Picanhas e feijoadas
Não ouvi nada da banda sonora da Frida, que asseguro ser do melhor que há, mas bebi em conluio com alguns amigos uma garrafa de Evel Grande Escolha 2000 e uma outra de Chryseia 2000.
O primeiro era mais óbvio mas nem por isso menos complexo. Frutos vermelhos no primeiro ataque ao nariz. Muita suavidade na boca, quase veludo, já pronto a beber.
No "afrancesado" topa-se à distância o toque do Bruno Prats, a riqueza dos tintos do Douro num modo austero mas ao mesmo tempo complexo. Especiarias, fumados, muita fruta que quase se trinca.
Enfim, uma noite enófila de categoria, terminada com uma aguardente velha da Aveleda que potenciou a cavaqueira.
So foi pena a noite ser pouco espanholada.
Un poquito de salero y seria perfecto...
Nacos e enchilladas
Um solícito benfiquista acaba de me deixar aqui a Banda Sonora da Frida. Escrevo enquanto ouço música mexicana de sonoridade trágica, que curiosamente condiz com a rogosidade das terras maronesas onde, embora em consórcio, bebi uma boa parte de uma garrafa de martini bianco, em cumprimento do impositivo
happy hour. Para meu desgosto, o cabrito já assa em forno lento. Mas há
eisbein, felizmente. Sem
sauerkraut, mas com batatinhas.
Equívocos II
Acho que anda tudo enganado a propósito dos incidentes no balneário de Clermont-Ferrand.
Já ouvi falar de miúdos, de putos, de rapazes mas, pelo que me parece, eram homens que estavam lá dentro e que causaram os estragos que todos vimos.
Que eu saiba, não havia por lá ninguém com menos de dezanove ou vinte anos e até deve ser por isso que o escalão se chama sub-21, havendo outros que se chamam sub-20, sub-19 e assim sucessivamente.
E, sendo homens, não pode haver palavras meigas nem gestos complacentes como os do treinador Romão ou os do Presidente da FPF.
Os senhores que destruíram o balneário têm de ser exemplarmente punidos pelos seus actos e não é o pagamento dos estragos que repara a falta de educação.
Para senhores que ganham muitos milhares de euros por mês isso são
peanuts.
E não acho que uma punição exemplar possa ser um sinal de fraqueza para o exterior. Já começo a ficar farto da cantilena dos brandos costumes.
Por mim, esses homens não servem para representar Portugal. Pelo menos enquanto eu me lembrar deste infeliz episódio.
Do mesmo modo que o senhor Madaíl e as suas tibiezas também não serve para representar a FPF.
Prova mais do que evidente, é o infeliz
comunicado emitido a propósito deste jogo.
Em primeiro lugar dão-se os parabéns pelos feitos desportivos e depois fala-se do resto. Ou seja, varre-se o lixo para debaixo do tapete quando devia ser varrido para fora da selecção.
Mas, aos costumes e á boa maneira portuguesa, parece-me que vai ficar tudo em águas de bacalhau.
Começa-se por deixar passar uns tempos a ver se a coisa esquece e depois dá-se um cascudo nos
putos e diz-se: "Para a próxima mais cuidado com os tectos baixos".
E faz-se um acto de contrição, juntamente com a promessa de nunca mais jogar em estádios que não tenham balneários à prova de comemorações efusivas.
Só espero que Portugal não ganhe o EURO 2004, caso contrário, imagino em que estado não vai ficar o balneário do Estádio da Luz.
Incúria
Pacheco Pereira escreveu sobre a incúria. Tem de haver incúria, clamou ele. Tem de a haver. Incúria!!!! Onde andas que te mato!!
Intitulou a posta de "Fragilidades". Acho bem. É o menos. E, que há-de haver incúria, há-de. Até na pontuação com que PP polvilha, às vezes, sua prosa.
O pior foi ter parecido, mais uma vez, uma daquelas "peixeiras da televisão" que clamam, em altos berros (basta verem uma câmara que se esganiçam), que "não há direito!", que "tem de haver culpados!", que "este país assim valha-me Deus!".
Ele não berrou, evidentemente, porque sussurra sempre.
Viva España!
Devo, entretanto, congratular-me com o
sobrinho da Tia Lólita galega, que mostra ser, apesar do seu passado neo-fascista, um homem de bom gosto cinéfilo. Quando estiver com o Javier, mande-lhe saudades da lolyta. Ele há-de lembrar-se de mim, porque eu entrei como figurante (ler figurante!, en castellano!) na cena inicial do violento protesto dos trabalhadores navais. Lamentavelmente, tinha um pneu à minha frente, o que me impediu de atingir o estrelato e fez com que fosse a Rosario Flores a escolhida para
torera pelos senhores da Deseo, SA.
Ó besugo
Se te agrada a ideia de um brainstorming, então havias de assistir a um outsourcing...
Brainstorming
É aquela espécie de catarse que parece uma RGA, mas as pessoas estão bem vestidas enquanto espremem as meninges e há um orientador, não é? Para assegurar que as meninges se espremem para o sítio certo...
Enfim, é uma tempestade cerebral com alguma coisa de bacanal. São vários a relampejar. E rima. É fatal.
Sou capaz de vir a gostar disso. Hei-de estar mais atento ao boletim meteorológico.
Performances
Oito horas, fim de tarde. Fechei a porta do gabinete e iniciei a entrevista. A avaliada mostrava-se expectante, algo assustada. Eu também, depois de ler a papelada que me mandaram os cinzentos e pastosos colegas dos recursos humanos, aqueles que passam anos a produzir papéis inúteis para preencher, sempre acompanhados de manuais de instruções, indicador este que, só por si, diz muito sobre a obscuridade imbecil dos papéis em questão. O processo de avaliação vinha, portanto, acompanhado do sempre presente manual de instruções, que li na diagonal uns minutos antes. Proactividade, acolhimento, competências técnico-funcionais, projectos para o futuro, objectivos para o próximo ano, avaliação funcional, o caraças! Detive-me, então, mais atentamente, em algumas afirmações intrigantes.
"O avaliador deverá procurar fazer a entrevista num local que garanta a privacidade, em honra à intimidade do avaliado". "O avaliador deverá procurar avaliar, de boa fé, as competências do avaliado"."Sempre que necessário, o avaliador deverá assegurar-se de que o avaliado compreendeu os comentários feitos à sua performance no período em avaliação". Donde se retira, inevitavelmente, que os avaliadores são uns sacanas que aproveitarão a entrevista para convencer o avaliado de que ele vale menos do que zero na organização: daí o alerta oportuno e expresso à boa fé. Estive para me impôr um retiro espiritual, de forma a buscar essa bendita boa fé dentro de mim, purificando-me dos meus pecados antes de iniciar o tão sagrado acto de avaliar. Por seu turno, os avaliados são colaboradores pouco dotados de neurónios, presumindo-se que muito provavelmente eles não compreenderão à primeira explicação os comentários que lhes dirija o avaliador. Já imbuída da mais pura e abundante boa fé, tratei imediatamente de arranjar papel suficiente para rabiscar os desenhos que se mostrassem necessários para que a avaliada, coitadita, ficasse por todas as formas esclarecida das verdades cruas que eu lhe iria ditar. Se dependesse de mim, o cerebrozinho - genial, admito - que um dia inventou os sistemas de qualidade nas empresas devia estar preso o tempo suficiente para o obrigar a inventar um sistema de descomplicação, ficando expressamente proibido de nele usar expressões nauseabundas como performances, brainstormings, outcomes e afins.
Conselhos de besugo (I)
O presidente da FPF, Gilberto Madaíl, esmerou-se. Perante a questão de "quem vai pagar os estragos nos balneários franceses?" respondeu, pragmático, que seriam "os jogadores, claro!". E até ironizou, de pêra: "que eu não estava lá!".
Pois não, ele não estava lá. Nem a FPF lá estava. Ou melhor, dentro do campo, durante o jogo, estávamos lá todos. Madaíl incluído. Nos balneários não estava ninguém, eram só eles, o bando de energúmenos.
Eu já me palpitava: NÓS ganhámos aos franceses, mas OS PUTOS são umas bestas!
Senhor Madaíl, faça assim: o senhor e a sua FPF paguem a despesa que houver. Os putos estavam a representar Portugal por intermédio da sua sigla, reparou? FPF, exactamente. E depois, como eles (ou alguns deles, a gente não sabe quais foram, ou sabe?) foram arruaceiros, puna-os disciplinarmente. Puxe-lhes as orelhas em casa, que a gente já se humilha suficientemente perante as Franças e as Alemanhas nas questões "Leiteiras". Além disso, a despesa da educação também é sua, não lhe parece?
Penitências
Por muito que me custe, tenho de dar razão ao Paco e, na mesma linha de raciocínio, ao
C.A.A. : é que eu não sei se o homem é o pior treinador do mundo, mas que o Sporting está a jogar como se fosse a pior equipa do mundo, está. E não é, bolas!
Os senhores não estariam interessados numa retoma barata?
(E, já agora, não nos dispensariam o Derlei e o Ricardo Carvalho?)
As aventuras de Dupont
Engano número 1 de Dupont
Eu não sei se você é uma pessoa genuinamente desatenta,
Dupont. Talvez seja, mas também pode acontecer que se trate duma pessoa extremamente selectiva na triagem da informação que é colocada ao seu dispor, deixando-se penetrar, apenas, por aquela que lhe interessa mais, lhe parece mais bela ou mais estimulante.
Seja como for, ou por desatenção, ou por excelente filtragem, você não reparou (ou não lhe apeteceu reparar) que, apesar de o ter feito de forma lerda e desengonçada (é a história dos pilritos, do Eça...e eu chamo-me
besugo pilriteiro lopez), eu lá respondi ao seu amigo
Dupond, aí para baixo, sobre a questão das Faculdades de Medicina. Ou melhor: eu esguichei, conforme pude, o que pensava sobre a questão, sem pretender estender uma polémica que ameaçava deslizar para aquela coisa desinteressante em que, inevitavelmente, o Dupond me atiraria à cara que
“você fala assim porque é de esquerda e, mais irrelevante do que isso, é do curso de 1985!” E eu, envergonhadamente, teria de me calar, até porque as verdades do Dupond são duras como punhos, pelo menos na opinião de Dupond ( e, como eu também lia o Tintin e o leio a si agora, nem lhe pergunto se concorda).
Ou seja, você diz que o Dupond me calou, mas não me calou, de facto. Deve ter sido a tal questão da sua desatenção, ou da sua triagem exigente, estou em crer.
Engano número 2 de Dupont
Desaustinado, você rotula-me de esquerdista e idealista, acusando-me de ser conivente com
varreduras para a valeta de sociedades que se atravessaram no nosso caminho (idealistas e esquerdistas, suponho eu, somos nós... enfim, esta corja que nós somos).
Bonita vai a conversa. Não pode um besugo fazer um sorriso perante uma “atravessadela” do vilacondense que lhe é logo aposta rotulagem? Quer dizer: vocês, aí, postulam que
“a Direita está viva, sabe o que quer e, melhor, sabe escrever o que quer” ...e que a Esquerda
“...lá vai acenando a sua presença, discreta e envergonhada, com honrosas excepções, como o Barnabé ou o Blog de Esquerda”, vocês atravessam-se com isto, com este onanismo impúdico, este esgalhar sorumbático, peremptório e doutoral “com a gente a ver”, e um besugo não pode ficar divertido? Tem logo de ser de esquerda? Eu não lhe comuniquei que era de esquerda, caro Dupont! Às tantas é você que lê mais do que eu escrevo, dumas vezes, e doutras nem o que eu escrevo lê! Estranho caso o seu.
No entanto, deixe-me dizer-lhe o seguinte: não estou a insinuar-lhe que anda longe da verdade. Talvez ande perto, mas não é a bater à porta dessa maneira, às punhadas, que passa da soleira.
Quanto ao desajuste entre o idealismo e os mundos imperfeitos, muito me entristece reparar que você parece preferir desdenhar os idealismos a melhorar os mundos. Se eu fosse um polemista do seu calibre quase me atrevia a considerar que você gosta mais dos mundos assim, imperfeitinhos, e quem não estiver bem que se mude! ... Mas não considero. Acho que não deve ter sido bem isso que você quis dizer. Saiu-lhe foi assim.
Engano número 3 de Dupont
É a história dos genéricos. Você não leu (sempre desatento, ou selectivo até ao paroxismo...), certamente, outra insignificância que eu escrevi, logo acima da “besugada” que tanto o enervou. Se quiser fazer o favor de confirmar, eu disse que nada me movia contra os genéricos. Pois foi.
