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António de Sousa, o outro administrador da CGD que saiu quando Mira Amaral foi demitido, fez questão de divulgar que saiu de mãos vazias, sem reforma e sem quaisquer indemnizações (foi ele que, uns tempos antes, pediu a exoneração). Tudo isto é, evidentemente, imaculado. Só não se entende porque é que alguém tão sem máculas precisa de se mostrar em público para provar que não as tem: afinal, ninguém falou dele. Uma hipótese possível seria a de que algum inimigo de Mira Amaral o tenha convencido a enterrá-lo ainda mais. Bem sei, isto é difamatório; mas, no plano da lógica, todas as hipóteses são legítimas - desde que lógicas.
Na verdade, eu só falei nisto como pretexto para dizer que não me agrada que as pessoas apregoem as suas próprias virtudes, como se não percebessem que a verdade dessas virtudes se banaliza nos panfletos e que só existe no bem,
discreto, que se pratica.
Desculpe?
Quando li
isto, lembrei-me imediatamente dos anúncios aos iogurtes linha zero...
Ainda bem, contudo
As duas italianas foram libertadas. Fico muito contente, por elas, por mim.
No entanto, o que permanece, para lá do humano regozijo do momento, é a consolidação desta certeza: a vida, a liberdade e a dignidade das pessoas podem depender, em havendo azar, apenas, de eventuais misericórdias (compradas ou não) de cabrões.
Isto chateia.
Breves
Aqueles debates televisivos (como o da saúde a que o besugo se refere) não levam - nunca - a lado nenhum. Especialmente se se expõem neles casos particulares. Uma andorinha não faz a primavera, uma folha que caia não faz o outono.
Chama-se a isso confundir árvores com florestas. Eu, que não percebo nada de política de saúde, remeto-me a prudente silêncio. Espero que quem percebe saiba diagnosticar as falhas e tomar as medidas que as corrijam. Será pedir muito? Neste país, parece que sim.
Notas da minha aventura (melhor, dos meus filhos) no ensino público:
a) A Rosarinho continua sem aulas, por causa da confusão das colocações.
b) O Duarte até ver parece que teve sorte. A professora que lhe calhou está a puxar por ele, e ele lá vai correspondendo.
c) A Francisca está sem aulas até dia 7 de Outubro. A professora, usando as palavras de uma contínua, "meteu atestado".
Conclusões/ilações não tiro. Ainda é cedo.
Misturas
As discussões "globais" sobre seja o que for são muito difíceis. Sobretudo quando decorrem em frente às câmaras da televisão (porque, aí, a vontade de "parecer correcto e bem" impera mais) e, por inerências de "share", as pessoas recorrem a muitos testemunhos. São debates interessantes mas falta-lhes tempo. O tempo é importante, devia ser longo, cada assunto devia ser esgotado, sem saltitar entre temas porque "agora dá-me jeito assim".
No entanto, o debate desta noite, na RTP, interessou-me. Primeiro porque trabalho na área da saúde, sou médico. Depois, porque estavam lá o pai do Serviço Nacional de Saúde (estava em Coimbra, mas estava no programa) e o seu potencial coveiro. Entre outros. E, depois, porque também hei-de adoecer, suprema visão do egoísta.
Tudo se diluiu, como sempre se diluem os solutos nos solventes (até à saturação, claro) , no testemunho daquele homem cuja mulher morreu com um aneurisma dissecante da aorta. Pelo que contou, foi 5 vezes ao hospital. Não acredito que não lhe tenham visto "as tensões".
Ver as tensões é uma coisa que nem sempre é importante, mas, neste caso teria sido. Isso e ver os pulsos femurais. E deve ser rotina, na Triagem, ver estas coisas. No meu hospital é, ou quero crer que seja. Lá também deve ter sido, pode é ter dado "tudo normal". Ou então, não sei que diga.
Digo isto, que também não resolve nada.
Os diagnósticos prováveis formulam-se perante suspeitas. Suspeitar é preciso, mas suspeita-se menos quando se está cansado. E, outra verdade prática, se alguém recorre em dias consecutivos ao hospital, com as mesmas queixas, deve ser internado, passado "para dentro", mais pensado, observado com especial atenção. Por muito que se venha a concluir, depois, que afinal não era preciso tanta coisa. A precisão define-se por si própria, não pela sua consequência. É como o erro: a sua gravidade é intrínseca, não deve ser analisado consoante o dolo que causa. Sei que é mais difícil julgar intenções, mas viver é mesmo difícil e devemos resistir ao fácil, não é?
Para pensar é que é preciso tempo. Enquanto há tempo para pensar. Por isso defendo que não deve haver médicos a trabalhar 24 horas seguidas. E, às vezes, mais. Que a Triagem é um acto de grande importância. Decisiva. E que, entre a ignorância e o cansaço fica, por culpa de nós todos, uma grande quantidade de "espaços em branco".
Sobre o que penso dos centros de saúde, dos hospitais SA (como o meu), dos outros hospitais, dos enfermeiros, dos médicos, das políticas, falo noutro dia. E sobre outras coisas, também. Não porque pense saber muito das coisas, sou só médico, mas
porque também sei. Faço parte. E as coisas devem ser analisadas sem as confusões inerentes ao "contraponto fácil". Só fazemos ruído, quando vamos por aí.
Pós-socrático
Tenho andado a tentar convencer-me da existência de virtudes políticas no Sócrates, sobretudo por causa do intrigante impacto que tem causado na direita e na capacidade que todos - não apenas a direita - lhe encontram em ser a melhor alternativa à coligação. Tem sido difícil; eu queria, queria mesmo, acreditar que o Sócrates conhece e sabe fazer todas as habilidades que um político ambicioso faz. E nem pedia mais do que isso, porque se fosse pedir, pedia muito mais. Mas depois dou comigo a pasmar perante o denunciado primarismo do discurso, ensaiadíssimo, estudado, lido e relido depois de escrito pelo Jorge Coelho ou pelo António Costa, noto-lhe a ambição desmedida de
self-made-man (mas, afinal, sem obra feita) e o novo-riquismo bacoco das referências culturais deslocadas e pronto, não consigo. A expressão facial não ajuda nada, em boa verdade: um olhar apatetado e um lábio inferior descaído fazem presumir pouco engenho. E não me esqueço de que, na entrevista que em Agosto deu ao Expresso, não resistiu à confrangedora legitimação última de referir que está a fazer um mestrado.
"Vocês podem não acreditar, mas é verdade", disse.
Bem fez o Carlos Menem, que escolheu o Sócrates certo - o clássico. Tanto, que dizia ter lido toda a sua obra...
A fome
Amanhã, os jornais desportivos vão dissecar o empate do Benfica. E vão arrepiar caminho. O que é mau, uma vez iniciada uma teoria, ela não deve ser abandonada ao primeiro escolho.
Mas não: não acredito que, por exemplo, o
Record, mantenha a sua linha editorial e se entregue a considerações entusiásticas sobre o significado de empatar na Luz à quarta jornada, sob o comando batutal de "Trap". Podiam sempre dizer que
"Trap conseguiu manter liderança", mas isso seria ainda mais ridículo que dizer o óbvio:
o Benfica perdeu 2 pontos (como faz sempre, nas alturas cruciais em que parece na mó de cima), o Porto reencontrou-se, com a sorte do seu lado, (como lhe acontece sempre) e o Sporting continua a sua derrapagem rumo à desgraça (como nem sempre acontece, valha-nos Deus).
Ou seja, vão vender muitos jornais e não há grande coisa a acrescentar a estas "verdades" de tonto, por enquanto. É dar-lhes tempo, eu sei, mas eles têm de ganhar, já hoje, para os enlatados de atum, têm lá eles tempo para pensar melhor quando a fome é que lhes verte a tinta das canetuchas!
Empates calmos
1 - O Sporting entrou tenso, nervoso, a medo. Podíamos ter levado um golo logo nos primeiros minutos, à conta da tremideira, o que seria injusto. Mas até seria natural. Tem sido...
2 - O Sporting recompôs-se e, sem jogar muito bem (para ser benévolo), passou a controlar e a dominar o jogo. Podíamos ter marcado, o que seria natural e justo. A justiça advém do facto de, ao contrário do Rio Ave dos primeiros minutos, termos "assumido" mandar no jogo todo, mostrando querer ganhá-lo, embora sem mostrar muito mais que o querer.
3 - O Pinilla é jogador da bola. Hoje estive com atenção e vi: o miúdo (é muito novinho, mesmo) é bom. Rematou muito, trabalhou bem e deve a uma excelente defesa do Mora (sacana do espanhol!) ter ficado a "seco". Temos ali jogador, temos ali (caramba!) falta sorte. A sorte é precisa, a quantidade de coisas, nesta vida, que "sai à sorte" é descomunal. Um dia a sorte chega e muda tudo, quando já lá há o resto.
4 - O Rio Ave também podia ter ganho, é verdade, mas a maior verdade desta frase é o "também". O "também" significa uma alternativa possível, viável, mas profundamente injusta.
Não, a sério, para quem não viu: hoje merecíamos ter ganho. Isto vale o que vale, é parcial, às tantas. Mas eu acho sinceramente que sim.
Achamentos
Obrigada, besugo, mas já
o tinha achado.
Em todo caso, farei como pediste: direi "
yes, master" sempre que falares, mas sobretudo quando estiveres "
en train de faire"* autocrítica...
*E usando, até, um galicismo.
Descobertas
Lolita, o tipo está
aqui!
Podes agradecer de forma singela esta indicação: dizes
"yes, master!" sempre que eu falar.
Ontem eu ouvi isto.
- ... e é evidente que a obrigação dele era dar o lugar ao Sr. Rodrigues, que bem merece algum respeito pela idade que tem.
- Exactamente. É, no mínimo, uma questão de urbanidade...
- Ora! É uma questão de educação! Não é preciso ser-se urbano para se saber disso!
- ...
Trapaculo
BENFICA NUNCA COMEÇOU ASSIM! Trapattoni tem a maior vantagem!
O "Record", que é um jornal diário, derrama-se, logo abaixo deste título, em elogios ao velho "Trap". Tomam confiança, é o que é: é logo "Trap"! Por isso o Mourinho foi para Londres, aqui corria o risco de participar em "flash-interviews" que começariam assim:
"Moura, então que tal o jogo?" .
Logo ali, ao lado dos encómios ao "Trap", colocaram uma espécie de tabela, uma coisa qualquer, que permitia verificar o seguinte:
Tal como em muitas outras ocasiões, o Benfica ganhou os 3 primeiros jogos do campeonato.
