blog caliente.

30.6.04

Filmes

Fui reler um texto do Dupont sobre o Mystic River. É aquilo tudo que ele diz, acredito perfeitamente. Mas tenho o grave defeito de não saber ver filmes assim, bem vistos. Não analiso bem. Sou incapaz de me emocionar com as fúrias histéricas de qualquer Sean Penn prejudicado no seu direito a ser poderoso e feliz. Interessa-me sempre a felicidade dos fracos, suprema impotência da semelhança que se rende. Irrita-me tanto que me desgasto na vontade de mudar roteiros, tramas. Como imbecil moralista que sou, sirvo-me dos filmes para as conclusões que já tirei. Comporto-me, estupidamente, como um selvagem avesso à aprendizagem. Todo eu pedia para que o Tim Robbins desse uma coça valente no franzino Penn em vez de lhe morrer aos pés. Não tive sorte, preferiram mostrar-me como são as coisas, em vez de, mais uma vez, me mostrarem as coisas como eu queria que fossem.
Eu não sei ver filmes assim. Só gosto deles, só os vejo bem, quando me servem de bálsamo.

Leiam o lúcido texto do Dupont, porque o filme é como ele disse. As coisas nunca são como eu digo, o que é uma sorte para todos, até para mim.
E juro pela saúde dos meus filhos que o que escrevi não transporta nenhuma ponta de ironia. Só se fosse de amargura, mas eu sou muito rápido a sair da confusão, nem isso quero.

Adiante. Amanhã há Euro, outra vez, e vamos ganhar, se Deus quiser e nós também.

29.6.04

Ainda o Rio Mítico...

A mulher de Sean Devine, personagem do Kevin Bacon no Mystic River, telefona-lhe frequentemente mas nunca lhe consegue falar. Cala, provavelmente, emoções tão feitas de culpa e tão feitas de mágoa que se tornam inaudíveis naqueles momentos, algumas vezes tornados encruzilhadas (ou meros cruzamentos), em que o futuro silencioso substitui, com vantagem, as palavras que se diriam no presente.

Quase me esquecia de uma das cenas mais simplesmente bonitas do filme.

Decisões

O meu filho mais velho tem 14 anos e acabou de tomar uma importante decisão: há coisas que não quer decidir agora.

Ele não sabe, ainda, aquilo que quer ser quando for crescido. Gosta de futebol e de andebol (pratica os dois), de computadores, de consolas, de miúdas, dos amigos, da mãe, do pai e do irmão, gosta de quase toda a gente. Gosta de nadar e nada muito bem, um golfinho (sai ao pai, embora este se vá transformando, cada vez mais, numa variante "mobydickiana" do filho... e daí, nem tanto, que a melanina é apanágio pigmentar da família toda). Gosta que não se fume, é um chato com razão, a ver se o oiço mais. Gosta de biologia e história, mas não gosta muito de matemática. Gosta de música e comove-se com o Brahms do pai. Anda a assemelhar-se a um sorna, um querido sorna a crescer, mas ainda pequenino. Ainda não vota e já lhe pedem um simulacro de decisão da vida.

Tive de o libertar da teia redutora e normalizadora do ministério da educação, dos "ministérios todos" assegurando-o da não necessidade extemporânea do seu livre arbítrio. Certificando-o da importância perfeitamente reversível da sua "não-decisão". Não é uma indecisão, é diferente, é uma "não-decisão", alguns senhores não sabem ver isto, mas é assim mesmo. O 10º ano é uma curvinha da vida que ainda não carece de ABS, não é?
Tanto penso assim, embora tenha tido de pedir conselho (isso é outra conversa) que lhe disse, depois de acesa discussão explicativa: "então, em que ficamos?". Ele respondeu-me "decide tu, ora! eu pedi isto, por acaso?".

Vai para científico-tecnológicas. Ponto final. Espero não me arrepender da decisão dele, raio do rapaz.

A Europa e o Portugal medíocre

1. Crítico implacável de Durão Barroso enquanto líder partidário (discurso e postura no recente congresso), enquanto PM (governo medíocre), venho aqui prestar-lhe o meu total apoio á decisão de ida para Presidente da Comissão Europeia. É verdade lolita e besugo sou mesmo assim: bruto, imprevisível, emotivo, impulsivo e essencialmente lusitano de gema. Primeiro porque gostei do discurso dele no rescaldo das eleições europeias, segundo porque admiro quem tem responsabilidades de decisão nos tempos que correm e neste país onde todos sabem tudo e pouco fazem. Terceiro, porque (finalmente) não cedeu á mediocridade nacional e colocou Portugal ao mais alto nível de decisão europeu.
2. Apesar das tentaivas de menorizar o cargo (JPP), ter um presidente português de uma Comissão Europeia, nesta altura é uma honra e uma distinção sem precedentes. É dar um salto qualitativo em frente, que saúdo num governante. Decisão ainda mais consistente com o miserável espectáculo que a nossa classe política nos brinda diáriamente: o total desrespeito pelas instituições democráticas, que a generalidade dos políticos demonstram. Bastou observar o nível das reacções á sua eventual nomeação, para o nosso PM dizer sim a uma Europa que, seguramente, lhe reconhece maiores méritos que o seu proprio país. Drama infelizmente comum a muitos portugueses!
Este facto político, de consequencias sérias para o País, só pode desencadear os normais e previstos mecanismos consagrados na Constituição, nos estatutos dos partidos etc. Em absoluta tranquilidade, com calma, sem precipitações.
Em primeiro lugar o país, depois o resto logo se verá !
3. As oposições têm toda a legitimidade democrática para dizer o que quiserem. Só terão sucesso se o nível de discussão for outro - os portugueses são ainda muito sensíveis a esse aspecto (vitória de Guterres sobre Cavaco por ex). Discordo totalmente da nossa patroa, nesse dossier - oposição - eleições antecipadas já !
- PS: o que se tem passado pós eleições, relativamente a questões de disputa de liderança é, do meu ponto de vista, um tremendo erro político, com o PS a dar um triste espectáculo (opinião quase unânime dos mais conceituados opinion-makers nacionais), fragilizando-lhe a sua propria liderança = os chamados tiros no pé! Salvo a figura de Ferro Rodrigues, quanto a mim um homem de grande valor e capacidade = estamos de acordo nisso.
- PCP: valha-nos deus, não há uma única ideia nova, uma aragem, uma brisa fresca, um ventinho de mudança... o PC definha lenta e inexoravelmente - e ainda bem !
- O BE: exemplo de mediatismo bem conseguido. Nada mais!
Se o PS, força principal de oposição verdadeiramente democrática, tiver o mínimo sentido de estado, não vai criar dificuldades de maior, ainda por cima se estiver em causa o interesse nacional. Ganhará as próximas eleições, quando demonstrar inequivocamente aos portugueses:
- que tem gente mais competente e séria,
- que episódios como Felgueiras, Matosinhos não podem ser tratados desta forma
- que é diferente do seu homólogo / rival de poder (PSD): não emprega milhares de boys na Função Pública, não invade a estrutura da administração pública com gente inacreditávelmente incompetente
- que não permite discussões estruturalmente importantes nos jornais "amigos"
- que é um partido de ideias novas, com gente nova
- que faz reformas quando devem ser feitas e não ao sabor de sondagens
- que extingue a sua jota
- que se mantem em contacto permanente com as realidades do país
- não se vende despudoradamente a lóbis: sonae, igreja, fcp etc, etc.
- que a forma de discussão de problemas nacionais não é esta, que os barões do PSD nos brindam diáriamente.
4. O meu apoio á decisão de Durão - a Comissão Europeia decidiu elevar a fasquia de nomeação do seu Presidente, e ainda bem, porque senão num cenário virtual de vitória eleitoral europeia da família socialista, poderíamos ter eventualmente o Narciso Miranda com potencial candidato, coadjuvado pela sua numerosa familia de sobrinhos (assessores potenciais). E isso eu não desejo ao meu país.
5. Apetece-me amenizar esta discussão com duas notas de rodapé:
a) Vale bem a pena comprar um CD recentemente editado pelo Público - Dead Combo, obra que recomendo vivamente.
b) Fiquei muito surpreeendido (favorávelmente) quando soube que há um curso superior em Música Sacra, na Universidade do Porto. Julgo que é uma ideia, a todos os títulos, magnífica. A propósito da discussão, sobre a eventual eliminação / proibição da Marcha Nupcial nas Igrejas - por ser obra incluida numa ópera de Wagner e incitar ao sexo - entendido quase como pornografia, na óptica da igreja - orgias - existe a constatação generalizada, de que a música que se toca nas nossas igrejas é muito má, para não dizer péssima.
Numa Igreja que dispõe de um património musical impar: relembro os génios da música e o seu imenso contributo para a música sacra - Bach (e deus criou a música...), Mozart, Bethoven, Vivaldi, Palestrina, Shutz, Haendel e tantos outros...!!!
Parece haver um movimento no sentido de reabilitar a figura de mestre de capela - kapelmeister (corrijam-me o alemão pf) de outros tempos, constituída por músicos especialmente habilitados para a composição, ensino, intrumentação da musica sacra, colocados nas nossas principais dioceses ou igrejas. Como cada igreja têm um sacerdote, em principio teriam também um mestre de capela no seu quadro. No meu ponto de vista este modelo seria muito vantajoso:
- Do ponto de vista estritamente religioso, a religião católica só tinha a ganhar
- Pedagogia das populações, especialmente jovens, com possibilidade de ensino da música
- Incentivo ás artes e melhoria da cultura das populações
- Deixaríamos de ouvir aqules grupos de violas dos seminários e outros grupos (evidentemente bem intencionados) a tocar "onde está a mão do meu Senhor ... onde ? na Galileia !!!)"

28.6.04

Notas sobre a sucessão

1. Azelhice: apesar dos recentes sinais positivos (lembro-me do discurso contido e equilibrado após a morte de Sousa Franco), Durão Barroso está em vias de demonstrar, uma vez mais, a azelhice que tem marcado a sua actividade política. Apenas a três semanas depois de se ter associado à campanha das europeias e de ter empenhado a sua continuidade no governo, pondera uma fuga solitária com a qual deixa o país mergulhado na crise económica e o partido na crise política. Como aconteceu quando morreu Sá Carneiro, pouco tempo durou o governo de Pinto Balsemão. Como não aconteceu com Cavaco Silva, Durão Barroso esqueceu-se de criar segundas linhas para a sucessão. Tudo o que Barroso fez e tudo o que não fez cria, claramente, as condições ideais para a perspectiva das eleições antecipadas.

2. Saloice: é notória a manipulação da esquerda. O que, na verdade, não é censurável, porque só um néscio deixaria de aproveitar a deixa que tão saloiamente o PSD lhe deu. Se eu fosse a esquerda, pressionaria o PR, mobilizaria a população e usaria de abundante demagogia até que conseguisse a garantia da realização de eleições antecipadas que me dariam, seguramente, a maioria absoluta.

3. Limpeza: Esta perspectiva de mudança à esquerda não me é, em nada, desagradável. Ainda que o governo futuro fosse formado no seio de um partido em profunda crise de identidade e, portanto, condenado a um possível fracasso, eu teria um imenso prazer em ver a coligação desfeita e o Portas posto no seu sítio. Num lugarzito parlamentar, onde pudesse dar uso inócuo à sua sinistra verborreia.

4. Mudança: venha ela. Apesar de toda a inabilidade que lhe reconheço, acredito mais em Ferro Rodrigues do que nos notáveis do PS e do PSD todos juntos.

Sacrifícios improváveis

Anda a apetecer-me outra vez discutir com o manolo, mas para já ainda não: é cedo e, além disso, atravessamos momentos de grande crucialidade (não, não vem de cruz, parece-me).

Tenho a impressão que ele, o homem dividido, está tentado a fazer o supremo sacrifício de nos ficar. Grande timoneiro, pulsos fortes do traquejo de segurar o leme em mar revolto, todo o seu ser o impele a comunicar-nos que, por nós, valentemente, fica. E que vamos ganhar à Holanda, ainda com ele entre nós. No fim do Euro, poderá sempre assumir aquele ar cansado, compungido, destroçado, de quem se consumiu por todo um povo, traindo o seu ideal, o seu pessoal destino, pela nossa redenção.

Uma espécie de penalty à Postiga mas mais denunciado. Que disse eu? Bolas, estou estúpido, eu: mais difícil!

