Demagogia histórica
Mário Soares é uma incontornável referência da política portuguesa e a ele devemos, entre outras coisas, a estabilização da democracia durante o PREC e a entrada na Europa comunitária (embora esta última seja tema bastante para discutir vantagens). É, também, a figura mais estruturante do pós 25 de Abril nas décadas que passaram. Mário Soares tem prestígio, inteligência e carisma que usa em situações tão diversas numa escala ética de zero a cem que todas são inevitavelmente polémicas. Por isso se fala tanto dele e se gosta tanto ou tão pouco.Eu, na verdade, não gosto muito; o Paco e o MacGuffin também não. As minhas razões são diferentes das do Paco, mas agora não interessa explicar aqui quais são. Quanto às do Mac Guffin, não lhes vi sequer a cor porque, vistas bem as coisas, ele não passou da atribuição de adjectivos que vão desde o delicodoce "indecoroso" ao vituperiante "reles". O erro fatal - e, devo dizer, básico - da sua crítica ao apelo de Mário Soares ao voto foi o de mergulhar de cabeça num infantil facilitismo demagógico da indignação pela frase, se calhar mal dita, no momento eventualmente errado. Encheu-se daquela superioridade moral que o fez precipitar-se na censura vulgar e bacoca tão corrente na politiquinha portuguesa, num momento em que o respeito nobre pelo momento histórico-político em questão ditaria outra postura. Eu já tenho dito em outras ocasiões que prefiro, de longe, situações a chavões. Pessoas a figurões. Debates a discussões. Mas cada um fala do que gosta, mesmo quando se trata de frases mal estudadas e, sem dúvida nenhuma, escritas no momento errado.
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