Por isso, caro Dupont, lá está você a atirar pedras enormes, autênticas fragas, sem necessidade. E a falhar a pontaria, ainda por cima. Sujeito a fatigar os seus pobres pulsos em vão, homem! É verdade, Dupont: eu gosto dos genéricos.
Quer saber doutra, que lhe vai dar inenarrável gozo? Eu conto-lhe: vamos lá a acabar com os compadrios todos, quer você? Conte comigo! Na medicina, na construção civil, na justiça, no jornalismo, no ensino, na arte da serralharia mecânica, onde você quiser! Em se provando que há compadres, que é preciso essa minudência (não é só bramar), soltamos-lhes os cães. Está de acordo?
Nota final ao Dupont
Agora, se tiver paciência, leia estas linhas. É só para lhe segredar mais duas coisas, pode ser?
1 – Quero ser eu, como médico, a decidir se um doente que me procura vai tomar um medicamento genérico ou não. Eu prescrevo genéricos sabe? Mas quero ser eu a assumir a responsabilidade da minha prescrição, por cujas consequências estarei na disposição de responder sempre, em qualquer caso. Perfeitamente ao dispor para explicar a quem de direito a minha prescrição, porque não tenho “rabos de palha”. Como muita, muita gente não tem, aliás. Percebeu isto? Parece-lhe mais de direita, mais de esquerda, um idealismo, enfim, que lhe parece?
2 – Você atira-me uma última fisgada, que é aquela coisa do “cambão na sacrossanta profissão...”. Quero dizer-lhe que nem esta você acertou, caro Dupont. Por estranho que lhe pareça, eu sei que os médicos são homens e mulheres iguais aos outros! Eu juro que já sabia, acredite. E que estão sujeitos às mais inconfessáveis tentações! Como os outros, Dupont, exactamente! Olhe, como os farmacêuticos, por exemplo! E na sua subscrição daquilo que eu chamei
“a regra geral do interposto farmacêutico” (enfim, foi mais ou menos assim) não o vi, sequer, questionar-se sobre a imunidade desse respeitável grupo profissional às tentações da carne... Desconfia mais de médicos, é, Dupont? E, se sim, tende a medi-los, a todos, pela mesma rasa? Faz assim com todos os grupos profissionais ou só com alguns? E isso é de direita? Ou é de esquerda? Ou é só nervos?
Se for só nervos, proponho-lhe um Xanax. Mas se preferir um genérico, avise!
Com consideração.
Equívocos...
Eu sei que não fica bem vir dizer isto nesta altura mas...,ao contrário do besugo, digo mesmo.
Quando o Sporting decidiu contratar o Engº do penta para treinador, eu disse: "Mala suerte..."
Os brutos, nem depois do triste exemplo que o homem deu no FCP aprenderam.
Bem me lembro depois de cada jogo perdido, empatado, mas acima de tudo mal jogado, o meu companheiro de viagem Espírito Santo (também engenheiro por sinal mas bem melhor nas tácticas...), chegado ao alto de Quintela trazia geralmente uma dor de cabeça do tamanho do Mundo e pedia a quantos santos havia: "Levem-me aquele homem embora"!!!...e os gregos lá levaram, mas por pouco tempo.
Cheguei a pensar que Portugal se tinha livrado da peça, assim como a Manuela Ferreira Leite se quer livrar do défice, mas não.
Tinham de aparecer umas almas bondosas que acharam que depois do Bolöni era o Engº Fernando que ia levar a lagartagem a dar uns chutos de jeito na bola.
Bô era!
Era o mesmo que a mim, apesar de cantar quase tão mal como o Elvis Costello, me dar agora para ir fazer uma tournée de 40 concertos nos Estado Unidos acompanhado pela Lena d'Água. Haveria pateada certa todos os dias...
Bem, ao Mendes Bota e ao Jorge Coelho, também já lhes deu para cantar e não lhes caíram os parentes na lama por causa disso.
Mas voltando à vaca fria ou melhor, ao cadáver do treinador depois da derrota vergonhosa, por favor não mandem o senhor embora até porque ainda não chegou o Natal.
É a chamada síndrome das rabanadas.
O Fernando Santos é apenas mais um equívoco.
Tal como ter um peixe a fazer de Primeiro-Ministro, um dandy vitoriano amigo do Oscar Wilde como ministro da Defesa, uma adida cultural em Londres eleita pelo círculo de Castelo Branco ou soldadinhos de chumbo em missão num teatro de guerra.
Mala suerte...
O que eu vi, com tristeza.
1 - Vi uma equipa turca, que tem nome, chama-se Gençlerbirligi. Pode até ser uma equipa com um nome ridículo do nosso ponto de vista, que é sempre tão esteticamente exigente... Mas eu vi essa equipa ser melhor do que o Sporting lá (em Ankara) e cá. Independentemente de não haver um idiota dum comentador televisivo que seja capaz de lhe dizer o nome, mesmo aportuguesado. Gençlerbirligi.
2 - Vi uma equipa turca determinada, rija, que me fez lembrar o Gil Vicente, o Braga, equipas assim de músculo, organização e alguma (demais, pelos vistos) qualidade. Daquelas equipas que nunca serão campeãs mas que, bem medidas, bem avaliadas, logo percebemos que não estão ali para brincar, para ser comparsas de festa nenhuma, organizada por parolos nenhuns. Tanta porrada levámos, já do Gil e do Braga que, desde o início, aquilo me pareceu "filme visto".
3 - Vi uma equipa turca que mereceu a sorte que teve, porque a sorte, se for assim "exuberante demais", não explica tudo. Mesmo que seja merecida, como foi o caso.
Meu Deus. Eu sei que isto é só um jogo de futebol, começa e acaba, não interessa nada. É mais ou menos como a vida, às tantas... Tão triste, às vezes. Sejam as tristezas passageiras....(
interpretem isto como um interlúdio musical).
Não me parece pertinente analisar os jogadores do Sporting. Se fossem muito melhores do que são, não estavam em Alvalade. Temos um bom guarda-redes, um bom central (Polga), um bom médio (Rochemback) - mas a jogar caoticamente. E um avançado que é codicioso e se chama Liedson. Isto não faz uma equipa. Quanto mais uma equipa boa.
Nada me move contra o engenheiro Fernando Santos. Tenho é a noção perfeita de que, hoje, como em outras alturas, o engenheiro não foi um condutor de homens. Foi um homem à deriva, timoneiro de barcaça sem grandes marujos. Amuado, arreactivo, cinzento. Incapaz de, com os marujos que tem, manter o barco à tona. Um capitão destes está talhado para imediato. Sempre esteve. Não digo mais nada.
Arrepia-me sempre ouvir assobiar os nossos. O silêncio reflecte melhor o desgosto. E é mais digno. Ver palhaços-de-bancada, vestidos de verde, rindo às gargalhadas (nervosas, de frustrado) enquanto acenam pedaços de papel higiénico branco, despedindo o treinador que não ganhou, é deprimente. Mais deprimente, mesmo, do que ter a certeza que o treinador não serve. E, essa certeza, eu tenho-a. Não serve, mesmo. O que nunca exigirei é que o despeçam. Interpretem o meu silêncio, que é sempre melhor que a injúria.
Não me sinto com vontade, porque estou muito triste, de dizer porquê.
Cosa nostra
Causa nossa, quero dizer. Oito notáveis, afirmando a uma voz que pretendem ser "uma referência na esfera bloguística". Ora essa! Isso conquista-se primeiro e afirma-se depois (sempre sendo, porém, uma afirmação de gosto duvidoso). E vejam lá se, pelo menos, os membros masculinos do blog passam a escrever como
Manéis, que eu até agora só vi
Marias (?) a escrever. Vá, tentem de novo, mas desta vez sejam modestos, como maçaricos que são. Blogosfericamente falando, é claro.
Assuntos sérios (apêndices)
1 - Juro que nem me lembro, pela saúde da minha santa Mãe, do infame laboratório que produz a marca "Lasix". Que é tão bom.
2 - Juro, ainda, que nada me move contra os genéricos. Aliás, a esta hora da noite, salvo honrosas excepções (lá está, nada de generalizar, a não ser brincando), nada parece capaz de me mover da infame decisão de repousar.
3 - Anulado, por causa de 2. E de 1, vendo bem as coisas.
Assuntos sérios
Devem ser tratados seriamente. Os outros é conforme. O "pragmatismo" é excelente virtude, a menos que a experiência nos aconselhasse outra modéstia. E a ignorância (mesmo que ignorada, exactamente) leva o pragmatismo ao atrevimento paroxístico, diletante, chocarreiro, simplista. Nesse caso, o "pragmatismo" é, apenas, impúdica e atrevida jactância.
O
vilacondense, por interposto farmacêutico, veio aí com regras gerais simples para genéricos. Pelos vistos, infalíveis. Como todas as regras gerais feitas por generalistas.
Eu, que já tratei muitos edemas agudos do pulmão (é um quadro clínico espectacular: morre-se mesmo!) com "Lasix" (é um diurético de ansa,
antigo como as verdades, cujo princípio activo é a furosemida) e - por falta de alternativa - com variados genéricos do mesmo princípio activo, garanto-vos o seguinte: não sabeis do que falais.
Mas falai para aí. Que também não quero estragar-vos o sonho da
direita pujante e da esquerda envergonhada (com raras excepções, dizeis
vosotros). Muito menos com genéricas questiúnculas...
Comunicado
Depois dos insistentes pedidos do besugo (que, tenho a certeza, são subscritos pelo Alonso, que só não pediu expressamente porque é mais caladito) linkei a mixellita na coluna à esquerda. Eu juro que tentei fazer deste blogue um blogue sério. Mas reconheço, enfim, que o tema "Marssel" dá pano para mangas...
Graças a Deus, Portugal está salvo!!
Por intermédio da
mixellita (que, como nunca me cansarei de dizer, conheci por intermédio do
alonso!) adquiri ciência da existência de outro interessante blogue. Que se chama
"Os mais feios da net".
Ou seja, o que eu quero dizer é o seguinte: se eu fui tomado da perversa curiosidade de saber se a gesta de Pacheco Pereira teria, já, atravessado o Atlântico, a culpa é TODA do alonso! OK?
E, pelos vistos, não atravessou...
Post nacionalista
Ele há alguns portugueses - demais, se calhar - que vivem atormentados com aquilo que pensam de nós todos, "lá fora", os outros. É uma preocupação vã, parece-me. Antes de mais, porque suponho que nenhum estrangeiro (uso esta designação por facilidade de expressão, só para acentuar essa intrigante e tão cultivada dicotomia
português/estrangeiro) se mace a pensar em nós, portugueses, mais do que dois minutos por semestre. Quando muito. Naturalmente, eles lá terão a vidinha deles e mais em que pensar do que "na imagem dos portugueses" (seja lá o que isso signifique, porque para mim não significa nada), problema obcessivo e sempre presente no tuga típico, preocupado com o eterno complexo da opinião que o vizinho tem sobre o seu
way of life e, sobretudo, sobre a integridade da sua pessoa (que nem sempre é a melhor, pelo menos estatisticamente). Ora, este complexozinho individual, transformado, pela justaposição dos milhões de complexozinhos de cada português, num grandioso e aterrorizante complexo colectivo, redunda na maior parte das vezes neste entediante cliché que esta
maliciosa bloguista reproduziu no seu blogue:
"Entretanto, vão reforçando assim a péssima imagem que os portugueses têm no estrangeiro." Mas no estrangeiro têm alguma imagem de nós? Péssima, ainda por cima?
Vejamos. Portugal não possui sequer importância política, económica, cultural - até futebolística - suficiente para que se forme no espírito de qualquer estrangeiro uma ideia agregada, preconceituosa ou não, do que são os portugueses. Há portugueses com protagonismo internacional, mas não há protagonismo internacional dos portugueses. Para o melhor e para o pior, a verdade é que somos uma nação periférica, com muito pouco peso e influência no que quer que seja, incluindo nos nossos próprios destinos nacionais. E a diáspora lusitana, profundamente marcante durante séculos, corre hoje grandes riscos de ser diluída no pesado e inevitável ocidentalismo anglo-saxónico que espalha, sem que o possamos evitar, todas as variantes da sub-cultura norte-americana, massificada e alienante como o ópio do Senhor Mao.
