blog caliente.

24.10.05

A gente não lê.

Num bocadinho que vi, ontem, do Eixo do Mal, todos os presentes concordavam em lamentar a subalternização dos outros candidatos ao discurso de candidatura de Cavaco Silva. Se não me engano, foi a Clara Ferreira Alves que, colocando a voz e abrindo muito os olhinhos, deitou a verdade fulminante para a mesa; tão fulminante era que todos, iluminados pela súbita revelação, de imediato comungaram do verbo, que fizeram seu.
No fundo, o truque, denunciado, deste maralhar de intelectuais urbano-metropolitanos, empenhados em fazer crer a todos que as opiniões mais originais e inteligentes brotam, quase invariavelmente, das suas células cinzentas vanguardistas, consiste em achar sempre que alguém não devia ter feito aquilo porque. Não acreditam, não crêem em coisa alguma, a não ser no doce enlevo de se ouvirem a si próprios e de sustentarem tertúlias inconclusivas em que intervêem com ar de "tenho mais do que fazer".
Eu apostaria que, caso Alegre, Louçã e Jerónimo não tivessem aparecido na SIC, em directo, a comentar aquela redundância bacoca de banalidades a que Cavaco Silva chamou discurso, cá estariam os nossos meninos a falar em déficit democrático. Não ouvi o que acharam da ausência de Soares, mas aposto que hão-de ter arranjado um excelente pretexto para achar que, esse sim, devia ter aparecido.

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