blog caliente.

31.1.04

Relato

Quando, há segundos atrás, me preparava para começar a escrever, o Rochemback falhou um penalty que, momentaneamente, me suscitou alguma hesitação. Eis-me aqui de novo, portanto.

Encontro-me, neste preciso momento, numa divisão quase abrigada do prolixo ruído produzido por um bando de hooligans , uns portistas, outros sportinguistas, de diferentes faixas etárias. Adianto, desde já, que a hooliganice aumenta à medida que a idade avança, e confesso que nem sei decidir qual das facções se tem mostrado mais... enfim, entusiasta, para usar um adjectivo neutro.

Ao intervalo, o Porto ganha por um a zero; já vi o Jorge Costa com a mão na nuca, o Pedro Barbosa a invocar a mãe do árbitro e o Liedson a atirar-se para o chão de forma perfeitamente caprichosa, a fazer ao livre directo. Disseram-me, entretanto, que o árbitro tem vindo a mostrar-se demasiado exigente com o Sporting porque é... sportinguista. Isto dito por uma sportinguista habituada (ou forçada?...) a encontrar insondáveis razões que justifiquem, ainda que surrealisticamente, o infortúnio distante dos míseros, porém inalcançáveis, cinco pontos.

Isto não é um jogo de futebol: é uma terapia ocupacional. Aqueles miúdos estão demasiados nervosos.

Eu talvez volte mais tarde. Ocupar-me-ei das questões tão ansiosamente colocadas pelo besugo sobre a sua possível inimputabilidade e conto descrever a porrada da segunda parte. Com um refrescante martini bianco por companhia, já que as claques estão indelevelmente coladas à çeportetêvê.

Comportamentos

Ao contrário do que aqui se escreve, a SIDA não é, como em tempos se pensou, "uma doença totalmente conectada com os comportamentos e escolhas das pessoas" . As coisas mudaram, ampliaram-se, são ainda mais graves. A SIDA nunca foi um flagelo divino para castigar os relapsos. Mas, mesmo que à Santa Madre ainda seja grato pensar nela (na SIDA) assim, é preciso dizer-lhe que se engana. E que corrija o erro mais rapidamente do que demorou a "perdoar" ao defuntamente correcto Galileu, contribuindo de forma clara para travar uma pandemia que se marimba (sacrilégio!)para a "doutrina".
Que a Igreja Católica gostaria de mudar comportamentos e escolhas, provavelmente gostaria. Sobre isto já se escreveram livros inteiros, ao longo dos tempos. E já se queimaram outros, às vezes com pessoas à mistura. Mas melhor faria, neste caso, se se mantivesse, ou caladinha e eventualmente casta (é lá com ela, desde que não aborreça demasiado), ou, preferencialmente, ciente da sua função social, humanitária, solidária. Que eu não sei se a tem, mas como anda sempre a dizer que sim...

Amostras

Os Tipos de Vila do Conde, a julgar pela amostra, têm bom gosto musical. Às tantas lá teremos de nos aturar mutuamente, em 7 de Maio, no Coliseu. Amaciados pela bela sonoridade do caixa-d'óculos talvez a gente nem se pegue...

Lados lunares

Abruptamente, escreveu isto, em mais uma quase bélica exortação à coragem titânica do Luís Filipe: "Luís, nivela por baixo que eu gosto! Retira a quem tem para que ninguém tenha!". Ou seja, isto parece, à primeira vista, retirado do lado lunar do PREC...
Mas depois percebe-se que aquilo foi escrito, sem dúvida, por causa disto... eventualmente com efeitos retroactivos. E renasce a esperança. Até por causa disto.

Lolita, se fazes favor...



Cara Lolita:
Como pareces mover-te bem no pantanal da jurisprudência (sabes nadar, lá está...), explica-me como devo fazer se me chamarem um nome qualquer (por exemplo: sável frito) que me faça sentir ofendido. Eu afasto a hipótese, mais atraente e satisfatória, mas desaconselhável à nossa hodierna enormidade civilizacional, de dar saudáveis bofetadas ao injuriante. Hei-de querer ficar com uma reputação imaculada de cumpridor da boa ordem jurídico-constitucional.
Sendo assim, que devo fazer:
1 - Instaurar, eu próprio, o ofendido, um processo ao injuriante?
2 - No caso de eu ser membro dum governo qualquer (está bem, quando parares de rir lê o resto) devo aproveitar para pensar que foi nessa qualidade que fui injuriado e, convicto disso, mobilizar os meus colegas governantes para a necessidade de instaurar um colectivo processo ao "troca-peixes"?
3 - Estando eu no governo, sim senhora, mas não me sentindo ofendido por aí além como cidadão, nem parecendo os meus colegas (grandes sacanas) do governo estar excessivamente virados para me ressarcir, devo esperar que o partido que me apoia (OK, ri-te lá, mas depois continua) proceda judicialmente. de forma assanhada, contra o prevaricador? Enfim, se me chamarem sável-frito no Parlamento, até se entende que o meu cardume se ofenda, por analogia...sei lá... por simpatia.

Tu elucida-me quando puderes, sim? Quero saber como proceder, de forma impecavelmente correcta, quando chegar a altura. Pelo exemplo que a senhora retratada ali acima nos dá, parece que a terceira hipótese fará jurisprudência, mas quem sou eu para decidir entre estas subtilezas?

Cumprimenta-te, antecipadamente grato, o
besugo

Mais presas

1 - O problema do Microlax é que tem uma via de administração que não me seduz. É só por isso que não sigo o conselho do alonso, folgando ainda por verificar que, do seu ponto de vista, os meus problemas se reduzem a uma obstipaçãozita. Fico mais descansado mas devolvo-lhe a indicação terapêutica. Embora saiba que ele também não vai aviar a receita...

2 - Vi a luz. Nada a opor. Os gestores querem que eu ganhe mais dinheiro, ultimamente. Mudei de ideias. Vivam os gestores. Falta-me só analisar (com auxílio, que eu sou uma besta quadrada que, em me deixando a pedaleira solta, me estatelo em qualquer rampa) um despacho e um regulamento interno para ter a certeza que assim é. E como já reparei que me chateiam mais se eu insistir em fazer (e bem, eu acho que faço bem, passe a imodéstia) o meu trabalho pelo (pouco) que me pagam do que se me fizer pagar adicionalmente (embora, seguramente, vá ter de aturar mais umas dondocas adoentaditas do que as que já aturo à borla), vou ceder à lógica vigente. Grande besugo, para que te enervas se apenas querem pagar-te mais para tu calares essa cloaca? Cala-te! Ouve os senhores gestores e administradores e passa a encarar os doentes como utentes e, sobretudo, como seres altamente pagantes! Tu quando queres almoçar no Mineirão não pagas? Então!... E, pelo rumo actual podes vir a ter de pagar estudos privados aos teus privados filhos! Aproveita, animal! Para que te aborreces se quem devia chatear-se anda contente?

3 - No entanto, continuo a achar que, embora devam ser acarinhados, mimados, pagos e, até, convidados para festas onde se esteja bem, os gestores são intermediários (e, por isso, historicamente dispensáveis) no processo verdadeiramente essencial da cadeia produtiva (PVECP). O que eu defendo é que se lhes pague pouco, menos do que a quem produz, pelo menos. Ou, enfim, com uma certa constrição retrosternal, até admito que se lhes pague mais... mas não o triplo! Lamento defender, contra tudo e todos, que valorizo mais quem produz que quem fiscaliza a produção. Desculpem, é uma questão estúpida, eu sei, mas far-me-ia rir um Hospital, por exemplo (mas posso desenvolver o tema Nestlé, se quiserem...), em que uma imensa brigada de administradores, administradores delegados, gestores de clientes e avaliadores do pintelho doirado.... estivesse de urgência, a fazer consultas, a planear altas. Custa-me, mas vejo aqui uma aura não dispicienda de razão. A minha simplicidade boçal é que me trai e prevarico desta forma ignóbil.
Aqui o alonso excitou-se. Porque matém uma alucinação bárbara com o PREC. Que significa, apenas, asseguro eu, que vi a luz ali em cima, Podemos Realmente Encontrar Cristo. Eu encontro, aliás, certa similitude entre a minha leitura simplista da economia e da gestão e a leitura iluminada que Cristo tinha. Não li uma linha, não ouvi uma liturgia, uma parábola, em que Cristo elogiasse parasitas, intermediários ou gestores. Acabei aqui de dizer que Cristo não gostaria de padres, obviamente. Exactamente. Também não terá elogiado médicos mas, neste particular, Cristo tinha a imensa vantagem da especialização em levantar Lázaros... embora não conste dos Livros que medisse tensões arteriais. Registo, com pesar, que, nem Cristo, nem os ladrões que o ladearam no Calvário, tiveram acesso a defesa institucional e eficaz. Possivelmente porque Cristo (os ladrões não sei, provavelmente não) se atravessou a defender Madalenas...E isso pode fazer toda a diferença.

4 - Pensando bem, tudo isto são alguns nervos que ando a tentar disfarçar. Porque apesar de ter uma fé definitiva na vitória do Sporting, mais logo, o discurso desdenhoso de Mourinho me aterra sobremaneira. Ele mantém aquele semblante seguro e patusco de quem não tem dúvidas, aquilo sente-se ali uma gestão firme de tristes almas esforçadas... e eu, gente assim segura, mesmo que calçada, parece-me sempre que vai à fonte. Daí à Leonor Pizarro Beleza vai um alucinado passo à retaguarda. E eu retrocedo ao Génesis com uma facilidade que até a mim assusta.
Ao menos que o Mourinho ganhe menos que o Ricardo Carvalho, para isto fazer algum sentido... Ai ganha? Então está melhor, embora a minha fé se mantenha.

Encontrei-os!

O LNV e o CMC, do babilonicamente suspenso Ter Voz, mudaram-se para aqui. Terão levado também a camarada Tia Lólita?

Arriscado...

O PP anunciou que vai processar o arrebitado do Francisco Louçã por ele ter apelidado, com toda a pujança e em pleno debate parlamentar, a Ministra da Justiça de inimputável. E se ele - o Louçã - consegue provar?

30.1.04

soltas (II)

1 - besugo, recomendo-te Microlax. Resolve todos os teus problemas menos o do IRS.

2 - Os gestores enquanto parasitas fez-me lembrar o período áureo do PREC em que alguns (infelizes) trabalhadores foram na cantiga da auto-gestão. Começaram por sanear os parasitas e acabaram a pedir ao Estado a esmola de um gestor público - e dinheiro, muito dinheiro. A culpa é que já era e continuou a ser do capitalismo. Pois ... pedir desculpa não faz parte do léxico marxisto-proletário.

3 - O "caso" da ministra da justiça ... eu sei que o Estado está quase insolvente e que a justiça está mesmo falida, mas esta história é tão rocambolesca que, de facto, não lembra.

Que os patrões prefiram pagar os salários e lixar-se para o IRC, o IVA e a Segrança Social eu ainda entendo. Embora ache que só pode ser por magnanimidade e loucura, uma vez que os trabalhadores não lhes podem tocar no património pessoal, enquanto o Estado pode (meu conselho de sempre aos patrões: o primeiro credor a ser pago é o que vos pode prender e depenar. E depois os outros. Deixem a empresa ir ao charco, mas não devam ao Estado. Nunca. Lembrem-se do patrão da Oliva, que se defendeu em Tribunal dizendo que o salário dos trabalhadores era a sua primeira prioridade de pagamento. Sabem como acabou, não sabem? Preso).

Agora que uma ministra prefira pagar salários e encargos de funcionamento do sistema em vez de fazer os descontos para a segurança social é uma coisa que ultrapassa a minha capacidade de raciocínio ...

4 - Ando a pensar exilar-me de Lisboa durante o Euro 2004. Ainda não sei é como é que vou conseguir trabalhar durante esse período.

5 - Afinal não é só por cá. O relatório do "Law Lord" Hutton fugiu para um tabloide antes do tempo. Deve ter sido um emigrante português que deu com a língua nos dentes ...

6 - A mulher do Senador democrata que vai em primeiro na corrida à Casa Branca é portuguesa de nascença. Boas perspectivas para sabermos com antecedência onde será o próximo ataque dos EUA. O chato é que o homem não vai ganhar ao Bush jr.

7 - Recomendo vivamente a leitura do melhor semanário português: o "Inimigo Público", publicado à sexta. Faz-nos acreditar que o nosso país ainda podia ser pior do que é. E mais divertido.