O que depende do Benfica é (além de sofrer pelo facto estranhíssimo de, agora, ser o
esselebê), unicamente, ganhar os seus jogos, não é? Pois é. Fez 3 jogos, ganhou-os, tem nove pontos. Ora, tendo o Benfica feito isto variadas vezes nos últimos doze anos (pelo menos), onde residirá a diferença assinalável? Evidentemente, na vantagem de pontos que agora tem sobre o Sporting e o Porto.
O estimável conjunto badalante "Tsc-Tsc" (aquele que referi ali abaixo, que ainda respiram, os tipos...) decerto entoará que
"lá vem este, bolas, para que fala ele, esta besta, se isto é mesmo assim, viva Trap, yeah, é por isso que Portugal não vai para a frente".
Mas, a grande verdade é que só se podia pegar, honestamente, construtivamente, dissecantemente,
"comoquiserempegar-lhemente" , nesta notícia - os pontos de avanço do Benfica - pelo outro lado: o dos outros, que não é costume perderem tantos pontos nas 3 primeiras jornadas. A única coisa digna de nota é essa. E é estranho que, quando a única coisa digna de nota são os outros, se pegue sempre no mesmo, no "de sempre". E nem é para vender jornais: é por estupidez, acreditem.
Andam a tentar lamber o orifício anal ao italiano, não andam? Lambam enquanto podem, ele vai deixar de vos baixar as "truces" em breve. Coitado.
Da histeria e da frontalidade: mofos
A lolita escreveu sobre a histeria. Os histéricos (do latim "uma coisa qualquer que adianta um grosso para isto") pululam. E ululam. Um "p" não faz a diferença, "ois" não? Pois, às vezes faz. Mas faz "ouca".
Ela está coberta de razão. Pensa-se pouco. Descobrimos uma concha de vieira e pensamos que somos donos da "Shell".
A verdade é sempre mais além, até porque não a há, pelo menos assim à mão de semear. Ou de colher, muito menos facilmente.
Sempre me pareceu que as pessoas opinam demais sobre o que desconhecem, elevando a voz numa proporcionalidade directa à sua ignorância. A única variável, nesta equação miserável do "opinanço", é o estado de enervamento em que a pessoa que "opina" está, porque há pessoas muito nervosas e outras mais calmas. Não têm conta os imbecis e as idiotas que conheço que começam qualquer conversa com "venho dali e já estou aqui cheia(o) de nervos!". Desligo-me logo, chamem a televisão para este corno (ou para esta puta), ponham-lhe um
pivot ou uma
pivota na frente, deixem-me! Vai dar agora o arraial na televisão, façam favor, eu vou antes ouvir música, ou ler, ou cavaquear.
Sempre me pareceu, também, que as pessoas tendem a falar alto demais. Guincham ou urram muitas vezes, consoante o timbre. Até pode ser uma questão cultural, mas eu acho que a incultura também é uma questão cultural, a falta de educação é que não é questão nenhuma. É a mãe da estupidez, essa parva.
"Eu sou muito expansiva!"
"Eu sou muito frontal!"
Quando oiço isto (que é dito, sempre, como se fosse uma excepcional qualidade, quando é consabido que os tolinhos é que tendem a dizer o que lhes vem aos cornos) penso sempre em juntas de bois, currais de vacas, cortelhos, pombais, manadas, auxiliares de acção médica e frequentadores de "castings".
Pior que isto, só ter de ouvir aquele jovem e imbecil conjunto musical, os "Tsc-Tsc", cantar o refrão daquela triste balada "É por isto que Portugal não vai para a frente". Como se alguém quisesse que Portugal se ultrapassasse, muito menos só de os ouvir
cantarolar-se.
A antropologia devia ser encarada como um ramo (se calhar menor) da zoologia. Eu sei que já é, mas devia ser assumida como tal.
O homem visto do avesso
Da história de filicídio do Algarve extrai-se, para além do irrecusável horror, a força da sordidez dos curiosos. Ontem de manhã, antes de sair de casa, vi-os na televisão, reunidos junto ao Tribunal de Portimão. Havia de tudo: a dona de casa de saquinho de compras no braço, o vendedor de aparelhos de ar condicionado que encostou o clio de dois lugares, o dono do mini-mercado da esquina, o reformado, o desocupado, o desempregado, a cacique - indispensável, a que lança os manifestos contra (assassinos!!) vestida de vermelho sangue (curioso simbolismo), anafada de histeria rouca - e, claro, a autoridade.
O arraial aumenta quando os directos das televisões entram no ar. O povo quer justiça, pudessem eles e a mãe e o tio morriam à pedrada. E são incansáveis, nestes hipnóticos instintos boçais. O que é inquietante é que não são estereótipos: existem mesmo e aparecem sempre que o sangue escorre, para que, dependendo deles, escorra ainda mais.
Póvoas
Não fui à Póvoa,
senhor, que a Póvoa parece que já não me quer. Tantos e tão bonitos anos para isto! Coisas. Calores diferentes das nortadas que eu gosto. Miudagem.
O nosso rodovalho há-se sair, quando calhar. Arranje-o! Amanhe-o! Asse-o! Chame!
Sabe uma coisa? Desde a nossa primeira desavença sobre os genéricos, aquele bate-papo entusiasmado de
iniciados nestas coisas de escrever para dezassete leitores, aquela discussão que a gente teve, lembra-se(?) (a lolita condena-me por usar
"a gente", um galicismo... prefere
"nós" , eu dou-lhe razão, mas sai-me sempre assim...), entendi tudo: "
este boticário há-de, ainda, provavelmente em Setembro, desaustinado, atirar-me às fuças com a história do emprego garantido dos médicos, com a sua perversa preferência pelo Sócrates e, suprema vingança, há-de garantir-me que, em podendo, "deitava" no Bush".
A única redenção para o seu "crime" é esta. Uma tri-redenção, aliás:
1 - Você mantém a quimera do rodovalho e arranja um, ao menos, para caber na cova dum dente.
2- Você vai aos Arcos no domingo, ver o Sporting ganhar ao
Dupond&Dupont , e rejubila.
3 - Você continua a ser desassombrado.
Se assim for, tudo lhe será perdoado, você penetrará o reino das boas-aventuranças de martelo-pilão galénico em riste, você garante um amigo. Mas não pelo martelo, abrenúncio, guarde-o!
Até lhe basta a 3, digo-lho eu.
Como criar um homem de sucesso
Começam, se não antes, nos tempos da faculdade - nas associações de estudantes (onde frequentemente são presidentes), nas extintas RGA's ou em pueris manifestações estudantis que quase sempre redundam em medidas extremistas (de que é exemplo manter um professor preso no próprio gabinete), de onde se transportam para os braços jovens dos partidos políticos (onde também frequentemente são presidentes), em que a irreverência juvenil que se lhes espera consiste numa curiosa mistura de colagem discursiva ao político mais mediático do partido e de ânsia panfletária um nadinha mais à frente do programa do aparelho, através da qual defendem desde o reconhecimento das uniões de facto até ao lince da malcata. Nada de muito consistente, note-se; pretende-se, tão só, fazer o estardalhaço suficiente para obter a notoriedade intra-partidária que lhes permitirá ascender ao degrau seguinte da longa escalada do sucesso. Não recomendável, portanto, para rebeldes indisciplinados.
Chega, então, o dia em que lhes está reservado um lugar na lista de deputados elegíveis (da qual até então já faziam parte só para encher). Como tribunos, aprendem com os mais experientes da bancada os segredos das intervenções que passarão no telejornal, os sorrisos ensaiados de ironia, a postura displicente de homem de vistas longas, os truques para o desdobramento de viagens, a obíqua condição de estar fora com simultânea assinatura no livro de presenças, enfim, até o vestuário coincidente com a condição político-partidária. No seio do partido, a longa jornada a caminho do topo continua: de assessores
ad-hoc dos barões do partido, de quem são uma espécie de moço dos recados (telefonemas para a imprensa e contactos com as bases), passarão, por mérito próprio, a membros da comissão política, de onde sonharão, assim que surjam a oportunidade e os apoios, poder vir a ser o líder e, principalmente, candidato a chefe de governo.
Só alguns, porém.
Porque daqui derivam duas hipóteses possíveis: os que efectivamente chegam a líderes do partido passam a
notáveis, futuros candidatos a presidente da república ou a cargos internacionais de relevo: os chamados estadistas. Os outros, aqueles cuja ambição não obtém suficientes apoios, passam a
históricos e tornam-se ministros. Alguns, até, super-ministros. E alguns dos
históricos mais esforçados ascendem, às vezes, à condição de
notáveis.
Os outros, os menos esforçados e/ou menos dotados passam, quando são demitidos, a
ex-ministros. Um
ex-ministro não é um
notável, mas o aparelho deve-lhe reconhecimento e, mais importante do que isso, contrapartidas: é preciso, já se sabe, ter o cuidado de alimentar as influências bem cotadas. E, assim, na última e anseada etapa da caminhada, tornam-se administradores de uma qualquer empresa pública onde, finalmente, o merecido pé-de-meia os espera. Ou comentadores residentes dos telejornais, onde ganham menos mas, em compensação, são mais mediáticos. O dourado final do longo mas bem sucedido percurso.
Quase notável.
Ceras abertas
Justino Santos, presidente dum país que não há, com o aparato inerente a qualquer presidência, haja-a ou não, chegou ao sítio, todo encerado de véspera. Que é quando se enceram as instituições, de véspera, na esperança de reduzir a instituição à cera, ao cheiro a lavado de fresco que a cera certa empresta ao bafio institucional.
Justino Santos sabia (Justino Santos é marinheiro antigo, embora prefira velejar em doçuras mansas) da semelhança entre a sua missão ali e uma mão cheia de nada que tivesse vindo na sua vez. Mas, mesmo a inutilidade deve ser rodeada de pompa institucional, quando tudo se passa institucionalmente. Encera-se uma instituição e surge, imediatamente, um advérbio.
Justino Santos chegou tarde ao sítio, exibiu a simpatia descontraída de quem pode ser simpático e descontraído nos sítios todos, porque não tem de lá ficar: é uma brisa fugaz, nem sequer é um vendaval fugaz, ambos fugazes, brisa e vendaval, mas o vendaval mais marcante. Que pena...