O verão quente de 2004 - orgasmos múltiplos

A lota de matosinhos, o inem, as europeias, um PC que ganha a perder votos, o CDS /PP que ganhou 2 quem-perdeu-foram-os-outros, a necessidade da disputa da liderança do PS após uma estrondosa vitória eleitoral, o projecto para o PS e para o p a í s (pronuncia-se lentamente) que ninguem conhece do João Soares, o excelente discurso de derrota do PM, a derrota contra a Grécia, os hooligans, Albufeira, a vitória com a Espanha e com a Inglaterra, os especialistas instantâneos em futebol das nossas TV's, o Bar 7 do Luis Figo, a candidatura do Prof Vitorino, a não candidatura do nosso PM, a quase nomeação de Presidente da Comissão Europeia, os tumultos indecorosos do PSD de Santana Lopes, os SMS do BE, a candidatura do ex-assessor da GNR do iraque á liderança do PS, o percurso político do José Socrates (cadê o p profissional ?), as declarações branqueadoras dos vários duros do PS Porto, o regresso do nosso ainda PM da Turquia, e os tristes folhetins do nosso presidente L F Vieira.

Querem mais temas, para deleite dos nossos comentadores desportivos, politicos, jornalistas, treinadores de bancada, especialistas instantâneos em tudo - que somos todos um bocadinho ?

Vai ser um fartar vilanagem neste verão - que se anuncia bem quente!

Dissolve, não dissolve ?
Deco / Rui Costa ?
S Lopes / MR Sousa ?
Boneca / Luisão ?
J Soares / F Rodrigues ?
Carrilho / Ana Gomes ?

Garrafeiras particulares

Ele disse que ia resolver e que, amanhã, nos diria qualquer coisa.
Ele tem de pensar, de consultar. É um homem profundamente emprestado à profunda reflexão da problemática nacional.

Não é uma decisão fácil de tomar, a dele. Porque, conforme nos explicou, ele não quer tomar nenhuma decisão que nos deixe mergulhados na instabilidade. Ele, se fosse só por ele, ia: sente-se capaz, naquele estro frondoso não reside a dúvida e, ainda por cima, sente sobre os largos ombros de atleta aquela pressão imensa com que a Europa toda, insistente, carente, veneranda, o calca: "Tens de vir, Messias, por isso vem".
Ele hesita, ainda: "e quem fica por mim, meu Deus, vocês não vêem que preciso evitar o caos da minha falta?"

Por mim, ó homem torturado, eu te abençoo: escolhe tu. Só tu e os teus amigos. Tens legitimidade, meu Deus, dou-ta também eu, se a quiseres, para isso tudo. Faz um congresso com os teus amigos, faz mesmo dois. Ou não faças nenhum, caso te pareça. Mas decide tu, por Deus, decidi vós. Fiques ou vás, que a decisão seja tua, que a tua substituição (se fores) seja toda vossa, que eu espero o que for preciso para não ter de partilhar contigo (e com os teus legitimados amigos) essa tua conquistada (e merecida) responsabilidade de decidir por mim. Muito menos agora, que a hora é difícil e reservada aos heróis do destino. Do seu destino. Decide, homem dividido. Deus te ilumine, não contes é com a minha pequena lanterninha, que dá pouca luz. Tu mereces, vocês merecem, esta confiança ilimitada que coloco, pio, cegamente confiante, no vosso justo arbítrio.
O cálice, o honroso cálice, por mim, será todo vosso. Até ao fim.

Eu e o Euro - Os Comentadores

1. Este Euro, tem permitido observar o que de melhor / pior tem aparecido em termos de cobertura jornalística, incluindo a televisiva. Os comentadores de serviço nas diversas TV's, o nível de cobertura jornalística das conferências de imprensa da nossa selecção (e se calhar das outras) situam-se a um nível confrangedor, para não dizer francamente mau. Com excepção do extraordinário contributo televisivo de José Mourinho no Portugal - Espanha (uma lição do que deve ser um comentador a sério - ou seja um expert na matéria, que nos elucide, informe, esclareça sobre aquilo que está a acontecer), da TSF com a dupla F Correia / Perestrelo e o comentador Pedro Gomes, o resto é patético - a roçar a imbecilidade.
2. A RTP tem o programa diário sobre o Euro, que percorre diversas localidades (aspecto muito positivo) convidando várias personagens - nenhuma delas a dar o mínimo contributo adicional á cultura de qualquer treinador de bancada português - que geralmente é mau. O lote é composto por cromos que só dizem bacoradas: Paulo Sousa de fato e gravata, Oceano, Helder, e outros variáveis consoante o local e outros critérios desconhecidos. O programa acontece em locais muito ruidosos (ás vezes o C Daniel e convidados comunicam aos gritos) sendo um deles, para desespero dos meus impostos, o Bar Sete do Luisinho Figo e P China (imaginem só !). O que a TV pública deve ter pago para fazer aí o programa, não sei, mas o lobi Figo na FPF é impressionante. As filmagens em Vilamoura são despudoradas em termos de publicidade, para uma TV paga por nós (alguns de nós, entenda-se). Aspectos da elevada promiscuidade deste Euro !
3. Os médicos da selecção portuguesa devem ter um trabalho de recuperação (mental) dos atletas impressionante! Sobretudo depois das inacreditáveis conferências de imprensa. É claro que a maior parte deles não investiram nada em desenvolver 1 mm3 de massa encefálica. E são recompensados por isso.
4. Comentadores / jornalistas no seu melhor (a minha selecção).
- Ter boa condição física é uma vantagem importante em alta competição (Paulo Sousa)
- São equipas muito fortes, se estão nas meias finais é porque ganharam os jogos decisivos (Oceano)
- Acha que a selecção holandesa é uma selecção forte neste Euro ? (pergunta a Deco)
- O que conhecem os jogadores portugueses desta selecção holandesa ? (o mesmo jornalista em nova pergunta a Deco - já a esboçar desvio da comissura labial)
- Acha que Van Nistelroy pode fazer a diferença ? (idem)
- Ganhou a R Checa porque foi mais forte que a Dinamarca (P Sousa)
- O Luis já deu muito á selecção nacional (Helder)
- Ganha quem marcar mais golos (quase todos os comentadores)
- Só é golo se a bola entrar na baliza (idem)
- A R Checa, a Holanda, Portugal e a Grécia são as melhores selecções em competição (idem)
- São as mais forte candidatas ao título (idem)
4. Eleições.
- O melhor comentador: José Mourinho
- O melhor jogador português em conf de imprensa: Costinha
- O melhor treinador: Scolari
- A melhor claque de apoio: Portugal
- O melhor comentador não profissional: José Manuel Durão Barroso - comentários ao nível dos profissionais (discurso tipo ....fomos mais fortes, ganhamos bem, sofremos muito, etc, etc...)
5. Personalidades: até a Clara Pinto Correia escreve sobre o Euro em pelo menos dois jornais (já li dois artigos dela no mesmo dia). Também o Tomás Taveira, Miguel Portas do BE (aquela covocatória de manif contra o novo PM virtual, por SMS - via multinacional vodafone - esteve o máximo - só faltou a destribuição de haxe, a fogueira, e no fim a H Roseta a cantar o Hair...)
6. E assim lá vai o meu pobre Portugal, com as suas qualidades e defeitos, em direcção á glória. E estou aqui para ver, quem vai ser o culpado !

27.6.04

Mesmo com a bruma vê-se razoavelmente bem

1 - A mudança de primeiro-ministro: a etiologia, a patofisiologia, a clínica, o diagnóstico, a terapêutica e o prognóstico. Ensaios clínicos em curso.
Eis uma síndrome que não encontrei descrita nos meus livrinhos. Nem mesmo na última edição do Cecil. Deve ser uma daquelas doenças crónicas que evoluem por surtos mas que, quando agudizam, parece que foram sempre agudas, mesmo tendo sido sempre crónicas. Devem evoluir com muita sede (de poder?), muito consumo de radicais ATP (serei eu o escolhido?), muita diurese, um mijo incontrolável, mesmo. Geralmente claro como água. Uma diabetes insípida, no fundo, vista daqui de baixo. A menos que se trate duma ceto-acidose diabética que, por "agámaisamais", provoque aquela respiração rápida e ofegante, que o povo cuida sempre ser falta-de-ar. Não é. É um simplório mecanismo fisiológico de compensação da acidemia do(s) doente(s). Passa-se tudo no sistema nervoso central e corrige-se, mais certeiramente, com bicarbonato e insulina que com oxigénio.
Como se percebe facilmente, disto nada entendo. Leiam em outros locais, por favor. Eu sei que é desesperante, eu sei, mas é assim.

2 - O filme "Mystic River" comoveu-me muito. Vi o filme na companhia de algumas pessoas muito amigas que, se apenas soubessem de cinema, nem de cinema saberiam. Mas não é o caso. Sabem muito de mais coisas. Sou um imbecil, mas isso até eu sei: vi o filme todo ao contrário, porque não gosto do Sean Penn e me irritou o personagem tão passivamente inocente do Tim Robbins. Irritou-me isso e o facto de me comover em público, mesmo que um público pequeno, porque um trasmontano comover-se em público é duma paneleirice pegada e faz-me sentir vulnerável se o trasmontano for eu.
Não é grave. Um amigo meu que sabe muito de cinema (e doutras coisas) prometeu-me que até do Almodôvar me vai ensinar a gostar. Espero que o tipo cumpra. Eu prometi ensinar-lhe a gostar de futebol, o que também não será tarefa fácil.

3 - O penalty do Postiga só pode ser discutido (e discutível) numa plataforma que não tem nada a ver com o futebol nem com a justiça justa das coisas. Tem a ver com o hábito ignóbil e generalizado de se julgarem as coisas (os actos) pelas suas consequências.
Não é assim. As coisas julgam-se, apenas, pelas coisas que são. Um acto é um acto: certo? A sua consequência encerra em si, sempre, uma suficiência razoável de acaso para não ter qualquer importância se "escarafunchada" unicamente a partir do acto. E, sobretudo, perante o acto. Até porque vem depois. E depois é sempre fácil. Até discutir depois é mais fácil.
O Postiga, o miúdo das Caxinas, marcou aquele penalty assim porque dava para o marcar assim e porque tinha de o marcar assim. Dava para o marcar assim, porque calhou o experiente e nervoso James ter antecipado o seu lado direito como "estendal". Tinha de o marcar assim, porque um puto que substitui o grande Figo, que se compenetra disso e de si, que faz um grande golo de cabeça que significou conquista grande, enorme, que é escolhido, depois (e há nisto, sempre, uma dose de voluntarismo não desprezível, entendem?) para marcar um penalty decisivo em "casa cheia", um puto assim transcende-se e, independentemente da consequência do seu acto, sabe que é o acto, ali, o importante.
Se eu fosse pai do Postiga e ele me tivesse telefonado, minutos antes, a perguntar: se eu vir que tal, marco assim?, eu respondia-lhe marca como vires que tal e não me perguntes mais nada.

