Esperando sinceramente que a emissão tenha sido do vosso agrado
Eu lembro-me, há vinte anos atrás, de toda a gente achar a Valentina demasiado kitsch, mesmo para a época, mesmo então, que toda a gente tinha consciência de que tudo era piroso, exagerado, brilhante em demasia. Conhecíamos a Valentina pimba, espécime das extintas locutoras da RTP que, no intervalo da programação, apareciam todas pimponas e todas sorrisos a debitar os highlights da sessão televisiva. A Valentina era, então, um ícone do telespectador dedicado, uma RTP-mate que se empenhava - notava-se - a fundo na missão informativa, ainda que sabendo que só se tratava de informação light, nada de fundamental para a nação.A Valentina regressou, vinte anos depois, com vinte anos a mais, naquela nova quinta da TVI em que se brinca à recruta de tropa. Agora, a verdadeira Valentina, não a locutora. Hoje, num close-up, percebeu-se-lhe a realidade na expressão. A Valentina humana é mesmo humana: sabe-se envelhecida, sabe-se anafada, sabe-se obsoleta, sabe-se amada. Fraqueja muito, fortalece a seguir. Não sei se é incómodo, isto de sabermos da humanidade das estrelas televisivas, sobretudo as estrelas kitsch, ainda por cima em formato de entertenimento de massas. A Valentina estava, ali, tão despida, tão longe das permanentes de caracóis e das golinhas de renda fucsia dos anos oitenta. Tanto que inquieta imaginarmos quantas vezes nos aconteceu, com o mesmo despudor que a Endemol nos oferece, espreitarem-nos a alma sem darmos conta.
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