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7.10.05

A crónica feminina

Com venenozinho subtil, o Alonso deixou aqui, na sua última aparição, uma papaia sobre os "blogues no feminino", bem sabendo que a minha opinião sobre o tema, ao expressá-la, me embaraça. A questão é que não é fácil, seja para quem for que seja mulher, falar do "feminino" ou das "mulheres" sem parecer uma feminista empedernida, do tipo sanguinário-maternal - à Odete Santos -, ou do tipo panfletário-onanista - à Maria Teresa Horta. Ou, pelo menos, sem ser imediatamente acusada de qualquer coisa semelhante, assim que se pronuncie, ainda que instrumentalmente, a palavra "mulher".
Eu não quero, por isso, falar de feminismo. Até porque as causas feministas se fulanizaram há muito e porque se pressente uma tendência crescente para o revivalismo e para a promoção das pequenas idiossincrasias femininas, essas sim, sempre eternas mas notoriamente subversivas, se usadas como marcas distintivas (ou glorificadoras!) das mulheres. Muitos supõem ser impossível falar no feminino sem que, algures no discurso, se abordem temas como a marca dos tampões ou os sintomas da TPM. E até podem, justamente, invocar que há mulheres que escrevem assim.
Estranho, sempre - ou melhor: não estranho, mas espanto-me -, quando se fala em escrita feminina. Não que não exista, mas porque é tão naturalmente feminina como a escrita masculina é naturalmente masculina. Estranho o destaque, o debate, a discussão sobre um dado empírico que deveria estar, por esta altura, adquirido ao ponto do esquecimento, como se se tratasse de um alicerce de uma construção - que nunca vemos mas sabemos existir.
Insiste-se, porém, no destaque à escrita feminina. Não desonra, mas não honra por aí além nenhuma mulher de bom senso, que se lhe elogie a escrita feminina, como se o adjectivo aprisionasse aquela precisa escrita a uma comparabilidade, incontornável e recorrente, à escrita em padrão normal como único critério possível de se lhe apreciar o mérito. Mais nos valia que a rejeitassem desde logo, que não há nada de mais obtuso do que sugerir que se escreve bem, apesar de.

P.S. Carla e Miss Pearls, ilustres e inspiradas bloggers: nada isto belisca, sequer, a minha curiosidade sobre isto. É, apenas, a minha opinião, talvez divergente da vossa, mas penso que não. Felicidades.

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