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28.6.04

Garrafeiras particulares

Ele disse que ia resolver e que, amanhã, nos diria qualquer coisa.
Ele tem de pensar, de consultar. É um homem profundamente emprestado à profunda reflexão da problemática nacional.

Não é uma decisão fácil de tomar, a dele. Porque, conforme nos explicou, ele não quer tomar nenhuma decisão que nos deixe mergulhados na instabilidade. Ele, se fosse só por ele, ia: sente-se capaz, naquele estro frondoso não reside a dúvida e, ainda por cima, sente sobre os largos ombros de atleta aquela pressão imensa com que a Europa toda, insistente, carente, veneranda, o calca: "Tens de vir, Messias, por isso vem".
Ele hesita, ainda: "e quem fica por mim, meu Deus, vocês não vêem que preciso evitar o caos da minha falta?"

Por mim, ó homem torturado, eu te abençoo: escolhe tu. Só tu e os teus amigos. Tens legitimidade, meu Deus, dou-ta também eu, se a quiseres, para isso tudo. Faz um congresso com os teus amigos, faz mesmo dois. Ou não faças nenhum, caso te pareça. Mas decide tu, por Deus, decidi vós. Fiques ou vás, que a decisão seja tua, que a tua substituição (se fores) seja toda vossa, que eu espero o que for preciso para não ter de partilhar contigo (e com os teus legitimados amigos) essa tua conquistada (e merecida) responsabilidade de decidir por mim. Muito menos agora, que a hora é difícil e reservada aos heróis do destino. Do seu destino. Decide, homem dividido. Deus te ilumine, não contes é com a minha pequena lanterninha, que dá pouca luz. Tu mereces, vocês merecem, esta confiança ilimitada que coloco, pio, cegamente confiante, no vosso justo arbítrio.
O cálice, o honroso cálice, por mim, será todo vosso. Até ao fim.

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