Eu e o Euro - (da Praia da Rocha Baixinha)

1. Há uns bons 4 anos, o apurado instinto de oportunidade no "negócio" do meu (bem amado) cunhado sportinguista, permitiu-lhe viabilizar a compra de um apartamento de estalo, num condomínio fechado em Vale de Carro - Açoteias - Albufeira - Algarve. O apartamento, a sua envolvente, a sua localização central estratégica, conferem-lhe características únicas. Tem sido o sítio de eleição dos meus retiros espirituais e das férias. A praia que sempre frequentamos, tem sido uma das secções da Praia da Rocha Baixinha, vulgarmente chamada - Praia dos Tomates. Que se localiza entre a Falésia I (Açoteias) e Falésia II (Vilamoura).
2. Toda a zona das Açoteias é excelente: calma, muito tranqila (sem u). Tem Alisuper, duas possibilidades (lojas) de jornais e revistas (sou fanático por tudo o que é jornais em férias (aspecto que a minha mulher não acha graça nenhuma), tem ainda o magnífico bar Neptuno do tipo mais simpático á face da terra, há uma enorme variedade de snacks, restaurantes, sempre limpos e baratos com comida para todos os gostos - pizzas, frangos de churrasco, maratonas de peixe, etc. Dispõe também de um conjunto de infraestruturas desportivas notável: com relevo para uma academia de ténis com courts para todos os gostos, infelizmente demasiado próxima de uma ETAR disfuncionante. Tem ainda o inacessivel Hotel Pine Cliffs, e o extraordinário Brother's Bar - onde acabei por fazer um mini-curso de Operações Especiais, após uma imitação barata do vocalizo "Rooney", essencialmente caracterizada por elevação espasmódica do lábio superior e uma voz de tipo grunhido. Obviamente que agora reconheço a imprudência de o ter feito após o inesquecível Portugal - UK, ao pé de uma boa dezena de grunhos ingleses - como aliás o besugo bem caraterizou.
3. Os gritos de aflição da minha mulher, os copos partidos, e uma saída á S Stalonne (by the window) não foram nada comparados ás manifestações de orgulho português, á elegância dos nossos cavalinhos de raça lusitana, e á força tremenda dos bicipedes, dos nossos bem amados GNR, com tarimba recente feita no Iraque. De resto tudo correu bem.
4. A Praia dos Tomates tem várias particularidades interessantes, que gostaria de referir:
o acesso é feito por estrada de terra batida - facto que, até o ano passado (inclusivé), era considerado altamente in. Os frequentadores assíduos da praia são conhecidos em todas as estações de serviço algarvios - os carros ficam uma vergonha! Ainda por cima com o calor, quando vamos na maldita estrada e acontece vir um bimbo* num jeep de 3ª geração em sentido contrário a cem-á-hora, o automático dos vidros não chega para evitar a poeirada dentro do carro. Antes de chegar á praia, observam-se muitos letreiros: Propriedade Privada - aviso sério, de uma fúria construtora que não deve tardar... Continuamos por terra lavrada e eis a praia de Bandeira Azul. Um bar de madeira enorme, onde há um café de saco excelente. A praia é muito limpa, com areia fina. Com um senão de que apesar do enorme esforço das autoridades, não foi possível este ano erradicar a praga das priscas dos cigarros que "nascem" nas praias portuguesas. Aspecto muito difícil de explicar ás crianças que brincam com a areia...
5. Este ano o tempo, temperatura e qualidade da água foram ímpares. O jet, neste final de Junho, não parece ter frequentado a praia, felizmente. Mas um belo dia, equipado a rigor com as cores da selecção, ia eu de guarda sol em riste, para o meu lugar habitual (a 150 metros das tombonas - caríssimas) quando sou inquirido por uma revista do coração, com umas perguntas de tipo Malato pró-difícl -> repeti a minha imitação do "Rooney" com hálito a cerveja e foi o suficiente para me deixarem em paz. Evidentemente que a imitação do hino do Euro, a minha filha fá-la melhor que ninguém - e eu confesso que parti o coco a rir quando li o post da patroa lolita.
6. Para as coisa me correrem ainda melhor na Praia dos Tomates, tivemos como vizinhos durante alguns dias, uma numerosa família de letões. Diga-se de passagem com alguns hábitos bem portugueses:
- chegada á praia: cerca das 11 h
- equipamento: três grandes lancheiras térmicas, cinco (5!!!) guarda-sois, vários colchões insufláveis com a respectiva bomba (um fim de manhã sempre a ouvir bufar), algumas bolas de futebol, raquetes de madeira (2 pares) e várias cadeiras de praia.
- constituição: os avós, duas mulheres seguramente lançadoras de peso e martelo (ex_URSS), uma ginasta (anorética e extremamente delicada, com movimentos de pernas fantásticos), dois atletas de luta greco-romana (pesos-pesados), um rapaz mais novo - adolescente (muito parvo, sempre ás balouradas á bola de futebol) e, finalmente o querubin da família - o bébé. Bébé que era terrível, incomodando sistemáticamente os vizinhos frequentadores da Praia: ora atirando areia com uma pá - para gaúdio dos letões, ora água salgada para cima de toalhas alheias. Depois de muita agitação lá vinha uma das lançadoras com ar preocupado, verbalizando uma desculpa (?) qualquer em lingua impossível, e trazendo a criança de volta pelo braço. Resolvi a questão com um grito tipo D Giovanni, num dos ataques da miúda. Não utilizei a arma letal - Rooney - por razões humanitárias.
- retirada da praia: 16 h
- resultado: foram assados para o Báltico.
7. Bimbo* - companheira loira artificial, de óculos a prender o cabelo, tipo pára-brisas, ele com sisley's, cabelo bem penteado, polo de marca, calções de vários bolsos, com tabaco, sapatos de vela, pernas horríveis. Carro topo de gama. Linguagem difícil em voz alta, mas pouco perceptivel, pois exibem quase impossibilidade em abrir maxilares quando falam.

26.6.04

Cinema e futebol

Ter vontade não basta. Os dias têm corrido depressa demais, o que é, claramente, um bom sinal. Para além disso - hélas! - o besugo não larga o meu computador. Há uns minutos atrás, apanhei-o, distraído, a ver o Suécia - Holanda, esgueirei-me pelo corredor e consegui chegar aqui primeiro. Como é forte, tive de o fintar. Pois.

Falar em fintas faz-me vir à memória várias coisas agradáveis. Algumas, muito mais do que agradáveis. Porque se impõe a qualquer blogger minimamente experiente que comente todos e quaisquer eventos de relevância nacional, não poderia eu, evidentemente, passar sem falar do jogo mais emocionante de que há memória. Aqui houve gente que, depois do golo do Ricardo, chorou da maneira mais bonita que existe para se usarem lágrimas. Nessa noite, abandonei todas os meus chips racionais e transformei-me numa espécie de macumbeira profundamente crente na existência do acaso que determina a sorte e o azar do nosso fatalista destino. Até previ, imagine-se, o golo do Rui Costa e só voltei à realidade quando o Postiga, com a inconsciência descontraída que só se encontra em quem, pela sua tenra idade, pode perder tudo sem perder quase nada, marcou o já famoso classy penalty.

Falava eu em fintas. Ver cinema é, quase sempre, uma actividade intelectualmente estimulante da flutuante inércia em que quase toda a gente mergulha a partir das duas da madrugada. É, porém, imprescindível que haja companhia: quer pela hora (para combater o sono), quer pela natureza da actividade. Apreciar arte só é um acto individual no primeiro momento da observação, obrigando, quase imediatamente após o tratamento emocional da informação, à partilha dos dados. Eram, por isso, cinco da madrugada quando aqui se discutiu, ontem à noite, o Mystic River, o Sean Penn (e a sua relação incestuosa (?!) com a filha), o Tim Robbins, o acaso, a fraqueza, a força, a tragédia clássica, a expiação da culpa. Acabamos a discutir a náusea. Não a de Sartre, mas outra igualmente respeitável. E eu adormeci, já o dia despontava, pensando que já devia ter visto o Mystic River há mais tempo.

Vou jantar. Antes, não deixo de dar as boas-vindas ao Stkaneko, o maninho convicto do besugo. Convictamente íntegro. A ele, o acaso atribuiu o milésimo post deste blogue o que, se se pensar no jogo da passada quinta-feira, há-de querer dizer alguma coisa.

25.6.04

Iluminados... "Go home"!

Scolari conseguiu cumprir o que prometeu. Chegar à meia final do Campeonato da Europa. Já lá está ele e os vinte e três que ele escolheu. Sim, os vinte e três que ele, e só ele, escolheu. Sem ceder a chantagens e pressões para convocar o jogador A ou B… ou para não convocar o C que é pior que o A. Iluminados destes vi muitos e alguns riram-se de mim quando eu disse que podíamos ganhar o Europeu. Possivelmente agora estarão a vestir camisolas da Holanda ou da Suécia para ver se a sorte muda. Pode mudar! Não acredito é que mude por causa dos iluminados… muito menos iluminados Portugueses! Agora já há poucos e um deles até apareceu na televisão a disparar contra o Scolari e a Selecção… Porque o jogador B até deveria estar lá pois o jogador R não é bom… Pois é meu senhor iluminado, de má língua o senhor até perceberá, de concursos de “misses” duvido mas de futebol tenho a certeza que é dos maiores nabos! E de nabos não gosto, muito menos de lhes dar importância! Ponto.
Quanto ao jogo da Inglaterra com a nossa Selecção Nacional eu tinha antecipado, em telefonema com o meu “mano”, que íamos ganhar. Ficou mais confiante, pareceu-me. E nem o golo Inglês no início me deitou abaixo, pois um “não iluminado” não cai. Telefonei-lhe e disse-lhe que continuava com a fé toda. E ele respondeu-me de igual modo… fé e esperança não nos faltará nunca “mano”. E no final, depois de muitos telefonemas e de “adivinharmos” as substituições, festejamos separados por cento e poucos quilómetros… mas o abraço que demos foi sentido. Muito sentido!
Termino e só digo isto uma vez… Continuo a apoiar a nossa Selecção. Nem que o sonho termine continuarei a ser um Português orgulhoso e não um iluminado frustrado!

24.6.04

Calmarias

Nunca fui de festejos. Sou mais de crenças e descrenças. Mais de crenças.
Os ingleses têm uma equipa fraquinha, já se sabia. Deram luta. Quando um tipo (ou um conjunto de tipos) tem sorte, disfarça a falta de jeito. Não jogam grande coisa, a verdade é esta. São o povo mais feio do mundo (há alguns tipos em Lisboa que são mais feios mas, por intrínseca motivação, preferiam ser ingleses, por isso não faz mal que eu diga isto) e, além disso, de entre os tipos que jogam mal à bola, são os que pensam que jogam melhor. Só isto já transmite uma paz do caraças e dá gozo. Um inglês a cantar "Rule Brittannia" não passa dum tipo coradinho a antecipar um requiem, um prelúdio de mais uma derrota. A vida não é, felizmente, dos contentinhos. É de todos, "à chacun son moment; il faut savoir l'attendre".

Percebi, finalmente, o que significavam as plantas dos pés de Rooney na fotografia do "Sun". Escusavam era de ter tido tanto sentido de humor, estes britânicos, que a gente ria-se na mesma sem a exposição de misérias. Era por ali que o rapaz ia partir? OK, damn´wise brits!

Voltem em Agosto, sim? Quarteira espera-vos. Deixem Albufeira em paz, for Christ's sake! E se forem para Vilamoura, lavem-se!

Do papel de Rui Costa no jogo não falo: a quem, de má fé, resolver dizer-me que falhou um penalty, eu respondo com o silêncio do golo que o Rui marcou e com a certeza da tranquilidade mandona que transmitiu aos putos.

Do papel do Ricardo, o guarda-redes que esteve lá, também não falo: a quem, de má fé, resolveu ir bufando que não servia, que havia Vítor Baía (e havia, e há, qual é a dúvida?) eu respondo com o silêncio sepulcral do próprio silêncio. Não é que eu tenha razão: é que não deixei nunca de a ter.

Do Ricardo Carvalho não falo, mesmo. Não se deve falar de jóias, nestas alturas, nem em altura nenhuma. Já está tudo dito.

Sobre Figo: ser imprescindível não quer dizer ser Deus. Se pudesse, dava-lhe um abraço, ao Luís Figo. Que não é Deus, mas é preciso. É fundamental sermos precisos mesmo quando calha não sermos os melhores.

Esguichos de besugo

1 - A dar crédito ao que se lê e ouve, hoje seremos, uma vez mais pioneiros. Pela primeira vez na história dum Campeonato da Europa, um desafio em que um dos contendores é o país anfitrião será visto, "in loco", por uma maioria de adeptos do país adversário. Creio, mesmo, que isto é uma estreia mundial.
Haverá quem pense, caso isto se confirme, que calhou assim. Mas não. Isto tem a ver com a hospitalidade, com a retoma e com a pedagogia.

Evidentemente que a gente gosta que os britânicos se sintam em casa. Porquê? Porque somos hospitaleiros. A maior parte dos nossos reporteres adoram entrevistar britânicos (e outros mamíferos que nos visitam), sobretudo para lhes poderem fazer aquela pergunta fulcral, que é "o que é que o senhor pensa de Portugal e dos portugueses?". É sempre bom que se vão questionando estas pessoas oriundas de civilizações superiores, todas as vezes que houver oportunidade, porque assim ficamos a saber que eles acham que temos bom clima e excelente comida e que, além disso, somos simpáticos. Geralmente, depois de nos prestarem estas importantes informações sobre a nossa Pátria, os estrangeiros costumam berrar o nome do país deles nas ventas do repórter, o que não deixa de ser um acto pedagógico, destinado a permitir que a gente os distinga uns dos outros.

Depois, há a questão da retoma. A nossa fineza tem um intuito estratégico óbvio, que consiste em prodigalizar salamaleques ao elegante, decorativo e higiénico "brit-people" a ver se ele, depois, perfeitamente seduzido, quando chegar Agosto, retoma os caminhos lusos para ver se acabamos de encher Quarteira.

Além disso é sempre educativo proporcionar aos ingleses, ao vivo, uma lição de bola.

Como de costume: tudo pensado. Adoramos quando um plano dá certo.

