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12.10.05

Os remendos

O lado mais inquietante do lastimável estado da nação é o de que não parece ter fim. Há tempo demais que os vitoriosos são os condenáveis ou, apenas, os franzinos que sobram depois de rejeitados os derrotados. Depois há-de vir Cavaco Silva, ou Soares. E Sócrates, que já veio, e mais do mesmo, depois de Sócrates, mais ao centro ou à direita. Discutir-se-ão as mesmas coisas e lançar-se-ão as mesmas causas (incluindo as microscópicas); hão-de sempre aparecer os punitivos, porque por cada prevaricador há sempre, pelo menos, um punitivo, que a espécie humana distribui-se equitativamente, em matéria de malfeitorias. Mas é assim que, bem vistas as coisas, nos mantemos optimistas, crentes numa redenção possível, ainda que seja longínqua. Vamos mantendo-nos à tona à custa do nosso espanto.
Esta entropia nacional não é temporária nem tem culpados. Nós é que, se tivermos em conta a nossa proverbial incapacidade de criar alguma coisa para além do efémero, somos, provavelmente, demasiado exigentes.
Não somos, portanto, maus de todo.

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