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10.6.04

O miolo e a côdea

São filhos, netos, sobrinhos de notáveis ou, pelo menos, de burgueses endinheirados. Nascem em berços desafogados e falhos de open-minds que lhes permitissem, pelo menos, duvidar das opções culturais, ideológicas ou políticas da respectiva tribo. São criados na base da empobrecida cultura do regime através da qual adquirirem muitas certezas, como seja a de que são superiores à média da população. Porquê? Não porque são mais dotados de massa cinzenta (ou de massa crítica, se se quiser dar o salto lógico) ou porque aquiriram superioridade moral (que, no caso, se reduz à regra prática do encobrimento dos podres, salvem-se as aparências), mas por uma única e definitiva razão: porque a sua tribo possui influência. Aquela influência que se concretiza no lobbying, no compadrio, no refúgio confortável na máquina do aparelho e na característica mais patética de toda a classe política: a disciplina partidária, esvaziada de convicções, que apenas serve para sustentar a intrincada teia de relações perigosas e de laços de solidariedade instantânea entre todos os que lhe dedicaram a côdea.

Falo dos putos das frases mesquinhas e dos panfletarismos bacocos que decoram antes de ler, que sorriem com uma embrutecida pseudo-altivez quando ouvem falar de inconformismo. Esses miúdos de fato e gravata, rosto imberbe e involuntária beiça à banda quando não sabem que estão a ser filmados, são duplamente mais bafientos do que aqueles a quem, anseiam eles, irão suceder nos cargos partidários.

É esta a falta de miolo do nosso futuro político-partidário.

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