2 - No "Sun" de hoje há uma fotografia interessante que mostra um grande plano da superfície plantar dos pés de Rooney (aquilo deve destinar-se a ser lido durante as refeições, ou assim). Aquilo tem uma espécie de legenda, que é para os leitores perceberem que a imagem não se destina, apenas, a estimular a libido das "bifas". Diz lá, mais ou menos, para "os portugueses se irem preparando para o espezinhamento". Como naquele jornal adoram escrever coisas assim dirigidas directamente à inteligência, até fazem um trocadilho giro entre "the feet" e "defeat".
Como o "Sun" online não dispõe da opção "odores", fica a gente sem saber duas coisas importantes:
1 - Se o Rooney é lavadinho.
2 - Se no fim daquela esperta piada algum dos redactores disse (ou emitiu) um "fart". Que é uma coisa que faz rir muito os ingleses, como se sabe.

23.6.04

Objectivo: desmoralização dos ingleses

Lembram-se da armada invencível? Não era, afinal. Foi destruída(*).



(*)Pelo Francis Drake, esse...pirata. OK, eu sei.

Da próxima vez reparem



Pode ser que me engane, aliás eu engano-me fartas vezes. Mas o senhor aí de cima ainda tem dos melhores "toques de bola" da Europa. Basta ver que toca a bola com "o pé que vai à frente", o "da passada". O Zidane faz isso muito bem, o Deco e o Ballack também, o Pedro Barbosa (sacrilégio mas é o caraças, sim?) idem... É natural que não reparem, mas é muito característico dos "falsos lentos com bons pés", galgam terreno e espaço assim, parece que não correm muito, não é(?), mas deslocam-se bem. A sério que nunca repararam? Pois, às tantas não.
Bom, o senhor ali de cima parece-me que pode ser muito importante no jogo de quinta-feira: tem olhinhos, tem pés do melhor que há, tem prática de municiar Nuno Gomes, é psicologicamente forte e só precisa, como "tinhoso personalizado" que é, de se sentir necessário.
Tenho a impressão de que vamos senti-lo necessário e útil. Se tiver tempo e computador disponível ainda vos explico melhor porquê.

22.6.04

Pois eu...

... senti-me solidária com a aflição dos italianos. Metade de um jogo passado à boca da baliza búlgara, com dezenas de remates falhados ou defendidos, e já fora do tempo regulamentar (ena... eu estou pasmada com aquilo que eu aprendo com o Gabriel Alves...)alcançaram o golo da vitória que, só depois, souberam não ser suficiente. Os esforçados nunca deviam perder assim, porque é destes que reza(va) a história. E eu, do cimo do meu sofá (tenho dois, como sabes, besugo) apoiei-os até ao fim e acompanhei-os na tristeza imensa da desqualificação. Podiam, porém, ser os italianos, os checos, os búlgaros, os franceses (hum... franceses nem por isso...) ou, claro, os espanhóis!

Isto porque eu encarei este jogo como um treino do jogo de quinta-feira. A sala já está à prova de violência, porque suspeito que a veia hooligan do besugo se manifestará assim que reparar nas velinhas que espalhei, na esperança de que o Ricardo não solte o frango. Como diria o grande Jardel, tanta emoção há-de fazer-nos subir a naftalina...

Azzurri



Hoje, acabei por colocar dois televisores no mesmo aposento. Sintonizei um na RTP, o outro na SIC. Lamento muito, mas tinha de ser. Nem em 2000, quando o Sporting foi a Paranhos festejar a vitória no campeonato, na SportTV, enquanto o Porto acabava por perder em Barcelos, na RTP, nem nessa ocasião me deu para semelhante torpeza. Hoje deu-me, porque decidi que o interesse todo deste par de jogos (Itália-Bulgária e Suécia-Dinamarca) era vê-los a par. Era i-los vendo (gosto desta, também, outrossim não a poria aqui).

Fiz bem. Não me incomoda muito que os italianos tenham tido inspirações premonitórias (isso é "bulgar", disse-me o Zé Pedro, mas estava a referir-se à equipa búlgara, calou-se quando eu lhe lembrei que o Iordanov também é búlgaro), até porque o mulherio tem a mania que os italianos são bonitos e, depois, a gente acaba por perceber que por cada Nesta há um Zambrotta, por cada Totti há um Perrotta... e vai-se a ver e, se calhar, os gajos feios italianos chamam-se sempre "qualquer coisa otta", excepto o Cassano, que tem bexigas como o catano. Isto é um interlúdio dedicado ao Clearasil. Siga.

É de olhos (ainda) um bocadinho trocados que vos digo: que se lixem!
Os blogues italianos que se desunhem ao ataque, os blogues nórdicos que se esmifrem à defesa. Eu não tenho nada a ver com isso. Ficou 2-1, ficou 2-2, mas eu sou português e já estou em estágio para quinta-feira. Pelo meio, acho que ainda vou ao São João do Porto, mas isso não desconcentra ninguém, muito menos a mim, que vou ficar no banco. Ou no sofá (espero que haja sofás, ó Lolita! e computador, já agora, para eu vir fazer a palestra, antes do jogo!).

Fica descansado, Sorensen! Calme-toi, Gravesen! My lips are sealed. Mas ninguém me lambe o selo, que eu não deixo. Eu até vi os jogos a par, como já contei de início.

Terras de Vera Cruz e Chaves

Nunca torci pelo Brasil em Mundial nenhum. Lembro-me, até, recentemente, de ter aplaudido, via GNT, um empate do Uruguai em gramado brasileiro. Grande Diego Forlain!

O motivo desta heresia é facilmente explicável:
1 - Nunca me pareceu que os brasileiros gostassem assim muito de nós. E nós somos mais vetustos, reflectidos, torturados, gordos, mereceríamos contritos pedidos de "sua bênção".
2 - Nunca me pareceu que os brasileiros tivessem tempo, sequer, para esse tipo de "gostares" elaborados, que são mais nossos. Vi os brasileiros, sempre, como uma espécie de britânicos transatlânticos, mais bronzeados e belos que os cantadores do "Rule Brittannia", mas sempre a olhar-nos de olhos semicerrados, como se fôssemos reflexo menor dos seus umbigos espelhados "de malhação". Ainda por cima, o Chico Buarque é mais bonito que o Fernando Tordo. O que me lixa sempre, e o Tordo que nem sonhe!

Agora, o Francisco veio dizer que não é bem assim. Conte mais, se faz o favor. Conte mais disso.
Como qualquer português, adoro teimar. Mas, mais do que de teimar, adoro dar o braço a torcer se esse torcer me não apoucar. Faça lá o favor de me fazer feliz, se o fazer-me feliz o não apoucar a si.

A Praia

Ele pode não perceber nada da bola. Ou, se calhar percebe muito, mas está apenas toldado na sua razão porque (já se entendeu) detesta o Scolari e gosta do Mourinho. Nós também temos cá disso: há neste blog gente que, apesar de responsável, não é, imagine-se, do Sporting! E, pronto, admitamos: toldado que está, nem "distingue a semelhança" entre o brasileiro gaúcho e o tipo do Chelsea.
De facto, a descrição dum rol de "bolas nos postes e sofrimentos vários através dos anos", estivesse ele calmo e perceberia que nos culpa a todos, ao longo dos tempos e, no fundo, inocenta o Felipão. Alguém perde um jogo porque entrou "A" em vez de "B"? OK, está bem, pode acontecer, mas é só às vezes. É só nas vezes que agora não me interessa para o que quero dizer.

Agora, dar-lhe 1? Dar-lhe 1, ó blasfema SM? Ó blasfemo RA? Eu estou capaz de vos marcar um encontro no Porto, ou assim, (digo que também vai lá estar o Manuel Monteiro e tal... até o CAA aparece, e mesmo o LR, que é melhor qualquer "live" do blogame mucho que ir ao Pink, ora!), apenas com a torpe intenção de vos fazer ver a luz, nem que seja com os pífios holofotes das Antas, antes que me mimoseiem (a mim, logo a mim que sei de bola e de... bom, também canto karaoke, pronto...), antes que me mimoseiem, dizia eu, a mim e aos meus (desculpa, Lolita, é uma força de expressão, uma pirueta de besugo para a plateia), com um rotundo e ovalado ZERO!!!

Desculpem lá: até o unhas de fome do Gabriel lhe deu um 3!!! Andamos aqui a brincar?

21.6.04

Isto...

...era por causa do sósia da Julia Roberts. É este o Gael Garcia Bernal, ó blasfemo!


Era. A foto do rapaz, vestido de "irmã" do Ignacio, está aqui. Há que encontrar soluções expeditas para blogues desformatados.

Gordon's. Pelo menos.

Ora aqui está mais um excelente exemplar dum sempre fresco gin tónico.
"Tonic and gin", como diria Billy Joel, esse mal apreciado piano-man. Vou ouvir e tudo, apetece-me.
mais gin, há lá muito bom gin, mesmo. E não é Bosford, claro.

"We're not going home... yet!"

Perguntei assim aos meus filhos: digam lá, rapazes, quais são os 3 melhores jogadores do Real Madrid? E eles disseram: Zidane, Figo e Roberto Carlos. Ok, disseram também o Beckham e o Ronaldo, mas eles são pequeninos.
E os 3 melhores do Barcelona? E eles: Ronaldinho, Davids e ... E disseram o Kluijvert, mas eles não crescem assim de repente, os putos, é preciso ter paciência.
Depois perguntei-lhes os 3 melhores jogadores do Arsenal. Eles disseram: o Henry, o Pires e o Ljungberg. E o Sol Campbell, pensei eu, que eles também não sabem tudo.
E os 3 melhores do Manchester United? E os rapazinhos, já a ficar com vontade de me rifar ("isto é o concurso do Malato, ou o caraças!?"), lá disseram: Cristiano Ronaldo, Van Nistelrooy e Scholes.

Eu aqui parei com as perguntas de algibeira, até porque o Owen joga no Liverpool e o sacana do Rooney eles não sabem onde joga, sabem é que querem que venha para o Sporting, e raios me partam se não vem, já telefonei. E, para o que eu queria, já chegava assim. Ou seja, a gente demonstra sempre o que quer demonstrar mas tem de ter cuidado para não demonstrar demais. Topam?

Fiz-lhes a finta:
- Então, quantos espanhóis estão na vossa listazinha top do Real Madrid? E eles, moita.
- Então, e quantos ingleses na vossa listinha do Arsenal? E eles mudos.
- E no Manch...
- Ó pai, pergunta no Valência, que o Valência é que foi camp...
- Caladinho! Olhe o respeito, quem faz as perguntas aqui?
- Tu...
- Muito bem. Perceberam?

A moral da história, para quem não liga ao futebol, é esta. Melhor, são estas, que não há só uma moral em nada, a que propósito é que havia de haver só uma no futebol? Ora então, dois pontos e muda de linha:

1 - Perceberam por que é que a primeira liga espanhola é muito boa, mas eu não me enervo com a selecção espanhola?
2 - Perceberam por que é que a Premier League é fantástica, mas eu não me assusto com a selecção inglesa?
3 - Perceberam por que é que eu não queria, sobretudo, que nos calhasse já a França?

Isto pode cair tudo pela base, mas eu tenho um capital de confiança ilimitado, no que se refere aos meus putos: ainda consigo marcar-lhes penalties sem paradinha e, não possuindo a rapidez doutros tempos, mantenho um sentido posicional só comparável ao do Ricardo Carvalho. Está bem, desse não, do Jorge Costa, pronto. Seja, do Beto. Chatos do caraças.

Olá, Ricardo.

O Ricardo foi meu colega de curso e era um excelente estudante. Ala dos "não marrões". Éramos amigos, sem sermos daqueles amigos de todos os dias: era muito difícil ser amigo de todos os dias dum tipo que era amigo de toda a gente.

Só não apreciava o Ricardo quem tinha inveja do seu talento, do seu brilho, da sua bondade. Era um não alinhado que alinhava sempre. Lembro-me dos seus manifestos "anti-queima", das "boutades" do ASA (era o seu pseudónimo quando escrevia nos "stencis" da Associação) contra os "doutorzinhos em ânsias de estetoscópio", como muito bem lhes chamava o Amaral, outro bom selvagem, hoje Psiquiatra algures na invicta.

O Ricardo estudava bem, pensava bem, tocava bem, cantava bem, comia bem, bebia bem, sorria bem, trabalhava bem. O Ricardo era, visto daqui, o melhor de nós todos. De longe. Não digo isto porque o Ricardo morreu e a morte redime. Não, nada disso. Pelo contrário. É porque é verdade. E porque o Ricardo nos faz falta. A todos.

