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11.1.04

Acuse-se. Exija-se. Justifique-se. Condene-se.

Somos todos mortais. E, assim, como não podia deixar de ser, nem o ilustre António Barreto logrou distanciar-se da irresistível, histérica e civilizada onda persecutória. Impõe-se que, a todo o custo, se achem culpados e implicados que nos sustentem a nossa vã convicção de que a culpa é, invariavelmente, dos outros, mesmo quando o assunto nem sequer nos diz respeito mas que nos conforta, ao iludir-nos a superioridade moral. Exijam-se justificações: as nossas interdependências, quase sempre manipuladas, legitimam a exigência. Culpem-se e condenem-se os culpados. Opine-se sobre a sua culpa que, por existir, nos faz acreditar que há uma parcela do mundo melhor do que aquela a que eles pertencem e à qual temos, forçosamente, de pertencer. Fale-se muito, escreva-se muito, opine-se ainda mais. Reconheça-se o inviolável direito, hetero-imposto, à opinião sobre os comportamentos de terceiros. Este império ocidental decadente, onde tudo carece de justificação e onde tudo é suspeito, já conseguiu, pelo menos, construir uma geração que sonha tolhida, porque não crê no que sonha.

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