blog caliente.

11.10.05

Se quiseres apaga, lolita

Vamos a ver: sendo certo que a todos nós são colocadas questões todos os dias, mais certo é que cada um sabe das suas.
Eu, quando calha falar de mim, falo de mim. Não passa disso, dum falar de mim. Num médico, isto é um narcisismo triste de aprendiz eterno. E fraco. Mas espero que me entendam, um bocadinho para além desta trivialidade, por um motivo simples: eu também entendo os outros que falam de si, ao menos quando calha sentir-me decalcado, tatuagem efémera nos cornos, no que os outros dizem.

A um médico coloca-se, algumas vezes, a questão de, talvez(!), ter tido a obrigação de ter descoberto antes. Não interessa quando, nem o quê, interessa que talvez devesse ter descoberto (seja o que for) antes de ter, efectivamente, descoberto (seja o que for). Isto tem que ver com o desfecho, evidentemente: se correu mal e se percebeu, depois, porque é que correu mal, é evidente que toda a estratégia deveria ter sido diferente, sobretudo se ela não foi bem dirigida: basta ver o defecho para se perceber que não foi bem dirigida.

A grande questão é esta:
Eu, ontem, ou anteontem, deveria ter pensado nisto? Tinha a obrigação de ter pensado nisto? Ou só estou agora a pensar nisto (e no resto) porque correu tudo mal?
Pode sofrer-se bastante, nestas margens, se não tivermos (ainda) vergonha de nós e se ainda nos interessarmos um bocadito pelos outros, sacanas dos outros, cujo sofrimento nos dá o pão, que sabe tão mal, às vezes. Deve ser o pão ázimo que nos cabe; isto, em ambos os sentidos do adjectivo, o teológico e o (pobremente) gustativo.

Hoje pensei que me podia ter escapado, ontem, alguma coisa. E tive medo, hoje. Soube, há bocado, que o que me poderia ter escapado ontem, afinal, não me escapou: não foi isso que aconteceu. Para o doente em questão era melhor que fosse. Para mim, não. Para mim, enfim, não sei.
Para mim, caralho, merda grossa: porque era melhor para o meu doente, eventualmente, eu ter falhado ontem do que ter razão (esta espécie torpe de razão "certinha", compreendem?) hoje. E eu hei-de andar sempre a balançar neste cavalo maluco que não controlo.

Queria dar, hoje, se o conhecesse (e não conheço), um abraço ao MEM. E receber outro dele, em troca. Não digo mais nada, merda, nem queria mais nada do que isto.

Que se fodam as micro-causas, caralho! Há aí alguém com mioleira e órgãos sexuais e cu (que não é um órgão sexual, não me chateiem!), cu para ter medo, ao mesmo tempo?

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