O Dupont, que é (apesar das divergências ocasionais) um amigo de todos os dias que não conheço, já lhe prestou a homenagem que é devida a quem merece. Contou a história toda, terna história, nada a acrescentar. O Ricardo tinha, mesmo, muitos amigos. E mereceu-os, a todos.

Mais logo, se tudo correr bem, vou colocar aqui um texto que o Fernando Guimarães, um homem bom e, também, nosso colega de curso, escreveu num desses livrinhos que todos nós, os amigos do Ricardo, ajudámos a publicar. Eu não tenho o prazer de conhecer a família do Ricardo, como o Guimarães conhece. Mas que a família do ASA sossegue nesta certeza: como disse o Dupont, o Ricardo viverá enquanto restar um de nós para se lembrar dele. Um qualquer.

Reparem só nos olhos dele. Eu nunca minto.

Ainda a República Checa

Kaneko dum raio, que só apareces quando não consegues deixar de aparecer! Não é?
Ainda hoje, lembras-te, antes do jogo? A nossa conversa ao telefone era: "Calma, a gente controla-se, controla-os e ganha aquilo. Vai correr bem, a gente ganha aquilo!".

Caramba. Dá uma certa irritação ver o futebol discutido por quem nunca levou, sequer, um encosto leve dum defesa central possante... ou por quem nunca tropeçou numas "reviengas" de nenhum Faustino (um preto de que hei-de aqui falar, um dia) armado em Cristiano Ronaldo. Não dá alguma irritação? Pois dá.

Há gente que só viu, na sua vida toda, o futebol de cima... É tão diferente! A gente sabe, tu mais que eu, que um jogo se ganha ou se perde logo nos olhares iniciais. E hoje, logo no tocar dos hinos, este jogo estava ganho. Eu disse-te. Só havia medo nos olhos do Ricardo, reparaste? E, mesmo a esse, passou-lhe: viu-se quando ele andou às aranhas, naquele cruzamento, e sorriu depois.
Scolari, sem ter dito isto assim, que não é homem para exortações, sancionou o que os jogadores já sabiam: "calma, que estes cromos espanhóis não são os checos!".

Só há duas maneiras legítimas de ver estas coisas da bola, kaneko: com sabedoria apaixonada ou com ignorância apaixonada. Como sucede com a Lolita, por exemplo, que sem disso saber um "chisco", sabe mais de bola que todos aqueles que cuidam saber de tudo, até de bola. Meios termos, na bola como na vida, não há. Pode haver mas, se for sempre, cheira ao "bedum" dos permanentes encardidos: gente que anda aqui sem gosto, armado em fadista da moda, de inteligente espinhela caída. O squash não é um desporto, é um suadoiro de pipis "piripópó". Não é? Que tem o squash a ver com isto? Nada, kaneko, não entendes? Entendes, pois.

Eu já tinha dito que estava calmo, podes confirmar isso ali abaixo, bem antes do jogo.
Hoje estava calmo, amanhã não sei, amanhã é outro dia. O futebol é como a vida: não é uma equação fácil só porque parece fácil a quem está calçado de pantufinhas engraxadas, pedindo diária lustrina e copianço. E glória, se lha derem.

Prestem bem atenção... só digo isto uma vez!

Scolari é o meu preferido nesta Selecção.
Talvez por ser como eu. Talvez por ser alguem que vive o desporto e lida de perto com o desporto nacional e escolar. Ou então por ser um homem do interior, com hábitos de serra e de fronteira, desconfiado quanto baste e de resposta sempre pronta.
Respondeu ao espanhol como eu teria respondido ou talvez mais soft... "Vão tomar no cu". Eu digo mais... "Vão tomar no cu" todos os que nos criticam!!! Todos os que criticam a escolha dos jogadores, e do seleccionador! Portugueses ou estrangeiros!
E simples como sempre foi e será, este Homem, em quem confio, pode não nos levar a ganhar uma final europeia (que nunca ninguem conseguiu... porquê desta vez?) mas pelo menos faz-me "vibrar" por ser Português e mostra-me que os problemas ou as "guerras" são para ser levadas até ao fim e encaradas de frente, sem rodeios!
Força Scolari!
Para quem o critica aconselho a leitura do seu livro "Scolari, a alma do penta". Dará para perceberem o que digo e perceberão o Homem que lidera a nossa Selecção!

20.6.04

Muda-se o ser, muda-se a confiança.



Entusiasmem-se, comovam-se, acreditem, confiem. Calem as censuras insidiosas de mau perder, para que possam legitimamente comemorar vitórias. O Figo, hoje, já estava sorridente e igual aos outros: todos eles, lutadores com classe.

A Grécia qualificou-se por um triz. Mas a Grécia fica longe, para lá do mar Adriático e por muito que eu goste da cultura helénica, gosto bastante mais de Espanha. Eu tenho esperança que, um dia, os portugueses perderão esse intrigante sentimento de inferioridade que os faz festejar vitórias pelas razões erradas. Já tinha comentado que, perdendo Portugal, mi apoyo, lo daria a ellos.

Dentro de minutos.

E mesmo que sejam os espanhóis os primeiros a marcar: cigarros para afastar a neura, bandeira na mão e voz afinada (ou não) para entoar o hino possível: Kóm'una fourça, kóm'una fourça, kóm'una fourça que ninguén podé paurrar...

Horas amargas (epílogo) e a República Checa

Em dia de Portugal - Espanha, decisivo para o nosso (e dos espanhóis!) destino no Euro, nada melhor que pensar, por um bocadinho, noutras coisas.

Ontem, tinha-me faltado abordar as causas destas recentes greves de médicos e, ainda, estranhar a história das "horas extraordinárias assinadas de cruz". Tudo isto a propósito dum pertinente escrito do Vilacondense.
Vamos a isso?

1 - Como provavelmente sabem, há uns anos, ainda na vigência do governo anterior, foi sancionada uma pretensão antiga dos médicos que trabalham nos serviços públicos no regime de 35 horas semanais, sem dedicação exclusiva. A argumentação desses médicos, que colheu e motivou legislação (condicionada, no entanto, a determinados índices de produtividade), era a seguinte: médicos com o mesmo grau na carreira médica devem ser pagos, aquando da prestação de horas extraordinárias, pela mesma tabela horária.
De facto, o que acontecia (e ainda acontece, pelo menos em muitos hospitais, daí as greves), era cada médico ser pago pelo seu vencimento/hora, o que, como se compreende, provoca(va) situações de discrepância entre os médicos em 42 horas (e em dedicação exclusiva) e os outros, sendo a hora dos primeiros menos mal paga...
É isto que está em questão, duma forma simples: independentemente de se concordar ou não com as reivindicações dos médicos em 35 horas, o certo é que há dívidas a saldar. Dever a um médico é exactamente a mesma coisa que dever a uma farmácia, ao merceeiro, a um professor: é uma dívida.

Eu podia dizer que quando Leonor Beleza, no seu tempo de ministério, criou a figura da dedicação exclusiva (que eu adoptei, primeiro porque fui obrigado a isso, era interno, depois porque a escolhi, quando pude escolher, por acreditar nas virtualidades dum melhor serviço público se exercido em exclusividade), criou dois regimes de contratação paralelos na função pública. Podia dizer que os colegas que estão em 35 horas (a maioria, os mais recentes não sei) escolheram esse regime, que lhes permite trabalhar fora dos hospitais, nos seus consultórios e clínicas, para além do seu horário de trabalho. Escolheram-no, de facto, sabedores das regras do "vencimento/hora" que regem a função pública no que respeita ao pagamento de horas extraordinárias. Podia dizer que a isto se chama alterar, a meio, as regras dum jogo que nada teve de impositivo, na sua génese. Podia dizer que tudo isto dá a impressão dum certo "eu escolhi as vantagens dum regime que me permite ser profissional liberal, mas agora quero as outras vantagens, as que escolhi não ter...". Também podia dizer que não deixa de ser justo, pela regra básica do "trabalho igual, salário igual". E podia dizer outras coisas, mas penso que, como esclarecimento, chega.
As greves recentes são por este motivo. Eu não tenho feito estas greves. Mas tenho feito outras, por outros motivos que não vêm ao caso.
Afirmo apenas, porque se fala de greves, que as greves "self-service" de médicos, há uns anos atrás, foram uma das maiores vergonhas a que assisti na minha vida profissional: verdadeiras negações do legítimo direito à greve, que muito me aborreceram e denegriram, essas sim, toda uma classe. Mais um dos "favores" que alguns colegas insistem em fazer, às vezes, quase arbitrariamente, ao colectivo.

2 - Os dados que o Dupond refere são relativos a 2002. Ou seja, são dados "pré-SA". Ou seja: esses 257 milhões de euros não dependeram, na sua atribuição, no seu pagamento, de nenhuma assinatura de nenhum médico director de serviço. Todos esses pagamentos foram efectuados, unicamente, sob controle administrativo: dos serviços financeiros dos hospitais, do IGIF, do que quiserem, mas sem que qualquer médico (director de serviço ou não) nisso interferisse um nico que fosse.
Só recentemente, com o advento das SA, cada médico passou a ter de preencher, obrigatoriamente, no final de cada mês, a sua folha de horas extraordinárias. Esta folhinha é, depois, assinada e sancionada pelo director do serviço, após verificação. Isto causou alguma perplexidade à maioria dos colegas, embora soubéssemos ser prática corrente noutras empresas: mas nos hospitais não era. Lembro-me que, de início, nem sabia preencher aquilo. E de ter pensado: "isto agora é assim? eu ponho aqui as horas extraordinárias que quero e pagam-me? como é isto? que estranho!".

Mas não era tão estranho assim: logo no primeiro mês, fui chamado aos serviços financeiros para receber 218 euros, em cheque, porque me tinha enganado (em meu desfavor) no preenchimento das horas a que tinha direito. Interessante. Não é interessante pelo que isto representa de "olha o tipo, que honesto, que burrinho, enganou-se, pediu a menos, que interessa isto que o besugo agora diz, os outros se calhar enganam-se a mais!...e os directores de serviço assinam de cruz!" . Não senhores: isto significa que há efectivo controle administrativo, que não há nenhum "assinar de cruz para ganhar à fartazana".
Isto deveria, aliás, bastar para fazer pensar melhor os senhores da Associação dos Administradores Hospitalares, porque eles sabem muito bem que é assim que as coisas se passam; e que, ainda por cima, foram as SA, as recentíssimas SA, que ditaram estas regras!

Pronto, não vos maço mais com isto. Maçarei com outras coisas, seguramente, ou até com estas, mas agora vou entrar "em estágio": nadar e jogar a bola com os filhos. Não estou nada nervoso, e aconselho-vos a estarmos todos calmamente confiantes. Ora reparem: se ficamos agora todos nervosos só por irmos defrontar a Espanha, como é que ficaremos quando tivermos de jogar com a República Checa?

O sexagésimo aniversário




Estava à toa na vida
O meu amor me chamou
Pra ver a banda passar
Cantando coisas de amor

A minha gente sofrida
Despediu-se da dor
Pra ver a banda passar
Cantando coisas de amor

O homem sério que contava dinheiro parou
O faroleiro que contava vantagem parou
A namorada que contava as estrelas parou
Para ver, ouvir e dar passagem

A moça triste que vivia calada sorriu
A rosa triste que vivia fechada se abriu
E a meninada toda se assanhou
Pra ver a banda passar
Cantando coisas de amor

O velho fraco se esqueceu do cansaço e pensou
Que ainda era moço pra sair no terraço e dançou
A moça feia debruçou na janela
Pensando que a banda tocava pra ela

A marcha alegre se espalhou na avenida e insistiu
A lua cheia que vivia escondida surgiu
Minha cidade toda se enfeitou
Pra ver a banda passar cantando coisas de amor


Mas para meu desencanto
O que era doce acabou
Tudo tomou seu lugar
Depois que a banda passou

E cada qual no seu canto
Em cada canto uma dor
Depois da banda passar
Cantando coisas de amor


Chico Buarque compôs e escreveu A Banda das vidas alegremente realistas no ano em que eu nasci.

19.6.04

Afinal mudei de ideias.

As carreiras muito curtas dos jogadores profissionais de futebol criam a aparência de que um jogador em final de carreira está acabado. Quem viu, hoje de manhã, a conferência de imprensa dada pelos veteranos Figo e Fernando Couto há-de ter reparado na expressão insegura quase disfarçada atrás do ar altivo, do tipo, "estou farto de vos dar atenção", que intencionalmente adoptaram. Figo foi ostensivamente rude e Fernando Couto, embora mais macio, barricou-se atrás das suas glórias passadas. Ambos, porém, pareciam sobretudo assustados, como protagonistas de uma intriga que lhes escapa do controle e na qual eles, acossados, esperneiam, embora sem a habilidade retórica que poderíamos ver num qualquer aprendiz de demagogo da mesma idade. E ainda bem, porque quem lhes procura subliminares intenções ou instigações à revolta cedo desiste perante a desarmante simplicidade do discurso.

