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10.6.04

Sem título

Vai para aí um "endeusamento" do Sousa Franco que é muito português. O "Público" de hoje é um bom exemplo disso.

Nunca o conheci pessoalmente e não foi meu professor. Lamento a sua morte e penso que a política perdeu um homem de singular inteligência e preparação. Do que sempre ouvi dizer dele era um homem rigoroso e exigente. Rigor e exigência que os seus próximos respeitavam, porque ele, sendo culto e académicamente brilhante, sabia sempre mais do que eles. Sempre ouvi também a seu propósito que era vaidoso, arrogante e dado a cultivar "ódios de estimação". A Manuela Arcanjo terá sido um dos últimos. Mas - diz quem sabe - também esta era (e é) culta, excelente académica, sabia do seu ofício, era pouco humilde e cheia de "pelo na venta". Era previsível o (mau) desfecho dessa relação.

Ele era também um católico fervoroso. Ontem não deixei de esboçar um sorriso quando numa TV qualquer a locutora de serviço - que entrevistava o Prof. Silva Lopes - perguntou a este, com ar esperançado "ele era um católico progressista, não era?" (é politicamente correcto ser isso, não sei se sabem). O entrevistado respondeu - sorrindo também - "Era um católico assumido, e muito próximo da hierarquia da Igreja Católica.". Ela mudou de assunto.

O que mais lamento na sua morte (para além de a lamentar por si mesma) é o facto de que Portugal perdeu (mais) um político da velha escola. Mais um que se tornou político por convicção, e que tinha horizontes muito mais vastos do que os que a política lhe proporcionou.

Já aqui li várias coisas sobre a degradação da política. Concordo com tudo. Mas ainda acho que a realidade é muito pior do que aquilo que li. E não vejo grande solução, devo dizer.

Duas menções finais:

1 - Lino de Carvalho - Este eu conheci pessoalmente. Um comuna do pior (se ele ler isto lá do canto do Céu reservado aos comunistas e se souber quem escreveu ri-se de certeza) e uma jóia de pessoa. Tinha convicções fortes, acreditava mesmo nos "amanhãs que cantam". Mas não era sectário. Conheci outros que eram. Ele não. Pelo contrário.

2 - António Costa - Um dos poucos políticos "novos" de que gosto. Desconfio que vai (aceitou ir) para o P.E. apenas porque no plano nacional já não tem mais nada a fazer ou a provar até ao dia em que o PS volte a ser Governo. Ou ele se candidate a seu líder. Assumindo que o PS será Governo de vez em quando, a vez dele chegará. E não lhe faz mal nenhum ter entretanto experiência pessoal nas instituições da UE.



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