blog caliente.

12.11.03

Ante-estreia (ou o dragão é azul indigo)

Surpreendi-me, durante umas boas três horas de visita, com o noví­ssimo, ainda inacabado, Estádio do Dragão. Entrei pelo escoadouro da bancada sul e deparei-me com uma mancha circular de azul indigo em perfeito contraste com o verde do relvado (que me garantiram não ter um micronésimo de pitium). Acima do tal azul, elevam-se pilares brancos que terminam em tubos ondulantes que cobrem o recinto, juntos ao céu, de tão altos. E os vãos, nos topos norte e sul. Lindos, rasgados e profundos vãos. Do centro da bancada oeste, lá no topo do mundo, da bancada da imprensa, onde os tais tubos ondulantes estavam quase ao meu alcance, pude ver a cidade, à esquerda, e o rio, à direita.

Pelo escoadouro central, levaram-me, depois, aos ainda virgens balneários, em sentido contrário ao que os vinte e dois hão-de percorrer no Domingo, em estreia absoluta. Onze chuveiros, com células inteligentes, daquelas que detectam alguém que se ponha debaixo. Mostraram-me, pois. O jacuzzi, na sala ao lado. Os gabinetes do Mourinho e do André, espartanos e, evidentemente, azuis. A sala de aquecimento, onde dois homens lentamente escovavam a relva sintética. Bonito quadro, qual tela de Bosch, se não se passasse entre quatro paredes. A sala de massagens. A capela (!!!), destinada aos jogadores mais fervorosos. A sala das conferências de imprensa, onde os pés se afundam na alcatifa azul (indigo, claro) enfeitada com o emblema dragonístico. Sentei-me numa das cadeiras, a imaginar o Mourinho, arrogantemente realista, a garantir mais uma vitória.

Subi ao terceiro andar, que corresponde, na perspectiva da bancada sul - se não me engano - a um sétimo piso, e aí visitei os camarotes. O maior ostenta descaradamente à entrada as menções bilinguí­sticas "Presidencial - Presidential". O melhor ângulo de visão para o relvado, evidentemente. Confortável, luzes veladas, a inevitável alcatifa azul. Não brilha mais do que os restantes, a não ser no espaço, nem os outros entre si, à medida que as estrelas atribuí­das a cada um diminuem e, com elas, o respectivo habitáculo. E à medida que as estrelas de carne e osso escasseiam.

Prestes a sair, já caída a noite, voltei ao recinto e verifiquei, de novo, o azul indigo das cadeiras. Bonita cor. E o céu, profundamente azulado, estava ton-sur-ton com o interior circular do estádio. Pelo menos no Porto, o céu é portista. Pelo menos.

Vi a grua que guarda o segredo da aposta do Luis de Matos, e que me foi, discretamente, revelada: no Domingo, o Porto ganhará ao Barcelona por três a zero, com um esfuziante golo do Ninja e dois do... Quaresma.

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