8 - Bom fim de semana.

Retenções

Retive, assim de viés, que é notório que não percebo nada de economia. Isso já eu sabia, não tinha era ciência de se notar tanto.
Retive, como eu pensava, que, por muitas deambulações que se façam pelas vielas do discurso liberal, a fome de hoje é mais importante que a eventual saciedade organizada, disciplinada, "organigramada"... de amanhã. E eu nem precisei de dissecar a morte do Fehér para distinguir estas duas vertentes do mesmo problema: uma vertente real, "aquilo que eu sinto agora e me chateia muito", outra virtual, de "vamos lá a ver se ainda é no nosso tempo".
Retive que, de facto, como toda a gente sabe, os trabalhadores do sector privado não fazem greves porque os gestores não deixam... qualquer gestor, entre a sua cabecita de intermediário iluminado e as cabecitas de quem produz, não hesita: guilhotina nos bárbaros.
Retive que gestores, administradores e quejandos, não são elemento essencial da minha forma de vida. São parasitas. Não prestam outro serviço que não seja regular os "verdadeiros serviços" que, esses sim, são essenciais.

Retive que há quem pense, duma forma ingénua, que o Porto vai deixar de ser batido, nem que seja à tangente, em Alvalade.

Retive, duma forma quase revoltada, que vou poder fazer, caso o queira, clínica privada no hospital em que trabalho. Que me é dada a possibilidade de ganhar dinheiro à custa de pessoas que me podem ter de graça, com a mesma disponibilidade, desde que me tratem bem.

Retive que isto do lucro é uma mola real, um propulsor genial para a felicidade. Para mim não. Eu gostava de viver duma maneira diferente. Estar aqui é que não ajuda muito.
Mas como agora estou cansado, que trabalhei muitas horas seguidas, admito que posso estar a exagerar. Como de costume.

Retiveram-me, na fonte, 500 contos. Este mês.
Detesto quem não paga o que me deve. Eu pago o que vos devo, senhores.

Três notas sobre a greve, de um ponto de vista dragoniano.

Ainda a greve da função pública: o LR respondeu às suas retóricas perguntas, às radicais respostas do besugo e, ainda, às minhas incompletas sínteses. Pois bem:

1. Uma greve marcada para uma sexta feira é oportunista, a menos que me demonstrem outra coisa. Solidariedade dragoniana, sim; mas sem liberalismo! Involuntariamente eu associo os liberalistas aos oportunais...

2. As achegas complementares do LR são estritamente economicistas e assaz cor-de-rosa. Ali está o mundo empresarial dos contos de fadas, em que todos os agentes são bonzinhos e centrados num objectivo: o lucro. É o contrário, caro LR: perdoe-me meter a foice em seara alheia, porque economia está longe de ser o meu ramo; mas a mim parece-me que o equilíbrio que gera proveitos, também nas empresas, surge do confronto, não da concertação. E parece-me também que os trabalhadores no sector privado não banalizam, como na função pública, o exercício da greve por uma única e exclusiva razão: a segurança no emprego.

3. Quanto à fuga dos funcionários públicos para o sector privado, resisto a ser tão radical, caro LR. Sabe-se que existe desemprego no sector privado; sabe-se, também, que nem todos os funcionários públicos são relapsos e "contentinhos". Eu sei, pelo menos.

No restante estamos de acordo, LR. Dragões 1, Sporting 0. Será premonitório?

29.1.04

Meta-críticas

Não me apercebi de nenhuma atitude jornalística que ultrapassasse a medida esperada (e a medida esperada é sempre excessiva) no que respeita às hipóteses de culpabilização quanto à morte do Fehér. Também não me apercebi de qualquer excesso de morbidez na reacção pública a um acontecimento que consistiu, claramente, numa tragédia. Uma morte é sempre uma tragédia e uma tragédia é, por essência, impressionante, mesmo que seja apenas para muito poucos. Esta foi uma tragédia mediática e portanto impressionou muitos. Impressionantes são, igualmente (embora não trágicas...), as tentativas de distanciamento intelectualizante que li em alguns blogues que enveredaram, nuns casos, pela crítica aos críticos e, noutros, pelos ensaios de pseudo-racionalização dos comportamentos alegadamente demasiado consternados. Para mim, todos tão inúteis como inoportunos. Alguns, até, por antecipação, precipitando-se a expor censuras sobre futuros-condicionais desenvolvimentos torpes e manipuladores das explicações jornalísticas, políticas, futebolísticas ou populares sobre o sucedido. Não sei se tudo isto será algo de perturbantemente obsessivo ou se, afinal, tudo não passa de mera diletância. Espero, contudo, que todos - críticos e meta-críticos - tenham noção de que a relativização de uma qualquer análise é uma evidência incontornável quando se analisa em cima do acontecimento. Sem qualquer relevância, quando, no futuro, a história contar esta estória. A não ser, talvez, do ponto de vista sociológico, onde todos os comportamentos - emotivos e racionais - se confundem e entrecruzam.

Era uma vez aqui dentro

De vez em quando gosto de ouvir a banda sonora do "Once upon a time in America". Esta tarde deu-me para escutá-la, de novo. Fui desencantar o CD, como seria de esperar, dentro duma caixa onde, para ser franco, devia estar um CD do Van Morrison, que hei-de procurar em devido tempo, quando me apetecer ouvi-lo. Isso não me preocupa, porque era o Ennio Morricone que queria ouvir hoje e amanhã é outro dia.

Curiosamente, foi o Paco que me deu este CD, há alguns anos. Há cerca de 4 anos. Sei isso porque fiz dele uma espécie de "fundo musical" para a brilhante caminhada do Sporting no campeonato de 2000: chateava toda a gente pondo aquilo na maior altitude estereofónica (para se ouvir no quintal) antes dos jogos e, como pareceu dar resultado, transformei o Morricone numa espécie de ritual de antecipação de vitória... até ao jogo em que o Sabry me abalou a crença. Por uma semana.
O Paco (que acabo de responsabilizar, eventualmente, pelo título do Sporting em 2000...) escreveu, em minha opinião, a síntese perfeita das análises imperfeitas que todos fizemos, em registos diferentes, à morte do Fehér. O Paco sabe que o fatalismo existe, embora a gente o deteste e faça os possíveis por se esquecer dele. Mas o Paco revelou que tem sabedoria para o pressentir onde ele se mostra, para lhe notar a inevitável e marcante passagem por nós... e para se limitar a assinalá-lo da forma bonita que pudemos ler.

Eu tenho um irmão que é benfiquista doente. É o kaneko, só cá escreveu uma vez, é professor de educação física e tem um dos piores feitios que eu conheço, honra lhe seja. Ele disfarça o benfiquismo mas não consegue mais do que isso. Disfarça penosamente. Ultimamente esforça-se por parecer desinteressado das coisas da bola, embora quem o conheça de menino (desde os tempos infantis em que gravava, em cassettes BASF, as partes dos relatos de futebol em que se gritava "gooooooooolo do Benfica!" para ouvir depois, num ritual muito seu que me enternecia, se calhar por ser dez anos mais velho que ele...) lhe perceba a ansiedade de poder voltar a gritar uma alegria o mais depressa possível. E eu, que sou sportinguista, tão bem o entendo (mas ele não sabe)!
No domingo à noite, conhecendo bem o meu irmão caçula, telefonei-lhe. Não quis falar comigo, não queria falar com ninguém. Devia estar para ali a chorar aquela raiva surda que às vezes o morde. Sensível como poucas pessoas que conheço, o meu irmão sentiu, seguramente, que o Fehér lhe morreu. Já falámos, depois disso, que ele recompõe-se bem. Mas falámos, apenas, doutras coisas.
No entanto, porque ele merece, deixo-lhe aqui uma promessa. Atenção, miúdo, agora é contigo: eu não confundo as coisas e desejo fortemente que o Sporting volte a ser campeão, se possível já este ano. Mas ficas a saber que quando o Morriconne te fizer saltar os tímpanos, desta vez, também é por ti e lá pelo teu Benfica. Que mereces. E o teu Benfica também, raios vos partam que me fizeram comover.

Mandei uma faixa do Morricone à Lolita. O tema. E a Lolita, minha inimiga mais amiga da blogosfera e arredores, já percebeu que o Morricone, no sábado, quando atroar o Douro, muito mais do que antecipar a vitória que eu espero (e ela não, já se sabe que a Lolita NUNCA me subscreve...), significará o mais bonito e desinteressado hino do Benfica que alguém já escreveu. E ela, que é Mãe do mais parcial e conhecedor portista que eu conheço, saberá ensinar-lhe isso, no devido tempo.

Julgo que até o Alonso, que não liga às coisas da bola, entenderá isto. Entre duas conquistas do Rommell, do alto do seu panzer, lá vai estando connosco. Fugidio mas marcante.


Eu não gosto desta posta, não sei porquê.

27.1.04

Hable con ella


No importa si está en coma y usted cree que no le oye, no importa si ella duerme, no importa si resulta difícil comprender cómo funciona su mente. Háblele, quiérala, dígale cosas al oído, háganla sentir especial y demuéstrele su amor...

E a morte aqui tão perto

O que mais impressiona é a sequência: Agora vivo ......... Agora morto.

A gente sabe que o que nos mantém vivo é simultaneamente muito e muito pouco. Mas este "Olha! Morri ..." dá-nos um soco no estômago.

26.1.04

Eu também queria...

...ser vereador da Câmara de Felgueiras
A justiça cá do burgo já conseguiu arranjar maneira de as reuniões da Câmara de Felgueiras se passarem a realizar no Copacabana Palace.
Esperemos que os senhores juízes do Tribunal de Contas não comecem a recusar por o imaculado visto nas contas da Câmara da Fatinha pela exorbitância das ajudas de custo dos Vereadores.
É que a 60 mil réis o km dá muita ajuda de custo...

A História é fodida

De tanto se repetir.
Foi num domingo de 1973 como outro qualquer, uma família como outra qualquer, um passeio de carro pós-prandial e um velho auto-rádio daqueles que apenas tinham dois botões e um mostrador com as frequências das estações, que se sintonizavam aos apalpões para evitar os roufenhos.
De um único altifalante (que as maravilhas da estereofonia eram para poucos), escapava-se o relato de um FC Porto-Vitória de Setúbal, por sinal o 13º jogo da época, quando ao 13º minuto um homem cai redondo.
Tinha 26 anos.
Noutro domingo, também chuvoso como terá sido o primeiro, um homem de vermelho sorri a um homem de negro que lhe mostra um cartão. Um sorriso quase infantil pois o amarelo apenas condiciona a marcha da vida.
Tal como num semáforo, se nos apressarmos ainda conseguimos escapar.
Este amarelo foi mais duro. Foi o travão brusco e bruto que parou a máquina.
Tinha 24 anos.
Ao primeiro homem, porque fintava de braços abertos chamavam-lhe Pavão.
Ao segundo, talvez porque parecia um miúdo, chamaram-lhe Miki.
Não sei bem explicar porquê mas a morte em directo parece que mata mais fundo.

25.1.04

Fehér

Já vi a mesma sequência umas quatro vezes. Sorridente, cheio de vida, até cair desamparado, sem remédio. Fixei a imagem de um outro jogador do Benfica, puto como ele, a chorar de desespero. Nenhuma morte tem sentido e todas são muito tristes. Hei-de voltar a ficar assim.

Dois exemplos de colaboracionismo

O primeiro:
Numa conferência sobre a reforma do Processo Administrativo a que assisti ontem, apercebi-me de um novo mecanismo de combate à fraude. Qualquer contrato público pode, a partir de agora, e depois de celebrado, ser impugnado judicialmente por quem tenha sido preterido no procedimento prévio ou por qualquer terceiro que se sinta lesado. Esqueça-se a eficácia relativa dos contratos, a fiscalização do Tribunal de Contas e o Ministério Público.

O segundo:
A Manuela Ferreira Leite propagandeia a moral fiscal (?) e induz os contribuintes a exigir as facturas. "Quando todos pagam, todos pagamos menos".

Controlemo-nos uns aos outros. Ninguém nos paga para isso, mas obteremos a gratidão da Manuela, que assim poupa umas massas valentes ao conseguir que os cidadãos se substituam ao Estado no combate à corrupção. E é uma comovente atitude patriótica. Curiosamente, na Alemanha Nazi também se faziam destas coisas.

