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5.10.05

Estrabismos voluntários

"É verdade que o sr. Alcobia já cumpriu pena, mas continua a ter no curriculo a participação numa organização terrorista que combateu o regime democrático, o que não pode deixar de ser politicamente relevante."

"Quem considera a condição de arguido politicamente relevante, não pode considerar que a condição de ex-terrorista não o é."

Reparem na expressão "politicamente relevante" (o bold é meu), introduzida por João Miranda, a martelo. E reparem que não utilizou a mesma expressão no seu pequeno texto inicial. Consultem, por favor. Quanto mais consultarem, mais o Blasfémias se torna uma referência: o que é merecido, porque eles dedicam-se muito a tentar sê-lo. E a consegui-lo, olhem eu aqui.
Bom.

Ele sabe que, para poder dizer o que disse no segundo escrito, em que tenta safar-se, tem de colocar o adverbiozinho "derivado da política" antes do "relevante". Percebemos, pois, que uma coisa pode, por algumas cartilhas, ser relevante, irrelevante, ou, e isto parece que dá para tudo, politicamente relevante ou irrelevante.
É o politicamente que faz toda a diferença, sobretudo se a política for encarada como um cortelho (ou como uma maneira refocilante de o habitar) que dá, a ser assim, de facto, para quase tudo.

O que João Miranda diz é indefensável.

O Sr. Alcobia não é, actualmente, arguido em crime nenhum. O Sr. Ferreira Torres, é. Em mais do que um, até.
No seu curriculum, o Sr. Alcobia tem uma condenação e contas saldadas com a Justiça. O Sr. Ferreira Torres tem, no seu curriculum, se outras coisas não tiver, adiamentos e recursos de decisões judiciais condenatórias.
O Sr. Alcobia, porque já pagou pelo que fez no passado, nada deve. Do Sr. Ferreira Torres, que "dá esmolas a advogados para interporem recursos" (ele é que disse, não fui eu, vinha no JN), não sabemos se deve ou não.

Um ex-condenado que pagou pode candidatar-se? Pode. Porque nada deve.
Um arguido pode candidatar-se? Pode. Porque, embora não se saiba se deve ou não e haja fortes suspeitas de que sim, se presume (interpôs recurso), muito bem, que não. Até ver.

As comparações, para serem honestas, devem parecê-lo e, sobretudo, sê-lo. E não parecem, nem são, neste caso, em que deu jeito a João Miranda misturar as coisas, colocando na sua mira realidades tão diferentes, tão afastadas na sua relevância (mesmo política) que o "sniper" deve ter trocado os olhos para fazer a sua pontaria: é que, como se percebeu, ele só tinha um cartucho para disparar. E quando há dois alvos distintos, a querermos ser certeiros, é melhor termos dois cartuchos e apontarmos à vez. Mesmo que seja muito depressa, como no tiro aos pratos.

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