O futebol resume-se, para mim, a uma enorme vontade de vitórias das equipas, as equipas que eu apoio e gosto pela razão mais banal que recorrentemente está na base dos clubismos, bairrismos, chauvinismos ou nacionalismos mais ou menos exacerbados. É por razões acrescidas àquelas pelas quais sou uma portista emotiva que desejo vivamente que a selecção portuguesa ganhe amanhã à espanhola, de preferência com um demolidor três a zero, embora um magro um a zero ou um dois a um me sirva na mesma. Mesmo que joguem mal, embora eu goste muito mais de os ver a jogar bem. Eu gostava que a política nacional - em relação à qual tenho vindo a descobrir em mim uma céptica a caminho do agnosticismo crónico - me suscitasse estas convicções fortes em que os jogos da selecção portuguesa me embalam. Raios, como eu gostava.

Eu não consigo imaginar como deve ser duro, para vinte e três rapazotes entre os dezoito e os trinta e poucos anos, aguentar a pressão permanente dos milhões de olhos ansiosos e desesperados, que depositam neles todas as esperanças de uma vitória com sabor de final que, de uma forma esotérica, afastará todos os males da nação e nos fará recuperar uma efémera e embriagada auto-estima colectiva. Não consigo imaginar, mas o facto de me ter capacitado dessa inimaginada angústia dos rapazes dá-me reforçadas razões para positivamente acreditar neles, em todos, sem excepção. Se perderem, hão-de perder dignamente, a lutar pela vitória. Isso tem de bastar. Por mim, como disse, desejo vivamente que ganhem e que a pseudo-imprensa busca-podres seja extinta por decreto governamental. Aquele em que, quando o Euro acabar (mas só quando o Euro acabar, note-se), há-de exonerar alguns ministros.

Horas amargas

O Vilacondense publicou um texto em que refere algumas conclusões da Inspecção Geral de Saúde e da Associação dos Administradores Hospitalares sobre o trabalho médico "extraordinário", os elevados (e progressivos) custos desse trabalho para o erário público e, também, sobre a inexistência dum aumento palpável de produtividade, "apesar desse trabalho extra". No final, confessa-se revoltado por, segundo afirma, "ter percebido melhor as greves dos médicos".

Não contesto os números, evidentemente, até porque não tenho outros e a fonte é, julgo eu, fidedigna. Mas, sobretudo porque é importante que os médicos participem em debates públicos sem as peias institucionais do costume (eu não morro de paixão por Ordens, já o disse várias vezes), decidi escrevinhar alguns esclarecimentos. Que não me foram pedidos, eu sei, nem sequer este escrito se destina a aborrecer o Dupond.

Importa desfazer (a mim importa-me, porque sou médico), a ideia duma classe médica corporativista, usando bata como quem usa sotaina, permanentemente a clamar pelos nossos doentinhos, mas deixando sempre no ar, às outras pessoas, a impressão de que "há qualquer coisa aqui que está mal, estes tipos querem é ganhuça...". É fundamental que se entenda que a chamada classe médica é constituída por indivíduos que têm, talvez, em comum mais coisas que o simples facto de serem médicos, podendo, ainda assim, divergir em múltiplos pontos de vista pelo mais complicado facto de serem cidadãos.

1 - As chamadas horas extraordinárias são (ou deveriam ser) isso mesmo: horas de trabalho suplementar prestadas num contexto "extraordinário", ou seja, assumindo o carácter de "excepção" ao que é "ordinário", ao que é norma, ao que estipula o contrato de trabalho. Há, até, como se sabe, pelo menos na função pública, uma limitação legal para o número de horas extraordinárias que podem ser prestadas, sendo ilegal, por exemplo, que as remunerações provindas de trabalho extraordinário ultrapassem determinada percentagem do vencimento base do trabalhador (julgo que rondará 1/3, mas não confirmei). O que implicará, também, suponho, ilegalidade na obrigatoriedade da sua prestação para lá desse mesmo limite. Mas não sou jurista, nem estes pormenores são relevantes, na sua "justeza numérica", para o caso vertente.

2 - As horas extraordinárias são propostas, como se calcula, pelas administrações, por quem manda. No caso dos Hospitais, não passará pela cabeça de ninguém (espero eu), que um médico, ou um grupo de médicos, decida, unilateralmente, desatar a trabalhar "fora de horas" por sua livre iniciativa, forçando, depois, inocentes administrações a pagar-lhe por essa labuta quase selvagem. Não. O que se passa, há muitos anos, é que o funcionamento "non-stop" dos Serviços de Urgência vem obrigando, de forma "ordinária", os médicos de algumas valências (e o comunicado da IGS refere-as, são as especialidades essenciais, de facto) a trabalho extraordinário. Isto é verdade, sobretudo, nos hospitais mais periféricos, com menor capacidade de fixação de médicos. Com quadros clínicos pequenos e semanas muito longas (têm todas 7X24 horas) é fácil perceber que assim seja.

3 - Mesmo assim, cada médico presta 12 horas semanais "normais" (ou seja, não remuneradas extraordinariamente, podendo ser diurnas ou nocturnas) no Serviço de Urgência. É o que a lei prevê. E está correcto, porque é um trabalho penoso, que não resiste a qualquer programação, desgastante. Ficam 30 horas semanais para as restantes actividades programadas, na consulta, na enfermaria, no bloco operatório, no hospital-de-dia (isto, no caso dos médicos cumprindo contrato de 42 horas semanais; aos que têm contrato de 35 horas semanais restam, apenas, 23 horas...).

4 - É que não existe, de facto, um quadro médico específico para o Serviço de Urgência. Tem havido variadíssimas discussões sobre isto, mas a verdade é que não há. Há um contingente de enfermeiros da urgência mas, ao contrário doutros países, não há um grupo de médicos da urgência. Os médicos das várias especialidades "estão de urgência", estão lá, de facto, e lá se moem, mas "não são de lá". São obrigados a "ir para lá".

5 - O gasto em horas extraordinárias com a classe médica é, sem dúvida nenhuma, elevado. Mas tudo se passa, com raríssimas excepções, no Serviço de Urgência. É lá que é preciso trabalho suplementar (e quem o solicita, repito, não são os médicos, são as necessidades, pelos vistos), é lá que é, portanto, prestado. Obviamente que esse dispêndio em horas extraordinárias não vai provocar nenhuma vantagem em termos de produtividade: não há indicadores fiáveis para esse tipo de produtividade, porque se trata dum trabalho não programado, "atende-se quem vem". É até possível conceber, sem má fé, que a produtividade mensurável possa diminuir: será que um médico que acabou de prestar um turno de 24 horas seguidas de trabalho no serviço de urgência, doze das quais extraordinárias, poderá ser menos produtivo na manhã imediatamente a seguir, retardando altas, cirurgias e consultas, por cansaço? Pois é, é possível, não estou a dizer que aconteça, mas é perfeitamente imaginável que sim.

6 - Quanto às greves dos médicos pelo (não) pagamento das horas extraordinárias, o Dupond tem alguma razão: elas são pagas, no fim do mês seguinte (não é no fim do mês em que se cumprem, vai dar no mesmo), mas há uma questão de tabelas. Este tema (que divide, também, de alguma maneira, os médicos) mereceria tratamento à parte, que este texto vai longo e, se calhar, maçudo. E ainda falta discutir a questão das "horas extraordinárias assinadas de cruz". Ficará para depois.

18.6.04

Saiba



Na TSF, Carlos Vaz Marques entrevistou hoje Arnaldo Antunes, o paulista dos poemas visuais, cronista, músico e cantor do timbre muito grave que já fez parte dos Titãs e que lançou, este ano, um novo CD. Ouvi Grão de Amor, cantado em perfeita sintonia de ritmo e de voz com Marisa Monte e, mais do que isso, com bendita e perfeita dependência da música com a letra: uma não existe sem a outra e ambas são feitas do tremor inspirado da mão de Arnaldo Antunes. Amanhã visitarei a FNAC, evidentemente.

17.6.04

Porrada emocional

Reparo, algumas memoráveis vezes, como de um estado esgotado-racional se passa para uma suave letargia emocionada que, subitamente, nos ilumina o futuro. Não, não estou a falar do próximo jogo da selecção, porque mais uma vez me remeterei a um sabático silêncio sobre o assunto até Domingo. Nem à retoma do Durão em 2005, a que se seguirá a vitória do Ferro e o remate ao Portas, o Paulo, em 2006, se não for antes.

Nada disso. A culpa foi do besugo e do seu poste.

Parvoíces de besugo, passa já.

Tenho um amigo, que é tão talentoso como amigo, que vejo pouco. Três ou quatro vezes por ano, no máximo. Vivemos na mesma cidade, misturados na imensidão de ... 15.000 habitantes. É estranha, esta lonjura feita de cercania.
Somos amigos desde os bancos da escola primária. No fim do liceu, eu fui dissecar cadáveres para o Hospital de São João, num Porto cinzento, enquanto ele foi para o Conservatório (é um excelente pianista), num Porto colorido.
os dois Portos em mim, como também há nele. Vi o cinzento nos olhos dele quando a mãe lhe morreu dum cancro que, para o fim, nem eu (o "besuguinho", chamava-me ela, e assim me chamou até ao fim), logo eu que queria tanto, consegui deter. Ele viu cores nos meus olhos castanhos de simples quando, como quem pede desculpa, me veio trazer os restos dos remédios que a mãe não tomou. Disse-me que poderiam servir-me para dar a outras pessoas, com menos dinheiro, enquanto esperam pela mesma sorte. Pelo mesmo azar.

Eu hoje sinto-me tão bem! As pessoas que gostam de mim dizem-me sempre que tenho os olhos mais bonitos do mundo quando se molham, porque nunca se molham em vão. Funda felicidade, a de saber que há quem nos embeleze os olhos só de olhar para eles com alguma atenção.

O que agora desejo, a toda gente do mundo, mas mesmo a toda a gente (estúpido besugo, que não fazes triagem quando te molham os olhos!), são uns minutos ocasionais desta coisa estúpida de estar bem, como eu estou agora. Não é difícil: eu sei que todos os olhos que se molham são tão bonitos como os meus. E sei, também, que se estivermos atentos, há sempre quem esteja disposto a embelezar-nos os olhos com algumas lágrimas sentidas.

Eu acho que esteve quase, quase...



Por momentos fiquei suspenso, mas o homem lá acabou por se conter. Enfim, pode ter-se perdido qualquer coisa nas dobragens, não sei. O certo é que o diálogo seguinte não aconteceu. Repito: não aconteceu.

- "Dr. Jardim: é verdade que não apoia a candidatura do Dr. Vitorino?"
- "Ele é socialista e eu não sou, portanto..."
- "Mas ele é português..."
- "E que tenho eu a ver com isso, seu cubano de merda!?"

(a fotografia acima é pertença destes senhores)

16.6.04

O que terá Figo sussurrado ao Rui Costa?

- "Ainda bem que vou embora, a bem dizer já estou um bocadito afogueado."

- "Nós os dois é que somos bons, claro..."

- "Tu não dês troco ao brazuca. A Brigitte Bardot não deixa de ter alguma razão."



Ganhámos, estou contente, mas este não deve estar...



"Quiê grânde porquêrià! Iêu nào tuôcar o buòla com o mào iê ser jpulsâ! Vô têlêfonàr â Vítor Bàiâ para sâber u siêu siêgredò nièstaj jugàdâj. Iêl tuôcar iê fìcâr...".

A oscilante confiança

Há sinais positivos: os russos não estão, pelo menos, tão confiantes como os espanhóis ou como os gregos e nós, se ganharmos aos russos, estaremos hoje à noite mais confiantes do que os gregos ou do que os espanhóis e passaremos, assim, a ser os segundos mais confiantes. Certo? É bem melhor perder para depois ganhar do que o inverso.

Este é um manifesto genuinamente esperançado. Hoje, à hora do almoço, vi um jovem português vestido, da cabeça aos pés, com as cores da selecção. Estava sozinho e sorridente e eu tomei isso como um bom presságio.

Gostava que isto não me moesse, mas também é verdade é que, se perdermos, depressa passarei a preocupar-me com a próxima Copa do Mundo. Dessa vez, espero eu, sem vedetas.