Eu por mim garanto que não gasto mais do que os mesmos dois minutos semestrais a reflectir sobre a opinião que têm os franceses, os ingleses, os americanos, ou até os marcianos, que nem são deste mundo, sobre nós, lusitanos. Até porque a verdade é que eu nem sequer tenho grande opinião sobre os referidos franceses, ingleses e americanos, por variadissimas razões que agora não vêm aqui ao caso (abstendo-me, por razões que me parecem evidentes, de emitir opinião sobre os marcianos). Desconfio, além do mais, que nenhum deles se importará por aí além com aquilo que, nós, os portugueses pensamos deles, estrangeiros. Não há, julgo, memória de qualquer governante inglês (ou de qualquer inglês não governante) a lamentar-se da
péssima imagem que os hooligans do manchester united passam do reino para os portugueses. E assim é que está bem. Deixemo-nos, pois, destas lamúrias fáceis e inúteis. Esqueça-se o raio do balneário que os putos do futebol destruiram em França, porque isso só acidentalmente aconteceu com portugueses, bolas. E lembremo-nos de que só tem legitimidade para censurar o que está mal quem se sentir suficientemente português para apoiar incondicionalmente a selecção,
sobretudo quando perdem jogos ou pelo menos não metem golos. Scolari à parte, claro.
Los lunes al sol
Han pasado um par de dias desde que terminamos la grabación y la mezcla de la música para "Los Lunes al Sol". Escucho hoy el resultado y lo primero que me viene a la cabeza es preguntarme si esta música no existia ya en algún rincón de mi memoria... (Lucio Godoy)
O filme é comovente, puramente comovente, não sei se me faço entender. Assinalo, ainda, que o Javier Bardem faz parte do elenco, o que, para quem o conhece, é uma referência indispensável. E a
música... é perfeita.
Confissão
Antes de mais, sou bem mandado. E como me mandaram escrever aqui estou eu, escrevendo.
Tenho que explicar melhor as razões do meu silêncio: não é tanto a angústia de os meus clientes não tirarem as peúgas quando me consultam (a mim angustia-me é saber que as clientes do besugo tiram as peúgas ... e o resto. Pobre besugo ... ).
Assim, passo a explicar a minha crónica falta de assunto digno de Vexas. E confesso, mortificado, que não tenho televisão em casa, desde o início deste ano de 2003.
Melhor: eu ter televisão até tenho. Mas não está ligada ao mundo, nem por cabo, nem por antena. Aliás, nem está na sala em que o cabo poderia ser ligado. Está noutra divisão, acoplada a uma PS2 (que, para quem não sabe, é também um leitor de DVD) e a um VHS. Tenho ao longo deste ano, graças ao "público" ou ao "DN", aumentado exponencialmente a minha DVDteca. E já tinha uma apreciável colecção de filmes em VHS.
Assim, quando chego a casa, normalmente tarde, janto e: a) jogo; ou: b) vejo um filme.
Com tudo isto, tenho perdido, sem pena nem remorso, as bocas da MMG, o relinchar da TG, as boçalidades do PC, as vaidades do MRS, os sofismas do JPP, o sorriso sonso do nosso PM, e até o olhar furtivo para as câmaras a que o PP não resiste quando diz qualquer coisa que acha que é um "sound byte". Não vi as inaugurações dos estádios do FCP, do SLB ou do SCP. Não vi a GNR partir para o Iraque. Não vi o debate sobre se há ou não há falta de médicos em Portugal. Não vi, e não vejo.
Sirvo-me do meu "Público" diário e por vezes da TSF para ter uma ideia do que se passa no mundo. E é no blogamemucho que mantenho a minha dialéctica mental activa (discordo de tudo o que escrevem, salvo evidentemente aquilo com que concordo).
Não pensem que é uma atitude deliberada ou uma postura de protesto assumida com radicalidade. Foi por acaso. Mudei de casa e quando mudei estive uns tempos sem me instalarem o cabo. Quinze dias, talvez. Mas chegou para perceber a falta que faz a ligação ao exterior daquele electrodoméstico. Muito pouca. E se ele servir para ver filmes e jogar, aí está uma excelente forma de o utilizar, sem se ser intoxicado por programas, notícias e concursos que estimulam menos os neurónios do que um balde de tinta usado.
Porque o balde de tinta usado ainda nos põe a pensar nas vantagens da reciclagem de resíduos sólidos, a perguntarmo-nos a nós próprios porque é que nunca mais ouvimos falar da co-incineração e o que é que se estará a passar com o tratamento de resíduos em Portugal. Mesmo que saibamos a resposta: provavelmente nada.
Gargalhada de besugo (I)
O alonso, salvo em dezassete ocasiões (que não vêm ao caso), só me tem dado bons conselhos. Ciente dessa vertente pedagógica do meu camarada de blog (esta do
camarada vai fazê-lo convulsivar...) resolvi visitar a
mixellita. E recebi tal lufada de frescura tropical que ainda estou com dores no diafragma (que é o órgão da boa disposição, evidentemente). Respigo duas
postas que lá li, com a devida vénia. Com a devida vénia o caraças! Com a devida gargalhada!
A primeira é esta:
FRASE DO DIA
"Antigamente, a mulher dava a bunda pra não perder o cabaço. Hoje em dia, ela dá a bunda porque gosta de tomar no cú mesmo .. "
Eu bem me parecia....
E ainda
esta pérola, que me faz lembrar uma "portuguesa alternativa" com mau feitio que, há uns tempos, foi entrevistada pela Luísa Castel-Branco:
Sobre esta,
a mixellita afirma que
"Falta de piroca também dá nisso...".
E é bem capaz de ser verdade...
Nota à lolita: é favor acrescentar este blog aos nossos links; obviamente, à responsabilidade do alonso!
Haiti
O poste do Alonso fez-me vir à memória os dados - arrepiantes, na perspectiva de um europeu, ou melhor: em qualquer perspectiva, que este género de coisas não se relativizam - sobre a criminalidade no Brasil. Tinha, quando lá estive, o hábito de ver o telejornal da TV Globo ao fim da tarde. Habituei-me, como os brasileiros, a diariamente (e é mesmo
diariamente) saber de homicídios, assaltos e motins que não eram, sequer, notícias de abertura, de tão banalizados. Num desses dias, fiquei a saber que nesse ano - em 2002 - a polícia do estado do Rio de Janeiro tinha matado,
no cumprimento do dever, oitocentas e tal pessoas. Sem contar com as cifras negras, dizia o pivot. De uma outra vez, estarreci perante a notícia de que a linha amarela (a auto-estrada que liga a ilha do Governador, onde se situa o Galeão, à cidade) tinha sido palco de um tiroteio entre polícias e favelados que, na sequência de um acidente que causou um congestionamento de tráfego, saltaram para a via e desataram a assaltar os automobilistas de arma em punho. E que há-de ter redundado em mais um sinistro episódio de extermínio, a qualquer custo, da bandidagem carioca, tão arrasadoramente descrita no Haiti, a letra mais inspirada de sempre do Caetano:
pra ver do alto a fila de soldados, quase todos pretos/dando porrada na nuca de malandros pretos/de ladrões mulatos/e outros quase brancos/tratados como pretos/só pra mostrar aos outros quase pretos/(e são quase todos pretos)/e aos quase brancos pobres como pretos/como é que pretos, pobres e mulatos/e quase brancos quase pretos de tão pobres são tratados, perpetuada geração após geração. E no duro e impiedoso
Inferno, da Patrícia Melo. E no
Cidade de Deus, que vi quando estive lá, num cinema repleto de adolescentes classe média-alta que se riram o tempo todo. Apesar disso, os brasileiros pobres – a esmagadora maioria - são resignadamente felizes nas suas vidas remediadas sem outra estratégia que não seja a de cada dia que passa. Orgulhosos do que têm, artistas em quase tudo o que produzem. O Brasil é assim. Incompreensível.
Elites de papel
Discussão pública de dois temas distintos como se fossem um só. Evidentemente, na RTP-Um.
Aparentemente, para os intervenientes, reflectir sobre a carência de médicos em Portugal (entendidos como prestadores de cuidados de saúde) e sobre a investigação científica nas Faculdades de Medicina, constitui-se num problema uno e indissolúvel. Pelo meio questiona-se, ainda, a capacidade formativa das Faculdades, metendo no mesmo saco a capacidade de formar profissionais de saúde (competentes, humanistas, universalistas, etc...) e a possibilidade de proporcionar aos universitários (no caso, aos estudantes de Medicina) outras actividades importantes, indispensáveis, mas menos. Do meu ponto de vista, desculpem, neste momento, bastante menos. Falo da investigação científica.
Entre citações de Abel Salazar (é pacífico que um médico, como um engenheiro de sistemas, ou, mesmo, um torneiro mecanico, será mais completo na sua actividade humana se não souber, apenas, do seu ramo de actividade técnica; não seria necessária a intervenção de uma cientista que “esteve no estrangeiro” para tal lição...) e intervenções de secretários de estado, ficámos cientes do seguinte:
1 – Há falta de médicos em Portugal, sobretudo em áreas importantes como a obstetrícia, a pediatria e a clínica geral.
2 – Há portugueses (cerca de um milhão e meio) que não têm médico de família.
3 – Há muitos médicos a atingir a idade da reforma, o que agravará o problema das carências a prazo calculado.
Não ficámos a saber, mas sentimos isso diariamente, já sabíamos: os portugueses, duma maneira geral, têm má opinião sobre o seu sistema de saúde. E, muitos dos portugueses que têm essa opinião, são médicos. E alguns, de entre esses médicos, podem manifestar honesta e veementemente essa opinião sobre o sistema, porque, muito simplesmente, não o minam por dentro. Eu esforço-me por pertencer a este grupo e é por isso que “lanzoo”. Sabem o que é “lanzoar”? Ora bem.
Posto isto, a questão ... são duas.
1 – Se há falta de médicos em Portugal e estão identificadas as especialidades e as áreas geográficas de maior carência, há que formar mais médicos, explicar-lhes que o sistema (o povo, meu Deus!) carece deles – e por isso, só por isso, muitíssimo bem a meu ver, vai investir mais na sua formação – e que, em querendo, serão médicos porque o país deles necessita. Nobre razão.
2 – Se o país se sente envergonhado com a escassez de formação científica (a investigação) nas Faculdades de Medicina, o país que invista, imediatamente e em força, nessa odisseia galvanizante. Estejam à vontade! Criem-se investigadores, em barda! A meu ver devia o país, prioritariamente, investir na formação de
médicos que soubessem ver doentes, que pelos vistos faltam, esforçar-se no desiderato comezinho de “qualquer português há-de ter um médico”. Mas o país, na sua sabedoria antiga, pode achar o contrário...
Ora, acontece que o país não acha o contrário, sejamos justos. A bem dizer, o país não acha nada. O país quer tudo (mais e bons médicos, mais e bons investigadores, tudo misturado...) e, nesse querer absoluto, tem andado a pagar especializações em cardiologia, oftalmologia e otorrinolaringologia, quiçà em dermatologia, especialidades que se vocacionam (de forma indesmentível, andamos aqui a brincar?) para... enfim, para a exploração privada do saber. Frase elegante, que define a verdadeira autofagia dum sistema promíscuo que é o nosso. E o país alinha nisto “descurando de si”. Um país que se descura por algumas purpurinas. Não é propinas,
amigo Dupond (lembrei-me agora do meu vizinho vilacondense!), é purpurinas. É que são, mesmo, resmas de fogo fátuo.
Quanto à capacidade formativa de médicos, desde logo vocacionados para as carências de Portugal (e só assim concebo que Portugal neles invista), as Faculdades têm-na. O meu curso, no Porto, tinha
“240 e tal” alunos. Em 1985. Claro, havia dois turnos, para as teóricas. E ninguém ficava de pé. Ora, acontece que os cursos de agora são menores, senhores! Acreditam? São bem menores! Pois é que são mesmo! E doentes, senhores, infelizmente, continua a havê-los em barda. Eles brotam, aos borbotões, da nossa sociedade pobre, triste, mal lavada. E professores parece que sim, também os há. Alguns até se mantêm ocupando, "estoicamente", vagas em quadros hospitalares, apenas por esse “docente” motivo, já que a actividade clínica, enfim, se calhar legitimamente, os não seduz. Pelo menos nos hospitais públicos...
Não baralhem a formação de necessários médicos, sem hesitação direccionados para as necessidades dos portugueses, com a (mais dispendiosa, porque mais específica) formação de cientistas "tout-court" (que eu não disse, em parte nenhuma, que não são importantes) e verão que resolvem o problema da assistência médica, pelo menos na sua vertente básica, em Portugal.
O resto virá depois. Os alicerces antes do telhado, e que os alicerces sejam cada vez mais sólidos.
