nosso espanto.
Esta entropia nacional não é temporária nem tem culpados. Nós é que, se tivermos em conta a nossa proverbial incapacidade de criar alguma coisa para além do efémero, somos, provavelmente, demasiado exigentes.
Não somos, portanto, maus de todo.

Brothers in arms

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Eu sei que podem dizer-me que "ah! dizes o que dizes porque esse tipo é irmão da Julia Roberts - e eu acho, de facto, a Julia Roberts um mulherão; acidentalmente semi-estrábica, admito, mas sempre achei que os olhares semi-estrábicos têm uma profundidade adicional - é por isso que dizes isso, que assim te aleivosas torpemente!".

Marimbo-me para o facto, que, aliás fala por si. Andor, paneleiragem.

O irmão da Julia Roberts é muito mais belo e credível (e presidenciável) que o Cavaco Silva.
(chega-te à frente duma vez, se tens coragem, ó ex-ministro dos dinheiros; mexe esse cu magro de quem guiava Citroenes BX, leia-se "bou xegar!, e avança duma vez, títere dos tristes!).

Esparta isto

Se não estiver de chuva e se lhe cair decentemente o seu iogurte matinal, o senhor professor Cavaco virá dizer-nos, numa destas quintas feiras próximas, que não será candidato a mais nada do que ao que tem sido: à academia da saliva ao canto da boca.

Ficarei muito surpreendido se for ao contrário. Se se atravessar a dizer "portugueses, aqui estou!" virei mesmo aqui proferir um espantado "Oh! Que surpresa!".

Aliás, direi "Oh! Que surpresa!" em qualquer caso. Basta ele falar que eu surpreendo-me sempre, até pela profundidade abissal e um bocadinho submarina (é da saliva ao canto da boca, às tantas) do estimável indivíduo em questão.
Caramba: diz-se Cavaco, a gente levanta-se, é quase como se tocasse o hino. Aquele da Nely Furtado, ou lá como se chama a pequena fêmea que fez o hino da Grécia.

Já que se fala nisso

O PP desapareceu, o que não pode acontecer a um partido que é um pilar do nosso sistema. Aguardemos pelos próximos capítulos.

Não pode? Pilar? Sistema?
Caramba! "Tá male"!
Sobretudo na parte do pilar, que se aproximam as castanhas e tudo.

Aquilo dos "próximos capítulos" é ele a derramar-se de espírito telenovelesco: este ser, esta criatura, é um "escravisauro". No fundo, é.

Altino:

Aquilo das micro-causas, o que eu disse, não é contigo, Altino. Que fique claro que não é contigo. Não me chateies tu também, agora, com isso.

Vou assinar a tua causa, embora eu prefira ler coisas em inglês e em francês do que em "buédafixe", que é o português que nos espera a todos, kom kapa e bora lá. Quando não, espera, a ver se não tenho razão.

Estou um bocado "foda-se"? Olha, se calhar estou, desculpa. Há-de ser do murro que o Beto deu no Custódio (eu, se fosse ao Custódio, partia os cornos ao Beto, sem problemas, podes crer que sim, que eu já estive ao pé dele e o puto nem em "ão" começa, quanto mais; e que começasse).

Bom, adiante, vamos à vida. Desculpa esta maçada. E não me linques, caralho, não me linques que eu, por esta merda, não quero. Entendes?

11.10.05

Arrumando os papéis

A lista de links daria uma trabalheira danada, se eu lhe dedicasse, ao menos, um quarto da atenção que um Luis Delgado dedica à análise política e com o que contribui, semanalmente, para combater a nossa iliteracia cívica e, sobretudo, para provocar recorrentes ataques de fúria ao besugo. Além disso, a blogosfera é profundamente dinâmica e evolutiva: não há lista de links que resista aos nascimentos, aos óbitos, às mortes súbitas, aos abandonos, às remodelações e, até aos desdobramentos dos blogues. Finalmente, é sabido que estou só nesta tarefa: o besugo entretém-se entre os ataques ao Delgado e o silêncio sobre o Ricardo e o Alonso não aparece - sinal de que há-de ter perdido o telemóvel pela décima quarta vez.
Aqui chove e eu estou com falta de assunto. É desta. Vou incluir novos blogues e remover os extintos. Dedicarei, depois, a minha atenção aos modificados: o João Tunes, por exemplo, já na sua quarta água, vai apurando o tom e o estilo: distingue, com primor, clareza e cortesia, entre amigos e conhecidos.
Entretanto, há uns dias atrás subscrevi a petição do Altino. Em tratando-se de micro-causas, prefiro, de longe, uma portugalidade de direito a uma causa de juízos. E esta, ainda por cima, é concretizável.

Se quiseres apaga, lolita

Vamos a ver: sendo certo que a todos nós são colocadas questões todos os dias, mais certo é que cada um sabe das suas.
Eu, quando calha falar de mim, falo de mim. Não passa disso, dum falar de mim. Num médico, isto é um narcisismo triste de aprendiz eterno. E fraco. Mas espero que me entendam, um bocadinho para além desta trivialidade, por um motivo simples: eu também entendo os outros que falam de si, ao menos quando calha sentir-me decalcado, tatuagem efémera nos cornos, no que os outros dizem.

A um médico coloca-se, algumas vezes, a questão de, talvez(!), ter tido a obrigação de ter descoberto antes. Não interessa quando, nem o quê, interessa que talvez devesse ter descoberto (seja o que for) antes de ter, efectivamente, descoberto (seja o que for). Isto tem que ver com o desfecho, evidentemente: se correu mal e se percebeu, depois, porque é que correu mal, é evidente que toda a estratégia deveria ter sido diferente, sobretudo se ela não foi bem dirigida: basta ver o defecho para se perceber que não foi bem dirigida.

A grande questão é esta:
Eu, ontem, ou anteontem, deveria ter pensado nisto? Tinha a obrigação de ter pensado nisto? Ou só estou agora a pensar nisto (e no resto) porque correu tudo mal?
Pode sofrer-se bastante, nestas margens, se não tivermos (ainda) vergonha de nós e se ainda nos interessarmos um bocadito pelos outros, sacanas dos outros, cujo sofrimento nos dá o pão, que sabe tão mal, às vezes. Deve ser o pão ázimo que nos cabe; isto, em ambos os sentidos do adjectivo, o teológico e o (pobremente) gustativo.

Hoje pensei que me podia ter escapado, ontem, alguma coisa. E tive medo, hoje. Soube, há bocado, que o que me poderia ter escapado ontem, afinal, não me escapou: não foi isso que aconteceu. Para o doente em questão era melhor que fosse. Para mim, não. Para mim, enfim, não sei.
Para mim, caralho, merda grossa: porque era melhor para o meu doente, eventualmente, eu ter falhado ontem do que ter razão (esta espécie torpe de razão "certinha", compreendem?) hoje. E eu hei-de andar sempre a balançar neste cavalo maluco que não controlo.

Queria dar, hoje, se o conhecesse (e não conheço), um abraço ao MEM. E receber outro dele, em troca. Não digo mais nada, merda, nem queria mais nada do que isto.

Que se fodam as micro-causas, caralho! Há aí alguém com mioleira e órgãos sexuais e cu (que não é um órgão sexual, não me chateiem!), cu para ter medo, ao mesmo tempo?

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