blog caliente.

21.6.04

Olá, Ricardo.

O Ricardo foi meu colega de curso e era um excelente estudante. Ala dos "não marrões". Éramos amigos, sem sermos daqueles amigos de todos os dias: era muito difícil ser amigo de todos os dias dum tipo que era amigo de toda a gente.

Só não apreciava o Ricardo quem tinha inveja do seu talento, do seu brilho, da sua bondade. Era um não alinhado que alinhava sempre. Lembro-me dos seus manifestos "anti-queima", das "boutades" do ASA (era o seu pseudónimo quando escrevia nos "stencis" da Associação) contra os "doutorzinhos em ânsias de estetoscópio", como muito bem lhes chamava o Amaral, outro bom selvagem, hoje Psiquiatra algures na invicta.

O Ricardo estudava bem, pensava bem, tocava bem, cantava bem, comia bem, bebia bem, sorria bem, trabalhava bem. O Ricardo era, visto daqui, o melhor de nós todos. De longe. Não digo isto porque o Ricardo morreu e a morte redime. Não, nada disso. Pelo contrário. É porque é verdade. E porque o Ricardo nos faz falta. A todos.

O Dupont, que é (apesar das divergências ocasionais) um amigo de todos os dias que não conheço, já lhe prestou a homenagem que é devida a quem merece. Contou a história toda, terna história, nada a acrescentar. O Ricardo tinha, mesmo, muitos amigos. E mereceu-os, a todos.

Mais logo, se tudo correr bem, vou colocar aqui um texto que o Fernando Guimarães, um homem bom e, também, nosso colega de curso, escreveu num desses livrinhos que todos nós, os amigos do Ricardo, ajudámos a publicar. Eu não tenho o prazer de conhecer a família do Ricardo, como o Guimarães conhece. Mas que a família do ASA sossegue nesta certeza: como disse o Dupont, o Ricardo viverá enquanto restar um de nós para se lembrar dele. Um qualquer.

Reparem só nos olhos dele. Eu nunca minto.

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