Em alternativa, deixemos andar assim. Deixemos que Portugal pague, do seu bolso, a formação de
empresários da saúde. Há-de ser possível, sem dúvida, regulamentar a actividade duma legião de profissionais liberais vocacionados para “atender” quem puder pagar. Sobretudo se os casos graves continuarem a ser, depois, resolvidos no sistema público. Que há-de ser, sempre, o domicílio dos melhores médicos. Eu isto afirmo assim, seco e consciente. Sistema público esse que, por essa vindoura e altaneira altura, se chamará, simplesmente,
“sistema dos pobres”. E com razão, porque esta é uma alternativa
pobre, do ponto de vista civilizacional e da cidadania. Não há condomínio fechado que justifique um ghetto. E, muito menos, que nele se justifique. Ao menos que enrubescessem ao defender certas coisas.
At last
E eu a pensar que andavas
demasiado ocupado com
demasiado trabalho, a que te dedicas com tanto empenho como a angústia que confessas sentir por não teres clientes que tirem as peúgas na tua frente. Mas, alonso, este blog precisa de forças de bloqueio e eu sozinha não tenho vida nem engenho para travar os ímpetos do
lauréat besugo. Lembro-te, também, o sinalagma do vínculo que nos liga a todos neste blog: isto não é só uns a dar no duro para os outros lerem em silenciosa beatitude! E olha que, além disso, ler muito faz mal à vista. Se esse é o caminho que te convém, faz o favor de continuar a procurar no google o mote inspiratório. Mas escreve, porra! Entretanto, tomei a liberdade de pôr o link da mixellita no teu poste, para te libertar dessas minudências. Com votos de abundante e profícua inspiração,
lolita
de blogs e links
Não tenho cultura que chegue para discutir o Damásio, como a lolita. E na minha profissão os clientes não se descalçam, o que me impede de escrever blogs premiados, como o besugo. Pelo que me tenho mantido aqui mais leitor que escritor, o que - pelo menos - me poupa às críticas destes infernais bloguistas.
Assim, deixo apenas um apontamento pessoal, sobre uma curiosidade que me deu que pensar: procurava eu na sexta feira um determinado texto no google e, por mais que fosse alterando os termos de busca, não o conseguia encontrar. Desesperado, escrevi "porra" e mandei com o punho no "enter". E saiu-me - entre outras coisas sem importância, este blog:
http://www.mixellita.com.br/blog/.
Diverti-me a lê-lo. E deu-me que pensar, não só porque é radicalmente diferente dos blogues muito "cerebrais, sei lá" cujos links tenho seguido, mas também porque é um blogue que revela uma atmosfera, uma cultura, uma sociedade e um viver que não têm nada que ver com Portugal.
É evidentemente um blog vindo do "upstairs" da sociedade a que respeita. Mas revela-nos muito. Mais do que o que nele é dito. Revela-nos um País de carnaval e samba, um País de favela e criminalidade infantil, um País de violência e de inocência, de democracia (cfr. a crítica quase insultuosa ao ministro da justiça) e de polícia brutal.
Lenbrou-me um brasileiro (carioca) com quem falei há dias e que me disse: a) estar cheio de saudade do Brasil; b) que no Brasil um miúdo mata sem pestanejar se lhe recusarem, à primeira, dar os "ténis" que trazem calçados. Conclusão (dele): sua vida, no Brasil, vale um par de sapatos.
"Last but not least": a garota tem piada. E o blog é divertido de ler.
Boa semana.
Upstairs, downstairs
Gosford Park, Robert Altman
Aos Sábados, esta cronista espanta-me quase sempre.
Estou segura de que este
artigo não preconiza nem defende nenhum sistema filosófico ideologicamente superior, auto-proclamado defensor dos direitos e liberdades, por contraponto ao crescente fundamentalismo islâmico que, ainda por cima, se vem entranhando na Europa e perturbando a nossa desenvolvida civilização ocidental. Nem que a senhora que o escreveu, que condena o anti-semitismo, se opõe à autodeterminação dos povos. Ela só não gosta é do Arafat. Nem sequer quer que nós compreendamos as excelentes intenções do George W., ou dos lobbies judeus, nossos valentes e desafogados defensores contra o Eixo do Mal (?). Mas a senhora,
in the spur of the moment, distraiu-se e esqueceu-se de disfarçar o desgosto que lhe causa que tantos islâmicos vivam na Europa e atribui a casuísticos exemplos de radicalismo islâmico a futurologia negra da insegurança que, cada vez mais, sentirão as nações europeias, as tais que defendem os direitos e liberdades, enquanto esses orgulhosos islâmicos teimarem em não aceitar caridosos subsídios para a reconstrução de mesquitas em que, no futuro, teriam de rezar ao Allah em francês. Entretanto, no Iraque, os americanos preparam-se para se pôr ao fresco, ai que trabalheira danada dão aqueles resistentes. O último a sair que feche a porta e que trate de tirar as burqas às iraquianas, para que estas se sintam europeias e sejam felizes para sempre.
Vive le Portugal!
A nossa selecção de sub-21 (falo de futebol, que é uma das coisas que se fazem no mundo) venceu a da França.
Ou seja, a nossa miudagem é talentosa. Venceu uma excelente equipa de miúdos com classe.
A nossa selecção de sub-21 deixou para trás, em Clermond-Ferrand, um balneário danificado e, aparentemente, vandalizado.
Ou seja, a nossa miudagem é dada a excessos. Que devem corrigir-se. É fazer o favor de pagar os estragos e não repetir.
Uma verdade não invalida a outra.
Sem pretender desculpar a miudagem (nem os graúdos que lá estavam com eles), eu também ouvi os adeptos franceses urrarem, como urram sempre que jogam com portugueses (e outros “magrebinos” pouco bretões), “Portugais au chantier!”. Sim, era isto que gritavam. E já não é a primeira vez. Não é chauvinismo, é imbecilidade. Le Pen tem feito o seu papel de Portas em versão valsante “de Musette”.
Eles gostam de se sentir loiros e arianamente superiores enquanto apoiam a sua selecção de mulatos, que joga tão bem. Infelizmente, a França do futebol ainda não se entendeu com a sua realidade intestina: por cada Mexès, têm um Cissé. Por cada Petit têm um Zidane, um Henry, um Viltort. A França Toda sabe isto há muito tempo. Bela mistura (e problemática, mas as misturas são enriquecedoras desde que os “ingredientes” sejam de qualidade), a França Toda. Mas a França do futebol, a França “Pétain”, esforça-se por ignorar, bizarramente, esta verdade.
Sinceramente? Sem cenários alternativos? OK, eu digo. Sinceramente. Ainda bem que ganhámos à França, mesmo tendo arruinado, de forma exaustiva, o balneário. É mais honroso do que se tivéssemos perdido, esforçada e educadamente, com “les blonds bleus”, deixando um leve odor de calmíssima lavanda nos vestiários da nossa derrota.
Façam assim: “OK, desculpem, a gente paga os estragos, mas não nos chateiem!”
Agradecimentos.
À
Tia Lolita, a galega tangera, por exortar as lolitas virtuais à rebelião. Entretanto descobri que a vigorosa perseguição do sobrinho
CMC explica-se pelo facto de, em tempos, se ter tomado de amores por uma lolita chilena apoiante de Allende, coisa que ele nunca engoliu muito bem, sobretudo depois do Baltazar Garçón ter metido o Pinochet a pique. Ora, estas atitudes dizem muito sobre o perfil de uma pessoa. E olhe, Tia Lolita, que se eu me aborrecer muito com isto ainda passo a lolyta. Ponha o seu sobrinho na linha e trate de transformá-lo num democrata antes que o Dr. Ferro descubra a verdade.
E ainda ao besugo, que conhece bem as bizarrias que me incomodam.
Parabéns, Lolita
Que a carnificina de Istambul, as declarações de Bush e Blair (eu sei que tu, como eu, valorizas as declarações consoante quem declara, o que te enobrece), as posições dúbias da "minha" Ordem e de alguns dos seus elementos, uma data de outras coisas que aconteceram hoje e que não deviam ter acontecido, dizia eu, que nenhuma bizarria te emporcalhe o inevitável, merecido e reconfortante aniversário. Nenhuma bizarria, mesmo.
Olha, o Uruguay (assim com y, que os senhores do comando rosa já me desculparam o excesso verbal) empatou 3-3 no Brasil. E eu torci pelo Uruguay.
Parabéns.
Confesso
O besugo esguichou de forma "temprana" e, como habitualmente, o esférico terá acertado na trave e saiu. Pela linha final.
Pronto,
CMC, sendo assim, olhe, que quer que lhe diga? Sou eu que sou um imbecil precipitado, que você desculpará. Como diz a Lolita, nasci nas palhinhas. Tivessem-lhes pegado fogo, que querem? Besugo grelhado....
OK, a que horas é o jogo dos sub-21?
S.O.S.
Pressinto o surgimento de um movimento, de inspiração sinistra e
comando rosa, contra as lolitas na blogosfera. O CMC já se justificou quanto aos berços, mas nada retirou relativamente à sua confessa intolerância face às lolitas. Nada.
Quanto aos berços, não reparem. É que o besugo nasceu nas palhinhas...
Berços
O
Ter Voz, respeitável local de inspiração partidária, onde escreve muita gente de interesse variável (é como tudo, nesta vida), chamou-nos
berços... Exactamente,
berços. Pela pena travessa e vaga do CMC (olhe, eu sou o besugo, muito prazer!) o Ter Voz acha-nos
berços.
Como não somos fundadores de nada, nem aspiramos a ser "leito de lactentes", fica por explicar a bizarria, ainda para mais num contexto que CMC deixa escorrer, vagamente, para o vazio... A gente percebe, apenas, que ele se enerva com alguns "y", sobretudo em "uruguayas", que está farto de Lolitas (expressa, até, veemente esperança numa blogosfera que não seja por elas invadida) e, a seguir, chama-nos
berços... Sem mais. Quereria ele dizer "berças", no sentido de "palavreado oco", de "parolos"? Cheguei a pensar nisso, confesso, mas admito que CMC tenha o mesmo cuidado que eu tenho quando "linka": ao menos aí, sem gralhas! Não, ele acha-nos mesmo
berços.
Como o
Ter Voz é um blogue respeitável e o CMC não é, seguramente, um néscio, eu presumo que tudo não terá passado dum bocadinho de gripe. Se eu pensasse o contrário aplicaria, desde já, o nome doutra peça de mobília ao CMC.
Xifonié, por exemplo.
Analíticas
O besugo falou ali em baixo dos comentadores mais bem cotados do ranking nacional: MRS, JPP e MTS. São do melhor que temos dentro do género: inteligentes, certeiros e manipuladores, sendo que esta última característica é indispensável ao sucesso de cada um deles. A mim faz-me falta um analista queiroziano. Começo a enfadar-me de analistas que só falam dos temas que lhes convêm e que só os exploram, apesar da dissecação exaustiva, à superfície. Nenhum deles é demasiado descomprometido para, sem danos para si, usar do veneno verbal que todos eles possuem mas que todos eles reprimem. Falta-lhes coragem. Faz-me falta o Eça ressuscitado, que me fizesse sorrir com um conto pleno de humor e sátira certeira sobre as razões que explicam porque é que um presidente de um clube português (sim, português e não portuense) não convida o presidente da câmara da sua cidade para a inauguração do novo estádio e porque é que que se ele convidasse o tal presidente da câmara este se recusaria a ir. Sim, porque o Eça, na sua infinita lucidez, não estaria a falar do cidadão Pinto da Costa nem do cidadão Rui Rio. E faria pedagogia, estou certa. Ou obrigaria, pelo menos, a algum pudor e mais contenção nas vergonhas públicas, bem como a reforma antecipada dos analistas mais bem pagos do país, tantos seriam os seus
touchés.
Colagens e colagogos
A colagem de Ferro Rodrigues e do PS ao caso Pedroso preocupa os
analistas da intelligentzia. É isso e a falta de oposição. Dá-lhes um ar “cool”, de “eu estou a ver e vocês não”.
Desgraçadamente, a colagem do PSD ao PP (leia-se aqui, em PP, tudo o que se queira, menos Paulo Pedroso, claro), ao desemprego crescente, à engenharia do défice e à “mais-valia” (essa desgraçada palavra composta que tanto se aplica a 500 euros – é uma
mais-valia... – como a qualquer merda que se queira), essa colagem, dizia eu, deve ser atenuada, esbatida, remetida em vida para o esquecimento dos mortos que hão-de descansar em paz.
Mais valia calarem-se, que me descarregam a vesícula.
Luís de Matos
Este cromo ilusionista, sorridente e magro acertou, evidente e premonitoriamente, no resultado do Porto-Barcelona.
Como eu pensava, foi tudo combinado. Ou então não foi, mas então quero este mágico a fazer oposição, imediatamente!
Chama-se a isto "anti-clímax". Decidiram-se pelo óbvio.
OK, eu admito que o facto de ele ser magro é o que mais me irrita.