Sem rigor

Ao mesmo tempo que tem vindo a exacerbar a sua veia emotiva, o MST tem perdido o tino, digamos, lógico-racional. Na sexta feira passada, a próposito da condenação em multa dos putativamente doentes alunos do 12º ano em Guimarães, escreveu, no Público, isto:

De um ponto de vista estritamente jurídico, podemos aceitar a solução proposta (afinal de contas, fazer batota nos exames não é assim um crime tão grave...). Mas de um ponto de vista ético, de uma perspectiva de regras de vida em sociedade, daquilo que reflecte os valores correntes de uma colectividade, esta decisão judicial é gravíssima (...)

O MST, que se revolta, com a tal veia emotiva exacerbada (às vezes tão exacerbada que se fosse mulher já lhe teriam chamado histérica) contra a impunidade estruturante da sociedade portuguesa, defende, também, a existência de dois níveis da moral: a moral do Direito e a moral social. Ao que lhe parece, fazer batota nos exames não é, numa perspectiva jurídica, um crime grave. Do ponto de vista ético, já será... Eu é que não sabia que havia dois pontos de vista diferentes, duas morais divergentes e, portanto, duas soluções diferentes. Nem que o Direito e a Ética são conceitos autónomos. Tinha como certo que o Direito servisse a ética e que através dela servisse a regulação social. O que MST defende será, então, uma de duas coisas: que o Direito positivo seja mandado para as urtigas (ou para áreas da vida social onde a (sua) ética não penetre); ou, eventualmente, que sejam criados tribunais populares, que julguem eticamente. Ou ambas, cumulativamente.

Quanto ao Tolkien.

Percebo, do que afirma o Alonso, que não se pode afirmar em consciência que não se gosta de uma coisa sem a ter experimentado, visto, lido ou ouvido. O Alonso reduz-nos a todos a meros portadores de sentidos, condicionados nas nossas opções e nos nossos juízos de valor por aquilo que seja sensorialmente apropriável. Afinal, o Alonso é espinoziano. O que eu pergunto ao Alonso é isto: o que fazes com o teu tortuoso cerebrozinho quando não estás acordado? Dormes, pois.

PSOE: eu também não gosto dos livros do Tolkien e, no entanto, nunca os li. Podia até usar um argumento de ordem escatológica para reforçar esta ideia, mas parece-me dispensável...

Manifesto

Devo dizer aos amáveis e parcos leitores deste blogue que o síndrome dominical também se manifesta através do factor TIR. Desculpem, por isso, ao besugo, a matrona da foto ali em baixo.

Sínteses

Por força de tanta responsabilidade em manter este blogue em rodagem, o besugo meteu-se em areias movediças. As reflexões do LR são pertinentes. Atenção: eu disse pertinentes, não disse irrefutáveis, porque a última era dispensável, que ele até ia bem. Vejamos então:

1 - As greves da função pública têm sistematicamente sido marcadas para as sextas feiras. Este é o facto. Qual é o argumento a favor? Não existe, como bem notou o besugo, que o queria defender. Qual é o argumento contra? Todos, sobretudo este: oportunismo. Sem advérbios.

2 - É fácil marcar greves e fazer protestos quando se tem pouco a perder. Significa fazer, ilegitimamente, uso de um direito que é legítimo quando usado legitimamente. Aqui abuso, em redondilha fechada, dos advérbios.

3 - Lamentavelmente, o LR estragou tudo com este último argumento. Só posso defendê-lo, talvez, imaginando como seria catastrófica uma migração em massa dos colaboradores públicos para o sector privado. Entupiam tudo. E nem greves podiam fazer, o que seria, teoricamente, vantajoso por desampararem a loja aos que estão habituados a trabalhar...

Estes Domingos cinzentos e chuvosos, em que não há jogos de futebol nem se pode jogar a malha ao ar livre, inspiram desportos indoors. Radicais, para o besugo...

Google

Afinal voltei. Só para partilhar isto com a blogosfera. Fui ao google e, penetrado talvez de luz divina, teclei "liberal". Saiu-me isto:


Escusado será dizer que vou rever toda a minha ideologia, pelo menos até à hora do Vitória de Guimarães - Benfica.

Parece impossível

Não sei que raio andam a fazer os meus companheiros de blogue, que me deixam aqui sozinho a escrever solitárias coisas, há já não sei quanto tempo. São muitas postas seguidas e um besugo, já de si fraco pescado, consegue sempre piorar com o cansaço. Se, ao menos, estivesse sol, eu compreendia. E nem sequer eu cá estava. Agora assim, num domingo de chumbo pífio? Onde andais?
Ai é? Não respondeis? Pois também me vou daqui para fora, fica isto entregue ao meu abandono amuado. Que eu também tenho sentimentos!
Deixo-vos este pequeno castigo em forma de biografia incompleta.
Mereceis, biltres!

Passeios de domingo enquanto cinza

É por estas e por outras que eu, apesar de tudo, gosto de ler o boticário. Aquilo sai-lhe assim e a gente sente que lhe sai conforme sente.

Ainda mais soltas

Há questões que são colocadas duma forma tão certeira que, quem as ouve ou lê, mais não devia fazer que não fosse prostrar-se às subentendidas respostas que as próprias perguntas encerram.
Se o não faço (prostrar-me rendido) é por revoltante e confrangedora incapacidade, que deve reportar aos meus tempos de mórula indiferenciada em ventre acolhedor. Não fora isso eu ficava caladinho, como é bom de ver.

O acutilante L.R. perguntou, dali de cima, isto:

"Greves
Algumas questões inocentes:

- Porque será que os sindicatos, sistemática e oportunisticamente, marcam as greves para a 6ª feira?

- Porque será que as greves ocorrem geralmente no sector público, por sinal onde os empregos são mais seguros?

- Se não estão satisfeitos com a política salarial, porque não se mudam?

Não há empregos? Criem-nos! Passem de assalariados a patrões! Invistam! Arrisquem! Inovem! Garanto que ficaríamos todos um bocadinho mais ricos."


Caramba. Três perguntas duras como punhos e um desabafo em forma de conselho exortativo! É obra.

Primeira questão:
Há várias hipóteses. Há aquelas que estão subentendidas nos advérbios da pergunta e as outras. Por exemplo: porque sexta-feira é um dia da semana de trabalho como os outros quatro. Eu sei que esta resposta é fraquinha mas, ao menos, não usei advérbios.
Segunda questão:
A resposta a esta pergunta é ainda mais difícil porque não se está a ver, de facto, por que raio não há mais trabalhadores do sector privado a fazer greves que não seja pela excelência do sector privado “himself”! Evidentemente que a ausência de greves no cheiroso e limpo sector privado não tem nada a ver com a obscura perspectiva do “olho da rua”, que é o olho mais cego do mundo. Mas é mais cego visto de lá, daqui nem sempre se consegue ver bem a cegueira que aquilo é.
Terceira questão e desabafo em forma de conselho exortativo:
A esta pergunta anda o governo a tentar responder e não consegue. Mas eu já comecei a tratar de reverter a situação. Convoquei uma assembleia de funcionários da administração pública daqueles que ganham à volta de 1000 euros por mês. E disse-lhes: “que quereis vós, ignóbeis parasitas, que auferis esses larguíssimos vencimentos e, ainda assim, estais descontentes? Por que não fazeis, em vez de greve, uma aplicação das vossas invejáveis poupanças num projecto desafiador e de alta pujança inovadora, que vos pode fazer, num ápice, passar de assalariados a patrões, com o benefício óbvio de todos? Cambada de súcios, que ninguém vos entende!”
Acabada a reunião fugi para aqui, sossegadinho. Mas acho que eles ainda estão lá fora a chamar-me, com bidões de gasolina, tochas e cordas grossas. Devem querer festejar, os imbecis. Esta turba é duma menoridade intelectual que chega a assustar. E que muito nos envergonha perante os nossos parceiros europeus como, por exemplo, os Estados Unidos da América.

Desatenções

Eu ouvi aquilo na SIC obliquamente, já em estágio psicossomático para o jogo do Restelo.
Só por isso, provavelmente, Pacheco Pereira me pareceu, esta noite, um émulo de J. M. Carrilho, embora este último não disponha de barba cibernáutica reconhecida. Aquilo dos "criadores" pareceu-me grão de areia em praia maior. Terá dormido mal. A mim acontece-me.

Coerentemente

Continuo a acreditar na vitória do Sporting no campeonato. Cuido que até o Mourinho já acredita nisso, lê-se-lhe essa (des)crença nos olhitos. E quem sou eu para duvidar das lúcidas crenças do novíssimo Mesmer do futebol nacional?
Aqui entre nós, até o Paco anda assustado.

Das outras incoerências

Somos injustos vezes demais. Pior do que isso: reservamos as piores injustiças para as pessoas que calha gostarem de nós.
Ao sermos assim levianamente injustos tornamo-nos merecedores da pior das injustiças, que é a severa justiça que nos aplicam quando somos injustos. Porque acreditamos sempre que as nossas injustiças são pequeninas demais para merecerem justiça maior que um sorriso de reprovação. E chega sempre uma altura em que um "desculpa-me" não é suficiente.
Quando essa altura chega ficamos mergulhados no infinito arrependimento de termos estragado tudo. Ainda por cima sabendo, desesperada e amargamente, porquê.


Das incoerências

Ter dois pesos e duas medidas é pecadilho da natureza humana. Uma coisa que contritamente aceitamos se penitenciada, nem que seja pelo silêncio.
Se ao menos os incoerentes não gritassem a virtude que não têm e, mais até do que isso, se calassem um bocadinho para deixar pensar sossegadamente quem precisa de sossego...
Leiam este excelente exemplo (afixado no lúcido placard do Posts de Pescada) de (mais) uma idiossincrasia da republicana América.
E lembrem-se: não é ser estrabicamente videirinho que está mal. Isso acontece-nos a todos, embora a uns mais do que a outros. É sê-lo descarada, despudorada e orgulhosamente. Já nem enerva, entristece.

24.1.04

Presas...

1 - Eu tentei ler Tolkien. Umas três vezes. Mas a verdade é que aquilo não se deixa ler. As letrinhas saltam de personagem mitológica em personagem mitológica duma forma que me enjoa o neurónio funcionante. Admito, aliás, que o problema seja meu, porque o meu filho mais velho gosta. E só tem 14 anos. Agora que reparo nisso tenho de o chamar à razão: da próxima vez que me disser "eu agora ando a ler Tolkien", com ar de iluminado, atiro-lhe com o livro de matemática à caixa craneana e mando-o fazer inequações. É mais leve que os do barbudo, o livro de matemática...
2 - Eça de Queiroz disse, de Camilo, que "era, talvez, o escritor português que mais palavras conhecia do dicionário". Brincando, claro está, com o facto de Camilo nunca ter sido capaz de dizer em público o que escrevinhou na alva margem duma obra do poveiro: "brilhante". Entretenho-me a pensar o que não diria Eça de Saramago. Ou de Antunes. Ou de Tolkien.

Hoje, por ser sábado, não me apetece falar de sacos sem fundo, palestinianos, inglesas, judeus ou deusas da Vogue (é uma revista com poucas gajas nuas, aliás).

Mas do DVD do Rui Veloso falo: vou ver se o arranjo.

23.1.04

soltas

1 - O besugo a dizer que nunca leu o Tolkien mas que aquilo é uma profundíssima seca lembrou-me S.A.R. a dizer que nunca tinha lido o Saramago mas que o livro "O Evangelho segundo Jesus Cristo" era uma merda.

2 - Não é que S.A.R. não tivesse razão. Já ao besugo e à "do sentir" a dita falta-lhes, por completo.

3 - Depois de ler a solta anterior tenho que me retratar: eu também nunca li o Saramago e também acho os livros dele algo próximo de matéria fecal (gosto de eufemismos). Mas eu explico: Tenho pelo Saramago profunda antipatia. Não é por ele ser comunista porque tive e ainda hoje tenho amigos com essa bizarra ideologia (não tenho a certeza que ainda verdadeiramente a professem, mas isso são contas de outro rosário). Para começar ele foi um comunista com poder (mais um "poderzinho", na verdade) e, chegado a ele, fez o que um comunista deve fazer: uma limpeza democrática dos contaminados pelo pérfido germen da democracia burguesa. Revelou-se. Para todo o sempre. Depois ... a verdade é que o homem respira, transpira, exala petulância. Não esqueço também o arzinho simultaneamente emproado e deferente para com suas altezas os Reis da Suécia (seria Noruega?) com que recebeu o Nobel. Lembrou-me o metropolitano de Moscovo, esse imorredoiro "ex libris" da bizarria comunista.