Justino Santos fez de cicerone dum sítio que não conhecia. No fundo, tornou-se uma espécie de "guia improvisado do labirinto", como aquele do livro de J.K Jerome. Habituado a ser protagonista onde quer que esteja, foi ao sítio falar (em vez de ouvir), perguntar coisas cuja resposta estava contida na pergunta, generalizar-se na abrangência dos "conselhos aos alunos". As generalizações fáceis de qualquer Justino são equivalentes à pomposidade dum médico que, perante doente sofrido, lhe recomenda que deixe de fumar, que beba pouco, que caminhe: isso sabe ele. Sabemos todos.
Para isto não era precisa tanta cera apressada. Até porque, amanhã, tudo seguirá o seu rumo de empoeiramento progressivo, paulatino, até ao costumeiro bafio que se consegue tocar, em alguns dias: o bafio táctil das rectaguardas da realidade.
Justino Santos não terá de o cheirar tão cedo e deve estar a descansar numa beatitude mais profunda, ainda, que o seu discurso.
Chuviscos frescos de Setembro
Se o meu caminho de todos os dias fosse, ao menos, parecido com este, seria uma estreita
canada entre os "florões" de S. Miguel e o xisto cinzento do Douro. Tudo enegrecido pelo brilho da chuva.
A utilidade da vida
É difícil entender que espécie de ponderação de valores conduz alguém que, sem ceder a exigências de raptores, condena um homem a uma morte tão dolorosa como absurda. Um homem
temporariamente poderoso, como Blair, há-de pensar que a morte de um inocente às mãos ensandecidas de uns quantos terroristas não é suficientemente relevante para que, querendo evitá-la, tenha de libertar outros homens que, apesar de saberem que o seu destino depende de outros homens poderosos, não correm risco de morrer.
O engenheiro britânico de sessenta e dois anos que hoje implorou ajuda a Blair, com o despudorado desespero que só se veria a quem, abandonado a si próprio, já perdeu o rumo da vida, nada tem a ver com os prisioneiros de Bush e já foi testemunha antecipada da sua própria morte, ao ver morrer os outros dois reféns. Pobre é este país, a
Great Great-Britain que, não salvando uma vida útil, escolhe positivamente assistir a uma morte inútil. Uma nação que não salva os seus suicida-se, lenta e covardemente. E o engenheiro britânico será esquecido em pouco tempo e nunca terá a glória de ter sido um mártir.
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Desculpa, Sérgio Godinho
Afinal, isto não anda nada tudo ligado.
Matar pessoas, decapitando-as ou não, filmar-lhes a agonia, exibi-la como estandarte seja do que for, sujando as mãos no sangue de quem se mata, é ser bárbaro e hediondamente mau. Não há ali outra coisa senão maldade.
Invadir um país pelas razões erradas é um erro grave. Pelas razões certas, às tantas, também é. Mas não tem comparação.
São coisas que temos de discutir separadamente. Ou, então, calarmos ambas e escolher falar da bola, ou da retoma, ou da pobreza. Doutra indigência qualquer. Mas tendo a certeza absoluta que lidamos com vergonhas e medos muito diferentes, fiquemos calados ou não.
Lógico?
Suspeito que
já não sou a única pessoa a achar que o Francisco Louçã está para o Portas como o Sócrates está para o Santana Lopes. Ou, claro, como o Narciso Miranda para o Ferreira Torres. Só falta saber se, sendo eleito PR, Cavaco Silva estará para Sampaio como Vitorino estará para Barroso.
Ah! E como Manuel Alegre estará para Pacheco Pereira.
Para Alberto João Jardim não está ninguém. Na verdade, ele também já não devia estar...
12 anos
O João, que faz hoje 12 anos, agradece aos amigos. Ao
Vilacondense também, que foi muito simpático: eu expliquei ao João o que é um link, que um link pode servir para muitas coisas, mas que a mais bonita das coisas para que serve um link é a homenagem. Mesmo que seja pequenina, apenas ternurenta, sabe sempre bem.
Lolita's provocative quiz (o regresso)
Ora aqui está um questionário pertinente. A que vou, sem mais demoras, responder:
1 - Declarará o Alonso todos os rendimentos no seu IRS?
Claro.
Acho eu.
Pensando bem, a minha mulher é que trata disso (não, eu não sou o Judas)
2 - A secretária do Alonso ganha mal? Terá PPH ou PPR?
Sim. Mantenho-a no limiar da pobreza, para que ande motivada.
Não, tem 26 aninhos e ainda não pensa nessas coisas, além de que o que ganha é para comer, não para frivolidades desse tipo
3 - Quem passa menos recibos? Os advogados (profissionais liberais, claro) ou os médicos (da privada, claro)?
Os Advogados. Ganham menos.
4 - Que espécie de vantagem, favorecimento ou privilégio constitui ter "emprego certo"?
a) subsídio de férias;
b) um mês sem trabalhar mas ganhando ordenado como sempre;
c) subsídio de Natal;
d) salvo violação do contrato (justa causa), não há despedimento. Havendo, recebe-se indemnização;
e) se se estiver doente, não se trabalha, mas ganha-se na mesma (do patrão ou "da caixa");
f) se se tiver um filho, pode-se não trabalhar por um determinado período, mas ganha-se na mesma;
g) mais uma miríade de pequenas regalias em que, como nas anteriores, o vencimento está garantido independentemente de se trabalhar ou não;
h) Tem-se a tranquilidade de (no "emprego certo") ter rendimento certo. E estável.
Inconvenientes (não está perguntado, mas ainda assim ...)
a) Há patrão;
b) O que ganhamos só vagamente depende - mas nunca de forma absolutamente directa - do que trabalhamos e da qualidade com que trabalhamos (isto é bom ou mau, consoante a perspectiva e a atitude de cada um);
c) Não nos assiste a esperança de poder - um dia, quem sabe - ganhar milhares de contos por mês (salvo se se almejar ser "gestor" de uma boa empresa, caso em que se reúne o melhor de dois mundos)
5 - A que se dedica exclusivamente o besugo?
Ele respondeu. Faltou dizer se estrebuchava no mar, num viveiro, num aquário ou numa piscina (pública, claro está, que "privada" não é com ele)
6 - Que raio de ideia peregrina é essa do SNAJ?
Deve ser aquela coisa que há nos EUA, e à qual pertencia aquela advogada do "Hill Street Blues". Excelente advogada, por sinal.
7 - Terá o besugo jantado em frente ao teclado?
Não. À hora de jantar estava eu no escritório a trabalhar (perdão, a escrever neste blog) e ele não estava cá.
8 - Qual de vocês ganhou a última corrida de carrinhos de choque, perdão, de karts?
Faço minhas as palavras do besugo: "Não me lembro. Mas ele não foi!"
Post scriptum - Os meus filhos mais velhos começaram hoje as aulas. Falta a Rosarinho. Acho que o melhor é acabar com o Ministério da Educação. À bomba.
Post post scriptum - Parabéns ao João. Se é quem eu estou a pensar que é, que não sofra muito este ano com o seu clube de eleição.
DESCULPEM-ME...
... os caros bloguistas deste fantástico blog.
Acabei de ver as colocações dos professores e verifiquei que a minha mulher ficou colocada na 6ª escola.
Isto não era mau se colegas dela, com número de graduação muito abaixo do dela, não tivessem ficado à frente neste concurso. Revela isto que as colocações e o trabalho desta ministra foi uma palhaçada autentica!
Estou farto... e DAQUI FICA UM AVISO: SRª MINISTRA... POR ONDE ANDAR OLHE BEM PARA TRÁS... ESTÁ FODIDA COMIGO!
Ainda por cima depois de 5 minutos de listas online aparece a seguinte nota informativa: "Os resultados das listas de afectação, destacamento e contratação deixaram de estar disponíveis. Será transmitida nova informação quando possível."
Mas que vem a ser isto? Depois de erros nas colocações, e eu tenho provas disso pois guardei as páginas de vários professores, agora tiram tudo e deixam esta nota informativa?
Mais grave que isto é sentirmo-nos abandonados... Sindicatos, Rádios, Televisões, Jornais não estão disponíveis!!! Só a partir das 9:30 da manhã!!! E se eu resolvesse matar a vaquinha estavam disponíveis?
Nunca se sabe! Eu estou a ficar fodidinho da silva! Isso vos garanto!!!! E um tipo assim faz por vezes coisas que não pensa! Embora eu pense mesmo a sério sobre o que digo!!!!!
P.S. - Resta-me arranjar um(a) advogado(a) para me ajudar a resolver isto... Até ao último tostão!
Lutar por uma dignidade que se perdeu há muito!
já sei... já sei...
Mas que raio apregoa este gajo sobre a educação???
Foda-se que ele não se cala! E fala mal comó caraças!!!! É professor? É!!!!!
Mal vai a educação neste país, ó santanáz...
Vou calar-me? Não vou... gosto pouco de levar no traseiro...
Por breves minutos vou reflectir...
Mas só por breves minutos, até voltar à carga!!!!!!
MENTIROSA!!!
A vaquinha cornélia, leia-se a Professora Doutora Seabra - licenciada em Microeconomia e Ministra da Educação de um governo mentiroso, falso e hipócrita, deu um tiro no próprio pé! As listas não apareceram dentro do prazo que ela estipulou, com ar sorridente, no programa de um canal "comprado". RTP ou melhor Rádio e Televisão de Portugal!
Espero agora que a ministra, mais mentirosa que o pinóquio, se vá embora e dê o mote ao Pedro (o Santana Lopes).
Ó Pedro!!! Palhaçadas, só na 24 de Julho... não é ó Pedro???? De gravata na cabeça e coisas do género...
Também me parece que não há condiçoes para viver num país governado por mentirosos! Não lhe parece
Sr. Sampaio???
Que vontade... vocês todos sabem qual a minha
vontade e o meu desejo!
Espero, um dia, sentir-me realizado! Simplesmente por ter enfiado um par de murros e biqueiradas em alguem pertencente ao
POLVO!
João...
Muitos e bons anos, na companhia dos teus pais, irmão e todos os que gostam de ti... que são muitos, mesmo muitos!
Até para o ano, murcóm! Um beijo do tio!