Esguichos de besugo (IV)
À força de escutar e ler pessoas de inatacável honestidade intelectual (que mais faz, para o caso, que gravitem na órbita mais centrípeta dos partidos do governo, se a gente lhes pressente honestidade intelectual, de facto?...) afirmarem, entre o sibilino e o tonitruante, que “não há oposição! é que não a há!”, sou levado a sugerir o seguinte, em alternativa (ou 1 ou 2; não pode ser “ambas”)
1 – Entregue-se a oposição a um departamento próprio do governo, sei lá, uma espécie de “departamento de auto-crítica veemente”,
2 – Entregue-se a oposição, essa coisa que não há, à tríade “MRS, JPP, MMC”. Pelos vistos, eles sabem fazer isso bem, oposição. Não nos confessam como porque ninguém confessa os sonhos.
Esguichos de besugo (III)
Manda a lucidez, o bom senso, o próprio senso comum (Deus o distribuísse, ao menos a este, de forma sábia) reprovar a construção de dez caríssimos estádios de futebol num País pobre.
Manda a lucidez que se questione, com senso comum (ao menos) que raio de pobreza é a do nosso País num Mundo tão grande. Mas eu aceito que se reduza o Mundo à UE, aos EUA e aos antípodas britânicos, quando se fala de pobrezas. Satisfaz a nossa condição de coitadinhos, provavelmente.
Manda-me a minha estúpida faceta de “sportsman”, que sempre me levou a saber ganhar e a saber perder (eu isto garanto, vale o que vale, mas garanto), dizer o seguinte:
1 – O Estádio do Dragão é bonito. E O FCP joga bem, o que não chega a ser muito bem, mas chega.
2 – O Manuel Serrão é boçal
3 – Os portistas não têm culpa da existência de Manuel Serrão
4 – Manuel Serrão, a bem dizer, também deveria ser inimputável. “Já tens o Serrão na colecção de cromos? Tens? Carago, eu só tenho o Emplastro, o Soares Franco, o Durão Barroso e o Orelhas dos Pneus!!”
5 – Viva o Porto, cidade amiga. A minha cidade
de coração. E o FCP, que está em festa. Como é a festa deles eu não vejo, reconheço é que eles estão a ver, emocionados... e fazem bem.
6 – Viva o Sporting, sempre. A festa não é nossa, viva a festa.
Pode haver quem pense que, no fim de contas, eu só quis dizer que o Manuel Serrão é boçal. Não é verdade. A verdade é que o “Fatso-Fashion” demonstra sê-lo sempre que tem protagonismo de “ora fala agora tu”, não carecendo do meu apontar de dedo para se lhe aplicar esta verdade.
Sim, estou melhor da gripe. Exactamente, é só por isso que brinco assim, desta forma descomprometida, ligeirinha e esguichante.
LVC
Transforma-se o amador na coisa amada,
Por virtude do muito imaginar;
Não tenho logo mais que desejar,
Pois em mim tenho a parte desejada.
Se nela está minha alma transformada,
Que mais deseja o corpo de alcançar?
Em si somente pode descansar,
Pois consigo tal alma está ligada.
Mas esta linda e pura semideia,
Que, como o acidente em seu sujeito,
Assim como a alma minha se conforma,
Está no pensamento como ideia;
O vivo e puro amor de que sou feito,
Como a matéria simples busca a forma.
Hoje fui ouvinte atenta de um poema que versava sobre este tema. Como genialmente versa o Camões, a perfeição alcança-se quando se confunde a alma amante com a alma amada. Como quase todos sabemos, isso é impossível...
Maria Callas
Há pessoas que esperam tanto e tão fortemente das suas existências que só concebem amores absolutos e plenos, que se alimentam tanto do afecto e da paixão como da dor e da amargura. Sofrem, inevitavelmente, porque a medida das suas paixões é tão grande como intangível. Ou inexprimível.
Ainda "las ganas"
Tenho reparado que, nos estádios de futebol portugueses, nos últimos tempos, sobressaem as claques. Estão muitas vezes de costas para o campo, entretidas a montar um espectáculo particular que, sobejas vezes, nada tem a ver com o jogo. Entoam cânticos ensaiados, muitas vezes esotéricos, outras vezes tentando achincalhar o adversário (que, normalmente, se tiver brio, redobra forças, evidentemente...), mas fica sempre a ideia de que aquilo é, apenas, "mise en scène".
O clamor mais autêntico, mais ensurdecedor, mais empolgante, mais "vamos a eles", que eu já ouvi no estádio de Alvalade é bem singelo. E atroador. Consiste em gritar, com alma, "Sporting! Sporting!", como em Mestalla se bradou "España! España!".
É, infelizmente, cada vez mais raro. Mas, quando surge, parte das bancadas anónimas, que é onde se alojam, geralmente, as emoções mais fundas.
"Las ganas"
Na companhia de amigos dediquei-me a fazer "zapping" entre a RTP 1 e a SportTV, depois do jantar. Na RTP 1, o jogo de preparação de Portugal, com a Grécia. Na SportTV, o jogo a doer entre a Espanha e a Noruega.
O novo estádio de Aveiro estava cheio, em dia festivo de inauguração. O Mestalla, em Valência, também abarrotava.
Em Aveiro, o público desdobrou-se em assobios, vaias, aplausos, chistes, aquela mescla de "viemos à bola mas não gostamos muito, eles que joguem, palhaços de merda, somos os maiores, tirem aquele gajo!...". Enfim, uma mistura quase aleivosa de
falta de tomates mascarada de emoção, muitas vezes confundida com "latinidade". Não é latinidade, é uma profunda incoerência de cunho lusitano.
No Mestalla, com a equipa espanhola a ter de correr atrás do prejuízo (a Noruega marcou primeiro), o público empurrou a equipa para a viragem do resultado, de forma que chegou a ser empolgante, fazendo-nos ficar mais tempo na SportTV que na RTP1. O torrencial "España, España" contagiou os jogadores, que marcaram, perto do fim, o golo da vitória. Como dizia o comentador de serviço, "é interessante que os espanhóis marcaram num período em que já não jogavam com a mesma qualidade...". Triste "tonho" luso em maré de comentário, este. A raça, a crença, a força, a "rabia española", estava tudo ali, aos nossos olhos, a ver se a aprendíamos. Mas não. Não se aprende nada, nem com coisas simples como o futebol.
O público português quer espectáculo, ele vai ver um espectáculo. Como se fosse ao parque Mayer, ou ao CCB, ao cinema ou ao circo. Ainda não aprendeu que se vai aos estádios para apoiar os nossos, para os estimular, para os fazer crescer aos seus e aos nossos olhos. Ainda não percebeu, o público luso, que é essa forma quase irracional, mas genuinamente solidária, de estar nas bancadas dum estádio de futebol, que faz com que o futebol em Espanha (e na Inglaterra, na Escócia, em Gales, na Turquia, na Grécia, na Itália, na Roménia, na Argentina e no Uruguai... meu Deus, em tantos sítios!) seja um espectáculo.
Uma vaia é decepcionante. É traiçoeira. Dá vontade de desaparecer dali e de ser amargo o resto da vida.
Um aplauso vibrante e incondicional, sobretudo na adversidade, entendido como comunhão na desventura, é reconfortante. Dá vontade de retribuir, redobra as forças, "las ganas". E eu acho, cada vez mais, que o espectáculo, no futebol e na vida, é mesmo essa aventura de sermos solidários, adeptos, amigos.
Os pontos
Ora pegue lá você,
Dupond, então, com um abraço besugal:
1 e 4 - "As propinas mais caras no curso de Medicina e as portas escancaradas do emprego estatal"
Evidentemente que você brinca comigo, Dupond. Então você admite que há falta de médicos, o Estado também (o governo não sei se admite, este governo quer lá saber!), e depois estipula propina especialmente elevada para o curso? Você explique-se, porque o que parece querer dizer é isto: "O Estado, que somos nós, potenciais doentes e familiares de doentes, queremos formar mais médicos. Porque precisamos deles. Como incentivo, vamos pô-los a pagar mais caro o cursinho, porque têm logo emprego e isso é uma injustiça para os... sei lá, para os engenheiros de silicones!". Olhe essa gripe!
2 - A questão de os tempos serem outros
Muito bem. Eu acho que não são, que em 18 anos (que é quase o dobro da idade do meu filho mais novo, tão jovenzinho que ele é!) as coisas não mudam assim tanto. Chame-me conservador, em vez de fóssil, que eu explico-me melhor, para outra vez. E não se irrite com o meu romantismo saudosista, porque não sou nem uma coisa nem outra, de forma essencial. Agora, o que também não sou é modernaço.
3 - O caso de "onde se aprende"
Nem ponha dúvidas que é nos doentes, nessa "matéria prima" potencial que somos nós, que se aprende. Você cuidava que era nos livros, nas sebentas? Com lentes a falar em anfiteatros? Disseram-lhe mal. Aí recolhe-se a teoria, conceitos abstractos, seriados, organizados, listagens de sintomas e sinais... Mas um médico tem de fazer ao contrário, sabe? Eu tento explicar: ao longo do curso, aprende-se que um linfoma pode dar um baço grande, uma policitemia vera também, uma endocardite idem, uma hipertensão portal a mesma coisa... muitas outras causas de esplenomegalia. Ora os lentes e os livros ensinam-nos, doença a doença, síndroma a síndroma, o que cada patologia nos mostra como "os seus sinais". E com as análises é a mesma coisa. Para não ser ainda mais maçador, eu limito-me a afirmar-lhe que os doentes não trazem estampado no rosto o seu diagnóstico. Temos de os ver, de os palpar, de os sentir, de os analisar. E pensar ao contrário do que a Faculdade dos Lentes nos ensina: não pensar "este doente tem um linfoma e, lá está, o baço grande encaixa!", mas sim, "este doente tem um baço grande, que eu lhe palpo, e vamos raciocinar (divergentemente, sim) a ver o que ele tem, que pode ser, de facto, um linfoma!". Isto aprende-se e treina-se a ver doentes, desde o 3º ano de Medicina, você está redondamente enganado. Não é preciso gastar muito dinheiro em iconografia nem em materiais de ponta. É preciso haver professores? Claro que sim, bons, como Sobrinho Simões, de preferência. Mas não me consta que os professores da Faculdade de Medicina ganhem mais que os das outras Faculdades, portanto... também não se meta por aí para elevar propinas.
E, já agora, outra pequena correcção: ao fim dos seis anos de curso, é-se médico, sabia? Eu fiz cinco anos de especialidade, de facto, os cirurgiões fazem seis, há especialidades de 3, 4, 5, 6 anos. Mas é-se médico, com responsabilidade médica (embora tutelada, mas isso é outra conversa) logo desde a primeira tímida inscrição na Ordem (que é obrigatória, pois...).
5 - A "propina" dos doentes.
Sabe porque é que eu digo que eles já pagam "propina"? Bom, eu nem lhe falo do caso chocante (que muito me entristece, como homem, como médico, como português, como o que você quiser... olhe, como besugo, seja!) da senhora que morreu na sala da TC, aparentemente sem diagnóstico. Você, e outros blogues, falaram nisso e eu fico muito sentido, você acredite. Eu assumo que foi assim que as coisas se passaram, porque foi assim que me contaram. Isto será melhor explicado, todos queremos que tenha havido uma razão mais forte para o sucedido, evidentemente. Mas não vem agora ao caso, desculpe. É apenas uma tristeza funda que merece outra discussão, outro contexto.
Fiquemo-nos apenas pela simples questão dos impostos que nós todos (enfim, pelo menos nós, os funcionários públicos...) pagamos, que são uma elevada propina ... para cada vez mais fracos resultados. Se calhar são cada vez mais fracos, os resultados, porque, como você gosta de dizer (mas não demonstra), "os tempos são outros". Mas isto é apenas uma ligeira provocação, que você não vai levar a mal.
Espero eu, temendo já a sua forte represália de lobo do mar! Ala arriba!
Rio Ave - Rio Douro (reloaded)
Caro
Dupond:
Muito lhe agradeço o rótulo de simpatia que me apõe. Suponho que me toma por vagamente tonto e me chama simpático, apenas, por cortesia. Eu, que não sou Cortez (sou Lopez!), mas me reconheço nos valores da civilidade e da cortesia, não podia deixar de lhe dizer isto. Porque você diz tantas coisas que, enfim, um besugo não resiste.
OK, foi a brincar.