Eles e nós

1 - Começo por pedir desculpa. Em primeiro lugar aos meus companheiros de blogue, em segundo lugar aos senhores que calha irem lendo o que escrevo. Peço desculpa, porque tenho a impressão que ando a escrever demais e, sobretudo, demais sobre futebol, quase açambarcando este espaço democrático, comunitário e "caliente".
Isto tem uma explicação simples e uma ainda mais simples. A explicação simples é que estou de férias. A explicação ainda mais simples é que estou de férias porque me apeteceu ver parte do Euro sossegado, ao contrário do que sempre me sucedeu em outros Europeus e Mundiais e, como compreenderão daí, sinto-me sempre um bocadinho "entre jogos"...
Para bem de todos (excepto de besugo), as férias de besugo serão curtas.

2 - À medida que a hora do jogo de hoje se aproxima tenho notado que me vão desabando, uma a uma, as "excelentes teorias tácticas" que tenho andado a ruminar. Aqui e em conversas de amigos. Já não sei nada, já quero o Rui Costa outra vez, continuo a querer o Deco, já não sei fazer "a equipa", "fazer equipas" até sei, "a equipa" é que não.

3 - Li, no Observador, uma coisa que me fez pensar: "Perder, aceita-se. É futebol. Para ganharem uns é preciso que outros percam. Jogar com medo, ansiedade e nervosismo, quando falamos de profissionais, isso, já é inaceitável." . Não concordo totalmente: é aceitável, entende-se; o que não é é desejável.
O medo, a ansiedade e o nervosismo não devem ter sido a única explicação para o desaire luso contra os gregos. Mas condicionaram, de facto (e de que maneira!), a prestação dum conjunto de jogadores que sempre provaram ser briosos e lutadores, por onde têm passado. Mesmo na Coreia, acredito eu.

Pela primeira vez, Portugal partiu para uma competição de futebol desta envergadura com os galões de favorito. Na Coreia havia grande expectativa, também, mas aí tratava-se dum Mundial, prova mais ampla e, sobretudo, muito longe. Agora não: estamos em casa, a Selecção sente o "bafo" do povo a pedir-lhe vitória, os olhos do povo a exigir-lhe grandeza, as bandeirinhas do povo a festejar-se (sim, a festejar-se...) e a Selecção, se calhar, a tanto pedir, a tanto exigir, a tanto festejar (ainda por cima com "-se"), não consegue responder senão com... "querer".

Eu sei que "querer é poder" , é uma bela regra, essa. Como há outras, aquela de Murphy, por exemplo, "o que puder correr mal, correrá" e ainda esta, de besugo, "uma grande emoção pode, algumas vezes, trair a capacidade e a objectividade dum profissional empenhado, ajudando-o a falhar". E mais esta, que é fraquinha, mas cá fica: "pode-se querer e não se poder" .

Faço um desafio amigável ao Observador: não venda, ainda, o seu bilhete para o Portugal - Espanha. Eu creio que aquele algumas vezes a "bold", no parágrafo de cima, não vai tolher-nos hoje. É questão de o crer (um calmo e detrminado crer)ajudar o querer, que este já há.

Vamos alinhar um bocadinho com o Altino Torres, esse "food-i-do", quando garante: "Torço por eles, pois"..
Ele tem razão: até porque, para valer a pena, "eles" temos de ser "nós".

Impressões (II)

Assim de repente, numa espécie de desabafo antes do sono, resolvi que é melhor deixar ficar isto aqui:

1 - Não consigo encontrar nenhuma razão plausível para ter tido conhecimento da identidade da mãe de um dos cidadãos detidos por tráfico de haxixe. Sim, que da identidade do detido, "himself", não tive, de facto. Mas tenho a impressão que se passava bem sem termos tido conhecimento da identidade de nenhum dos dois: nem da mãe, nem do filho. Porque não é relevante para o que vai seguir-se ("os trâmites") e porque me irrita detestar Leonor Beleza há tantos anos e estar, agora, com pena da senhora.

2 - Eu gostava que Portugal jogasse com 2 pontas de lança. Hoje, também os checos e os letões jogaram com dois pontas. E a Holanda só começou a criar perigo quando entrou o Van Hooijdonk (é assim?) para fazer companhia ao Ruud. Mas estou com um bocado de receio que haja falta de "meio campo", numa selecção que (lá está, tenho a impressão) fica um bocadinho "frágil e cansadota", nessa zona do terreno, se escolhermos o talento criativo. E um bocadinho inofensiva se optarmos pela prudência.
Ainda se Petit e Costinha conseguissem ser "médios a sério" e não apenas "trincos"...Se Tiago estivesse na forma do ano passado... E o Maniche com a pedalada da segunda volta da super-liga... São muitos "ses".
Mas que gostava, gostava. Dois pontas-de-lança. Um mais fixo, outro mais móvel... no caso de serem Pauleta e Nuno Gomes até podiam ser ambos móveis! Caramba: gostava!
E, mais que isso, gostava que nos saísse bem o jogo.

Bom, a bem dizer, como li uma vez num livrinho do Quino (acho que era aquela pequenita, a Liberdade, que dizia), "eu, o que quero que me saia bem, é a vida". Mas eu tenho a impressão que o futebol também faz parte.

15.6.04

Overdose

Doses abundantes de actividade bloguística resultam nisto. E, no entanto, a vida está lá fora, isto é que é o ansiolítico.

Ora aprendam!

O maradona já escolheu a equipa inicial, mas aquilo é para o jogo contra a Espanha. Como é preciso ganhar, primeiro, aos russos, eu escolho a equipa para quarta-feira. Pode ser? Então quero esta:

Ricardo, Paulo Ferreira, Ricardo Carvalho, Fernando Couto, Nuno Valente, Costinha, Petit, Figo, Ronaldo, Nuno Gomes e Pauleta.

Mas é para jogarem num 4-4-2 clássico, OK? Com Figo e Ronaldo "a abrir" pelas alas (caso Figo dê indicações de estar "in the mood", se estiver amuado joga o Simão!), que é pelas alas que se conduz o jogo e se "espalham" os defesas contrários ao largo do campo. E com dois pontas-de-lança, sim, que a Suécia, a Dinamarca e a Grécia não são mais que a gente! Ok, com a Grécia parecia mesmo que eles eram mais, mas com os outros não jogámos, não extrapolem!...

Vamos analisar, agora, alguns dos cenários possíveis. Se excluirmos algumas peças de teatro alternativo, o comentário político e os espectáculos de La Féria, é no futebol que corremos mais riscos de tropeçar nesse tipo de adereços: os cenários. Além disso estamos em Portugal, que me dizem ser o "país possível", com os "políticos possíveis", os "jogadores possíveis", "os besugos possíveis"... Daí aquela coisa dos "cenários possíveis", está bem assim? Bom.

Cenário 1: os russos marimbam-se para a minha táctica e espetam-nos um golo cedo; eventualmente, que os tipos às vezes são parvos, outro logo a seguir...
Bom, este cenário é ridículo e, como é óbvio, eu não vou agora estudar este tipo de especulações. Digamos que é o tipo de situação que, a suceder, o Scolari resolve, que é para isso que lhe pagam.

Cenário 2: O jogo está "engonhado", tipo nem marcamos nem saímos de cima.
Bom, aí, meus amigos, temos de ter paciência. A paciência é muito importante num jogo de futebol. Aí, há que fazer substituições. Podem fazer-se variadas substituições, desde que:
a) Não se tire o Ricardo Carvalho.
b) O Deco entre. Neste caso pode sair qualquer um, excepto se se chamar Ricardo.
c) O Beto não entre. Sim, mesmo que se venha a descobrir que se chama, afinal, Ricardo Beto!
d) O Rui Costa já tenha decidido a melhor forma de ajudar Portugal, porque o êxito de qualquer substituição depende disso. Disso e de se jogar com o máximo de Ricardos disponíveis (onde estás, Sá Pinto?).

Cenário 3: Portugal marca cedo, amplia e, ao intervalo, já ganhamos por 3-0. Os russos, em correndo bem as coisas, já estarão a jogar só com 10, nove deles muito cansados.
Neste caso, enfim, aceito estudar propostas. Podem ser formalizadas em blogamemucho@hotmail.com ou, em alternativa, nas notas de rodapé da TVI. Aviso já que não estou disponível para orientar equipas que lutem pela manutenção, que usem equipamentos "de estilista"... Ah! e que tenho de vir a casa aos fins-de-semana.

Não havia necessidade



Esta também li na "Marca" e a fotografia é de lá, desculpem. Os senhores e a "Marca".
Aparentemente, o Atlético de Bilbau vai desfilar pela Europa, na próxima temporada, com este novo design camisoleiro. O criador foi o pintor bilbaíno Dario Urzay que, dizem, "...ha querido plasmar en su obra "la esencia del Athletic" en una fusión de arte y deporte".

Eu não sei se é o "marketing" que nos liga o complicador, se é o complicador que nos faz ligar ao "marketing". Eu o que sei é isto: as camisolas tradicionais do Bilbau são muito mais bonitas que estas, que parecem manchadas. De polpa de tomate, de gouache vermelho, de sangue, do que quiserem, mas manchadas!

E mais: se algum camelo decidir (nem que seja para ganhar mais uns cobres!) semelhante transfiguração nas camisolas, nos calções, nas peúgas, ou (suprema abjecção!) nas truces oficiais do Sporting... caramba, juro que passo a ouvir, apenas, os relatos!!
Eu não quero nenhum pintor, nenhum escultor, nenhum "designer", nenhum "criador"... eu não quero artista nenhum a fazer habilidades com as camisolas do meu clube: eu quero ver criação é dentro do campo! Eu quero é homens de camisola verde e branca, às riscas, a correr e a suar, justificando o meu "tribalismo".
Quando não, vamos ter bancadas cheias de estilistas! Uns homenzinhos a gritar "é uma camisoleta fantástica!..." e "só eu sei porque me dá praqui!".
Bem, ao menos, se houver porrada, vai ser mais puxar cabelos que lambada... Ora bolas!

14.6.04

Impressões

"Ter a impressão de qualquer coisa" pode não passar dum palpite melhorado: não é coado pelo filtro todo da razão mas também não é uma adivinhação "à totoloto", perfeitamente aleatória.

Nos últimos dias fiquei com várias impressões. Escusava de as comunicar, eu sei, a minha própria definição de "impressão" deveria impor-me um sensato silêncio de ouvinte. Mas não. É que vivemos mesmo num mundo de impressões, às vezes enfeitadas duma elaboração que não possuem, e eu estou vivo e (ainda por cima!) vivo cá. E costumo ser muito rápido a sair da confusão, como dizia Fernando Tordo, o mal amado talentoso. E a meter-me nela, como fazia Tordo quando decidia ser o "menino Fernando". Eu encontro genuíno talento neste homem, já tinha dito isto aqui.

Bom, nada como começar.

1 - Ferro Rodrigues saiu-se bem. Gostei. Tenho a impressão que vai conseguir afastar das canelas alguns dos seus opositores internos, daqueles que aproveitaram a fase "Casa Pia" , a fase "estou-me a cagar para o Procurador" , a fase "ando um bocadinho desnorteado e emocionado com esta coisa toda" , essas fases todas, para surgirem limpinhos, impolutos na sua correcção de manequins dentro dum fato, de "defesas centrais às deixas", a rir-se despudoradamente dum homem a levar pancada. Penso, até, que será relativamente fácil ganhar as eleições a Durão Barroso. Por dois motivos, fundamentalmente: ou Barroso vai concorrer sozinho, e eu espero sentado; ou vai com Paulo Portas a reboque e, neste último caso, até me deito.

Esta impressão deve valer, pelo menos, em termos de riqueza intrínseca, tanto como aquela impressão que faz outras pessoas afirmarem exactamente o contrário: que "ainda bem que Ferro afirmou ficar", "grande favor este homem fez à direita portuguesa", "ora ainda bem, que tonto!". E por aí adiante, é só ir lendo e ouvindo.

2 - Tenho a impressão que os resultados de Manuel Monteiro e do PND não são bons. Mas eu não tenho, mesmo, tino nenhum: tenho a impressão, também, que não são maus.
Eu tenho a impressão que Manuel Monteiro é melhor pessoa do que Paulo Portas. Por exemplo, eu, a Manuel Monteiro, emprestava o carro. Ora isto conta muito. Sobretudo se associado a isto: tenho a impressão que, se persistir - em vez de desistir, como alguns gozões lhe sugerem - Manuel Monteiro (que não tem tão poucos simpatizantes como isso dentro do CDS-PP) pode cumprir a sua patriótica e útil missão, a seu tempo: esperar pela inevitável derrocada do "homem feito só de estuque" (Paulo Portas, sim, tenho a impressão que não há ali maior dureza Mohsiana) para o remeter ao suicídio político que merecem os loucos que são maus. É uma impressão, uma impressão apenas.
Mas esta impressão vale, pelo menos, em termos predictivos, tanto como a outra, mais generalizada, de que Monteiro "já está, adeus". O futuro é uma equação dependente de tantas variáveis!... Não é?

