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31.10.05

Porque é que eu voto no Poeta

Gosto de políticas e de políticos socialmente solidários. Acredito na necessidade de um estado protector dos desfavorecidos e suficientemente interventor para redistribuir a riqueza de forma a assegurar o nível mínimo de bem-estar a todos, sem cuidar de saber, nesse nível mínimo, da contribuição de cada um para o bem comum. A democracia cumpre-se, acima de tudo, na dignificação da cidadania e é indigno, para um país, que se assista passivamente à acumulação desenfreada de riqueza sabendo-se que há quem passe fome todos os dias. Fome de tudo. Isto para falar, apenas, em exemplos extremos de indignidades reais.

O besugo acusa-me, muitas vezes, de ser "equidistante" sempre que critico partidos ou políticos (o que acontece muito) ou mesmo quando os elogio (o que, enfim, acontece pouco). No fundo, acusa-me de indefinição política, o falsário. Mas tenho a informação - privilegiada - suficiente da vida partidária de aparelho para não ter qualquer ilusão grandiosa a esse respeito. Conquistar o poder é um iter com tendência irresistível para o apodrecimento decadente. Para além disso, custa-me muito perceber o que é ao certo a disciplina partidária, esse fenómeno que determina a escolha, por obediência ou gregarismo, do povo eleitor. Nunca me filiei em partido algum, acho que nunca me filiarei. Mantenho, e quero manter, a distância suficiente para, em cada momento, escolher o que melhor me parecer (ou não escolher, se for o caso) sem que me seja apontada incoerência ou até, para os mais fundamentalistas, actos de traição à causa.

Isto já vai longo e parece (calma, é só pelo tamanho) um manifesto político. O que quero, na verdade, é dizer porque é que decidi apoiar e votar em Manuel Alegre.

Antes de mais, por simpatia (ou empatia). Simpatiza-se muito facilmente com alguém a quem tiraram o tapete sem que para tal rasteira tenha contribuído e, pior do que isso, em favor de uma segunda escolha que, num raciocínio estupidamente serôdio, pensava Sócrates dar-lhe mais hipóteses de vencer o professor – mas que, afinal, dá todos os sinais de vir a ser humilhantemente derrotado. A menos que desista, no que faria um favor a si próprio e ao país, obrigando Cavaco Silva a disputar a esquerda unida numa segunda volta.

Mas não se escolhe um candidato apenas por sentido de justiça. Manuel Alegre é um político limpo e impoluto. Lembra-nos do amor à pátria. Orgulha-nos, pela consistência do ideário. Mostra, na incontornável vaidade pessoal, a exacta medida da firmeza de carácter. Em tudo, está nos antípodas da astúcia, sarnenta e inconsequente, daquele por quem foi preterido. O super, pois.

Muito me custa, por último, saber que há possibilidades reais de que o próximo presidente da república seja um homem certinho e organizado, daquele tipo que acorda muito cedo para o cumprimento do dever e manda trinta mails às sete da manhã sobre os factores decisivos de desenvolvimento da economia, sobretudo para que fique registada a hora nas caixas de entrada dos destinatários. Da minha parte, combatê-lo-ei hasta la muerte! - ou até perceber, se for o caso (que não acredito), que será Soares o adversário da segunda volta. Se assim for, e seja quem for que vença, só vencerão os aparelhos e os satisfeitos.
Não os homens de ideias. E de ideais.

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