Deixe-me situá-lo, já que não receia contaminações virais: aquela minha posta inicial sobre o Professor Sobrinho Simões era apenas um espasmo. Eu li aquilo no
barnabé. Aquilo, sobre o facto de o Professor defender que as propinas do curso de Medicina deviam ser mais caras. E, como eu não concordo e, além disso, conheço o percurso do Professor (cintilante, admirável, isto é inegável, assim visto daqui de baixo), mais não pretendi do que expressar, espasmodicamente, a minha estranheza. E, confesso, quis comungar ali da “raiva” do barnabé. Raivas, cada um tem as suas, o barnabé nem sequer é para aqui chamado, só tem a culpa de eu o ter lido. Mas estas coisas têm as suas motivações, ele que me desculpe a nova referência, se der fé dela.
Eu, portanto, não pretendo discutir se devem (ou não) ser pagas propinas em qualquer curso. E você até acaba por dizer que “todos devem pagar, e devem pagar igual”. Eu não concordo, tenha lá paciência, até posso deixar-lhe aqui isto, assim singelo e aberto à discussão futura que o Dupond quiser ter (você nem tem medo de gripes!): o ensino público, na minha fossilizada (diz você!) opinião, devia ser gratuito. Sem prejuízo de prescrições, obviamente, nem do diabo a sete! Mas isto que aqui lhe deixo, repito, não está em discussão, você tem, aí, é a minha opinião “basal” para a questão das propinas. E há-de desfazê-la, se quiser, quando quiser, à paulada ou com filigranas, logo que lhe aprouver. Mas admita isto: pagar ou não pagar, não estava em discussão.
O que estava em discussão, porque você quis que estivesse, foi o seguinte:
1 - A questão das propinas deverem ser
mais caras no curso de Medicina.
2 – O facto de eu não ter argumentado acima da bitola zero, porque falei de antepassados e isso não o comove, que os tempos, para si, são outros.
3 – O caso da aprendizagem médica ser baseada nos doentes (você diz que é nos professores e nas sebentas, e depois aventura-se pelas tutelas dos internatos). Aqui, você até discorre sobre o facto de eu “nem parecer médico”, o que me leva a perguntar que raio de médicos é que você conhece....
4 – A diatribe das portas escancaradas do emprego estatal no fim do curso (ao fim e ao cabo, você descai, envergonhadamente, para a admissão de que
essa é a verdadeira razão para lhe parecer bem a propina mais cara no curso de Medicina, ora admita...)
5 – O problema da “propina” dos doentes, porque eles apenas pagam as taxas moderadoras, ou seja, a “matéria-prima” não paga nada. Você sossegue!
O resto são pequenas coisas suas, de cariz liberal, que me caem mal no bestunto (aos meus companheiros de blogue não caem, você acredite que eu hei-de pagar isto internamente!), mas isso deve-se ao indevido uso que dei às meninges enquanto jovem. Sim, tenho 43 anos e licenciei-me em 1985. E sou especialista em Medicina Interna, em dedicação exclusiva à carreira hospitalar. A referência a 1983 tem a ver com a cadeira de Anatomia Patológica, de que o Professor Sobrinho foi, anos a fio, “co-proprietário”. O lente era o Professor Daniel Serrão mas, você desculpe estas criancices de besugo, quem usava os
jeans, a barba e a bondade era o assistente, deixe-me dar-lhe co-propriedade na regência, que a gente gostava muito dele ( sim, as gajas também).
Quer que me explique, nos pontos de 1 a 5? Eu tento explicar-me, você logo vê se lhe convém. Sente-se aí, que eu já nem tenho tosse, estou melhor!
Proponho o seguinte: eu abro uma posta nova com a análise dos cinco pontos logo que cumpra algumas obrigações. É que vim duma maratona de “aturar matéria prima” e nem sempre este besugo consegue esguichos prolongados nessas condições depauperadas. Digamos que isto é, apenas, para situar a conversa. Acha bem?
Ante-estreia, segunda parte
Amanhã vou lá outra vez, a ver se o azul é mais indigo ao nascer do sol. Desta vez, sem o primo segundo do Paco.
O meu dia
Susto de manhã. Tristeza à hora do almoço. Angústia pela tarde dentro. Expectativa. Precipitação. Nervos, irritação. Intriga. Conversas. Esclarecimentos. Boas notícias. Cansaço, muito cansaço, ao fim da tarde. Dor de cabeça. Música. Silêncio. Escuridão. Depois caiu a noite, a bendita noite.
Fundamental II
A minha
prima Lolita (sim, que nós somos primos, por parte de uma tia-avó que emigrou para o Uruguay nos idos de 1910...) não deixa cair os créditos da família em mãos alheias.
E foi mostrar ao rebento (por sinal uma jóia de rapaz, e não uma peça como diz o besugo) o azul Indigo que cobrirá as maiores glórias a que o País e o Mundo podem assistir nos tempos vindouros.
Abençoadas mães que incutem tais ideias de grandeza nos pequenitos cérebros dos petizes.
Que nunca te faltem as forças, prima, para guiar o teu rebento pelos caminhos do Dragão!
Teste
Escrevo sem saber o que vai sair daqui. O blogger censurou-me a parte de baixo da página, onde aparecem as mensagens Post e/ou Post & Publish. O que significa que, este texto sair com aqueles irritantes erros de formatação, nem poderei editá-lo. O que me vale é que este poste é inócuo. Ou se calhar nem isso me vai valer. Aqui vai disto, pronto. Isto é do mais radical que me lembro desde há uns tempos, se exceptuarmos a primeira vez que mexi no template do blogue e o desformatei todo.
How thrilling.
Elvis Costello
O meu amigo Paco, que tem um gosto musical apenas comparável à sua falta de gosto partidária (tem um excelente gosto musical, confesso...), veio aqui trazer-me o último do "caixa-de-óculos"
demodé. Havemos de mostrar isto à Lolita e ao Alonso.
Agradeço a todos a sua pura, simples, inteligente e recompensadora existência. É que aprendi há muito que os bons têm defeitos.
Notáveis e desculpáveis defeitos, os dos bons!
A minha gripe
Passou. Conforme veio, partiu. Embrulhada na vergonha de me não ter vencido. Eu fico acabrunhado na certeza de me ter rendido, temporaria e cobardemente, a uma inevitável derrotada que se foi embora, na mesma mansidão lassa com que chegou. Não deixa marcas quem quer. Deixa quem deixa.
Indigo
Ler a Lolita, essa uruguaia "peñarolista" reconvertida em portista irredutível, fez-me bem. Ela não disse, mas foi mostrar o estádio ao filho, que é um erudito da bola de alta perigosidade. Eu conheço a peça (o filho) e sei do que falo.
É engraçado. Não consegui ler nada, em lado nenhum, sobre o estádio do Benfica (a nova catedral...) que se pudesse comparar, na emotiva singeleza, àquilo que a Lolita escreveu sobre o estádio do Dragão. A Lolita é uma espécie de Sousa Tavares, em mais bonito e menos desértico. Sim, talvez eu tenha um cromossoma Y faccioso.
Aliás, como Sousa Tavares ( e como Lolita, olé!), eu não concebo que se fale de emoções sem ser com muita carga de parcialidade.
Lolita, minha inimiga mais amiga de todo o sempre: este sportinguista esquerdófilo e quase sempre derrotado (porém, nunca convencido) te oscula a testa inteligente e lutadora, te afirma admiração e carinho e te assegura, por ser de justiça, sem cunhas e sem empenhos (que os senhores nem me conhecem), o prémio
Mata-Mouros para o "melhor pôr-do-sol azul indigo" desta vida. Nem sequer é só o melhor desta semana.
E confessem que é muito justo.
Ante-estreia (ou o dragão é azul indigo)
Surpreendi-me, durante umas boas três horas de visita, com o novíssimo, ainda inacabado, Estádio do Dragão. Entrei pelo
escoadouro da bancada sul e deparei-me com uma mancha circular de azul indigo em perfeito contraste com o verde do relvado (que me garantiram não ter um micronésimo de
pitium). Acima do tal azul, elevam-se pilares brancos que terminam em tubos ondulantes que cobrem o recinto, juntos ao céu, de tão altos. E os vãos, nos topos norte e sul. Lindos, rasgados e profundos vãos. Do centro da bancada oeste, lá no topo do mundo, da bancada da imprensa, onde os tais tubos ondulantes estavam quase ao meu alcance, pude ver a cidade, à esquerda, e o rio, à direita.
Pelo
escoadouro central, levaram-me, depois, aos ainda virgens balneários, em sentido contrário ao que os vinte e dois hão-de percorrer no Domingo, em estreia absoluta. Onze chuveiros, com células inteligentes, daquelas que detectam alguém que se ponha debaixo. Mostraram-me, pois. O jacuzzi, na sala ao lado. Os gabinetes do Mourinho e do André, espartanos e, evidentemente, azuis. A sala de aquecimento, onde dois homens lentamente escovavam a relva sintética. Bonito quadro, qual tela de Bosch, se não se passasse entre quatro paredes. A sala de massagens. A capela (!!!), destinada aos jogadores mais fervorosos. A sala das conferências de imprensa, onde os pés se afundam na alcatifa azul (indigo, claro) enfeitada com o emblema dragonístico. Sentei-me numa das cadeiras, a imaginar o Mourinho, arrogantemente realista, a garantir mais uma vitória.
Subi ao terceiro andar, que corresponde, na perspectiva da bancada sul - se não me engano - a um sétimo piso, e aí visitei os camarotes. O maior ostenta descaradamente à entrada as menções bilinguísticas
"Presidencial - Presidential". O melhor ângulo de visão para o relvado, evidentemente. Confortável, luzes veladas, a inevitável alcatifa azul. Não brilha mais do que os restantes, a não ser no espaço, nem os outros entre si, à medida que as estrelas atribuídas a cada um diminuem e, com elas, o respectivo habitáculo. E à medida que as estrelas de carne e osso escasseiam.
Prestes a sair, já caída a noite, voltei ao recinto e verifiquei, de novo, o azul indigo das cadeiras. Bonita cor. E o céu, profundamente azulado, estava
ton-sur-ton com o interior circular do estádio. Pelo menos no Porto, o céu é portista. Pelo menos.
Vi a grua que guarda o segredo da aposta do Luis de Matos, e que me foi, discretamente, revelada: no Domingo, o Porto ganhará ao Barcelona por três a zero, com um esfuziante golo do Ninja e dois do... Quaresma.
A propina adicional
O
Vilacondense, não respeitando a minha gripe, atirou-me forte corrente de ar. Foi o Dupond que abriu as janelas, o malvado! Enfim, deixo-lhe aqui uma carta e vou fechá-las.
Caro Dupond: agradeço-lhe o facto de ter chamado a atenção para a minha visão romântica e saudosista “seja sobre o que for” que você, valha a verdade, não explica. Significa que me atribui uma visão qualquer, embora se perceba que a desdenha, a acha esquerdista e demagógica. E, ainda por cima, não a quer comprar. Isto desfaz completamente o velho aforismo que você, seguramente, conhece, “quem desdenha, quer comprar”... Você desdenha e não adquire, Dupond!
Você atribui, generosamente, um zero à minha argumentação, o que o distingue e me acabrunha, mas justifica mal o zero que me dá, o que me surpreende. E ainda se mete por comparações entre épocas que, artificiosamente, distancia, como se eu fosse um fóssil de 1585 e você um argonauta iluminado de 2003. Você faz lembrar aqueles articulistas que começam os seus textos inflamados por um “em pleno século XXI!...”, ao qual apõem a descrição duma escandaleira qualquer, terminando por dizer que “assim, o país não vai para a frente!”.
Há, aqui, apenas, um problema pequenino. Tem você paciência? Então leia, por favor.
Onde me viu você falar sobre investigação? Eu não falei disso, Dupond! O Professor Sobrinho Simões é um brilhante investigador, é certo, mas não trata doentes, sabia? E acontece que as Faculdades de Medicina, que eu saiba, ainda se encontram vocacionadas, por fundos e sociais motivos, essencialmente, para a formação de médicos. Exactamente, médicos, bestas dessas, como eu. E era disso que eu falava, de médicos muito bons (não convulsive, não falo de mim!) que passaram pela docência do Professor e que lha abrilhantaram, mesmo sem pagar propinas.
Você prefere que a Faculdade de Medicina lhe forneça médicos ou que o adorne de investigadores? Prefere médicos, não é? Eu li a sua citação do Público, sabe?
E sabe com quem aprendem os futuros médicos, não sabe? Pois é, aprendem com doentes! E é imoral cobrar propina máxima a um curso que aprende em matéria-prima tão nobre, carenciada e... barata! Os doentes já pagam a “propina”, amigo Dupond. Ora pense lá se não pagam. E não será, acredite em mim, por você aumentar a propina do curso que vai baixar a “propina” dos doentes. Isso é outra conversa que, se quiser, teremos, um destes dias.
