blog caliente.

30.1.04

Retenções

Retive, assim de viés, que é notório que não percebo nada de economia. Isso já eu sabia, não tinha era ciência de se notar tanto.
Retive, como eu pensava, que, por muitas deambulações que se façam pelas vielas do discurso liberal, a fome de hoje é mais importante que a eventual saciedade organizada, disciplinada, "organigramada"... de amanhã. E eu nem precisei de dissecar a morte do Fehér para distinguir estas duas vertentes do mesmo problema: uma vertente real, "aquilo que eu sinto agora e me chateia muito", outra virtual, de "vamos lá a ver se ainda é no nosso tempo".
Retive que, de facto, como toda a gente sabe, os trabalhadores do sector privado não fazem greves porque os gestores não deixam... qualquer gestor, entre a sua cabecita de intermediário iluminado e as cabecitas de quem produz, não hesita: guilhotina nos bárbaros.
Retive que gestores, administradores e quejandos, não são elemento essencial da minha forma de vida. São parasitas. Não prestam outro serviço que não seja regular os "verdadeiros serviços" que, esses sim, são essenciais.

Retive que há quem pense, duma forma ingénua, que o Porto vai deixar de ser batido, nem que seja à tangente, em Alvalade.

Retive, duma forma quase revoltada, que vou poder fazer, caso o queira, clínica privada no hospital em que trabalho. Que me é dada a possibilidade de ganhar dinheiro à custa de pessoas que me podem ter de graça, com a mesma disponibilidade, desde que me tratem bem.

Retive que isto do lucro é uma mola real, um propulsor genial para a felicidade. Para mim não. Eu gostava de viver duma maneira diferente. Estar aqui é que não ajuda muito.
Mas como agora estou cansado, que trabalhei muitas horas seguidas, admito que posso estar a exagerar. Como de costume.

Retiveram-me, na fonte, 500 contos. Este mês.
Detesto quem não paga o que me deve. Eu pago o que vos devo, senhores.

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