Jornais e leitores: como fortalecer a relação.
Metem-nos pelos olhos adentro, as suspeitas. O repórter moderno fucinha tudo e todos, até encontrar a matéria própria para matar a sede da justiça popular - os podres dos notáveis e dos notórios que apaziguam a consciência moral do leitor.Isto é simples de perceber. O leitor, posto perante uma suspeita de nepotismo, toma uma de duas atitudes, do ponto de vista moral: ou se reconforta na certeza de que está tudo mal mas que a culpa não é sua; ou imagina-se na posição do prevaricador, num arrepio de prazer perante a perspectiva dos benefícios do pecado e concluindo, sabiamente, que "no lugar dele, faria o mesmo".
O leitor do primeiro tipo é o típico ajuizador. Quer saber, reclama o direito de saber e exorta todos a querer saber também. Sabe-se que sossega assim que o cambão, fraude, pecado ou heresia é denunciado. Exulta, vitorioso, assim que os responsáveis são acusados, porque o prazer ajuizador se esgota na acusação, em relação à qual a certeza da culpa é só um epílogo.
O leitor do segundo tipo, como é sabido, é o leitor que elegeu a Wonder Team das autárquicas, que não honram a nação mas, ainda que com embrulhos suspeitos, trazem riqueza aos munícipes. Como super-heróis, são venerados pelo leitor astuto, espertalhaço, neo-existencialista, que só sabe, sem saber, da amoralidade.
Ciente desta plateia de leitores, o repórter moderno navega, em velocidade de cruzeiro, à cata de escândalos, negligências, dolos, negociatas, nomeações, rendimentos acumulados, rendimentos escondidos.
Há classes profissionais mais permeáveis do que outras a este tipo de investigação jornalística, dirigida à morbidez de quem lê. Mas isso é tema vasto.
O besugo devia falar nisso, em vez de se dedicar a chatear o Tino.
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