Para o Jonas
Procurando bem
Todo mundo tem pereba
Marca de bexiga ou vacina
E tem piriri, tem lombriga,
tem ameba
Só a bailarina que não tem
E não tem coceira
Berruga nem frieira
Nem falta de maneira ela não tem
Futucando bem
Todo mundo tem piolho
Ou tem cheiro de creolina
Todo mundo tem
um irmão meio zarolho
Só a bailarina que não tem
Nem unha encardida
Nem dente com comida
Nem casca de ferida ela não tem
Não livra ninguém
Todo mundo tem remela
Quando acorda às seis da matina
Teve escarlatina
ou tem febre amarela
Só a bailarina que não tem
Medo de subir, gente
Medo de cair, gente
Medo de vertigem
Quem não tem
Confessando bem
Todo mundo faz pecado
Logo assim que a missa termina
Todo mundo tem
um primeiro namorado
Só a bailarina que não tem
Sujo atrás da orelha
Bigode de groselha
Calcinha um pouco velha
Ela não tem
O padre também
Pode até ficar vermelho
Se o vento levanta a batina
Reparando bem,
todo mundo tem pentelho
Só a bailarina que não tem
Sala sem mobília
Goteira na vasilha
Problema na família
Quem não tem
Procurando bem
Todo mundo tem...
Lolita's provocative quiz
Vou responder ao questionário da lolita, ou seja, à parte que me diz respeito. Mas, antes, não resisto a dizer que tudo o que eu já disse (do Sporting) é verdade, mas a SAD, às vezes, irrita-me. Pronto, já está.
Agora o resto, lolita.
A 1 e a 2 são, exclusivamente, com o alonso. Pensando bem, não são, mas ele tem o direito de se defender destas questões ignóbeis.
3 -
Quem passa menos recibos? Os advogados (profissionais liberais, claro) ou os médicos (da privada, claro)?
São os advogados. Os médicos passam recibos, que o alonso já explicou.
4 -
Que espécie de vantagem, favorecimento ou privilégio constitui ter "emprego certo"?
É um grande privilégio, que só é legitimado na utilidade pública que o motiva. Se motivar. Doutra forma é só uma injustiça, comparável à reforma do Mira Amaral e a outras centenas de coisas. Mas não é.
5 -
A que se dedica exclusivamente o besugo?
A estrebuchar, para não acabar, saboroso mas inerte, numa gamela de sopa de peixe.
6 -
Que raio de ideia peregrina é essa do SNAJ?
É uma ideia que, aparentemente, se constituiria (se levada à prática) num refrigério para o alonso. Pelo menos para ele, para ti não sei... ora conta-me lá tudo!
7 -
Terá o besugo jantado em frente ao teclado?
Não. Em frente à SportTV. É proibido promover indigestões? É?
8 -
Qual de vocês ganhou a última corrida de carrinhos de choque, perdão, de karts?
Não me lembro. Mas ele não foi!
A respeito do Sporting
Bom, falta respeito.
Não andamos a jogar nada de jeito, mas o respeito é bonito. Não se desrespeita quem se ama a não ser quando se está desaustinado. E, mesmo assim, só para chorarmos a seguir, sem desculpa possível. Sei do que falo. É uma metáfora. Uma espécie de ratoeira para as emoções.
Adiante.
1 - Quando se decide cantar
"Joguem à bola, palhaços, joguem à bola!" , que essa decisão cantadeira seja tomada em tempo certeiro. Durante a primeira parte, por exemplo. Nunca quando a equipa está a tentar, finalmente, galhardamente, tardiamente, jogar à bola, sem conseguir (às tantas merecidamente, pronto) que os deuses a ajudem. Nessa altura, mais vale o silêncio respeitoso e triste que o despeito revoltado dos impotentes de bancada. São como os outros, mas têm agora cadeirinhas.
2 - Quando um qualquer Xistra expulsa um jogador qualquer, por cair, sem ter sofrido falta óbvia, deve pensar na possibilidade de o jogador ter caído, pronto, apenas isso. Estraga um jogo, interfere no jogo (não digo que interfira no resultado, isso é outra conversa) este tipo de decisões autoritárias, que fazem equipas (quaisquer que elas sejam) ficarem apenas com 10 jogadores em campo por uma birra de pequeno juiz. Não é uma falta grave, o que Liedson fez. É uma criancice, de acordo, uma pequena falsidade, mas amplamente difundida, dependendo a sanção, apenas, do lado para que qualquer Xistra acorde nessa noite. Ou dia. Isto é que está mal, devia depender apenas do senso.
3 - A gente vai melhorar, tanto faz perder 6 pontos nos 3 primeiros jogos como perdê-los nos primeiros 21. É ir andando. Não calha nada bem irmos ao Rio Ave, que adquiriu o hábito de nos enfardar no lombo. E agora não dava jeito nenhum outra coça.
Nada que me tire o sono, eu gostei de ver algumas coisas, hoje. E sei muito bem de quem gosto. De quem hei-de gostar sempre, mesmo que lhe veja os defeitos todos em dias de desvario.
Deformação profissional
Acabo de dar conta que o Alonso argumenta como se estivesse a escrever uma peça processual: a cada facto o seu artigo. Sugiro, por isso, ao besugo que, na sua próxima investida, impugne especificadamente cada um dos factos articulados e que, depois, ambos me remetam tudo para saneamento (ofereço os meus serviços com juiz de paz - de paz, sim, afinal não sou funcionária pública, profissional liberal ou médica). De tudo, levarei ao questionário apenas aquilo que for matéria controvertida, de que dou exemplos:
1 - Declarará o Alonso todos os rendimentos no seu IRS?
2 - A secretária do Alonso ganha mal? Terá PPH ou PPR?
3 - Quem passa menos recibos? Os advogados (profissionais liberais, claro) ou os médicos (da privada, claro)?
4 - Que espécie de vantagem, favorecimento ou privilégio constitui ter "emprego certo"?
5 - A que se dedica exclusivamente o besugo?
6 - Que raio de ideia peregrina é essa do SNAJ?
7 - Terá o besugo jantado em frente ao teclado?
8 - Qual de vocês ganhou a última corrida de carrinhos de choque, perdão, de karts?
Descubra as diferenças
Se o discurso simplista de Bagão Félix sobre as analogias possíveis entre o orçamento de estado e os orçamentos caseiros causou algumas cócegas, mais as causa
esta apologia do pobrezinho, mal pago e, portanto, longínquo utilizador de benefícios fiscais que, de resto, nunca utilizaria porque, sendo pobre, ignorante e desinformado, teria de procurar ajuda - e pagá-la - para saber como os utilizar. E, assim sendo, extingam-se os benefícios fiscais de quem pode fazer poupanças, porque assim se aumenta exponencialmente a ajuda social do Estado que os protega, mesmo que seja à custa das poupanças alheias. A classe baixa só tem a agradecer, ao saber que, mesmo não percebendo nada disto, há alguém que sabe por ela e que, em podendo, decidiria por ela: Bagão Félix (que já decide) e, surpreendentemente, Daniel Oliveira...
Adiamento da questão do Sporting por causa do cheiro das tintas
Vinha eu, com a calmaria do costume, analisar a derrota do Sporting (mais uma) quando reparei que o nosso inenarrável blogue oscila entre o emocionado (questão dos professores, segundo stkaneko) e o "não sei que te diga" (questão do alonso, que está cansado por escrever duas vezes no mesmo dia).
A questão do Sporting fica para depois. A dos professores está entregue. Falta o alonso. Falta sempre esse fatal alonso!
1 - Os recibos dos médicos dão para meter no IRS e, por isso, as pessoas pedem-nos aos médicos que têm privada. E os médicos passam-nos. Muito bem. Alarguemos esta ideia e talvez a cinza se dilua em azul celeste. Já agora, a questão ao contrário: os advogados, como os recibos que passam não são "metíveis" em sítio útil por quem - se calhar por isso - lhos não exige, ficam largamente prejudicados. É isso? Onde vais tu, alonso, que vais por aí?
2 - Tu, no fundo, lamentas a inexistência dum SNAJ (Serviço Nacional de Assistência Jurídica). Eu já te tinha feito um (um Sistema dessses), se soubesse, mas não sabia que o querias tanto...
3 - Tu sabes que eu estou em dedicação exclusiva, mas esqueceste-te de reforçar o mais importante do que eu te disse: que fui obrigado a ela. E surpreendes-te, ainda, com os laranjas. Falsário. Eu não. Muito menos desde que se deixaram penetrar, alegremente, de caruncho. Mas já não me surpreendiam antes, se queres saber: eu, desde que vi o Cavaco em cima dum tractor... Foi a seguir à rodagem do BX.
4 - Isso dos gastos profissionais nem comento. Continua assim, a declarar os teus rendimentos todos. E a tua secretária que declare os dela. Assim é que está bem. Adiante.
5 - As empresas não fogem aos impostos? Muito bem: em termos de tributação, eis as empresas a equipararem-se, finalmente, aos funcionários públicos e aos trabalhadores por conta de outrem. Tudo gente cumpridora, uns
é de certeza, os outros
presume-se que sim. Mas eu, ao contrário de ti (que disseste, sobre o que escrevi no "jorro", que
o "Expresso" terá dito, que tu não leste), que não te basta a minha palavra, satisfaz-me plenamente a tua. A tua palavra, delirante criatura!
Nem sequer vou contrapor a minha faceta cartesiana (e alguns factos que conheço) à tua pujante verdade. E mais: calem-se, trabalhadores por conta de outrem! Os senhores não são os únicos que pagam impostos neste país! Os senhores só pagam 70%, seus pífios! Os profissionais liberais, é logo 6%, tungas! E as empresas e os jogadores da bola pagam os outros 24%. Mas tudo paga, ora essa, pelo menos dá 100% no fim.
O alonso fica contente, a gente gosta dele de qualquer maneira, mas assim contente fica mais luzidio.
6 - Depois sou eu que não leio! Eu estou contigo nessa cruzada. A Função Pública não carece de aumentos. Carece de despedimento. De motivadora pobreza. Eu incluído. Ora relê, ó vertiginoso jurista sem elmo!
7 - Bolas, aqui não sei que te diga, excepto que vou pensar. Às tantas, a partir de agora, vou passar a ver os fiscalistas como uma espécie de "lawyers on waves". Mau gosto, admito, pronto, mas o Sporting perdeu.
8 - Eu sei que não és. O que me reforça o ponto 7.
9 - Estás a pedi-las. Em Rilhadas, em Baltar, em Évora, onde queiras, torpe sabotador de
karts alheios! Eu sabia que tinhas sido tu a avariar-me o veículo!
É preciso ter lata!
Começou o programa da RTP sobre os problemas da educação e a ministra da educação apareceu sorridente e com a lata que a caracteriza. Levou até, ao que parece, meia duzia de cromos do
POLVO para lhe baterem palmas, sob pena de serem despedidos caso não o fizessem.