4 - A "solta" anterior está confusa, densa e exala um "sentir superior" do autor relativamente a quem é objecto da prosa. Fica assim. É digna dele, apesar de ser pontuada.

5 - A função pública fez hoje greve. Por falta de aumentos. Porque é que esse pessoal não entende que o saco tem fundo? Porque é que não perguntam à generalidade dos que não têm o Estado como patrão se têm sido aumentados nos últimos anos? Sem ironias, faço votos que o Estado venha a poder aumentá-los num futuro próximo. Seria bom sinal.

6 - Preocupa-me, no entanto, que o corte seja selectivo e se aplique apenas a quem ganha mais de 1000 euros. Chama-se a isso nivelar por baixo, e o efeito que pode ter na função pública é duvidosamente benéfico. Não é que eu tema a fuga de quadros porque também não têm muito por onde fugir - salvo os que realmente fazem falta. E se esses saírem, como recentemente aconteceu a uma brilhante médica que me é próxima e que viveu e sofreu - com exclusividade - mais de 20 anos de intensa vida hospitalar, mal andaremos.

7 - Mudando de registo, não resisto a comentar também eu o blog de que aqui têm falado. O tal "do sentir". Reparei no comentário à entrevista da B. Guimarães à "Vogue". É delirantemente divertido, e clarifica "o sentir" da sua autora, aliás um "sentir" consistente com o comentário que fez sobre o Tolkien. besugo, compra a "Vogue", para ver se encontras lá a deusa que, sem ser seca (o que manifestamente não é), anda perto "do" mitológica.

8 - Ontem vi o DVD do "acústico" do Rui Veloso. Nos extras vinha uma entrevista com ele e com o Carlos Tê. Contaram que chegaram à Valentim de Carvalho com uma cassete cheia de músicas cantadas em inglês e o "Chico Fininho". A resposta que receberam foi: "Queremos tudo em português". E eles, entre atónitos e desconfiados, para não dizer contrariados, cumpriram.
Interessante.

9 - Estive num colóquio sobre o novo Código do Trabalho. Ninguém se entende sobre o direito a férias. Ou o IDICT/M.E.S.S. esclarecem isto depressa ou vai haver "bernarda" laboral a partir de Maio. É caso para dizer "Estes legisladores são loucos".

10 - Uma das questões mais importantes para o futuro da Europa tal como a conhecemos está neste momento a ser debatida. Não me refiro a nenhum estúpido Conselho Europeu ou ao processo da Comissão por causa do Pacto de Estabilidade. Refiro-me ao problema "dos véus" em França. Li hoje o artigo da Esther Mucznik no "Público", que recomendo e que mostra, sem recurso a lugares comuns do género "cabala contra os muçulmanos" ou "todos diferentes, todos iguais", como as posições em causa nesta matéria podem ser discutidas com a profundidade que merecem. Tiro-lhe o chapéu, o que raramente faço porque ela costuma escrever sobre Israel e os Palestinianos, com a parcialidade própria "do seu sentir" de judia.

11 - Falando de judeus, lembrei-me agora do embaixador israelita na Suécia. O homem irritou-se com uma "peça de arte" que retratava uma bombista suicida num banho de sangue. Ele aparentemente achou que aquilo representava a glorificação dos suicidas palestinianos. Eu tenho dúvidas, e acho que seria na verdade mais adequado pôr no "banho" os 19 barquitos com as caras dos 19 mortos que a bombista levou consigo para os domínios de Allah e Jeovah. Em todo o caso, o acto do embaixador é espelho do Estado que tão bem representa. Um Estado à beira do desespero. E da loucura colectiva, diria eu.

12 - Solta (quase) final, vagamente humorada: Ainda bem que as inglesas se lavam quando vêm a Lisboa. Se as que vejo por cá estão lavadas, nem imagino o que seja uma inglesa no seu "estado natural". Porquitas, as chavalas ...

13 - Bom fim de semana.

This is how british women see Lisbon.

Okay, so keep yourself looking presentable. I understand that. I occasionally look presentable, once a year or so. And I know that in a country such as Portugal (I shall deliver THAT discourse at another time) first impressions and image are important. But so many Lisboetas (of either sex) seem to be so preoccupied with their looks that there is no room left in their small brains for much else.

Do blogue Desalinhadas. Desalinhated, em inglês.

Coisas muito simples e antigas

Um homem velho entou na casa mortuária, a tremer. Não era só do frio, percebi depois, que a idade acaba por nos fazer tremer, por variadas razões. Conhecia-o de vista, aqui da parte alta da cidade velha.
Vinha de fato, sem agasalho conveniente. Porte bonito, grisalho do tempo.
Depois de passar uns momentos com o meu Pai e com os outros dirigiu-se a mim. Disse-me coisas simples. Que era a vida. Que lá íamos todos. Que era muito amigo do Z.C. e que o Z.C. também era muito amigo dele e lhe dera, uma vez, há muitos anos, um rádio. Que a mãe do Z.C. ("que já lá está") e a irmã, a S., eram, também, muito boas pessoas. Eu disse que já sabia, claro... Ele disse que eu não sabia, não senhor. Contou-me que quando moravam na quinta de Alentém, há sessenta anos, lhe tinham matado a fome muitas vezes. E que ele, rapazinho ainda, lhes pedia um caldo e eles, sim senhor, lhe davam um caldo, mas só depois de o obrigar a comer batatas e sardinhas. E que levava para casa, ainda, bons nacos do que havia.
Disse-me que "pessoas assim só podiam ser comunistas, e eram, que até foram perseguidos, mas hoje nem se pode dizer". Eu perguntei-lhe se ele também era comunista, já um bocado comovido, e ele respondeu que sim, que lá ia sempre "deitar na foice". Percebi que o faz por uma religião que não aprendeu no catecismo normal das caridades convencionais: associou apenas, como todos fazemos, a bondade e a solidariedade a uma bandeira que, não as representando em exclusividade, as contém também.
Um idealista velho, de província, a tremer de frio e de doença, a fazer-me chorar à conta do caraças dum rádio antigo e dumas couves na sopa colectiva daquela altura.

Buon giorno, principessa!



Pronto. Aqui está uma coisa bonita. Um filme, no caso.

Tolkien

Numa coisa estou de acordo com a autora do blogue que a lolita e o paco citam tanto: nunca tive, não tenho e não terei jamais, pachorra para ler Tolkien. E nem sequer perco tempo a discutir-lhe o tamanho do estro. Aquilo é uma profundíssima seca esoterico-mitológica.

22.1.04

A calma do fim

O meu amigo idoso que, aqui há uns tempos, recusou amputar a perna esquerda morreu hoje. Estava estranhamente calmo, no fim, depois de dois dias de agitação. É o corpo a lutar contra si próprio que, no fim, se cansa.
A minha tristeza está muito diluída na certeza que sempre tive do desfecho e da justeza da decisão dele, na altura em que a tomou.
Vai a enterrar com as duas pernas. Pode parecer que isto é o menos. Mas não é.

Eu também o queria sentir...

Por este caminho o Technorati vai assistir à meteórica subida do blog do sentir ao Top 100.
Pelos vistos os meus caros colegas andam fascinados com o blog da AM Ribeiro.
Pois eu, ganho-lhes aos pontos.
Eu sou fã da moça desde que ela, saída da sua Borbela natal, se fez ao mundo e nos deslumbrava nas festas populares a cantar "A Minhoca" que, pelos vistos, tinha ido à praia.
Uns anitos depois, delirei ao ouvi-la no "Falotório" que passou na RTP2 e foi premonitório quanto ao destino da Anabela.
Ei-la agora a apresentar, e muitíssimo bem, o Magazine na nova 2: (acho que é assim que se escreve).
Um percurso assinalável e que demonstra bem o ecletismo das gentes de Trás os Montes que, tanto ao microfone como perante as câmaras, não se inibem.



P.C.T.P. - M.R.P.P. O partido com os mais originais e acutilantes slogans e os mais belos murais. E que, em tempos, teve um génio como o Arnaldo Matos ao leme da nau da Revolução.

Ainda em relação à AM Ribeiro, só não gosto que ela classifique o Tolkien como "um escritorzeco de contos de fadas desprovidos da contextualização mítico-social que confere validade a esse género literário"...
Não é por mim, mas há alguns fãs da Anabela, ainda mais empedernidos do que eu, que adoram contos de fadas.
A lo mejor privaram com alguma fada nos tempos de juventude. Ou terão tido a oportunidade de o sentir...

Fundamental é "o sentir", pois.

Fica então aqui um excerto do blogue incómodo:

"Passei a noite a ler a "Odisseia" de Homero na versão original em grego. Apesar de ser uma língua que desconheço de todo, foi uma experiência emocionante."

21.1.04

Transparências

A pouco e pouco, o Alonso lá vai confessando as suas simpatias ideológicas e pelos seus ditosos ícones do comunismo empírico, que incansavelmente tenta disfarçar quando fala da União Nacional ou quando elogia as virtudes da Mocidade Portuguesa. Mas não se deixem enganar: repare-se, no poste abaixo, a referência muito, muito, muito subliminar ao velho Mao e ao que ele metia.

Já percebi.

Agradeço ao besugo a pronta lição, mas devo dizer que já se me dissiparam as dúvidas. Fui outra vez e percebi tudo: ali fala-se de literatura - a custo, porém, por ser menor -, cita-se Balzac (no original, repare-se) e assume-se, com frontalidade invejável, a qualidade de blogue incómodo. Notei algumas falhas na pontuação que julgo serem, evidentemente, intencionais: pretende-se incomodar.

Para facilitar, passarei a referir-me a este blogue como o "do sentir".Incomodamente, claro.

Ainda acerca dos Toñitos...

Tinga, Polga, Tello, Tunga, Quiroga, Bonga, Monga, Zunga, a Tonga da Mironga do Kabuleté...

Lição de Português

Não, não sou o Madi. Sou apenas o besugo.
Respondendo à dúvida da lolita, estou tentado a considerar "do" como uma contracção despropositada e gramaticalmente incorrecta (para além de descontextualizada) da preposição "de" com o artigo definido masculino e singular "o".
Mesmo que não seja isto, a partir daqui podem construir-se cenários aliciantes...

Podia ter-lhe chamado "Hoje há tripas".

O que raio quer dizer "Possibilidade do sentir"?

20.1.04

No dia do dito cujo ...

... os 75.000 que o pediram vão lá votar, disso não tenho dúvidas. E tu, e o Fernando Rosas e maizas chavalas todas com lenços muçulmanos ao dependuro (deviam aprender que aquilo é para usar na cabeça, em sinal de respeito e maometana submissão, mas "then again", quem disse que elas pensam ...).

Mas 75.000 não chega, pá. Tenta mas é convencer quem não se espremeu a votar também.

U.N. (não, não é "United Nations") - Por mim, está descansado. Não me espremi, mas não deixarei de votar.

A.N.P. - grato pelo bold, lolita.

Referendos

Sessenta e tal por cento dos portugueses sondados pela Universidade Católica (e quem se atreve a duvidar duma sondagem dessa Católica Universidade?) querem um novo referendo sobre a descriminilização (é assim?) do aborto.
Eu, como é consabido (ver besuguices anteriores ou, em alternativa, acreditem assim mesmo), sou um dos 75.000 que vão pedi-lo. O tal referendo.
Só espero que depois, no dia do dito cujo, o povo que agora o solicita não faça como doutras vezes: ao menos que honre aquilo que pediu e vá lá exprimir-se. Ou espremer-se, que isto é como os adeptos do Benfica: eles não torcem pela equipa, torcem-se por ela...

Nota: Acho que esta última frase, sobre benfiquistas, a li numa crónica antiga do MEC, embora me tenha brotado agora, assim de repente, sem pensar muito. Fica a dúvida. Pensando bem, ficam as duas dúvidas.

Hospitais

Os Mata-Mouros (citando este blogue, que fui ler) lançam um desafio: alguém poderá contestar estes números?