3 - Tenho a impressão que o povo português é ignorante e desleixado. Talvez seja o povo da Europa com maior percentagem de cidadãos, eventualmente a par da Bulgária, com maior apetência para a culpabilização alheia. Um concidadão é, para um português médio, um "gajo potencialmente culpado das merdas que me acontecem". Podia ser, ao menos, "um gajo para partilhar culpas". Mas tenho a impressão que não. E mais: tenho a impressão que a abstenção não traduz nada do que tenho lido e ouvido. Traduz uma profunda falta de sentido cívico, que atravessa a nossa sociedade duma ponta a outra. Não se abstiveram por desilusão, desencanto, punição. Não. Não puseram os cotos nas urnas porque, muito simplesmente, estava sol e calor. Apenas isso.

Esta impressão parece-me equivalente, pelo menos, na sua profundidade de charco, à outra: à que vislumbra nesta atitude do povo português um sinal de maturidade.

4 - Tenho a impressão que está calor demais para se jogar futebol. Se formos portugueses, búlgaros ou italianos, sobretudo. Como povos de tradição setentrional, damo-nos mal (nós, os búlgaros e os italianos) com climatologias meridionais. O mesmo não se pode dizer dos dinamarqueses e dos suecos, sacanas, que tiveram a sorte de encontrar no Euro um calor de ananases que os faz sentir em casa! Maldita sorte.

Esta impressão vale tanto como outra qualquer? Não. Esta impressão tem um desajuste geográfico óbvio, esbarra frontalmente na minha fé... mas olhem que com esta impressão eu ando mesmo preocupado.

Vamos a ver

Já li e ouvi muitas coisas sobre o recente Portugal-Grécia (sobre as eleições ainda tenciono ler e ouvir). E ainda não consegui digerir aquela má estreia, para dizer a verdade.
O processo de digestão é um complexo conjunto de mecanismos (fisiológicos, bioquímicos, etc.) que não vem agora ao caso. Mas essa cascata de acontecimentos costuma resultar, em tempo razoável, numa agradável sensação de "estar pronto para outra": outra refeição, outro petisco.
Penso que o meu particular problema, neste momento, é mesmo este: ainda não estou pronto para outra. Mais: temo que a nossa equipa também ainda não esteja. Num cenário ainda mais pessimista, receio que nem sequer venha a estar. Pronta para outra.

Andei a fazer uma pequena leitura por meia dúzia de "sites" desportivos e, na "Marca", encontrei isto. Eu já tinha ouvido uns "zunzuns" mas, aquilo dito daquela forma, fez-me pensar que "tu queres ver que é mesmo verdade?". Aquilo, resumido, dá conta da reacção de Figo ao assinalar do penalty contra Portugal (terá querido abandonar o campo, gesticulando, o que pode ser especulativo) e, fundamentalmente, assinala como verdadeira uma espécie de cisão entre um grupo de jogadores lusos (Rui Costa, Figo e Fernando Couto) e os restantes companheiros, no que respeita à presença de Deco no grupo. Uma declaração recente de Figo, se entendida como uma "alfinetada" no "brio patriótico" de Deco (e, eventualmente, de quem sancionou a presença do luso-brasileiro na Selecção), parece suportar, em parte, as afirmações da "Marca". Levanta, pelo menos, a eterna (e, algumas vezes, injusta) questão do "fumo" e do "fogo"...
Ainda segundo o jornal espanhol, alguns jogadores portugueses mais novos (e menos marcantes, hoje por hoje) apenas não terão expressado publicamente o seu apoio à presença de Deco por receio da reacção das chamadas "vacas sagradas"...
Enfim, haverá algum exagero nisto tudo, não sei...

Mas o mais preocupante, o mais indigesto, acaba por ser isto: então, em meses e meses de preparação, de concentrações, de jogos, de estágios e mini-estágios, não se resolveu de vez, na cabeça dos jogadores, o problema Deco? Ainda estão onde estavam aquando do célebre Portugal-Brasil, de boa memória, que assinalou a estreia do portista na Selecção, logo com um golo? Ainda vão aí?
É que se ainda vão aí, passado tanto tempo, meus amigos: parece-me difícil que vão muito mais longe.

Vamos a ver.

Dia de Sto António

1. Tudo demasiado calmo neste blog, com tanta coisa a acontecer. Estranho... Um fim de semana prolongado, imagino muita gente "responsável" a tirar férias cirúrgicas, com efeito multiplicador, a culpa sempre do governo, o sol, a praia, enfim as habituais vocações / tentações lusitanas. Alguém tem de escrever alguma coisa, para além da nossa governadora - que bem tenta elevar o nível da discussão. Bem manolo, vá lá diz qualquer coisa ! Pensei eu ao fim de uma maratona de urgências - os tais arreliadores e autopunitivos fins-de-semana, feriados, sextas e outros "atractivos" médicos. Pensei e decidi mesmo escrever, sobre um companheiro muito particular dos domingos, em que estou de serviço - O Padre Sebastião da Antena 1, que venero desde há longos anos de um percurso comum. Fá-lo-ei mais tarde ! Por agora direi umas merdas que me vão na alma, e amanhâ logo se verá!

2. Euro 2004: Jogo de abertura - vale a pena acompanhar o percurso recente da selecção grega (com este treinador alemão fino como uma raposa - bem dizia Oliver Kahn), e "ler" bem a estratégia montada no terreno de jogo, para percebermos que tivemos muita sorte em não termos sido massacrados na primeira parte. Digo-vos com a autoridade de quem já foi jogador de futebol federado... De resto (sentimentos...), o post da lolita diz tudo. Vamos esperar que a selecção melhore. Tenha pena do Scolari, que vale mais que todo o resto - equipa, FPF, media, etc, etc.
Restantes jogos: para já ao nível de uma competição normal entre solteiros e casados. Com a França em inexorável decadência, apesar da incontinência urinária do prolongamento com a Inglaterra.

3. Eleições para o Parlamento Europeu:
- Ou a confirmação do autismo crescente dos políticos.
- O Povão não é nada burro, com um sinal inequívoco ao governo, só não percebe quem não quer.
- O CDS/PP de Portas parece-me condenado a uma morte anunciada
- Em última análise, a democracia deve ser revisitada por todos os governos, com cada vez mais sinais de perigo no horizonte... Infelizmente, as pessoas estão-se a cag... cada vez para as eleições, sejam elas quais forem. E isso só pode ter más consequências.

4. TVI - o meu primeiro elogio (a sério, estou bem, sinto-me em perfeitas condições...)
Notável a forma como foram conduzidos os trabalhos em noite eleitoral. Para mim, a melhor das coberturas televisivas: Em noite de futebol ao lado na sic, com uma abstenção tão grande, o pessoal da TVI e convidados estavam relaxados, tranqilos (sem u como dizem os nossos emigrantes).
- A Manela completamenta frontalizada, solta, braços no ar, cabeça levantada: então dr V G Moura isto não tem significado político para o governo?
- A C C e Sá com uns óculos altamente, semideitada na cadeira, olhar de lado tipo femme-fatale: então admite que o PS não está preparado para governar dr J Coelho ?
- O M S Tavares, paralisia facial periférica: diz-me lá ó Vasco que leitura fazes das eleições europeias ?
- O Bernardino Soares: disse o que um funcionário de partido diria. (e eu não escrevo mais nada sobre ele, porque não gosto deste tipo de gajos)
- A menina do BE muito interessante e gira, descontraída
- O V G M lá se tentou safar coitado com uma bacoradas assim a modos que, bem, talvez, não não acho...os deputados representarão bem o seu papel nas instâncias comunitárias...
- O L Xavier indiscutivelmente o melhor, mais inteligente, mais agradável.
- Os outros pivots cumpriram bem: linguagem muito fluente, calma, muito "buffeurs" ou a arte de falar em expiração - tipo emigrante francês (outra vez ? mas com muito respeito por eles entenda-se) quando dizem: Ah bon ! fuuu. Tu es fou non ? ah bon ! ffuuu (acto de bufar oralmente bem entendido).
- No geral foi bom! Parecia estar numa esplanada com os amigos a beber umas cervejolas, comer amendoins e discutir tranquilamente as eleições. Como deve ser um debate televisivo. Gostei muito !

5. SOS Campanha - SALVEM-NOS DO EURO 2004: Mandamentos:
- Salvem-nos dos comentários do gabriel alves. Mais não, por favor, perdoem-nos nós confessamos tudo...
- Não entrevistem os jogadores da seleção - os nossos filhos podem ver !
- Não façam directos ás conferências de imprensa da equipa técnica, as perguntas dos jornalistas são sobre outras coisas que não o Euro.
- Sobreponham um Piiii sonoro sobre toda a palavra TRABALHO (deus me perdoe).
- Já chega de Eusébio em directo.
- Desliguem o som á TV durante os jogos. Contem os gestos verbais de fdp que os nossos jogadores proferem nas-4-linhas. Façam um jogo de apostas (a um jantar por exemplo) com os vossos amigos e família. É muita giro !

12.6.04

Neura 2004

A vitória seguinte é tão possível como a derrota pretérita. Até lá, não quero falar disso nem sequer ler nada sobre o tema.

11.6.04

Demagogia histórica

Mário Soares é uma incontornável referência da política portuguesa e a ele devemos, entre outras coisas, a estabilização da democracia durante o PREC e a entrada na Europa comunitária (embora esta última seja tema bastante para discutir vantagens). É, também, a figura mais estruturante do pós 25 de Abril nas décadas que passaram. Mário Soares tem prestígio, inteligência e carisma que usa em situações tão diversas numa escala ética de zero a cem que todas são inevitavelmente polémicas. Por isso se fala tanto dele e se gosta tanto ou tão pouco.

Eu, na verdade, não gosto muito; o Paco e o MacGuffin também não. As minhas razões são diferentes das do Paco, mas agora não interessa explicar aqui quais são. Quanto às do Mac Guffin, não lhes vi sequer a cor porque, vistas bem as coisas, ele não passou da atribuição de adjectivos que vão desde o delicodoce "indecoroso" ao vituperiante "reles". O erro fatal - e, devo dizer, básico - da sua crítica ao apelo de Mário Soares ao voto foi o de mergulhar de cabeça num infantil facilitismo demagógico da indignação pela frase, se calhar mal dita, no momento eventualmente errado. Encheu-se daquela superioridade moral que o fez precipitar-se na censura vulgar e bacoca tão corrente na politiquinha portuguesa, num momento em que o respeito nobre pelo momento histórico-político em questão ditaria outra postura. Eu já tenho dito em outras ocasiões que prefiro, de longe, situações a chavões. Pessoas a figurões. Debates a discussões. Mas cada um fala do que gosta, mesmo quando se trata de frases mal estudadas e, sem dúvida nenhuma, escritas no momento errado.

O bom modo de fazer política ou como foi Lino de Carvalho

Uma prática diária de frontalidade, trabalho, e dedicação à causa pública.
Reconheço que este elogio vem tardio e não é desinteressado.
O meu Douro deve muito ao Deputado Lino de Carvalho que não era duriense, não era sequer do Norte e apesar de nada o ligar a esta região, nunca deixou de defender acerrimamente os interesses de que quem por cá faz vinho do suor e do xisto.
O PCP, muito por culpa de Lino de Carvalho, foi o único partido político que teve ao longo dos últimos 25 anos uma posição coerente e verdadeiramente desinteressada nas questões do Douro.
Poder-se-á dizer que foi por nunca ter chegado ao poder. Talvez.
Mas há algo que não se pode ignorar.
A vontade de conhecer os assuntos, estudar os dossiers, saber as opiniões das pessoas, escutar e transmitir na Assembleia da República o sentir dos eleitores, que até eram poucos por estas bandas.
Nisto, Lino de Carvalho era único.
Ainda há pouco, ouvi um ex-Presidente da Assembleia da República dizer que Lino de Carvalho foi um dos 3 melhores deputados que tinha conhecido.
Foi certamente um dos melhores de que tenho memória.
O Douro ergue um cálice do nosso vinho fino e curva-se perante a sua memória.

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