Não tenho paciencia para a ver na televisão. Dá-me vontade de lhe vomitar em cima e de lhe mandar umas valentes biqueiradas após a regurgitação.
Entendida em Microeconomia revela ser incompetente nos assuntos da Educação. Possui ligeiros vestigios de cérebro e muita areia, sendo esta um factor limitativo para que os poucos neurónios que tem consigam funcionar.
Olhando para a televisão de soslaio vejo-a sorridente. Mete-me nojo! Chamar-lhe nomes parece-me pouco. Insultá-la a ela e à mãe já o fiz inúmeras vezes e hei-de continuar a fazer. Mas o que eu queria era mesmo dar-lhe umas valentes biqueiradas em directo na TV... isso sim ia deixar-me satisfeito. A ela, ao Justino, ao Santana, aos secretários de estado da educação...
Que bonito era aparecer por lá um louco tipo Jimmy Jump a deitar-lhe o liquido de um reservatório daqueles comprados na farmácia para efectuar análises à urina... cheio de urina, daquela amarelinha e cheirosinha!
Tou-me a passar, eu sei... mas apetece-me passar de vez em quando!
Mandar uns murros faz sempre bem e alivia o stress. Mas como não os vou poder enfiar na vaquinha cornélia ficam guardados para, em altura propícia, enfiar em alguém desta corja que me mete nojo!
P.S. - e não me venham foder o juízo os defensores dos animais por causa da vaquinha...
Ai eu (2)
Nem sei que diga. O besugo veio por aí em grande tropel (ele dixit) e enfaralhou-se todo. Ó homem, tu ao menos leste o que eu escrevi?
Deixa-me esclarecer alguns equívocos, e sigo a sistematização do que escreveste:
1º Nem me lembrei do IRS dos médicos quando escrevi o que escrevi. Até porque tenho a ideia de que, mesmo "na privada", passam recibo de todas as consultas que dão. É que esses recibos, além de não terem IVA, dão para "meter no IRS", ao contrário dos de outros profissionais, como os Advogados.
2º O "emprego certo" dos médicos no Estado pode advir de muitos factores. Mas existe. E contra factos não há argumentos. Eu falei desse assunto apenas para explicar - e contrapôr - que a esmagadora maioria dos formados em Direito, depois de sair da faculdade, não tem escritório onde entrar, não tem dinheiro para criar escritório e tem que arranjar uns "ganchos maizómenos jurídicos" que lhe permitam sobreviver durante - pelo menos - os primeiros dez anos de carreira. Tudo isto, também, para explicar que não me surpreende a média fiscal que o "Expresso" terá indicado (digo "terá" porque não o li).
3º Eu sei que estás em dedicação exclusiva. Não faço ideia das razões dos "laranjinhas" para incentivarem a dedicação exclusiva (embora isso me tenha surpreendido, tendo em atenção que a eles são normalmente imputados outros "incentivos" na área da saúde).
4º Quando eu escrevi "Alonso, se pagasses mais impostos do que os que pagas nada disto acontecia ..." não estava a confessar nada de inconfessável. Estava singelamente a referir que podia ter menos gastos profissionais, como a continuação do que eu escrevi claramente revela.
5º Se, passado o jantar, leres com mais calma o que escrevi, vais perceber que as empresas não fogem aos impostos. Essas querem tudo documentado. O problema são os clientes individuais. Esses, nunca querem pagar IVA e nunca querem recibo. "Para quê, Sr.Dr.?". Normalmente são da classe média, trabalhadores por conta de outrém, e queixam-se imenso de que são os únicos que pagam impostos neste País.
6º Dizes que zurzo a função pública. Eu nem zurzi, na verdade. Só disse o que é óbvio. Que se deixo de fazer descontos e ponho a minha secretária a viver temporariamente à conta do Estado este vai ficar com menos dinheiro. Para aumentar a função pública. Que tem que ser aumentada todos os anos, quer o Estado tenha mais, quer tenha menos dinheiro. Sob pena de haver grossa contenda. Que prejudica o País. Disse alguma falsidade?
7º Por acaso disse. Liguei tal prejuízo aos Advogados e à falta de solidariedade daqueles que acham que pagam muito (muitos impostos) por muito pouco (pelos maus serviços que o Estado lhes presta). E que fizeram florescer, entre os Advogados, os chamados "fiscalistas". Ou seja, os Advogados que são consultados principalmente por quem quer - no respeito da Lei - pagar o menos de impostos que for possível. Que malandrice querer isto, heim, besugo?
8º Antes que leias isto tudo a correr outra vez, aproveito para esclarecer que não sou "fiscalista".
9º Espero que não tenhas tido necessidade de pôr o teu capacete preto antes de leres isto. Lembro-me bem desse capacete. Antes da corrida terminada já o tinhas arrumado. Parece que o teu kart deu problemas antes de eu ter tido a oportunidade de conhecer - sim, conhecer - a pista para onde me levaste. Além de que o meu kart tinha a produtividade de um chefe de divisão do Ministério da Educação (ups ... saiu zurzidela)
Post Scriptum (não escrevi P.S. para que não me levasses a mal) - A questão do "serviço nacional de assistência jurídica" é uma questão muito interessante. Mas, sobre isso, haveria mais a dizer e mais a discutir do que aquilo de que me sinto hoje capaz. Por isso, e porque hoje quebrei a ignóbil raridade dos meus escritos escrevendo duas (sim, duas) vezes no mesmo dia ... fico-me.
Esguichos de besugo (parte do jorro)
O alonso irrompe por este blogue adentro com ignóbil raridade, o que é pecado que nunca expiará com total justiça. Mas fá-lo sempre com
tal fogosidade que, quem ele interpela, se sente impelido a responder-lhe (como uma vez fez o respeitoso Eça a Pinheiro Chagas) “em grande tropel”. Eu digo isto à vontade porque sei que o alonso evitará, na sua próxima incursão, arremessar-me às fuças a óbvia facilidade do
“se admites vir em grande tropel, nem sei que te diga mais... olha, relincha!” .
E, bolas para o homem, lá veio ele com a história dos médicos que exercem clínica privada (e que também, em parte maior ou menor, não declararão a totalidade dos seus privados rendimentos), misturando-lhes depois, em dose venenosa, aquele pecado original (não é original, data da criação do SNS, mas, em certa medida, vendo bem, a criação do SNS funciona, neste particular, como emulação do génesis...) do
“emprego certo logo que se licenciam e depois, sacanas, quando já não querem, blá-blá-blá, sol na eira e chuva no nabal” .
Vamos por partes.
Amigo alonso: (vai assim, que epistolar também é preciso!)
Eu citei (enfim, não citei, apenas referi) coisas que li no
Expresso. Por acaso - e eu não defino a linha editorial do
Expresso, nem sequer do
Notícias do Xisto, juro – não se falava lá dos médicos. Falava-se dos médicos dentistas, apenas. Ou seja, duma parte dos médicos que, tradicionalmente (até porque o SNS quis, ou permitiu, que assim fosse), exerce fundamentalmente clínica privada. Admito, perfeitamente, que também haja muitos médicos “não-dentistas” que declarem receber muito menos do que, efectivamente, recebem, na sua actividade clínica privada. Não há qualquer má fé da minha parte naquela omissão, que, aliás, nem isso pode ser considerada (uma omissão) senão com... má fé: é que, de facto, no
Expresso, não se falava disso. E, o que parece, é que aquele grupo de profissionais liberais que referi mente, em média, descaradamente, quando vai preencher os papéizinhos, ou os formulários electrónicos, do IRS. Tu queres lá meter, nesse saco, os médicos “da privada”, alonso? Mete à vontade. Meto eu, até, por ti:
ploft, já lá estão.
Este ponto é meu: na questão levantada, acusas-me, apenas, da falta dum “etc”. É o que os médicos, ali, naquele contexto, são.
Reposta esta verdade, vamos a outra. A nódoa marcante do “emprego certo”.
Eu não sei se a Ordem dos Advogados, ou algum sindicato que vocês tenham, ou mesmo algum jurista, isoladamente, enfim,
se alguém defenderá a existência dum Sistema Nacional de Assistência Jurídica, definido em moldes mais ou menos paralelos (com as devidas adaptações, mantendo, apenas, a designação “utentes”, porque irrita muita gente, este besugo incluído, e é sempre bom irritar o próximo) aos do SNS.
Não sei, aliás, se, depois de criado este novíssimo Sistema, ele absorveria todos os profissionais da ciência jurídica que quisessem dedicar-se (em exclusividade ou não) a ele. Muito simplesmente porque, sinceramente, eu desconheço as necessidades que esse Sistema teria, em termos de “mão-de-obra”. Mas, se o houvesse, por absurdo, eu admitiria que só lá trabalhassem as pessoas que o Sistema (que seria, nesse caso, uma coisa que haveria, bem ou mal) necessitasse e, por delas necessitar, admitisse.
Já do SNS, uma vez que está criado (e eu não o criei, eu sou um jovem, ainda, aproveitando, até, com a leveza da minha juventude, para afirmar que nunca me pareceu que a Ordem dos Médicos e, mesmo, grande parte dos seus filiados, tivesse aplaudido a sua criação, na altura), conheço-lhe as virtudes e as carências. E sei que, mau-grado a “litoralização manhosa” de muitos profissionais, há verdadeiras razões de escassez global para que esse “emprego certo” se mantenha. E sobeje.
No entanto, alonso, tenho de te contar três pequenas verdades a este respeito.
Uma, é que não há, desde há largos anos,
“emprego certo no Estado para os sacanas dos médicos”, pelo menos como tu insinuas que o há. Quando terminei a minha especialidade, em 1993, vim para o Hospital em que agora trabalho como assistente eventual, ou seja, sem qualquer vínculo à função pública. Foi nesse ano que o vínculo automático acabou, homem! Há 11 anos que a tua verdade deixou de o ser, passando a ser ingénua mentira! Depois, de facto, por abertura de vaga (e por concurso), entrei na chamada carreira médica. Mas só nessa altura. E quero crer que a vaga foi aberta por necessidades maiores que as minhas, não havendo culpa que, daí, me possa ser imputada. Nem a mim, nem às centenas ou milhares de colegas, meus contemporâneos ou meus sucessores nessa (a)ventura. Podes sempre culpar o Sistema, mas é melhor uma discussão de cada vez, que eu não possuo a tua ginástica mental.