Bom, evidentemente que não. Os números são os números. Mas deixa cá ver se consigo explicar-me numa coisita ou duas, evidentemente irrelevantes, mas isto é um blogue caliente e os números (só por si) gelam-me a espinha:
Ora, eu li lá isto:

O facto é que a empresarialização dos hospitais, trouxe os seguintes resultados :
Um claro aumento de produtividade da rede hospitalar afecta aos “SA” :
Consultas Externas : + 9,4 % ( 269.809 consultas)
Hospital de Dia : + 17,9 %
Urgências : + 0,7 %
Intervenções Cirúrgicas : + 19,1 %

Um maior eficiência dos custos programados :
Orçamentado em Outubro 2002 : 1.597.655.833 Euros
Execução em Outubro 2003 : 1.502.950.975 Euros

Uma poupança de 95 Milhões de Euros ou se preferirmos menos -5,9 % face ao orçamentado.


Pois bem, será. Mas mesmo assim digo isto:

1 - Todos os anos ( e não só neste ano) tem havido aumento de consultas nos hospitais. Concretizo: entre 1997 e 2003 o acréscimo de consultas, no Hospital de Dia de que sou responsável, foi de cerca de 15% por ano, em média. Em mais 3 que conheço de perto, passou-se o mesmo. Curiosamente, no 1º ano de actividade da SA que agora nos rege, mantiveram-se os níveis de crescimento anual. Eu acredito há vários anos em Hospitais de Dia, numa perspectiva de abertura às reais necessidades das pessoas que acarreta, ainda por cima, uma diminuição objectiva das necessidades de internamento. Porque não são as camas, as caríssimas camas dos hospitais, que tratam os doentes.
Devo concluir que, apesar da SA, continuámos a trabalhar ao mesmo ritmo? Posso concluir isto? Posso desvalorizar, neste contexto, a numerologia encomiástica? OK.

2 - O aumento no número de urgências é referido porquê? O recurso ao Serviço de Urgência depende, exclusivamente, dos doentes (ou utentes, se preferirem o cheiro desta palavra), da sua vontade e necessidade. Não é? Ou depende duma complicada política de gestão que angaria politraumatizados, gripes e enfartes do miocárdio? Posso dizer isto também?

3 - Se os milhões supostamente poupados tiverem sido calculados com o mesmo entusiasmo e com base em pressupostos semelhantes aos referidos em 1 e 2, reservo-me o direito de duvidar deles na mesma medida, embora reconheça que, de facto, essas contas não são do meu rosário de mero colaborador de gestores.

4 - Mas sente-se, de facto, outra limpeza. São outros ares, pressente-se o futuro nesta dinâmica. É que se sente, mesmo, acreditem! Eu tenho ouvido os doentes falar nisso com entusiasmante verborreia!
Só espero que depois, à boca das urnas, se o domingo eleitoral não lhes puxar o corpo ao veraneio, expressem com potência o que lhes vou ouvindo.


Alonso

Pus-te o teu bold. Enfim, os anos vão passando e eu, com capachinho, só consigo imaginar o José Joaquim.

O besugo que te ponha o itálico, em vez de andar aí a exortar as vítimas-da-fome à rebelião.

19.1.04

Virtual politik: focagens

- Ó José Joaquim: eu tenho um problema e o problema é este, o que te disse. O problema, aliás, é meu, do Rafael, do Crispim, do Anselmo e do Pantaleão. E doutros que nem conheces. A gente tem este problema, enfim... e a gente gostava que tu nos ajudasses.
- Estás enganado, Manuel Gaspar: o vosso problema não é esse. Vocês é que julgam que o vosso problema é esse. Mas não é, estais redondamente enganados. O problema é que temos de criar condições para que o vosso problema deixe de ser problema. Entendes? Há que criar condições, uma luta titânica que nós, a maioria sensata, vai travar (nem duvides!) para que, no futuro, o vosso problema deixe de o ser! Tu penetra-te disto!
- Mas isso vai demorar muito tempo e não resolve o nosso problema. É que nós temo-lo agora, vê se entendes... E é agora que ele nos preocupa e gasta, José Joaquim...
- Que mania tendes de discutir os problemas assim, Manuel Gaspar! Na sua baixeza crua e imediata! Sereis sempre rasteiros e mesquinhos, meu amigo. Tu ouve o que eu te digo, eu tenho experiência e responsabilidades políticas e....
- Não, ouve tu, José Joaquim: vai-te foder. Sim?

Ver televisão

Pois é. Depois de quase um ano, e a pretexto da visita de familiares "jovencitas" (eu fazia o itálico, mas num sei) que queriam ver a Operação Triunfo, a TV lá saiu do quarto dos brinquedos e foi para a sala. Uns dias depois, e porque todas as manhãs dão no canal Panda uns desenhos animados que TÊM que ser vistos (eu fazia o bold, mas num sei), a caixinha mágica ainda lá estava. E assim desisti, transportando para a sala também a PS2. Foi o sinal da minha rendição.

Não total, note-se: o computador ficou onde estava e nele tenho jogado (ou voltei a jogar) com mais frequência o "Panzer General". Ainda ontem estive a fazer de Rommel em EL Alamein e, ao contrário do que a história reza, até derrotei o Montgomery.

Mas não posso estar sempre assim, e viver os serões domésticos em sistemática separação de écran e de facto. De forma que, garantida a supremacia da Wermacht no norte de África, e depois de saber que me tinha sido confiado como "prémio" um comando na Frente Leste, desliguei o computador, peguei no meu copo e no meu tabaco, retornei à sala e conformei-me a ver TV. No caso, nem foi mau, porque estava a dar "A Quadratura do Círculo", ou seja, o ex-Flashback.

Não ser mau não é necessariamente bom. Vi serem sumariamente debatidos três temas: O livro do Santana; os próximos desenvolvimentos do processo político-referendário-legislativo do aborto; o programa espacial anunciado pelo Bush.

O último dos temas não levantou polémica. Acham todos interessante, salientando o Lobo Xavier os efeitos colaterais benéficos de aceleração do desenvolvimento científico e tecnológico do dito programa espacial.

O livro do Santana permitiu ao Pacheco Pereira descarregar um pouco mais da sua bílis sobre o colega de partido, dizendo que o mesmo se apropriava da obra do Estado em benefício próprio. Um sofista, aquele barbudo ... gostava de conhecer um político que reivindique obra feita, nessa qualidade, com o seu próprio dinheiro.

O processo político-etc. do aborto serviu fundamentalmente para picardias políticas entre o José Magalhães e os outros dois. Nada de novo.

Enfim, não tenho perdido grande coisa nestes meses ...

M.I.R.N. - Aderindo à moda do post scriptum com siglas divertidas, aproveito para acrescentar que vi um filme (DVD da "Visão" de há umas semanas) chamado "Sob Suspeita". Com dois dos meus actores favoritos (no caso, o Gene Hackman e o Morgan Freeman). Interpretações magistrais e um filme muito bem feito. Recomendo.

Ironias

E pronto, lá tive eu de ir para o...
O .... mais velho entenda-se!

Ainda mais tardiamente...

Fica aqui apenas o final de um poema de que eu gosto muito. Desse senhor que, gordo ou magro, escreveu isto, que eu leio sem demagogias e sem ideologias. Se acharem que tem, umas ou outras, retirem-nas.

Serei tudo o que disserem
Por temor ou negação:
Demagogo mau profeta
Falso médico ladrão
Prostituta proxeneta
Espoleta televisão.
Serei tudo o que disserem:
Poeta castrado, não!

Já fora de tempo


Faz hoje anos que morreu este homem. Era um homem que escrevia muito bem e que lá tinha as suas cousas. E as suas causas.
Já morreu há muito tempo. Os meus filhos ainda nem tinham nascido. Era mais gordo? Não, era assim.

En un chiquitin, se quedarán curados



Besugo e Paco: apertem lá esses ossos um ao outro e a seguir façam um sentido Nasdrobia. A consulta está marcada para a próxima semana.

18.1.04

Interdito a menores de 18 anos

Paco: se estás a falar a sério, desculpa. Ou eu escrevi mal ou tu leste mal o que escrevi.
Paco: se estás a brincar vai para o ... exactamente. Que me ias estragando a noite.

Em todo o caso admite: vieste com muita manjerona para tão pouco arlequim.

A condição humana

Ó Paco: eu confesso que, de vez em quando, dou umas fífias, como toda a gente. Mas esforço-me, quand-même...

E o meu post scriptum é:

FEC-ML

Contrição e penitência

Caro besugo,

Não me ocorreu nunca, desde que recebi o teu amável convite para escrever por aqui umas coisas da minha lavra que se esperasse de mim algo de lúcido.
Tal como num filme os actores são escolhidos para um determinado papel pelas suas capacidades cómicas, trágicas ou dramáticas, também aqui e, conhecendo-me os meus estimados colegas de blog como conhecem, sempre supus que fosses tu a assumir o papel de detentor de tal predicado.
É certo que já vimos a Meg Ryan no papel de heroína de guerra, o Mel Gibson de meias de lycra e saltos altos e até o Schwarzenegger travestido, mas tal não deve ser tomado como regras, apenas como um fait-divers (ou fight divers como dizia o Telmo da Sónia, que continuo a venerar como meu referencial de lucidez suprema).
Para mim estaria decerto reservado outra coisa qualquer, sei lá, do género de dizer umas coisas engraçadas sobre futebol, política ou coisa que o valha mas sempre de forma meia atolambada e que não ensombrasse nunca as visões acertadas e objectivas de alguém que, como tu, sabe bem as curvas da vida (pelo menos tão bem como as da estrada de Santa Marta).
Tendo eu tido o atrevimento, involuntário podes crer, de tentar dar de mim uma imagem que nem de longe nem de perto corresponde à realidade, rogo me concedas a dádiva do teu perdão.
E, podes ficar certo de que, irei tentar no futuro não ensombrar este blog com metáforas cromáticas que tenham qualquer conotação futebolística ou com imagens da lota de Sesimbra que envolvam outros aspectos que não meramente gastronómicos.
Quanto ao resto continuarei a divagar sobre aspectos da nossa vidinha sem ter a pretensão da clarividência que jorra da tua pena.
À Lolita peço que me desculpe também, se avaliei mal as qualidades que dela emanam mas, pelos vistos, sou fraco observador da natureza humana.

Humildemente contrito me penitencio.

P.S.D. Também gosto de algumas siglas mas, se calhar, pode ser tomado como mais um vislumbre da minha pouca lucidez. Queiram desculpar.

Efeitos do clima



Já não me lembrava de ver o sol aparecer ao fim de semana. Há meses que não via a barra tão luminosa como hoje. Há muito tempo que Ella não cantava tão bem.

Imagens reais

Os Mata-Mouros escandalizaram-se com a breve dissertação do MST acerca da inteligência do Bush. Que exagero! Reparem bem: não chega, sequer, a ser um elogio ao Bin Laden. É que não é preciso ser especialmente dotado para se ser mais inteligente do que o nosso menino Bush. Para mais pormenores, observe-se atentamente a foto ao lado.

17.1.04

Retenções e reduções.

Caro Paco:

Da tua extensa e pouco lúcida panóplia de desejos para 2004 retenho que gostarias de ser taxista. Profissão que exige alguns conhecimentos da arte de dirigir veículos automóveis de passageiros, para começar. Ora tu, é consabido, em assentando as nalgas para conduzir, tens uma quase mórbida atracção por bermas, valetas e ravinas. Atracção que roça (sim, eu disse roça) o vertiginoso. Tu, arvorado em taxista, serias mais letal que palestiniano armadilhado, com a agravante de a armadilha seres tu!

Não comento as tuas opções seguidistas em relação a peixes que prefiro no prato, após sucinta e vantajosa passagem pela grelha. São feitios. E tu sabes que eu, feitios, não discuto. Nem feitios nem delírios, como esse que tu agora tens sobre a cor dos anos e sua relação com animais mitológicos.
Também não comento a tua pesporrência sobre a lucidez do Alonso e a serenidade da Lolita. Fazemos assim, para ficarmos quites: se eu vier aqui dizer que Marte é verde tu também evitas comentários. Estamos combinados?

Eu, a bem dizer (por agora!), não comento mais nada.



P.S.

Não, não liguem, foi só para escrever a sigla, não se incomodem.


Para 2004 eu queria...

1 Ser taxista.
E não era para andar de Mercedes.
Apenas para não pagar o PEC...
Parece que a Manela Ferreira Leite começa a mostrar tiques de fã do António Guterres e começou a governar ao sabor das pressões.

2 Postar mais vezes neste blog.
E não é por falta de vontade.
Apenas porque às vezes são minguantes a oportunidade ou a pachorra.

