blog caliente.

23.1.04

soltas

1 - O besugo a dizer que nunca leu o Tolkien mas que aquilo é uma profundíssima seca lembrou-me S.A.R. a dizer que nunca tinha lido o Saramago mas que o livro "O Evangelho segundo Jesus Cristo" era uma merda.

2 - Não é que S.A.R. não tivesse razão. Já ao besugo e à "do sentir" a dita falta-lhes, por completo.

3 - Depois de ler a solta anterior tenho que me retratar: eu também nunca li o Saramago e também acho os livros dele algo próximo de matéria fecal (gosto de eufemismos). Mas eu explico: Tenho pelo Saramago profunda antipatia. Não é por ele ser comunista porque tive e ainda hoje tenho amigos com essa bizarra ideologia (não tenho a certeza que ainda verdadeiramente a professem, mas isso são contas de outro rosário). Para começar ele foi um comunista com poder (mais um "poderzinho", na verdade) e, chegado a ele, fez o que um comunista deve fazer: uma limpeza democrática dos contaminados pelo pérfido germen da democracia burguesa. Revelou-se. Para todo o sempre. Depois ... a verdade é que o homem respira, transpira, exala petulância. Não esqueço também o arzinho simultaneamente emproado e deferente para com suas altezas os Reis da Suécia (seria Noruega?) com que recebeu o Nobel. Lembrou-me o metropolitano de Moscovo, esse imorredoiro "ex libris" da bizarria comunista.

4 - A "solta" anterior está confusa, densa e exala um "sentir superior" do autor relativamente a quem é objecto da prosa. Fica assim. É digna dele, apesar de ser pontuada.

5 - A função pública fez hoje greve. Por falta de aumentos. Porque é que esse pessoal não entende que o saco tem fundo? Porque é que não perguntam à generalidade dos que não têm o Estado como patrão se têm sido aumentados nos últimos anos? Sem ironias, faço votos que o Estado venha a poder aumentá-los num futuro próximo. Seria bom sinal.

6 - Preocupa-me, no entanto, que o corte seja selectivo e se aplique apenas a quem ganha mais de 1000 euros. Chama-se a isso nivelar por baixo, e o efeito que pode ter na função pública é duvidosamente benéfico. Não é que eu tema a fuga de quadros porque também não têm muito por onde fugir - salvo os que realmente fazem falta. E se esses saírem, como recentemente aconteceu a uma brilhante médica que me é próxima e que viveu e sofreu - com exclusividade - mais de 20 anos de intensa vida hospitalar, mal andaremos.

7 - Mudando de registo, não resisto a comentar também eu o blog de que aqui têm falado. O tal "do sentir". Reparei no comentário à entrevista da B. Guimarães à "Vogue". É delirantemente divertido, e clarifica "o sentir" da sua autora, aliás um "sentir" consistente com o comentário que fez sobre o Tolkien. besugo, compra a "Vogue", para ver se encontras lá a deusa que, sem ser seca (o que manifestamente não é), anda perto "do" mitológica.

8 - Ontem vi o DVD do "acústico" do Rui Veloso. Nos extras vinha uma entrevista com ele e com o Carlos Tê. Contaram que chegaram à Valentim de Carvalho com uma cassete cheia de músicas cantadas em inglês e o "Chico Fininho". A resposta que receberam foi: "Queremos tudo em português". E eles, entre atónitos e desconfiados, para não dizer contrariados, cumpriram.
Interessante.

9 - Estive num colóquio sobre o novo Código do Trabalho. Ninguém se entende sobre o direito a férias. Ou o IDICT/M.E.S.S. esclarecem isto depressa ou vai haver "bernarda" laboral a partir de Maio. É caso para dizer "Estes legisladores são loucos".

10 - Uma das questões mais importantes para o futuro da Europa tal como a conhecemos está neste momento a ser debatida. Não me refiro a nenhum estúpido Conselho Europeu ou ao processo da Comissão por causa do Pacto de Estabilidade. Refiro-me ao problema "dos véus" em França. Li hoje o artigo da Esther Mucznik no "Público", que recomendo e que mostra, sem recurso a lugares comuns do género "cabala contra os muçulmanos" ou "todos diferentes, todos iguais", como as posições em causa nesta matéria podem ser discutidas com a profundidade que merecem. Tiro-lhe o chapéu, o que raramente faço porque ela costuma escrever sobre Israel e os Palestinianos, com a parcialidade própria "do seu sentir" de judia.

11 - Falando de judeus, lembrei-me agora do embaixador israelita na Suécia. O homem irritou-se com uma "peça de arte" que retratava uma bombista suicida num banho de sangue. Ele aparentemente achou que aquilo representava a glorificação dos suicidas palestinianos. Eu tenho dúvidas, e acho que seria na verdade mais adequado pôr no "banho" os 19 barquitos com as caras dos 19 mortos que a bombista levou consigo para os domínios de Allah e Jeovah. Em todo o caso, o acto do embaixador é espelho do Estado que tão bem representa. Um Estado à beira do desespero. E da loucura colectiva, diria eu.

12 - Solta (quase) final, vagamente humorada: Ainda bem que as inglesas se lavam quando vêm a Lisboa. Se as que vejo por cá estão lavadas, nem imagino o que seja uma inglesa no seu "estado natural". Porquitas, as chavalas ...

13 - Bom fim de semana.

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