blog caliente.

9.10.05

Sequelas

1. É evidente que o Ricardo tem de ser o guarda-redes titular da selecção.
Se não fosse ele, digam-me: que raio de emoção teria o jogo de hoje, contra aquela selecção dum país cuja população cabe (quase toda) no estádio de Aveiro?

2. Por aqui vai uma secura agreste de apreensões. Estou a definir um clima, um clima sente-se, não nos vai por dentro. Pode ir por dentro doutras gentes, isso admito, é um estado de alma a que eu assisto, de fora dele, que eu não estou dentro de ninguém sem que me queiram lá.

Fui ler uma despedida dum confrade que não sabe que sou seu confrade e sorri; começou a terra a cheirar-me a chuva miudinha.
Depois do folclore, às vezes, não há mais nada - dirão alguns.
Há, há. Há o costume, que é o que sempre houve, mesmo que o que houve sempre seja quase nada.
Eu explico melhor: não basta eu vir aqui dizer que tenho vontade de servir quando, na minha vida toda, não fiz senão servir-me. Há gente que quando diz "quero servir" apetece perguntar-lhe "então, rapaz, és tu um servo?". Apetece perguntar isto, só para os ver plissar, derrapar nas pernas bambas, e dizer que "isso também não, foda-se". E depois bradar que "mas os outros também são assim!", com os olhos marejados. Não me serve.
Para isso, ficavas quedo, atrás, quieto, calado. Até teres de falar, que to pediam.

Na vida, quem se quer chegar à frente tem de ser diferente. Tem de trazer diferença, não lhe basta dizer que a traz ali, sem que se veja.
Por outro lado, a vida é feita de trajectos. E os trajectos demoram a construir. Eu sei que a penumbra custa. E que apetece, às almas que se cuidam eleitas, o salto mais comprido para a luz, para a ribalta. Mas esse salto não se faz de olhos cerrados, mesmo com um lume aceso nesses olhos, só para dentro dando luz e calor, porque, exactamente: estão cerrados. E percebe-se, claramente, que toda a luz que se enxerga ali é a da ribalta, nenhuma luz ali vem, adicional, no saltitão.

Quem se chega à frente, saltitando, acenando "olhem eu aqui", tem de trazer, nos olhos, um lume diferente. Um clarão qualquer que alumie o caminho dos outros e não, apenas, as intestinas vísceras. Uma chispa que leve os outros a saltar, também, atrás daquela luz que guia. Por ser tão clara que encandeia, mesmo, a luminotecnia permanente e fria da ribalta. Isto da ribalta há-de ficar, algures, no Praquistão.
De esplancnologia estamos todos cheios. Do diafragma para baixo, então, é um desatino.

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