3 Continuar a aturar o esquerdismo galopante do besugo e a mania de se meter com os de Vila do Conde.
E não é por os besugos não poderem ser de esquerda ou conflituosos (que o diga o garagista).
Apenas porque este particular besugo é mais conservador e pacífico do que eu algum dia sonharei ser. E depois disfarça...

4 Ter a Lolita como contraponto deste besugo a por serenidade e clareza nas questões que por aqui se espraiam.
E não digo isto apenas porque ela canta bem.
Apenas porque é serena e clara.

5 Ler por cá o Alonso com mais frequência.
E não é uma crítica porque mais vale pouco e bem.
Apenas o prazer de ler coisas bem pensadas.

6 Descobrir que os suspeitos da Casa Pia não passam, afinal, de um bando de querubins com cara de vilões.
E não é porque eu ache que eles são todos inocentes.
Apenas porque, nesse caso, as vidas de dezenas de crianças não teriam sido destruídas, porventura sem retorno.

7 Ver as nossas crianças crescer tão próximo de nós quanto se possa.
E não é por elas não estarem sempre por perto.
Apenas porque as vidas no-las afastam dos olhos.

8 Que as nossas vidas sejam um pouco mais macias.
E não é porque elas sejam particularmente agrestes.
Apenas porque algumas arestas por vezes nos fazem uns arranhões que á flor da carne nos marcam as entranhas.

E mais não digo.


P.S.

Não ia dizer nada mais mas afinal...
Não formulei qualquer desejo de índole política ou futebolística.
Se no futebol acho que nem vale a pena falar, tal a certeza que se apossou de mim de que vamos ter mais um ano azul dragão, na política só me resta seguir o cherne.
Foi ele o eleito, ele prestará contas no fim do mandato quaisquer que sejam os resultados de eleições europeias ou autárquicas.

Play Station

One, two, three... Fight! Rocky Marciano salta vigorosamente para o meio do ringue. Pedro Ortega também, algo hesitante. Olha Rocky nos olhos, porém. Desafia-o. Rocky, enraivecido, desfere-lhe um soco de baixo para cima, atingindo-o em cheio no queixo. Mas Pedro Ortega, combativo, não dá tréguas. Soca Marciano com uma esquerda forte, logo seguida de uma direita. Rocky, experimentado boxer, recua e protege a cara com as mãos. Pedro Ortega ganha terreno e ensaia o próximo soco, que já não concretiza. Rocky, recuperado, soca-o sucessivamente e Pedro cai. Lolita ganha o combate, por K.O.

16.1.04

Isto tem cura!

Como todos sabem, um inquérito publicado esta semana na Focus revela que, numa amostra de sessenta países worldwide, somos a quinta nação mais pessimista. Como todos sabem também, o médico Pio de Abreu afirmou que ser violado por uma figura pública aumenta a auto-estima da vítima. Portugueses: sigam o oportuno conselho e tratem imediatamente de contactar o vosso VIP favorito.

Certo dia, à noite...

Às vezes, a ficção mostra como a realidade é absurdamente hilariante. Passem no Senhor Carne e leiam este genial e intleu... iniliu... inelutável diálogo.

Salto em altura

- Ó besugo, tu já tens postado muito hoje...
- Achas?
- Eu acho...
- Mas muito, como?
- Muito, sei lá... Demais.
- Achas?
- Eu acho.
- Bom, eu ia escrever só uma coisa sobre...
- Sobre ti? Não é?
- Não... Sim... Vistas as coisas assim talv...
- Tu hoje tens postado muito. Não achas, besugo?

De qualquer forma

Apraz-me registar que a Lolita acabou por linkar "à esquerda" todos os blogues. Mesmo os blogues que rotulou "de direita". Isto pode soar a escasso consolo mas há simbolismos reveladores... mesmo vindos de quem vêm.

Palavra de besugo

Eu hei-de aprender a pôr links, por ordem alfabética e tudo. Que é para acabar de vez com a insurreição!
Agora, pensando abrir um blogue tendencialmente monárquico, deparei com mais um andrade confesso e, ainda por cima, com tendências estatísticas. Que são os mais radicais!
Já não chegavam os que cá temos dentro, como a Lolita (hás-de pagá-las, tu) e o Paco, mais os Tipos de Vila do Conde e os Mata-Mouros! E o de Chaves!

Revelação

O Carlos Alberto usa aparelho nos dentes. Ainda assim, é moço mais apresentável do que o Toñito...

Actualização

Afinal são oito. O duque acaba de entrar.

Outra coisa

Ainda bem que o Sérgio Conceição vai para o Porto. Desde o tempo do Pena e do Esquerdinha que os tipos não tinham lá um atleta que se preocupasse tanto com o (des)penteado.

Última hora

De uma assentada, meti sete novos links ali à esquerda. Alguns são de direita, outros são benfiquistas. Isto porque consegui explicar ao besugo que é bonito ser pluralista e ele lá se calou.

15.1.04

Ala Arriba

Bom, era o nome dum clube de Mira, que não sei se ainda há, mas eu habituei-me a ouvir a expressão "Ala Arriba" na Póvoa e em Vila do Conde. Por motivos que não vêm ao caso, tenho profundos laços emocionais com ambas as cidades. Mais com a Póvoa, ainda hoje local de veraneio anual dos meus pais e tios. E, mesmo que as férias me venham apontando outros destinos, não se passa um ano sem que visite a Póvoa. E a Vila do Conde, da Póvoa, vai-se a pé. Ou de bicicleta, em passeio familiar.
Durante o ano passado, infelizmente, passei a ter um familiar directo (irmão do meu Pai) sepultado em terras poveiras. Depois de se ter encantado por poveirinha, há muitos anos, na Póvoa viveu, lá procriou, lá passeou o seu grande corpanzil de professor primário bom e antigo. E lá foi a enterrar, na terra que era dele por adopção e que passou a ser ainda mais nossa. Depois de doença prolongada que muito nos debilitou na estrutura familiar. Mais este laço, se não houvesse outros, fortes e antigos, na memória.
Não tenho nada de útil, para já, a acrescentar à polémica benigna e amigável que os Tipos de Vila do Conde e o Boticário iniciaram. Sou, contudo, enfiado aqui no Alto-Douro, um observador atento das duas cidades gémeas e rivais. Que não se misturam mais porque parecem, de facto, vistas daqui,"imiscíveis".
Exactamente, uma vez sem exemplo, estou de acordo com os manos Dupond & Dupont (isto não se repete, livra!): é-me difícil imaginá-las "juntas", mesmo que as pressinta separadas apenas (ou fundamentalmente) pelo tempo que vão demorar a juntar-se. Talvez me engane...

"Águas de alto"


Não sei se é mineral, esta água, mas não tem aspecto de ser vegetal ou animal. Deve ser mineral, por conseguinte, pensando melhor. Aconselho fortemente à Lolita. Aos copázios, com as mãos em concha ou em cascata, pelo corpo abaixo. A água pura, cristalina, inodora e incolor é a melhor das bebidas refrescantes. Não há dia de calor que não ma faça evocar, não há sede que ma não recorde.
Aliás, é só porque está um frio de Janeiro e porque (que coisa estranha!) não tenho sede que me vou abastecer dum alternativo James Martin's, podem crer. Não fora isso e atirava-me à torneira da cozinha, donde brota líquido municipalizado.

14.1.04

Para que não haja dúvidas

Eu também gosto de água mineral, Santal light e leite achocolatado Agros, mas assim de repente não estou a ver nada que possa dizer sobre isso...

Relações fortes (ou o elixir da eterna juventude)

Lembram-se daquele anúncio do J&B? Desvalorizemos o lugar comum da expressão e centremo-nos na questão nuclear: há quem esgote toda a sua vida mergulhado no seu próprio sofrimento, sem saber que ninguém sofre verdadeiramente quando apenas alimenta o seu inerte, mórbido e paralisante narcisismo. O sofrimento pressupõe investimento, sentido de risco, interacção, pró-actividade. Supõe que se possui a exacta noção da existência do outro para além da própria existência: um objecto desconhecido, que existe para além do sujeito. Se se perder, em algum momento do infindável caminho dessa fascinante descoberta, perde-se porque se arriscou e não porque se desistiu. Isto é: sofre-se menos e vive-se mais. Cheers!

foice em seara alheia

Ou seja, quem trabalha com caneta manifestamente não sabe usar um estetoscópio (e nem sabe o nome de mais nada, salvo do bisturi, que não deve ser ferramenta usual em internistas).

Mas da leitura do antecedente blog do besugo retiro várias coisas. Primeiro, o que já sabia: a profissão de médico, se vivida "hipocraticamente", sujeita-o a situações, escolhas e decisões que, pela gravidade das suas consequências, constitui pesadíssimo fardo. Segundo, que o sistema hospitalar português está longe de ser perfeito. Terceiro, que as urgências são cenários "de fugir", quando se é médico, e cenários "de correr para lá", se se é enfermo e se se está aflito.

Delas (das urgências) tenho a experiência de quem não toma decisões, mas a de quem coloca, em estado de fragilidade e vulnerabilidade muito grande, a sua vida ou o seu sofrimento nas mãos de um(a) desconhecido(a).

Não conheço situação pior, do ponto de vista humano. Reduz-nos a um monte de carne, ossos, tecidos, fluidos e demais componentes orgânicas. E agiganta esse desconhecido ao estatuto de Senhor do nosso sofrimento e, eventualmente, de único redentor do mesmo.

Não conheço situação pior, repito. Mas admito que seja pior ser-se esse desconhecido. Pelo menos até ao momento em que a pressão se torna rotina, em que as pessoas se tornam utentes, em que os seus corpos doentes se tornam apenas em sacos de ossos, carne, tecidos, fluidos e etc.

Obviamente, para o besugo ainda não é assim. E aposto que no dia em que o garagista da capital de distrito que buzina e ultrapassa à "lagardere" lhe caia nas mãos - se calhar politraumatizado - o besugo o vai tratar com humanidade e pena pela dor dele (mesmo que entretanto pense "estava-se mesmo a ver que acabavas nisto, meu sacana"). E se calhar passa a noite com ele a falar amenamente das "empata-bichas" estúpidas que se deixam fascinar pelas matrículas dos camiões do LIDL na estrada de Santa Marta.

Um homem sábio



















A tranquilidade do medo

Hoje estou, mais uma vez, muito cansado. Dói-me o corpo e a incerteza de poder ter falhado. Dói-me ter deixado velhos deitados em macas e espanta-me terem ficado só dez doentes internados fora do serviço de medicina interna. Às vezes são mais de vinte. Terei dado altas arriscadas? Irei ter chatices por isso? Que critério rigoroso existe no meu trabalho que me permita, entre tanta decisão... decidir que decidi sempre bem?
A labuta médica é, simultaneamente, braçal e intelectual. No serviço de urgência, sobretudo se se é internista (nenhum médico doutra especialidade me desdiz), o cansaço físico pode ser angustiante. Mesmo apenas ao fim de 12 horas. É engraçado, há 10 anos atrás eu não me cansava tanto. E até há seis meses cumpria, pelo menos, 24 horas semanais (seguidas) de serviço na urgência. Prosseguia, no internamento e na consulta, na manhã seguinte, trabalhando, por vezes, 30 horas consecutivas.
Agora já não. Ganho menos dinheiro, que eu sou "bicho de hospital", não trabalho fora. Mas há dinheiro fácil, dinheiro que custa ... e dinheiro que pode matar. A nós e aos outros. Trabalhar demais na urgência dá dinheiro desse, ou pode dar.
O cheiro da urgência, onde se amontoam os humores e os miasmas dos doentes e dos que tentam tratar deles, é-me cada vez mais intolerável. Um sistema que privilegia a "drenagem" sucessiva para centros mais diferenciados, proporciona que seja possível o "atafulhar" duma área teoricamente destinada a doentes agudos ... por doentes crónicos. Mesmo que "agudizados". As patologias crónicas têm a sua evolução natural e os seus momentos de agudização. As chamadas "descompensações" (duma diabetes, duma insuficiência cardíaca, duma bronquite, do que seja). Os chamados cuidados primários remetem à urgência hospitalar cada vez mais doentes destes. Outros chegam directamente. Para os doentes, se houvesse espaço, tempo, energia, gente que chegasse, seria melhor: observação por médicos diferenciados, possibilidade de exames subsidiários no mesmo dia (às vezes...outras não, que estamos cada vez mais a poupar no "impoupável"), melhor orientação. Eu não tenho dúvidas disto. Confio pouco na eficácia dos cuidados primários. Não é preconceito, nem generalização fácil de homem fatigado. Farto-me de receber cartas de colegas que denotam, ao mesmo tempo, angústia, falta de meios, de tempo e, algumas vezes, de preparação. Entre outras coisas. E, sobretudo, essas cartas são a apresentação formal de pessoas, muitas vezes idosas e acamadas ("amacadas", é melhor assim, que é em macas que nos chegam e que, muitas vezes, permanecem) que, pela sua simples e "amalgamada" presença, me fazem sofrer. Da mesma angústia e pelas mesmas faltas que acabei de referir, endereçadas a outrem. E é sempre mais fácil culpar de demissão quem nos remete cargas de trabalho e de medos.
Não é uma pescadinha de rabo na boca. É mais grave. É um ghetto protocolado. Desgasta. Faz-nos ter medo de morrer e de deixar morrer sem querer. E faz-nos deixar de acreditar. Em nós, nos outros. Sobretudo em nós, que um homem cansado é igual a uma mulher cansada e é igual a si próprio, sem grandes defesas.
Isto levado a sério é muito duro, acreditem. Desculpem o lamento. Deve ser apenas do cansaço. Mas creiam que, pelo menos este, o cansaço, é genuíno. Do resto eu sei que os senhores desconfiam sempre.