Ou seja, eu falava da formação de médicos, você arremessa-me dispendiosos investigadores. Que são brilhantes, que ajudam a formar bons médicos, mas... ó amigo Dupond, não tratam doentes. Eu continuo a defender que para formar médicos, daqueles que tratam doentes, não é preciso propina máxima. Para formar investigadores é que talvez seja.
Conte você as necessidades que lhe parece que o país tem de
médicos que tratam doentes e diga-me, assim de passagem, quantos
investigadores “propineiros” deve a Universidade fazer desabrochar por cada cem clínicos que nela se formam.
E olhe que, para tentar resolver o problema (muito sério) que você cita, do Público, das urgências hospitalares, nem o Lobo Antunes (que é neurocirurgião) nem o Sobrinho Simões (que é, entre outras coisas, filho do pai dele, exactamente!) lhe servem. Acredite em mim, que sou romântico e saudosista, mas só de vez em quando.
Você, a este respeito, parece julgar-se pragmático. Eu acho que você se baralhou um bocadinho... Estará você, também, com gripe?
O problema do mel
Hoje já tive direito a alguns mimos, mas foram mimos a pedido. Contam, sabem bem, mas não são mimos espontâneos. São mimos tipo
“pega lá, pronto, a ver se te calas!”.
E eu calo-me com isso dos mimos. Não me chegam, mas já chega. Tenho o meu brio.
Quanto à gripe, é curioso. A gripe "baixou-se-me". Ontem, parecia que todo o mal tinha origem na cabeça e no pescoço. Hoje, não se percebe bem onde é a origem do mal. Já não me dói a cabeça, mas o resto do corpo sente-o, ao mal, profundamente. Devo ser um estranho organismo, visto de cima.
Bom, mas eu vinha falar do Paços de Ferreira – Sporting. Foi ontem. Já não me lembro de estar com tão pouca vontade de ver um jogo (a gripe fornece, mesmo, doses industriais de “falta de vontade”), mas lá me sentei, meio torcido dentro de mim e da minha tosse.
O Sporting começou bem, rápido, dinâmico, geométrico, a trocar bem a bola e a chegar com perigo à baliza do Paços. Quando o golo chegou, já devia ser o segundo.
Depois, como vem sendo hábito, o Sporting agachou-se no equipamento. A parte final da primeira parte anunciava o golo do empate. Que chegou cedo, na segunda. Eu não vi, que tinha ido buscar mel. Vi a repetição. Não devia ter visto, porque nas repetições as coisas são devagarinho, prolonga-se a agonia do inevitável. Enfim.
Em boa hora, o árbitro expulsou aquele loiro oxigenado do Paços de Ferreira. Deve ser da gripe, mas eu achei que a expulsão foi injusta. A gripe adoça-me, bolas, amolece-me.
“Amelece-me”. Tanto que, logo a seguir, fui buscar mais mel. O atrevimento, paguei-o caro: só vi o penalty que nos roubaram em câmara lenta. Outra agonia. Chamei
urso ao árbitro e
alheira ao auxiliar daquele lado. Parece ter resultado, curiosamente. O penalty seguinte já eles o viram. Eu, que estava ali pasmado, só o vi em câmara lenta. Mas foi mesmo falta, pronto. O Pedro Barbosa marcou o segundo golo (que bem jogou o Pedro!) ... e o jogo lá acabou. Com o Paços, amputado de um jogador, entretido a semear o pânico na introvertida defesa do Sporting.
Eu já sabia, é sempre assim. Quando a gripe me passar eu explico porque é que é sempre assim. Ainda com gripe, digo o seguinte: se expulsassem outro tipo ao Paços eles acabavam por empatar.
Tomei algumas notas:
1 - Em Janeiro, ir buscar o Zé Manuel ao Paços e dar-lhes, em troca, o Clayton mais 1500 euros, para despesas de manutenção e transporte. Perguntar ao Puntas se não quer vir também, temos o Luís Filipe para a troca.
2 – Um dia destes, perguntar ao Rui Jorge o que achou do Paíto.
3 – Imediatamente, perguntar ao Fernando Santos se quer, mesmo, matar-me do coração.
4 – Em qualquer altura, perguntar ao Porto “vocês não quererão emprestar-nos o Derlei?”
5 – Daqui a nada, mandar buscar mais
“ben-u-rons”.
Mimar torpores é torpe?
Estou com gripe desde ontem. Já tiveram gripe? Então sabem do que estou a falar. Aquelas dores moídas pelo corpo todo, o nariz pedindo lenços sucessivos, a tosse reclamando “fuma menos!”, os olhos lacrimejantes, a cabeça pesada e oca, o pescoço tornado cepo, os movimentos tolhidos, tudo ao mesmo tempo. A total falta de vontade. Um desespero.
Quando era pequeno, ter uma gripe era melhor. Excepto em férias, tempo de correrias. Mas nas aulas valia a pena. Ficava em casa, na cama, davam-me xaropes e pastilhas, lia banda desenhada, ofereciam-me mimo e quase cem por cento de desconto nas parvoíces que me sentia no direito de fazer e de dizer: “coitadinho, tem gripe...”.
Agora não. Agora, suporto este calvário sem paciência nenhuma, dividido entre a vontade de ficar enfiado na cama, a marinar entre abafadores, e a de sair para apanhar ar fresco, esse purificador de miasmas. Ninguém tem tempo para me dar mimo, nem xaropes, nem pastilhas. Eu, sem os remédios, ainda passo menos mal. Agora sem mimo é que me custa mais.
Já telefonei a algumas pessoas, mas só encontro gente jovial (e, obviamente, sem gripe) que me afirma, alegremente, “ó pá, tem calma, isso vai passar num instante!”, ou “arrebita, reage a isso!”. E eu não consigo reagir.
Eu estou fraquinho, não vêem? Eu queria era mimo, não careço de promessas de melhoras, nem de estímulos para sacudir o torpor! Este torpor, este “estar aqui tão mal de mim”, eu gostava era que me tratassem dele sem mo estragar.
Caro LR
Partindo do princípio de que
esta sua regra de vida, que eu subscrevo, me era dirigida, devo dizer-lhe que, por razões profissionais, conheço razoavelmente bem a obra do autarca em causa, o que me confere algum conhecimento da "causa" que defendo. Não prescindo, por outro lado, do direito de, como portuense, me indignar com a fanfarronice parola, pré-existente ao Rui Rio, mas que ele tão desacertadamente veio potenciar. Não me pronuncio sobre as razões que o movem, porque não as conheço. Mas discuto e censuro as consequências dos seus actos e bandeiras, quase sempre negativas. Respeito e não me pronuncio sobre o Rui Rio para além do autarca: mas não queira suprimir-me o direito, ou a quem quer que seja, de lhe criticar a acção política. Já tive familiares em lugares políticos de destaque e sei como é desagradável - para não dizer mais - ler e ouvir críticas de terceiros que não os conhecem tão bem como eu e que eu, então, também achei precipitadas. Percebo-o, portanto. Mas o nosso ângulo de visão, ao que parece, é diametralmente oposto...
No entanto, acho-lhe alguma piada...
Falando de direitos, diz o
Crítico Musical:
"Nego intervenções militares baseadas nestes princípios, ou mascaradas por esses princípios, porque em direito internacional não existem princípios, só existem interesses, quem não conhece esse facto elementar ou nunca estudou história e diplomacia e é ignorante, ou é muito ingénuo, ou é estúpido, ou é inteligente e culto argumentando de má fé. Por acaso prefiro esta última hipótese, eu, por princípio relativo e absoluto, recuso-me a discutir com ignorantes, ingénuos ou estúpidos."
Acalme-se, crítico musical. Olhe que, à conta das suas posições apaixonadas, já deve haver por aí muita gente que partilha da sua opinião sobre a ignorância, ingenuidade e estupidez alheias.
Leituras. E o que faz o tempo.
Li,
aqui, que o Professor Sobrinho Simões defendeu que as propinas no curso de Medicina deveriam ser mais caras, para garantir qualidade ao curso.
Recuso-me a acreditar que o Professor Sobrinho Simões, que, muito antes de ser um mediático e excelente investigador do cancro gástrico, foi um brilhante assistente do Professor Daniel Serrão, consiga defender esse “silogismo” perante uma assembleia dos seus antigos alunos.
O Professor Sobrinho Simões, anatomopatologista excelente, filho do temido (mas também respeitado) Professor Sobrinho Simões, de Química Fisiológica (foram contemporâneos na docência), sabe perfeitamente que ensinou algumas pessoas boas. Que nunca pagaram (nem pagarão) o curso que fizeram, da mesma forma que o Professor Sobrinho Simões não poderá negar, se for sincero como era em 1983, a evidência da sua dívida a quem, sem pagar “merda que se visse”, abrilhantou a Faculdade de Medicina do Porto nesses anos pós PREC, em que tudo se discutia. Ele pode não se lembrar deste besugo, mas tem obrigação de se lembrar do Manuel Joaquim, da Teresa, do
Ricardo, do Wynck, do Zé Pedro e do Zé Artur, do Bartolomeu (que também já morreu), de muitos outros que, ele sabe muito bem, lhe emprestaram brilho à docência. Ele sabe bem que foram bons cursos de Medicina que ali se fizeram. Ainda não vi melhores produtos, desde essa altura. Muito menos recentemente. E o Professor Sobrinho, que anda por cá como eu ando, não me diria, caso me ligasse, seguramente, o contrário.
Se resolvesse parar para pensar, como nos recomendava quando, em exame, nos instava a “diga lá então o que vem a ser isso da inflamação...”, o Professor Sobrinho aplaudiria o
barnabé. A mãos ambas.
O baronete
Acho curiosos os elogios ao Rui Rio que li no
Mata-Mouros e no
Homem a Dias. Como se ele agisse sob uma motivação clara e determinada de abalroar indelevelmente a corrupção, a promiscuidade do futebol e da política ou sei lá o que mais que nos faça (ou a quem entender fazê-lo, aliás) deificá-lo no trono do idealismo político ou de um visionarismo -ainda incompreendido - com que corajosa e intrepidamente enfrenta os barões do Norte e respectivas quintas e poderosas quintarolas, estas no caso do Pinto da Costa.
Não consigo ver-lhe nenhuma dessas virtudes. Nem sequer na perspectiva de um anti-herói que, ainda que de forma atropelada, se entrega intrepidamente a qualquer desafio, o que lhe emprestaria um interessante perfil épico. Até hoje, Rui Rio não ganhou nenhuma das guerras que comprou, algumas delas justas e necessárias, como a do plano urbanístico das Antas. O estardalhaço com que avança é proporcional à palidez com que recua, ao perdê-las. Abrindo fatalmente caminho para a politiquice de vão de escada, descredibilizando-se, apalhaçando-se. Veja-se o ridículo de não estar presente em qualquer evento que se relacione com o FCP, aliás, com o Pinto da Costa. Sem que o pudesse evitar, ou quando já era tarde de mais para isso, tornando-se apenas mais uma vítima da patetice da
cosa nostra pintodacostiana. O fenómeno Rui Rio só veio atolar mais a política nortenha, já de si suficientemente rústica, no pato-bravismo atávico que impede a região de se credibilizar. Agora o país conta com mais um espalha-brasas nortenho, sedento de amesquinhado poder e protagonismo, para achincalhar (com grande pena minha, com alguma razão) os cromos da futebolítica (ou polítibola) do Norte. Não me convencem estardalhaços inúteis e muito menos me convence a inexistente obra feita. Rui Rio já conseguiu o possível: ser lembrado, dentro de uns bons anos, pelos portuenses. Missão cumprida, presumo eu. A possível. Que venha o próximo.
"Crimes and misdemeanors"
Veio-me à memória este filme do Woody Allen (não pelo filme em si, apenas pelo título) a propósito da recente aventura dessa figura ímpar do nosso Portugal que é o José Castel Branco.
Ao que parece o senhor cometeu uma infracção aduaneira por ter vindo passear a Lisboa acompanhado de dois milhões de dólares de jóias sem o ter declarado.
Misdemeanor...
Na sequência do escândalo, a SIC transmitiu uma reportagem em que o dito senhor, enquanto se passeava à beira da piscina de um hotel de 5 *****, se queixava de nos arredores faltarem umas pensões económicas onde os "chauffeurs" pudessem ser hospedados, poupando assim às ilustres personagens a terrível maçada de ter de conduzir até ao local do merecido repouso das viagens transatlânticas suportando o fardo de uma tal carga de jóias.
O que eu nao imaginava era que o personagem além de
marchand era também discípulo de Mendel.
Pois é, diz numa outra entrevista o querido José que um princípe criado num meio plebeu, há-de ter sempre um
je ne sais quoi de distinção.