Outra, é que com o regime das S.A.,
o que já era, passou a sê-lo ainda mais. Neste momento estão vedadas as admissões de qualquer profissional (sim, médicos também, até me quer parecer que
sobretudo...) nos quadros do SNS. Excepto, evidentemente, como ditam os dogmas neo-liberais, por contrato individual de trabalho. Claro que podes dizer-me que
“ora bolas, mas entram na mesma, têm emprego!” , e eu respondo-te, como há bocadinho,
“será porque são necessários, às tantas” .
A última é esta: como uma vez já te contei, embora me mantenha (porque acredito nele) no regime de dedicação exclusiva, não o escolhi. Foi-me imposto (e não deveria ter sido) desde o internato complementar (Beleza & Sucessores) e, mais tarde, duma forma menos veemente mas não menos “paternal”,
aconselhado com intensidade. Curiosamente, sempre na vigência de governos de cor alaranjada.
Este ponto, portanto, também é meu, mas se precisares dele eu empresto-to, pagas noutra discussão qualquer, oportunidades não faltarão, assim Deus nos mantenha escorreitinhos e ninguém nos faça reféns de coisa nenhuma.
Tu, a seguir, enfias-te por umas diatribes sinuosas, aparentemente desprovido do teu famigerado e protector capacete dos “karts”. De facto, eu não sei o que tem a ver o facto de a média (eu insisto nisto da média) dos advogados, aparentemente, engaldrapar o fisco, com o início tardio das aulas dos teus (e dos meus!) ganapos. Se eu fosse tortuoso e tivesse imaginação, até acabava por perceber que, quando tu disseste
"Alonso, se pagasses mais impostos do que os que pagas nada disto acontecia ...", estavas aí a confessar alguma coisa de menos confessável. E que, quando falaste de empresas que insistem em não te pagar o IVA, querias dizer que há mesmo empresas que se recusam a pagar-to, como se isso fosse possível no nosso imaculado tecido empresarial, todo ele voltado para o desenvolvimento da nossa
sociedade-povo-paixão-criação-de-postos-de-trabalho-Portugal-bandeiras-à-janela-durante-o-Euro-e-sempre!
Mas eu não sou tortuoso, a minha imaginação é um seco Alentejo sem Alqueva, de maneira que considero estes dois pontos nulos. A menos que tu admitas (num acesso de bondade) que cometeste dupla-falta, e nesse caso, o ponto (só um, vá, pronto) é meu.
Depois, zurzes a Função Pública. A Função Pública não tem, de facto, de ser aumentada. Ninguém, aliás, tem de ser aumentado. Ninguém tem, efectivamente, de manter (quanto mais melhorar) o seu nível de vida. O empobrecimento é livre e, embora não devesse ser obrigatório, admito que aches que deve ser estimulado. Na Função Pública e naquele outro contingente que é parecido com a Função Pública, que se chama “trabalhadores por conta de outrem”. Eu tento crer nisso, também. Tento, aliás, com toda a força, até porque esse empobrecimento redentor iria, estou mesmo a ver daqui, obrigar os relapsos “novos pobres” a deixar a vida que levam, de pecaminosa dependência dos
desgraçados patrões que têm de lhes pagar e, assim estimulados, os que não morressem à míngua ou resvalassem torpemente para a aventura do assalto à mão armada, iluminados pela fome (que aguça o engenho e favorece corpos
danone), criariam empresas florescentes. E assim por diante, criando um verdadeiro paraíso terrestre feito só de patronato, sem essa parasitagem obreira.
Tu desculpa, mas também não te dou este ponto, a menos que completes a tua obra e lhe dês um título. Pode ser, por mim (e é de borla),
“Os parasitas: do seu extermínio à sua definição; por esta ordem cronológica, que me resulta mais fácil” .
Isto vai longo; deve ir, mesmo, penoso. E, por isso mesmo (e porque vou jantar), páro, pedindo desculpa pela extensão longitudinal deste jorro besugal. Só não juro que se não repete porque, às tantas, repete-se mesmo.
Mas dou-te razão numa coisa, alonso (sou teu amigo, bolas): acho muitíssimo bem que, como ameaças no teu ponto 1o,
penses nisso! E que me trucides na volta do correio, como mereço, se estiveres para aí virado. Estás à vontade, porque eu protejo-me: uso sempre aquele capacete negro, faiscante de bonito, que te habituaste a ver por detrás, lá bem ao longe, lá no finzinho da recta da meta, lembras-te(?), sempre que tu entravas nela. Na recta da meta.
Abraços.
(In)definição...
São cinco da tarde e nada se sabe sobre as famosas listas por enquanto.
Encontrei neste
fórum, frequentado na sua maioria por professores, uma definição engraçada e que vou transcrever... sem mais comentários!
"As Aventuras desse bicho simpático que se desloca lentamente com a sua casa às costas, procurando sempre, de antenas no ar, que os ventos de mudança lhe tragam paz e sensatez de espírito...O Caracol? Não! Essa mistura de Homo sapiens-demens, o PROFESSOR!!"
Paulo Pintassilgo
Ai eu ...
1 - O besugo anda por aí irritado porque a média dos Advogados declara 800 euros mensais de rendimento. Se é bruto, acho pouco. Se é líquido, acho muito. Como média, claro está.
2 - O besugo esquece - é fácil esquecer - que a esmagadora maioria dos Advogados não aparece na televisão e ganha o que ganha para manter escritório e família. Isto, se teimarem em ser independentes. A alternativa é fecharem o escritório e irem trabalhar para um patrão qualquer. Com mais ou menos independência, isso já depende da sorte e do patrão que arranjarem.
3 - A "privada", como os médicos lhe chamam, é lixada. Admito que, para médicos, não o seja. Para eles o trapézio tem sempre rede (o Estado, que tanto maldizem, mas que lhes dá emprego desde que põem os cotos fora da faculdade). A "privada", para os médicos, é uma espécie de complemento. E, se nela tiverem sucesso, podem continuar a maldizer o Estado, agora afirmando orgulhosamente que já o deixaram. Pudera, tiveram sol na eira no início de vida, podem ir agora ver chover no nabal.
4 - Qualquer semelhança entre isto e a advocacia é pura coincidência.
Mudando de assunto (ou talvez não) ...
5 - A questão que tem motivado as irritações do stkaneko já me passou uma secante (como diria a lolita). Os meus filhos permanecem sem aulas. Vamos indo que dois deles parece que amanhã terão novidades.
6 - É este tipo de coisas que me faz pensar "Alonso, se pagasses mais impostos do que os que pagas nada disto acontecia ...".
7 - Bem vistas as coisas, se me mudar para um pardieiro e despedir a minha secretária acho que passo a pagar mais impostos. A não ser que passe a ganhar menos, claro. Ou que deixe de trabalhar para empresas e dê só consultas a quem não quer de maneira nenhuma pagar o IVA dos meus honorários.
7 - Mas como a minha secretária, além de deixar de fazer descontos para a Segurança Social, ia recorrer ao Fundo de Desemprego, acho que o Estado ainda era capaz de ficar a perder. E depois continuava a não aumentar devida e anualmente a função pública. Que, como toda a gente sabe, tem que ser aumentada.
8 - Sob pena de grande prejuízo para o País.
9 - Causado directamente pelos Advogados e outros malandros que não são nada solidários, nem com as massas trabalhadoras, nem com as massas que a elas se pagam.
10 - Vou pensar nisso.
Vá lá FODA-SE!
Já diria o meu amigo Zeca!
Esta merda dos concursos não sai? Estou há 3 horas a ver o site do
polvo e nunca mais há novidades!
Apetecia-me… a sério que me apetecia… óóóóóóó!!! Se apetecia!!! Apanhar alguém do PSD e enchê-lo de porrada até estar sangue suficiente para fazer um arroz de cabidela e alimentar 30 familias de professores!
P.S.- e a puta da incompetência vai recair sobre os chocos... nunca sobre o polvo!
O João Tunes voltou
Para mostrar
"a fronha", diz ele, e vem disfarçado de vizir magrebino (até me lembrei do
Izznogoud, aquela saudosa banda desenhada que vinha nos fascículos do Tintim). Eu cá suspeito que está cheio de vontade de voltar às hostilidades e que, muito brevemente, o
Bota Acima, ou similar, renascerá. Manter um blogue não é um vício: é um prazer, mesmo quando se decide acabar com ele. Se for temporariamente, claro.
Uma grande e expressiva vírgula
O
Expresso diz mais coisas, embora em letras pequeninas, no canto direito duma página. Diz que os profissionais liberais licenciados (advogados, farmacêuticos, arquitectos, engenheiros, médicos dentistas) passam dificuldades. Pelos vistos, os médicos dentistas ainda escapam, conseguem comprar
Fiats Uno a prestações, parece que juram ganhar, em média, 250 contos por mês. Preocupam-me, sobretudo, os farmacêuticos: nem 200 contitos mensais arrecadam. Deviam ter benesses suplementares. Eu até desafiava
o Jorge a comentar isto, mas pronto, estou assim bonómico e não quero que o homem me acuse outra vez daquela coisa dos genéricos só porque vive no limiar da pobreza...
A Lolita está fora destas coisas. Pagam-lhe bem, mas ela também desconta bem... diz ela! E o que ela diz escreve-se, até porque ela o vai escrevendo. Polémica interna? Talvez. É proibido? Há uma coligação no poder que vive para isso, para guerrilhas intestinas e, ao contrário deste blogue, que há-de chegar aos 100 anos (a menos que a PT passe a cobrar à posta), vai morrer disso! A autofagia não mora aqui, afinal. É mais ao lado.
O alonso... hum... não sei, ele não tem aparecido desde que admitiu que, no fundo, aborta discussões... desculpem, ele admitiu isso, à sua maneira. Mas pode sempre tentar explicar como é que os advogados, em média, afirmam ganhar menos de 8oo euros por mês. Não deve ser difícil de justificar, eu sei que ele janta sempre sandes de manteiga, sempre que janta.
Bom. Isto anda difícil. Toda a gente percebeu onde paira o problema, excepto os "tipos das contas". Isso mesmo, os gestores e os economistas, que são os tipos que não aranjaram
nota secundária para entrar em direito, engenharia, ou medicina. Ou em educação física, isso é bom, gosto disso. Ou então em letras,
tout-court. Letras é bom, também, ao menos não fazem contas e, desde que não me chateiem com raciocínios circulares, tipo "vamos agora fazer contas às letras", que andem para aí contentes. À vontade. As gajas de Letras eram, numa percentagem populacional superior a 7%, bastante boas.