12.1.04

Até Narciso se via ao espelho ...

... embora só nele visse a sua própria beleza e por ela se apaixonasse. Mas o besugo não tem espelhos. O que aliás se compreende, sendo ele um peixe.

Passo a explicar: o besugo, peixe de eloquente prosa, deu-nos uma aula de condução na estrada de Santa Marta. E vituperou com veemência alguns comportamentos de outros condutores da dita:

Exemplos:

a) - "Mas não dá: a senhora que sucede ao camião do LIDL parece fascinada pelo pára-lamas do excelente e grande camião."

b) - "... nem sequer vou falar na apetência quase magnética que cada elemento destes cortejos de tristes seres rolantes sente pelo indivíduo da frente. Apetência alarve que os faz seguir assim, coladinhos, numa triste carneiragem de empata-fodas."

Vagamente machista e fortemente ordinário, este peixe ... mas até aqui tudo bem, ele está a falar de outros e de comportamentos de outros de um modo que eu partilho. Chamar-lhes-ia "empata-bichas", mas isso é um pormenor e poderia ser interpretado à conta da minha homofobia primária (de que padeço, aliás).

Mas ... a verdade é que o besugo também escreveu isto:

"Hoje, por exemplo, ali pela curva de Banduge, percebi que ia ser um desses dias. Colado à traseira dum camião que transportava toros de madeira, percebi tudo."

...


...


...

não sei se perceberam ...


PS - Este belogue começou o ano com "A Internacional". Ainda procurei o "Lá vamos cantando e rindo" para contrabalançar, mas não encontrei. Em todo o caso, para instrumento-base de ideologias genocidas não serve, e o "Mein Kampf" não foi musicado.

PS2 - Um facho que eu conheço foi passar uma semana a Cuba (falo da ilha, não da vila alentejana) e gostou imenso. Tenho que experimentar. Parece que lá, pelo menos, têm o sentido da autoridade, não é a sem-vergonhice em que vamos vivendo.

PS3 - O Sampaio voltou a acusar o toque e lá veio com mais uma declaração ao País. Parece aqueles tipos que estão sempre a dizer "agarrem-me senão eu faço uma desgraça" e que ninguém leva a sério. Coitado ... espero que termine o mandato sem mais cenas tristes como esta.

PS4 - E agora que já cá vim este ano, aliás mortificadíssimo, já alfinetei devidamente o besugo e já mandei umas bocas reaccionárias, faço votos de que este belogue se torne uma referência no espaço luso-ibero-americano e, porque não, em todo o mundo lusófono e nas diversas comunidades que falam espanhol. Por mim, tentei hoje (cfr. PS2) uma operação de charme junto da comunidade cubana de Miami, onde temos muitos e fieis leitores. Alguns deles, segundo sei, até se chamam Alonso.

11.1.04

Domingo cinzento

É como ele está. Acinzentou depois de prometer algum azul. Agora já nem faz mal, a noite prematura das mudanças horárias já aí está de novo.
Ora bolas.

Acuse-se. Exija-se. Justifique-se. Condene-se.

Somos todos mortais. E, assim, como não podia deixar de ser, nem o ilustre António Barreto logrou distanciar-se da irresistível, histérica e civilizada onda persecutória. Impõe-se que, a todo o custo, se achem culpados e implicados que nos sustentem a nossa vã convicção de que a culpa é, invariavelmente, dos outros, mesmo quando o assunto nem sequer nos diz respeito mas que nos conforta, ao iludir-nos a superioridade moral. Exijam-se justificações: as nossas interdependências, quase sempre manipuladas, legitimam a exigência. Culpem-se e condenem-se os culpados. Opine-se sobre a sua culpa que, por existir, nos faz acreditar que há uma parcela do mundo melhor do que aquela a que eles pertencem e à qual temos, forçosamente, de pertencer. Fale-se muito, escreva-se muito, opine-se ainda mais. Reconheça-se o inviolável direito, hetero-imposto, à opinião sobre os comportamentos de terceiros. Este império ocidental decadente, onde tudo carece de justificação e onde tudo é suspeito, já conseguiu, pelo menos, construir uma geração que sonha tolhida, porque não crê no que sonha.

Kir Royal

Um golpe de Creme de Cassis numa flute, que depois se enche de champanhe bruto até transbordar e - muito importante - até espumar. Pega-se, então, na flute e bebe-se. Quando acaba, olha-se em volta, tentando descobrir quem não aguentou o Kir e pergunta-se: "não gostaste? olha que pena!", já depois de se ter surripiado a flute alheia. E bebe-se também. Tão bem, quero dizer...









10.1.04

Em Maio, no Porto.


O autor da cantiga de amor mais bonita dos últimos tempos vai estar no Porto em Maio. Não me lembro em que dia.

Vou lá vê-lo e, sobretudo, ouvi-lo.

Quereis ir também, Lolita, Paco, Alonso, restante galeria e acompanhantes?
Quereis ir também, ó excelente sub-blogosfera (não esotérica)?
Era engraçado, "Elvis Costello & The Sub-Blogospherians" , LIVE!
Vá lá, estendamos o convite ao nosso amigo de Chaves que, aqui há uns tempos, lá se rendeu ao Elvis Costello e à Joni Mitchell. Rendeu-se, pouco convencido, mas rendeu-se. Desafiemo-lo: se lá for ver e ouvir, ele rende-se de forma definitiva.
A letra da cantiga de amor mais linda é esta que ponho a seguir. É muito simples, como quase tudo o que é muito bonito.

"Still
These few lines I'll devote
To a marvellous girl covered up with my coat
Pull it up to your chin
I'll hold you until the day will begin

Still
Lying in the shadows this new flame will cast

Upon everything we carry from the past
You were made of every love and each regret
Up until the day we met

There are no words that I'm afraid to hear
Unless they are "Goodbye, my dear"

Still
I was moving very fast
But in one place
Now you speak my name and set my pulse to race
Sometimes words may tumble out but can't eclipse
The feeling when you press your fingers to my lips

I want to kiss you in a rush
And whisper things to make you blush
And you say, "Darling, hush
hush...
Still, still"

O problema da ultrapassagem (epílogo)

Deixo apenas uma questão. Não, nem sequer vou falar na apetência quase magnética que cada elemento destes cortejos de tristes seres rolantes sente pelo indivíduo da frente. Apetência alarve que os faz seguir assim, coladinhos, numa triste carneiragem de empata-fodas. Eu conheço o meu povo, nem vale a pena pensar mais nisso.
Não, o que me apetece perguntar é isto: acreditam no azar? É que o resto do meu dia foi um prolongamento piorado desta bizarria.
Nem a vitória do meu Sporting (que voltou a jogar mal) me alegrou.

Há dias que começam mal e continuam "mais ou menos". E há gente que afirma que "sendo assim, menos mal".
O meu dia saiu-me todo ao contrário, nem sequer foi "mais ou menos". E mesmo que fosse. A gente, quando cresce, aprende que "mais ou menos" é apenas um rascunho de "muito bem". Querer o "mais ou menos" é ficarmos contentinhos com "males menores", é desistir dos "bens". E duvidar dos "grandes bens", que a gente sente que estão aí, perto de nós, sempre sujeitos a não se cumprirem por azar. Sem que tenhamos a culpa, mas não deixando de a ter porque, se calhar, não exaurimos a força toda para torcer um destino que não há, nem tem de haver. E temos de o torcer, às vezes, mesmo atraiçoando o código da estrada e as filas de mémés que nos vão pastando a calma.

O problema da ultrapassagem

Eu vivo numa cidade e trabalho noutra, o que é comum. Todos os dias me desloco entre ambas, numa monotonia que me faz saber de cor o caminho que percorro. Chamo-lhe a estrada de Santa Marta, como toda a gente daqui chama. E aviso já: eu sou como toda a gente.
É uma estrada que começa entre vinhedos e acaba entre fragas cinzentas, mantendo-se fiel a uma trajectória de "curva e contra-curva", do princípio ao fim. Mas que se atravessa bem, se houver sorte.
Hoje não tive sorte. Por vários motivos, mas este é um deles. Passo a descrevê-lo: é o problema da ultrapassagem.

O problema da ultrapassagem parece singelo, visto daí: "não vem ninguém de trás, pisca, reduz, acelera, guina e já está".
Na estrada de Santa Marta não se consegue isto assim facilmente.

Hoje, por exemplo, ali pela curva de Banduge, percebi que ia ser um daqueles dias. Colado à traseira dum camião que transportava toros de madeira, percebi tudo. À frente deste ia uma carrinha de caixa aberta, com areia, a seguir um carro conduzido por uma senhora daquelas que fazem permanente, depois uma motorizada Famel, dois carros (um deles azul lelé) conduzidos por indivíduos de boné. Fiquei alerta. Mais ainda quando percebi que todo este cortejo era antecedido doutra senhora de permanente e dum camião grande que faz os transportes para o LIDL. Combinação desastrosa.

Há poucos sítios para ultrapassar, na estrada de Santa Marta, ainda que a média do cortejo seja de 30 Km/h.
Mesmo nesses sítios, já se sabe. É preciso que os deuses estejam atentos.
Eis o primeiro sítio e, com ele, a minha primeira esperança. Mas não dá: a senhora que sucede ao camião da LIDL parece fascinada pelos pára-lamas do excelente e grande camião. Vai ali, "porrópópó", com as duas mãos no volante (aparentemente coladas a ele), a cabecita erecta para não desmanchar a "mise". Os dois tipos de boné desconhecem a existência de outra velocidade que não seja a quarta. A segunda e a terceira gastam muito "gasoil". E assim por diante. Nem o da mota se azouga, vai ali a pastar. Não se vê um pisca.
"OK!", penso eu. "Na próxima ataco!".

"Ei-la, é agora!". O tanas. Um dos tipos de boné decidiu fazer pisca. "OK, vou a seguir. É agora!... salta o "terceiral"!" ... E depois tenho de afrouxar. O tipo do boné fez pisca, mas a senhora da permanente, que olha de soslaio pelo retrovisor, num sorriso sem beiças, imita-o! Também quer. Sucede, apenas, que se limita a fazer pisca. Não reduz, não acelera, não guina... enfim, os senhores já entenderam. Era apenas uma manobra de diversão. Um dos tipos de boné buzinou. Eu já nem me dou a a esse trabalho. Acendo sempre um cigarro, nestas alturas, e entretenho-me a ouvir o Fernando Alves, que tem bom nome e boa dicção. E é esperto, embora ainda não tenha um blogue. Bom, eu tenho e é o que se vê. OK, paremos por aqui, que já aí vem outra recta. "É agora. Agora vou eu! Pisca e segunda, que eu tenho um Alfa 147!".
Azar. O tipo da mota resolveu sair detrás da viatura da segunda senhora de permanente e lá vai ele... ou ia! A senhora acelerou e não dá espaço ao pobre diabo, que tem de se encolher outra vez. Ainda para mais, com buzinadelas dos tipos da viatura de caixa aberta, que estão no limiar do gozo. Eu já sei o que vem a seguir, é sempre igual: o da mota faz gestos, os da caixa aberta buzinam e fazem piretes pela janela. Se passasse um trolha diria "Ó boa, larga o volante e anda cá!", se passasse Pacheco Pereira diria que "isto, sim, é uma cabala valente!".

