Post nacionalista
Ele há alguns portugueses - demais, se calhar - que vivem atormentados com aquilo que pensam de nós todos, "lá fora", os outros. É uma preocupação vã, parece-me. Antes de mais, porque suponho que nenhum estrangeiro (uso esta designação por facilidade de expressão, só para acentuar essa intrigante e tão cultivada dicotomia português/estrangeiro) se mace a pensar em nós, portugueses, mais do que dois minutos por semestre. Quando muito. Naturalmente, eles lá terão a vidinha deles e mais em que pensar do que "na imagem dos portugueses" (seja lá o que isso signifique, porque para mim não significa nada), problema obcessivo e sempre presente no tuga típico, preocupado com o eterno complexo da opinião que o vizinho tem sobre o seu way of life e, sobretudo, sobre a integridade da sua pessoa (que nem sempre é a melhor, pelo menos estatisticamente). Ora, este complexozinho individual, transformado, pela justaposição dos milhões de complexozinhos de cada português, num grandioso e aterrorizante complexo colectivo, redunda na maior parte das vezes neste entediante cliché que esta maliciosa bloguista reproduziu no seu blogue: "Entretanto, vão reforçando assim a péssima imagem que os portugueses têm no estrangeiro." Mas no estrangeiro têm alguma imagem de nós? Péssima, ainda por cima?Vejamos. Portugal não possui sequer importância política, económica, cultural - até futebolística - suficiente para que se forme no espírito de qualquer estrangeiro uma ideia agregada, preconceituosa ou não, do que são os portugueses. Há portugueses com protagonismo internacional, mas não há protagonismo internacional dos portugueses. Para o melhor e para o pior, a verdade é que somos uma nação periférica, com muito pouco peso e influência no que quer que seja, incluindo nos nossos próprios destinos nacionais. E a diáspora lusitana, profundamente marcante durante séculos, corre hoje grandes riscos de ser diluída no pesado e inevitável ocidentalismo anglo-saxónico que espalha, sem que o possamos evitar, todas as variantes da sub-cultura norte-americana, massificada e alienante como o ópio do Senhor Mao.
Eu por mim garanto que não gasto mais do que os mesmos dois minutos semestrais a reflectir sobre a opinião que têm os franceses, os ingleses, os americanos, ou até os marcianos, que nem são deste mundo, sobre nós, lusitanos. Até porque a verdade é que eu nem sequer tenho grande opinião sobre os referidos franceses, ingleses e americanos, por variadissimas razões que agora não vêm aqui ao caso (abstendo-me, por razões que me parecem evidentes, de emitir opinião sobre os marcianos). Desconfio, além do mais, que nenhum deles se importará por aí além com aquilo que, nós, os portugueses pensamos deles, estrangeiros. Não há, julgo, memória de qualquer governante inglês (ou de qualquer inglês não governante) a lamentar-se da péssima imagem que os hooligans do manchester united passam do reino para os portugueses. E assim é que está bem. Deixemo-nos, pois, destas lamúrias fáceis e inúteis. Esqueça-se o raio do balneário que os putos do futebol destruiram em França, porque isso só acidentalmente aconteceu com portugueses, bolas. E lembremo-nos de que só tem legitimidade para censurar o que está mal quem se sentir suficientemente português para apoiar incondicionalmente a selecção, sobretudo quando perdem jogos ou pelo menos não metem golos. Scolari à parte, claro.
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