Festivais
Quando eu era pequenino, o festival da eurovisão era uma sobremesa anual apetecida, em que Portugal se misturava com os outros a cantar e, depois, perdíamos sempre, mas ao menos estávamos lá, com os outros, o que era raro. Como era costume, isto de perder, nas outras coisas todas em que estávamos, tirando a selecção de 66. E, mesmo assim, perdemos. Era muito pequenino, eu.
Depois, passei pela fase em que achava que aquilo estava "tudo feito", porque nenhuma cantiga cantada pelo Fernando Tordo, pelo Carlos do Carmo, pelo Duarte Mendes, pela Simone, ou pelo Paulo de Carvalho, nem nenhum poema do Ary dos Santos (pérolas a porcos, pensei eu na altura), alguma vez, nem que fosse por milímetros (nano-decibéis?) ganhou aquilo. Era muito inocente, eu. E pequenino.
Agora, depois dum grande hiato em que não liguei àquilo mais que a ponta dum corno, revi-me a crescer ao som daquilo. Que todos os aniversários se podiam virar, naquela altura, pela data do festival.
Estive a ver um bocado da festa dos cinquenta anos, atreveram-se a começar aquilo um lustro antes de eu nascer. Pelos vistos.
Vai ganhar uma merda qualquer, talvez o "Waterloo", dos Abba. Logo que entraram os nórdicos se percebeu que, aos nórdicos, competiria, em matéria de musica, estarem caladinhos. Toda a gente percebeu isto, excepto eles, que desataram a votar uns nos outros e a ganhar festivais à conta disso, porque conseguem associar às suas grandes capacidades organizativas, e ao seu imenso sentido de justiça social, e à sua elevada taxa de suicídios, e ao seu talento para o automobilismo, uma parolice que só se encontra, hoje em dia, na Suíça e na Áustria. E lá, no norte da Europa.
Eu não falo aqui dos parolos do sul, porque falar dos parolos do sul, em Portugal, desencadeia logo histerias colectivas nos tipos e tipas que vivem do Mondego para baixo, que, em ouvindo "sul", cuidam logo que é com eles ou com elas: bússolas avariadas.
Ganhou "Waterloo". Disseram-me agora. Era de prever. Sem querer adivinhar, cuido que a lolita, em podendo, em querendo, em ligando a isto (que às vezes parece-me que só eu ligo, aqui, a certas coisas), aprovaria a escolha do grande público europeu. Aquilo é altamente dançável por qualquer émulo de Durão Barroso.
Eu não concordo. A mais bela canção, a mais bonita canção dos festivais, ao menos entre as seleccionadas pelo "Grande Júri", foi a única que se conjugava, toda ela, na segunda pessoa. Tu.
"Eres tú". Dos "Mocedades", em 1973, tinha eu doze anos e era mais novo um ano do que o meu filho mais novo é agora. Se a lolita me ajudar ponho aqui o "link" para a canção. É um rebuçado antigo, de quando eu só tinha um buço ténue acima das beiças.
Donde se depreende que ele, o meu filho mais novo, está novinho em folha. E que eu me vou gastando em quinquilharia, que guardo em relicários frágeis de papel "couché". Embora continue, sempre, pequenino.
E, já agora, o Duarte Mendes, militar cantor, era este.
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