No
inimigo público (não, não é ao filho ministro da senhora dona Sacadura que me refiro, esse é um autodidacta da eutanásia, vai ser limpinho, de sujo que está) podia ler-se, ontem, que houve um imbecil qualquer que se atreveu a entrar em medicina com menos de dezoito valores. Está muito mal. Menos de dezoito, devia implicar jornalismo, profissões ligadas à comunicação, à publicidade, à gestão, ao cantochão, e assim. E obrigar a contas, muitas contas à vida, implicar o ostracismo, as galés, a própria morte. É que há castigos que redimem, sabiam?
Imediatamente falso
Nada que não se suspeitasse: o Expresso revela que 70% da receita de IRS respeita aos rendimentos de trabalho dependente e que apenas 6% provém das profissões liberais. Esta estatística é tão escandalosa como incompreensivelmente duradoura, excepto num contexto de indolência, mais do que de impunidade intencional. Na verdade, tudo isto radica na encardida ideia de que ninguém retira benefício
imediato do cumprimento da lei. O cliente do advogado, do dentista ou do arquitecto não beneficia
imediatamente se lhe pedir recibo; o canalizador, empresário em nome individual, não beneficia
imediatamente se emitir factura (neste caso, antes pelo contrário); o Estado não beneficia
imediatamente se implementar os mecanismos de fiscalização e penalização há muito previstos na lei fiscal para combater a evasão. Ninguém beneficia de imediato, todos se prejudicam a prazo.
Nem o socialismo mais ingénuo ignora que não há um único cidadão - mesmo socialista - que, podendo, se escape ao pagamento do pesado tributo, para tal usando os artifícios que lhe estejam disponíveis sem risco maior. Abusando deles, se se sabe impune e se nada nem ninguém lhe ameaça grave penalização e a aplica, exemplarmente, ao prevaricador. Quem foge ao fisco não tenciona, conscientemente, prejudicar ninguém; antes protege o seu património do esbulho. Aumenta o rendimento
imediatamente disponível, expande as suas possibilidades de bem-estar
imediato. Pensa e age com a apreensão social de um eremita ou, pior, com a indiferença instintiva própria, e próxima, da mera sobrevivência. O imposto é, incontornavelmente, dinheiro nosso que nos retiram do bolso, mas as visões curtas que todos temos impedem-nos de procurar mais do que a satisfação dos nossos interesses imediatos e próprios - o próprio rendimento, os próprios benefícios, a própria reforma.
Mas não nos culpemos demasiado. O que se passa em Portugal há décadas passa-se em qualquer parte do planeta onde os executivos não sejam suficientemente musculados para impor comportamentos fiscalmente correctos. O oposto do que se passa, por exemplo, mesmo aqui ao lado na vizinha Espanha, onde todos se capacitaram - a bem ou a mal - de que a sobrevivência das prestações do Estado depende exclusivamente da capacidade contributiva de cada cidadão e que essa capacidade contributiva tem de ser proporcional ao efectivo rendimento bruto de cada um para que, feitas as contas, todos beneficiem, sem atropelos e sem pagamentos adicionais, daquelas prestações. Tudo isso, porque em Espanha o prevaricador é fortemente penalizado, as fiscalizações são reais e eficazes e os barões da economia vão mesmo presos. Ainda haverá quem se furte à
impiedosa lucha contra la evasión mas, fazendo-o, fá-lo-á sabendo que pode, de facto, ser descoberto. Uma espécie de inquisição, embora legítima, mas não menos severa. O contrário, enfim, do que se passa cá, onde se sabe que a inquisição católica não passou mais do que uma secante ao país.
Esta é uma forma possível de provocar mudanças estruturais de mentalidades. Exige, de um lado, a implementação de medidas duras e corajosas de combate à fraude e à evasão e, do outro, as contrapartidas efectivas de benefícios, para que quem contribui apreenda, efectivamente, as melhorias impulsionadas pela sua contribuição. Exige, também e sobretudo, estrategas políticos e suficientemente impermeáveis a possíveis pressões das oligarquias económicas dominantes, que pensem e vejam o país ao longe. Lamentavelmente, aqui só temos o Bagão Félix, cuja estratégia político-fiscal tem densidade económica semelhante à dos livros das mercearias, aqueles do
deve e do
a haver. Não sou eu que o digo, é ele.
Cabos de esquadra
Simão Sabrosa é um jovem maduro. Dado ao chamado "discurso de estado". Afirmou a um jornal qualquer que
"calma lá, ganhámos ao Bystr... aos tipos da Esloq... àqueles com quem jogámos na quinta feira, pronto! Mas ainda não ganhámos a Taça UEFA!".
Olha, eu cuidava que sim, tenho amigos benfiquistas que, ao contrário do modesto Sabrosa, me explicaram haver pouca diferença, actualmente, entre dobrar o cabo Espichel e o das Tormentas. São donos do Adamastor, cá para mim.
A propósito dos Simply Red
Não acredito em muitas coisas mas, em ti, acredito. Esta é a última estrofe, livremente traduzida, de "For your babies", dos Simply Red. Mas isto é evidente: nunca se acredita numa série de coisas. Suporta-se, tolera-se, admira-se, adere-se a muitas. Mas, exceptuando os porta-estandartes das fés-que-movem-montanhas e os néscios que se iludem com moinhos de papel, acredita-se em muito pouco. Ao menos a partir dos trintas, digamos.
Quando alguém diz, num misto de lamúria e heroísmo, que não acredita em quase nada, está, afinal, muito mais ciente da sua própria realidade do que pensa. Não se dá conta que, na verdade, é sempre assim. Acreditar é uma preciosidade e quanto mais apreensível for aquilo em que se acredita mais longa se torna tal crença.
Esta música é muito calmante. Por acaso, só por acaso, levei- a hoje comigo.
Ora bolas
Peço imensa desculpa. Fui ainda mais estúpido e redutor do que pensava ter sido. Recebi 672 e-mails de empresários e doutros
homens-bons deste país, com ensinamentos úteis. Afinal, todos eles se sentem tão tristes como eu com a extinção dos benefícios fiscais que Bagão mencionou ir incluir na sua extintora lista. Todos eles são classe média, como eu, afinal. Estúpido besugo. Todos eles achavam fundamental a existência dos PPRs. Belmiro de Azevedo (e um profissional liberal que não se identificou) chegaram a confessar-me ter conseguido instalar o aquecimento central lá de casa com essas poupanças.
Precipitei-me. Sou uma pequena e fina chuva de Setembro, não era preciso tanto guarda-chuva.
Aceito tudo, até que só devia ler. E ler mais.
Consigo aceitar a ideia de vir a pagar portagens numa futura auto-estrada que me façam ao pé da porta, uma qualquer, que me facilite as saídas e regressos. Mesmo que a alternativa aos meus trajectos diários para o trabalho sejam duas estradas municipais (é verdade, não são nacionais, são municipais...), percebo que toda a gente queira que eu pague a estrada VIP que vou usar, que seja eu que a pague toda.
Consigo estender esta minha aceitação do princípio "tu usas, tu pagas" a praticamente tudo. Mesmo ao Sistema Nacional de Saúde, o que me superioriza (só em termos de condescendência, sosseguem) ao próprio Professor Vital Moreira. Consigo, até, perceber que o extingam, que "quem estiver doente que se amanhe". Consigo entender os raciocínios que, partindo daqui, nos levarão a penalizar, com indiferença carregada de lógica, os doentes com cancro que tenham levado vida devassa, fumando estupidamente, consumindo fumeiros nefastos para o estomacal, ou expondo-se a asbestos. Homem informado é homem responsabilizado, excepto se pudermos processar alguém, é outra conversa.
Vergo-me perante a evidência de ter de ser eu, porque assim tem de ser, a bem dos mais pobres, Bagão
dixit, a abdicar dos benefícios fiscais que lá ia conseguindo através das pequenas poupanças que ia fazendo:
ontem quiseram que eu poupasse, hoje já não querem, perfeitamente, quem sou eu para questionar as grandes questões da macro-economia? Eu sei, aliás, que a medida será universal, mas também sei que era, sobretudo, a mim que me dava jeito aquela torpe imoralidade, pecado original agora corrigido:
"tu, que pagas tudo o que tens a pagar, que andavas contentinho por te devolverem 500 contos dos 4000 que pagas à cabeça, tem vergonha! Põe os euritos que não gastares no banco, a 2%, ou então debaixo do colchão, ou então consome. Vive o dia a dia, que tu és classe média, não há nada que se possa fazer por ti, não és suficientemente rico para me interessares como amigo, nem suficientemente pobre para me interessares como eleitor". Dizem-me isto e eu compreeendo. A opção pela dedicação exclusiva foi minha, embora não houvesse outra opção. Mas podia sempre fazer-me explodir contra uma parede rural.
Consigo entender que seja impossível controlar quem não passa recibos, quem evita IVAs e outras coisas evitáveis, quem não paga o que deveria pagar, embora eu pague. Às vezes penso que é injusto, mas depois explicam-me que eu faria o mesmo se pudesse e eu compreendo.
Aceito perfeitamente que me achem uma das pessoas mais imbecis do mundo por não aceitar uma das migalhas que me atiram:
"Você é chefe-de-serviço, pode fazer clínica privada no hospital, fora do seu horário do trabalho! Por que espera?". E eu à espera que me lapidem por não conseguir entender como é que as duas coisas, tão límpidas e cristalinas para toda a gente, são conciliáveis com o meu rosto feio e sério.
Eu tento entender tudo. A sério. Peço, apenas, que tentem perceber-me também, na minha óbvia falta de entendimento do tempo em que vivo: fico um bocadinho triste, só isso, porque me parece que vamos ficando cada vez mais longe uns dos outros, indo por aqui. Mas não se sintam obrigados à minha companhia, tenho hábitos de higiene mas nem sempre cheiro muito bem das meninges. Já me disseram mais ou menos isto em várias ocasiões, na blogosfera inteira, mesmo quando nem sequer era comigo. Eu, ler, acho que sei.
Não, não vejo lora donde saia coelho
Uma vitória por 2-0, em casa, numa eliminatória da UEFA, costuma ser suficiente.
Excepto se:
1 - Quem ganhou por 2-0, em casa, foi o Sporting.
2 - O adversário é austríaco.
Os pontos 1 e 2 têm alguma tradição histórica. Os clubes austríacos têm o ignóbil hábito de seviciar o Sporting e o Sporting tem o deprimente costume de se deixar seviciar por clubes de uma surpreendente plêiade de países, da Turquia à Noruega. Passando muito, demais, até, pela Áustria.