E que, pelo contrário, um plebeu mesmo se criado em ambiente real, não deixará nunca de ter afivelado no semblante a triste condição da sua origem inferior.
Crime...talvez.
Voltando ao Woody Allen, interrogo-me sobre a natureza dos crimes e das escapadelas (ainda que a tradução não faça jus ao título original...).
Talvez o crime não seja dele...será talvez nosso por sermos menos adeptos do eugenismo mediático (aka censura selectiva).
Ou, quem sabe, do eugensimo puro e duro.
A mim, não me fazia falta nenhuma o querido José. e menos ainda a Betty...
Tudo em fila; e na fila certa!
Apreciei este texto, no
Complot. Dado à contemplação da vida quotidiana decidi, mesmo, copiá-lo, para melhor lhe sentir os cambiantes, à luz caliente do nosso cantinho. Vai em itálico e aspeado.
"A Vida Quotidiana – 1º Episódio: Caminhava por uma ponte sobre uma linha de comboio (creio que o termo técnico é passagem de nível para peões desnivelada) quando reparei que toda a gente circulava pela direita de forma a facilitar a travessia nos dois sentidos. De repente um homem grande com um nariz que mais parecia uma batata-a-murro surgiu da outra ponta decido a atravessar a ponte pela esquerda. Toda uma fila de pessoas teve de se desviar por causa de uma única pessoa, o velhote que me seguia libertou alguns impropérios. Eu fiquei a pensar sobre a inclinação natural das pessoas sensatas a caminhar pela direita e sobre a inclinação de alguns imbecis a caminhar pela esquerda."
Excelente alegoria do Complot. Tem dezassete leituras, eventualmente, mas, assim de repente, deu-me para este desconchavo:
1 – Percebe-se no autor das linhas que, embevecido, cito, um espírito que preza a ordem, o alinhamento. Já observei isto em alguns pastores que apascentavam seus rebanhos com semblante bucólico. Esta é a
parte campestre do texto.
2 – A escolha da direita para “faixa inteligente de circulação” causou-me perplexidade momentânea. No entanto, logo acabei por perceber o óbvio: o autor, penetrado de profunda antipatia por tudo o que é anglo-saxónico, eventualmente vítima, certo dia, de alguma das famigeradas rotundas de Londres (e com intocável razão, evidentemente) prefere a faixa da direita para o deslize sorumbático de homens e, quiçà, de viaturas. Trata-se aqui, com toda a certeza, de chamar imbecis aos britânicos. E o autor fá-lo duma forma subtil, induzindo-nos a pensar que se limita a insultar os “esquerdistas do pensamento”. Esperto! Esta é a
parte xenófoba do texto.
3 – O autor atribui qualidades físicas invejáveis, do ponto de vista da corpulência, ao prevaricador que caminha pelo lado errado da vida. Perdão, da via. Atribui-lhe um nariz que, eventualmente, o desfeará. Mas o mais tocante é a admissão, por parte do autor, duma qualidade suplementar à
sensatez na fila de alinhados que segue, ordeiramente, pela direita. Essa qualidade há-de ter um nome, que agora não me recordo, mas deve andar perto da
prudência. Ou da extrema
delicadeza. Vejamos: se exceptuarmos “o velhote” que seguia atrelado ao autor, que “libertou alguns impropérios”, toda a ordeira e pacífica fila indiana de indivíduos sensatos se desviou. Eu bem percebo que o que se quer salientar aqui é o espírito de elevada educação da fila incomodada pelo “imbecil”, mas para isso não era necessário atribuir corpulência ao energúmeno. Não tivesse eu levado a cabo uma “besugal” tempestade neuronal, que me fatigou sobremaneira, estaria tentado a pensar que tanta delicadeza se deveria... a boa dose de miúfa de levar porrada! Esta é, pois, a
parte enganadora do texto.
Estou a brincar, evidentemente. Eu bem sei que onde o autor botou “direita” podia ter colocado ”esquerda”. E vice-versa. Bem se vê ali que foi ao calhas. O autor apenas quis salientar, num azougue democraticamente “bilateral”, que convém ser calmo, plácido, obediente às regras, poupar transtornos ao próximo, evitando comportamentos antagónicos à maioria. E que essa maioria, sensata por definição, deve tratar com bonomia os prevaricadores, que são imbecis por definição. Este texto seria valorizado com melopeias de violinos. Não, a sério, eu bem o percebi, este meu feitio brincalhão é que me tolda.
Uma singela proposta
A Lolita, que enveredou pela análise enviezada dos machos lusitanos (pelos vistos começou pelos de má qualidade, pelo que, a manter o seu alucinante ritmo de produção de postas, dentro de cerca de 3 semanas, numa trajectória ascendente na escala de valores, deverá começar a referir-se aos seus camaradas de blogue...), dizia eu, a Lolita, duma forma lúcida e lúdica, veio aqui escrever sobre faroleiros.
Eu li com atenção e atrevo-me a sugerir-lhe uma mudança de título. Aquele tipo de fauna piscícola, que a nossa
uruguaia fogosa , ironica e certeiramente, zurze, atribuindo-lhes o epíteto de faroleiros, corresponde aos... azeiteiros! Os verdadeiros sebosos, ungidos de óleo animal desde a microscópica célula nervosa à farta bigodaça (passando pela "peugal brancura e pela gravatal brilhância"), os azeiteiros, voilà!
Há-os, de facto, por todo o lado.
No entanto,sugerido isto, eu quase nem resistia a dizer que a maior parte dos azeiteiros são benfiquistas, o que poderia extrapolar-se, facilmente, numa manobra estatística singela, do legítimo orgulho que sentem os adeptos da simpática agremiação lisboeta em serem maioritários no
tecido desportivo-cultural-humorístico português. Fala-se em seis milhões, há quem afirme, já, sete milhões (e está sempre gente a nascer, convenhamos), e essa maldosa asserção seria, até, lógica. Ainda bem, contudo, que resisti. Porque gosto dos
nossos amigos sofredores e eles, sinceramente, como muitos outros, não mereceriam tamanha indelicadeza. E agora estou a falar a sério!
Ainda bem que Deus me deu esta capacidade indómita de frenar os meus impulsos mais tenebrosos.
O faroleiro
Bom. Ele há coisas
to be continued. Há uns dias escrevi umas coisas soltas sobre um certo sub-grupo do sexo masculino cujas idiossincracias e bizarrias me suscitaram aquelas reflexões que então aqui deixei. E que mantenho, pese embora o traço grosso da caricatura, que foi intencional e que precipitou a besugal confissão, embora atenuada, da sua condição cromagnona. Atenuada, repito.
Agora deu-me para mais isto. Há um outro sub-grupo, igualmente masculino, que merece menção. Contrariamente ao cro-magnon, este já não enternece rigorosamente nada e causa, isso sim, uma vaga repulsa: dedico, assim, este post ao faroleiro português.
O faroleiro é, invariavelmente, um gajo todo espertalhaço. Fala muito, ri com todos os dentes que tem e em tom demasiado elevado. É ruidoso, prolixo. Veste fatos de tecidos brilhantes, alilasados ou verdes, de trespasse e calças largas. Gravata de tons e motivos berrantes. Meia branca, sempre. Emblema de qualquer-coisa na lapela, para se sentir pertença de qualquer-coisa. Por vezes, com lenço no bolso do blazer, a condizer com a infeliz gravata. Telemóvel topo de gama na mão,
mariconera debaixo do braço. Lamentavelmente em extinção, esta última.
O faroleiro adora churrasqueiras de
take away. Daquelas que servem doses abundantes, com muitas batatas oleosas ou semelhantes enche-panças, onde o faroleiro se sente histericamente bem, entre as garfadas de arroz que lhe besuntam o bigode - inevitável, o bigode - a entrar pela boca dentro, a cerveja de pressão em caneca XL e os restantes amigos faroleiros, todos barulhentos, todos de faces coraditas (eu garanto: não há nada de menos atraente do que um homem coradito, qualquer que seja a causa; excepto, talvez, se tiver menos de quinze anos), todos... bestiais . Nenhum ouve o que quer que seja a não ser a si próprio. Falam - ou melhor, gritam - de futebol, de gajas, de mandar esses pretos e esses russos todos para a terra deles e que andam aqui a comer o nosso pão, do sacana do patrão a quem invejam o
BêÉme. Depois voltam aos assuntos
futebol e
gajas. Por esta ordem.
Possui uma inconfundível e aguçada visão RX com que observa, com precisão estudada, qualquer
gaja que lhe passe pelo embriagado campo de visão, que come alarvemente com os olhinhos papudos e brilhantes, sempre, sempre pequeninos. Alerta, então, os restantes faroleiros para a descoberta, de forma que, supõe ele, ser discreta, por via do que todos se dedicam colectivamente à análise demorada da dita
gaja e respectivos atributos. Sussuram, entre si,
"que boa!!" ou outras lascívias aqui irreproduzíveis. Às vezes, abrem involuntariamente a boca e babam um pouco. A
gaja, por sua vez, ou não se dá conta disso ou, se se dá conta, sente um arrepio na espinha. Acreditem. Com excepções, admito.
O faroleiro papa todas,
rectius, todas as que deixarem. E papa-as como quem come as tais batatas oleosas, para a mera satisfação de mais um instinto fisiológico. No segundo seguinte, já saciado, dentro do tal ciclo cognitivo circular, está de novo a pensar no futebol. O faroleiro é um gajo extremamente seguro de si. Sente-se profundamente livre. Afinal, ele pode comer o que quiser e quem quiser. Gajas, batatas oleosas, enfim, o que quiser. E é feliz, naquela grosseira bestialidade. Porque ele sabe muito bem o que todas as gajas querem, ó se sabe. Topa-as a todas. E nunca vai perceber que só é verdadeiramente livre quem pode escolher dizer que não e não quem diz sempre que sim. Para o faroleiro, se uma
gaja lhe diz "não", ou é sapatinha ou é sapatona. Ou por aí algures, porque qualquer pretexto serve para que o faroleiro acredite que foi ele que não quis.
Suspeito que ainda me vou arrepender de me pôr aqui com estas sectarizações que, se mal entendidas, ainda me vão valer epípetos menos próprios. Ainda me vão chamar feminista. Ou pior. Olha, que se lixe...
Fundamental
Os que me conhecem sabem que sou um fundamentalista primário.
E, contra o tabaco sou mesmo dos piores.
Não que tenha anda contra o tabaco em si, acho até louvável que a Tabaqueira e a Philip Morris ganhem honradamente a vida a distribuir pelo País e pelo mundo uns cancros de pulmão, catarros e expectorações. A família Espírito Santo e restantes accionistas agradecem reconhecidos aos consumidores.
Mais a mais, o tabaco já haverá sido responsável por nos aliviar de alguns empecilhos que andavam por este mundo a atazanar-nos a moleira.
No entanto, quando me toca pela porta, a coisa fia mais fino.
E, aviso desde já, não faço tenção de ir ao IPO visitar uns senhores que, só porque lhes apetece andar de chupeta na boca, um dia lhes começa a dar umas tossicas, por acaso fazem um raio-X e aparece uma sombra escarrapachada num pulmão.
A quem servir a carapuça, que a enfie!
E porque não ficaria bem se não desse o toque melodramático venezuelano nesta posta: Lembrem-se ao menos dos vossos filhos...
Coisas simples
Há coisas simples que nos deixam contentes. A referência que nos foi feita no
Mata-Mouros é uma delas.
Quando resolvemos fazer o
blogame mucho , pela mão entusiasta da Lolita, combinámos que seria um cantinho para virmos conversar, sobretudo, entre nós. Somos amigos, muito diferentes uns dos outros, uns mais dedicados, outros menos, diametralmente opostos em muitos pensares, mas com um gosto comum: escrever coisas. Não tínhamos, nem temos, outra pretensão. A nossa vida não é esta. Com alguma pena nossa, valha a verdade.
Lemos outros blogues, evidentemente. Fizemos link para alguns, quase ao acaso, por ver os outros fazer o mesmo. Sem grande critério, claro está. Pelo menos sem um critério uniforme. E lá os vamos lendo, a esses e a outros, com prazer.
Contudo, confesso: é muito agradável saber que, ao menos às vezes, nos lêem. Isto é, às tantas, uma admissão de imaturidade, quase renega as origens. Mas nós somos assim. Bom, eu sou, talvez, mais "assim" que os outros, que da minha terra não se vê o mar, esse alargador de horizontes.
Admito que fiquei contente, pronto. E assumo, com trasmontana simplicidade, que vim aqui agradecer. Ensinaram-me assim, pensem o que quiserem.
Foram simpáticos.