Valha-me Santa Teresinha!
Se bem percebi a notícia, o advogado José Maria Martins sugeriu, eventualmente no tribunal, que fosse feito um exame pericial aos ânus dos arguidos no processo Casa Pia, baseado nuns estudos (vamos admitir que existem, esses estudos, não os conheço; mas mesmo que existam são irrelevantes para a questão) que apontarão para o facto de, algumas vezes (ou muitas, ou poucas, não interessa), os pedófilos serem, simultaneamente (ou em tempos diferentes), homossexuais passivos.Que vem a ser isto?
Como é que se pode sugerir uma coisa destas?
Que se pretende provar com isto?
1 - Duvido que, mesmo perante ânus com sinais de "arrombamento" (cicatrizes, perdas de elasticidade esfincteriana e de continência, eu sei lá que mais!), se consiga estabelecer, só por aí, um nexo de causalidade entre essa eventual evidência e a penetração peniana. Quanto mais com a homossexualidade, que é uma questão mais abrangente. Mesmo que passiva.
2 -Mesmo que fosse possível demonstrar, inequivocamente (e não é) que "aquele penetrado ânus" só o poderia ter sido (penetrado, sim) por "erecto e alheio pénis" , apenas se demonstraria que o arguido teria, nesse caso, sido sodomizado, independentemente do seu gosto por esse tipo de comportamento.
3 - Os tais estudos (que, repito, não conheço, mas admito que os haja; e, em os havendo, é possível - mas não obrigatório - que sejam válidos) referirão que parece existir especial tendência para a homossexualidade nos pedófilos. Mas não apontarão o contrário, ou seja, que haja uma especial tendência pedófila nos homossexuais.
4 - Assim sendo, o mais que se conseguiria dizer, dum arguido que tivesse o ânus em mau estado de conservação, seria que "talvez, talvez, muito talvez, tivesse sido sodomizado".
Que acrescenta isto de relevante a um julgamento que se pretende, como todos, sério? Absolutamente nada.
É despropositado e, pior do que isso, parece malicioso. Penso, até, que, em não se tratando apenas de chicana, estamos perante uma perfídia.
Adenda: como o Dr. José Maria Martins tem um blog, apesar de a matéria em questão não ter sido abordada lá, decidi colocar, ali em cima, a ligação. Uma figura pública interpela-se onde se pode, quando se sente que há motivo para isso.
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