Bom, o tempo vai passando. Acendo outro cigarro, e desatino com a merda dos CDs. Não sei quem é que os põe sempre na caixa trocada, queria os Tribalistas e sai-me a Carla Bruni, que não dá, é MP3! Praguejo. Eis o Covelo. "Se se portarem bem, passo quatro ou cinco". Boa recta. Eis-me de mão direita na manette de coiro, alerta, com olho de falcão. Não vem ninguém, mas os filhos da puta fazem todos pisca. "Que é isto, que se passa, estão doidos?". Não. É um TIR que decidiu parar a meio da recta. O motorista não se vê, deve ter ido aliviar-se atrás duma moita. Como o Fernando Alves já se calou e o CD não dá, canto a Traviatta com caralhadas soezes em ré menor. "Vai ser antes da Cumieira, naquela grande. Aí sim!". Só que, entretanto, já estão mais dezassete viaturas atrás de mim. A mais próxima é a dum garagista da capital de distrito, conheço-o porque já fez competição automóvel e é pequenino, com cara de macaco. Este é perigoso. Vai fazer a merda do costume: arranca e enfia-se no meio do que conseguir enfiar-se, completamente à Lagardère. Eu ia deixá-lo fazer isso, mas o tipo hoje excedeu-se, deu pisca, luzes de máximos e, pior ainda, buzinou-me. Buzinou-Me! Tipo "sai daí". Bom, este tipo de atitudes, enquadradas por tipos de boné, caixas abertas e senhoras de permanente tiram-me do sério. Mesmo percebendo que lá no fundo da recta estava um desgraçado a vir para cá, a fazer desesperados sinais de luzes, saltei para a esquerda, fiz pisca (a ordem foi esta, confesso) e só regressei ao meu lugar quando percebi que o símio de competição já não se safava. Recolheu também. Olhei pelo espelho retrovisor, vi-o gesticular e fiz o pisca da direita competente que significa "encosta que te chino já todo!". O tipo, como doutras vezes, fez de conta que não viu e sossegou.

Bom, a viagem de 22 Km demorou 45 minutos. É razoável.

Nos livros, nunca há mal entendidos.

Os livros explicam. Alguém fez alguma coisa porque. A vida não se explica, é. A grande questão é que os livros só explicam os problemas dos outros. Quanto aos nossos, limitam-se a colocá-los: a solução nunca nos serve. O que é um excelente sinal.

8.1.04

Eu ainda não me calei com isto da bola...

O besugo foi simpático para mim, aliás nem tem razão para não ser.
Ao trazer à lembrança o Beto Acosta quis só chamar a atenção para o facto de o Betigol ser um rapaz da minha idade (como dizia a minha tia Alice que do alto dos seus 80 e muitos anos assim se referia às "raparigas da sua idade"...).
E assim, quis dar a entender que um pré-cota como o Acosta fazia gato-sapato do pobre do senhor Secretário.
Mas, sendo simpático, o besugo levou a questão do passado para a pré-história.
É quase um tique de benfiquista, sim, que estes só falam do antigamentee.
O último campeonato é passado, os anteriores são paleolítico.
Provavelmente os besugos, preocupados que andam com os chernes e abróteas, perdem a noção do tempo...
E ainda, dizendo que tenciona ganhar ao FCP em Alvalade, passa a batata quente aos desgraçados dos vizinhos da Luz.
Bem diz o povo: "Diz-me com quem andas...."
E não há ninguém que ande mais junto que lagartos e lampiões...é só atravessar a rua.

Sérgio e Freddy

Há quem afirme
Há quem assegure
Que é depois da vida
Que a gente encontra a paz prometida
Por mim marquei-lhe encontro na vida


Que é como quem diz: anyway the wind blows...

Prometo que a seguir me calo com isto da bola

Outro senhor que, com agrado, leio frequentemente disse isto. Eu nem sabia que este amigo era benfiquista, agora já sei. E vou continuar a lê-lo, evidentemente. Mas tenho de lhe dizer o seguinte, que eu hoje pareço aquele coelho maldito da "duracell" , você desculpe:
1 - O Sporting mereceu ganhar o jogo porque, sem dúvida, jogou melhor.
2 - Leia 1 até se penetrar desta verdade! Sim, 57 vezes, se for preciso!
3 - Não se espante com o facto de Camacho se recusar a falar da arbitragem. Até porque, para começar, o homem falou. À sua maneira, entristecido por o árbitro não se ter comportado como um benfiquista. E pode fazê-lo, note-se. Desilusões tudo permitem. E o meu amigo também falou. E de que maneira, falou o tempo todo! E pode, obviamente, fazê-lo. Mais que não fosse pelos nobres motivos de Camacho.
4 - Já agora: eu admito (que remédio!) simpatias clubísticas da parte dum árbitro. E também admito que os juízes de campo sejam sócios dos clubes que entenderem. E que sejam nomeados para arbitrar jogos desses clubes. Embora o acto "associativo" seja mais perverso - no seu potencial - que o acto singelo de "ser adepto". Mas vá lá. Eu admito, se você quer. E mais: até já escrevi ao Senhor Provedor para providenciar que a Carlos Cruz seja proporcionada a imparcialidade de ver presidir ao Tribunal que o há-de julgar um primo que ele tem, que é juiz. Eu até nem sei se ele tem este primo. Mas não vejo nisso qualquer mal. Pois se o meu amigo não vê, quem sou eu para o contrariar?
5 - Deixe lá: tencionamos ganhar-vos, novamente, na segunda volta. E os senhores vejam lá se arrumam os Andrades, quando eles vos visitarem nesse belo estádio que os senhores possuem, na pujança desses novos equipamentos à Manchester United que agora decidiram envergar. E cujas meias pretas me remetem a simbolismos que me recuso a trazer para aqui, até porque não vi ligueiros sedutores...

Registo importante

Impõe-se esclarecimento urgente. Quando o besugo fala em sub-blogosfera não está, de modo algum, a referir-se a blogues de inspiração esotérica. Como exemplo, vide a citação besugal da crónica do MST num post abaixo. Já nem os descrevo como umbiguistas, porque recentemente convenceram-me de que o umbiguismo é uma característica blogosférica intrínseca e irrenunciável...

Pensamentos magmáticos (tentativa 1)

Falei ali em baixo de sub-blogosfera. O que pressupõe duas coisas, uma mais óbvia do que outra: que há uma blogosfera (toda a gente o diz, esta é a óbvia) e uma supra-blogosfera. E até é possível arranjar camadas intermédias, eventualmente, neste cadinho magmático de que toda a gente fala e que se define por si. Está aí, logo existe.

Tenho de parar aqui.

Este escrito seria muito mais profundo, muito mais "sub-blogosférico", se eu não tivesse verificado que a Lolita se atreveu a comparar a esbelteza estilizada do Toñito com as expressões "vacuolizadas" do Secretário e do Ricardo Carvalho. Nem pensar.
Em versão miniaturizada e sub-barbeada (não há gilettes no "Alvaláxia", bolas!") o Toñito até lembra o Dani, aquele ex-sportinguista que depois foi para o Ajax e para o West Ham e que agora não sei onde anda. Ou seja, parece que é giro, tu é que tens um gosto perfeitamente deturpado pelo Martini Bianco que consomes quando tentas fazer jurisprudência, ó Lolita! Tu e outras como tu, que eu bem vos vejo!

Logo hoje, que a "perfeita definição da blogosfera no entendimento de besugo" ia brotar, apareces com picuinhices desprovidas de senso!
(Já agora, "brotar" é com "o" ou com "u"?)

Ó besugo



Já este, nem com um desenho ia lá. Não?

Julgo que já tinha dito isto

Gosto de ler estes senhores. Num registo em que se pressente intimismo, sensibilidade, doçura, quotidiano "puro e, às vezes, duro", transmitem uma sensação de bem estar que me faz lê-los sempre.
Confesso que o facto de ser um perfeito iletrado funcional em questões de macro-economia (e em "lacerações copypastadas" da "virtual-politik" hodierna) me faz preferir, cada vez mais, esta espécie de sub-blogosfera. Que, "so help us God!", emergirá num belo crescendo. E envolvendo-nos.
Há mais por aí.

Cara Lolita, caro Paco



Esta fotografia é um cocktail (tradução livre: "cauda de galo") para ambos os meus amigos. E é uma brincadeira, obviamente, que eu nem conheço o senhor (1)...
A fotografia reflecte a expressão preocupada de Carlos Secretário quando confrontado com um simples questionário, que passo a referir-vos:

1 - Que pensa daquela assistência para golo que você mesmo fez ao Beto Acosta, de que nos falou o besugo? E quem pensa que fará algo semelhante este ano?
2 - Que pensa da política social de Bagão Félix?
3 - Que pensa de Bagão Félix, independentemente da sua política social?
4 - Diga uma frase em que junte as palavras "Durão", "Barroso" e "Progresso", conseguindo, apesar disso, fazer sentido.

Se me deitasse a adivinhar, diria que Carlos Secretário teria respondido algo do género:
"Tudo uma merda, excepto a última. A essa respondo. Oiça lá: Durão Barroso nunca teria lugar a titular nem no Progresso, essa excelente agremiação da Arca d'Água!"



(1) - A palavra "senhor" refere-se, evidentemente, a Carlos Secretário. O outro indivíduo citado toda a gente conhece, quanto mais não seja das assembleias do Benfica, que são sempre transmitidas em directo pelas televisões para nosso inenarrável gáudio.

Caro Paco

Aqui te deixo uma singela lembrança. Ainda me lembro dos comentários da altura:
"Secretário...... mau passe de Secretárioooo...... Acostaaaaa.........Goooooooooolo do Spooooorting!!!!".

Eu sei que o Secretário dificilmente será titular, e que o Acosta já se reformou, em glória, lá pelas pampas. Mas vocês ainda têm por aí rapaziada igualmente desprovida do ponto de vista fisionómico e igualmente capaz de nos recolocar na senda do título. Essa tua comparação com a Lazio é fraquinha, aliás: é como se eu viesse aqui moer-te o seixo, daqui por uns dias, com o M.U. (eu sei que foi na pré-época que os despachámos superiormente, eu sei, conforme sei que os 4-1 que levámos nas Antas foram no ano passado... ). Mas descansa, que eu não venho!
Como já te disse por mais de uma vez, Paco, este ano é nosso. E tu sabes que eu nunca minto.
Estás com sorte. Deixo-te escolher qual dos quasímodos que por lá tendes vai entregar, desta vez, o ouro ao... Príncipe!

De novo, o progresso!

A proposta de reforma da Administração Pública prevê a criação de quotas de mérito e excelência. A inovadora avaliação de desempenho, que pretende - e bem - acabar com as bafientas promoções automáticas nas carreiras, preconiza uma curiosa estratificação dos funcionários, que passarão a dividir-se entre "excelentes" e "o resto". Adianta-se, ainda, que as quotas de "excelentes" serão limitadas a uma percentagem minoritária do serviço público que seja objecto da avaliação. Não pensem os excelentes funcionários públicos que terão a vida facilitada, pois. Porque o avaliador, qual MST dissertando esotericamente sobre o sporting num presumível dia difícil do mês, dir-lhes-á que eles têm "a vontade e o talento para poder ganhar", antes de lhe anunciar com expressão pesarosa que, apesar disso, não serão incluí­dos na tal quota de mérito. Noutros casos, eventualmente opostos, dirá o mesmo avaliador a outro avaliado, com pseudo-sapientes olhinhos abertos semelhantes aos da Sofia Morais a puxar as orelhas aos cantantes "Ídolos", que acha que ele tem muito mais para dar e que ainda não será excelente, mas ainda assim aposta nele porque são amigos há muitos anos e não lhe passa pela cabeça fazer-lhe a desfeita. E assim as quotas de excelentes serão preenchidas pelos possivelmente talentosos e os excelentes serão forçados a esquecer que o são (ou que isso não é relevante) e a concluir que Maquiavel tinha mesmo razão. Mas eu acho que percebo: as reformas, exaustivamente preparadas e cheias de concertação social, dão um toque de progressismo dinâmico ao governo que, admitamos, lhe cai muito bem. Eu, pelo menos, quando penso em progresso lembro-me imediatamente do Durão Barroso...

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