blog caliente.

20.1.04

Hospitais

Os Mata-Mouros (citando este blogue, que fui ler) lançam um desafio: alguém poderá contestar estes números?

Bom, evidentemente que não. Os números são os números. Mas deixa cá ver se consigo explicar-me numa coisita ou duas, evidentemente irrelevantes, mas isto é um blogue caliente e os números (só por si) gelam-me a espinha:
Ora, eu li lá isto:

O facto é que a empresarialização dos hospitais, trouxe os seguintes resultados :
Um claro aumento de produtividade da rede hospitalar afecta aos “SA” :
Consultas Externas : + 9,4 % ( 269.809 consultas)
Hospital de Dia : + 17,9 %
Urgências : + 0,7 %
Intervenções Cirúrgicas : + 19,1 %

Um maior eficiência dos custos programados :
Orçamentado em Outubro 2002 : 1.597.655.833 Euros
Execução em Outubro 2003 : 1.502.950.975 Euros

Uma poupança de 95 Milhões de Euros ou se preferirmos menos -5,9 % face ao orçamentado.


Pois bem, será. Mas mesmo assim digo isto:

1 - Todos os anos ( e não só neste ano) tem havido aumento de consultas nos hospitais. Concretizo: entre 1997 e 2003 o acréscimo de consultas, no Hospital de Dia de que sou responsável, foi de cerca de 15% por ano, em média. Em mais 3 que conheço de perto, passou-se o mesmo. Curiosamente, no 1º ano de actividade da SA que agora nos rege, mantiveram-se os níveis de crescimento anual. Eu acredito há vários anos em Hospitais de Dia, numa perspectiva de abertura às reais necessidades das pessoas que acarreta, ainda por cima, uma diminuição objectiva das necessidades de internamento. Porque não são as camas, as caríssimas camas dos hospitais, que tratam os doentes.
Devo concluir que, apesar da SA, continuámos a trabalhar ao mesmo ritmo? Posso concluir isto? Posso desvalorizar, neste contexto, a numerologia encomiástica? OK.

2 - O aumento no número de urgências é referido porquê? O recurso ao Serviço de Urgência depende, exclusivamente, dos doentes (ou utentes, se preferirem o cheiro desta palavra), da sua vontade e necessidade. Não é? Ou depende duma complicada política de gestão que angaria politraumatizados, gripes e enfartes do miocárdio? Posso dizer isto também?

3 - Se os milhões supostamente poupados tiverem sido calculados com o mesmo entusiasmo e com base em pressupostos semelhantes aos referidos em 1 e 2, reservo-me o direito de duvidar deles na mesma medida, embora reconheça que, de facto, essas contas não são do meu rosário de mero colaborador de gestores.

4 - Mas sente-se, de facto, outra limpeza. São outros ares, pressente-se o futuro nesta dinâmica. É que se sente, mesmo, acreditem! Eu tenho ouvido os doentes falar nisso com entusiasmante verborreia!
Só espero que depois, à boca das urnas, se o domingo eleitoral não lhes puxar o corpo ao veraneio, expressem com potência o que lhes vou ouvindo.


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