Melhor dito: o Sporting tem um tradição forte de complicar o que parece fácil.
É por isso que o Sporting é um clube tradicional, às tantas. É, também, por isso (ou por coisa parecida) que eu hei-de morrer do coração, um dia.
Jogámos muito mal. Muito mal.
Olha olha!!!
Está o ministro Stan Laurel, ou melhor o ex-solidariedade e actual das finanças, a falar no canal do governo e a dizer que há funcionários públicos a mais! Isso já nós desconfiávamos todos… com a quantidade de tachos que para aí andam a dar não admira! O que ficamos a saber também, para os que não sabiam ainda, é que a mulher do Stan é funcionária pública. E disse-o com o seu ar maroto e sorridente (de quem tem os bolsos cheios apesar da crise que afecta a maioria dos funcionários públicos …)!
C’um caraças! Se há funcionários públicos a mais despeça-se já a senhora dele!!!!
Mas já!!!!
Gostava de ter escrito isto, mas basta-me que alguém tenha escrito
Sou de outras coisas
pertenço ao tempo que há-de vir sem ser futuro
e sou amante da profunda liberdade
sou parte inteira de uma vida vagabunda
sou evadido da tristeza e da ansiedade
Sou doutras coisas
fiz o meu barco com guitarras e com folhas
e com o vento fiz a vela que me leva
sou pescador de coisas belas, de emoções
sou a maré que sempre sobe e não sossega
Sou das pessoas que me querem e que eu amo
vivo com elas por saber quanto lhes quero
a minha casa é uma ilha, é uma pedra
que me entregaram num abraço tão sincero
Sou doutras coisas
sou de pensar que a grandeza está no homem
porque é o homem o mais lindo continente
tanto me faz que a terra seja longa ou curta
tranco-me aqui por ser humano e por ser gente
Sou doutras coisas
sou de entender a dor alheia que é a minha
sou de quem parte com a mágoa de quem fica
mas também sou de querer sonhar o novo dia
Gostava de ser assim, também. Desejos simples.
Isto é de Fernando Tordo. E é bom. A música também. 1984. Açores.
Fracturas
Nobre Guedes fracturou o nosso mais engraçado jogral continental, Santana*, porque, pelos vistos, Nobre Guedes tenciona demonstrar que é íntegro. Isto é dito pela rama, porque não ouvi tudo. Mas, tipos assim (a pensar o mesmo quando ouvir melhor direi ainda mais), merecem melhor e mais benévola atenção de qualquer besugo. Vou saber e depois digo. Pelo que ouvi, desculpem se sou precipitado, oxalá não o queimem por "ânsias de integridade". E mais: olhei melhor para ele, hoje, nas notícias. E tem
uma coisa qualquer de límpido no olhar, que eu ainda não tinha visto.
Niculae fracturou o quinto metatarsiano
do outro pé. Como só tem dois pés (eu sei isto porque sou erudito da bola), assumamos duma vez por todas que 100% dos pés de Niculae estão com problemas. Ora ele joga futebol, "football ", "uma coisa que (também) se joga com os pés". Não me parece que Niculae esteja apto para jogar cá (é onde faz as fracturas), no Reino Unido (onde se apontam os pés como essência do desporto que ele quer praticar), nem mesmo em Itália, onde se chama "calcio" ao futebol, carecendo, às tantas, disso mesmo (de cálcio, osteoporótico romeno!) o promissor atleta do meu Sporting.
Resolvi associar aqui duas pessoas que, parece-me, andam com azar. Podia falar do Camacho, mas esse transpira muito e não é o azar que o persegue: é a equipa que tem que, pelo contrário, o faz suar. Madrid lo mata.
* Nas ilhas há mais.
As Valquírias
Rodou a fechadura com firmeza e entrou estrondamente em casa, triunfante. Tirou o casaco azul petróleo mais a gravata amarelo canário, atirando tudo para o chão. Um jarrão de loiça longo e estreito, pousado no chão junto à janela, tombou e fez-se em pedaços. Soltando uma risada curta, observou os cacos por poucos segundos e poucos segundos depois esqueceu-se deles. "
O país inteiro fala de mim", pensou. "
Parece um sonho." Atirou-se para o sofá. "
Wagner, isso. Hoje quero Wagner. As Valquírias." Fechou os olhos, para logo de seguida os abrir e compulsivamente, se levantar do sofá para, de seguida, se sentar de novo. Sentia-se tão energético que tinha forçosamente de falar com alguém, fosse quem fosse. Rebuscou, então, o telemóvel no bolso e telefonou à mãe.
- Olá, mãe! Sou eu!
- Paulo? Onde estás?
- Em casa! Hoje correu-me tudo bem. Viste?
- Ah, sim. A juiz mandou-as à fava. Deu-vos razão.
- Deu-
me razão, mãe! Sabe muito bem que, não fosse eu, isto não tinha corrido bem. E o Pedro já andava a falar demais, tive de o pôr na linha. Mas isso não me interessa, agora. Já viu, mãe? Sou conhecido em todo o mundo!
- O teu irmão ligou-me há pouco. Diz que tu, desta vez, abusaste da sorte e que o Francisco já está a preparar-se para te moer, a TVI ficou de passar lá para gravar.
- OK, mãe! Vai chamar-me fascista outra vez, é? O... coiso... ahhh.... - Francisco, não é? - devia preocupar-se era com aquelas camisas horríveis que usa, que ficam hediondas na televisão. Por falar nisso, tenho de passar no Atrium, comprei uns fatos lindos de morrer, mãe! Tem de ver!
- Olha, tem juízo e deita-te cedo. Deixa-me ir que ainda tenho de procurar uma receita para o programa de amanhã...
- Programa? Qual programa? Ah, sim! Já me lembro, a mãe disse-me que ia ter um programa na SIC Mulher. Pois! Oh, sinto-me tão bem! Está tudo bem por aí, mãe?
- Não é na SIC Mulher, é no Canal Viver. Estou bem, mas tenho sentido umas dores fortes nas c....
- OK, mãe! Agora tenho de ir, vou jantar ao Bica do Sapatoooo! Acha que vista fato ou
casual?
- Sei lá. Olha, ao menos agasalha-te.
Pinóquio... se te apanho nem sei que te faço!
O Ministério da Educação
divulgou que a lista de colocação dos professores só irá sair no dia 20 de Setembro, quatro dias depois do arranque oficial do ano lectivo. Como se pode ver a brincadeira continua e a desculpa para este novo atraso é, como não poderia deixar de ser, o alargamento dado para o concurso de afectação e destacamento dos docentes. Ainda se afirma nessa divulgação que "malgrado este atraso, num número significativo de escolas o ano lectivo iniciar-se-á conforme previsto, a 16 de Setembro". Ai está a célebre frase… já cá faltava! Não passa de mais uma mentira pois em quatro escolas das minhas redondezas as aulas vão começar dia 23 ou depois dessa data! E mesmo que sejam iniciadas a 23 de Setembro há todo um processo de planificação que tem que ser efectuado. E quem efectua este tipo de trabalho, ano após ano, sabe que o mesmo não é feito em cima do joelho e de um dia para o outro.
Os interessados poderão ainda ler um post
aqui no "Blog Professor, Professor" com a opinião de José Pacheco Pereira, publicada na última edição da revista Sábado, sobre a colocação de professores. Pena é que ninguém, dentro da coligação, lhe dê ouvidos e resolva de uma vez por todas os problemas relacionados com a educação.
Chamem o gaiteiro de Hamelin
Estranho que o PP ainda não tenha alterado o nome do ministério.
Ministério do Ataque. Fica perfeito. Ele até tem submarinos novos, além da enorme corveta que, de resto, fez questão de mostrar às senhoras, às holandesas.
Adenda
Ao que o besugo escreveu sobre o Damas, de quem eu me lembro pouco, mas lembro (e eu lembro-me de poucos jogadores de futebol), sobre o guarda-redes que (também) queria ser avançado, acrescento apenas, melhor, clarifico apenas que o Vítor Baía
também é um excepcional jogador.
Além disso, e mais importante do que tudo o resto: achei que faltava uma foto.
O Damas
Fez ontem um ano que morreu o Damas. Passou grande parte da sua carreira a ser preterido por Manuel Galrinho Bento, na baliza da Selecção Nacional. Outro grande guarda-redes, o Bento. Felizmente ainda vivo.
Nunca teve, Vítor Damas, nenhum coro de defensores compulsivos, como outro Vítor (o Baía) agora tem. Eram outros tempos. Outras conversas. E o Damas era, como Baía é agora, mais esbelto que o seu rival de então. Até este paralelismo póstumo tem significado. Era mais futebol.
Sacana do Damas. Uma tarde, nas Antas, não me lembro em que ano da década de 80, o Sporting eliminou o Porto com um golo de livre dum médio chamado Mário, um brasileiro que era conhecido pelo "queixada". Só esteve um ano no Sporting, mas eu vi.
O Damas, que estava a ser provocado pelo "antigo tribunal das Antas" - o Porto tinha, como sempre teve desde o final dos anos setenta, uma grande equipa e adeptos e dirigentes truculentos- , quando foi do golo, resolveu festejar com os "amigos do tribunal", simulando acariciar as partes pudendas. Foi assim que me pareceu, pelo menos, ao longe.
Aquilo deu incêndio emocional, pancadaria no fim: à saída, tudo o que fosse verde e branco levava no focinho (eu não ia trajado, sempre fui contra praxes... e safei-me).
Que prova isto? Nada. Foi uma coisa
menos politica-e-desportivamente-correcta que me lembrei que o Damas fez. Fácil era lembrá-lo, ao Damas, apenas, por ter sido um grande guarda-redes e um bom homem.
Pensando bem, o que acabei de contar não o apouca: é purpurina tardia.
Gostava dele e basta isso para eu ter um bocadinho de razão.
Alonso, companheiros, família, amigos, blogosfera, povo:
O alonso, de preocupado que anda com a discussão doméstica sobre
"a mais adequada adequação" dos impostos ("à cabeça", " ao corpo" ou "à cauda" da cadeia de consumo?), de irritado que se sente com o facto de, podendo ter escolhido um Ferrari, ter optado por um Porsche Cayenne, o alonso, dizia eu, resolveu implicar com o pobre Carl Sagan.
Ora, o Carl Sagan disse (ou citou) isto:
" Dois dos mais fervorosos arautos do pró-vida de todos os tempos foram Hitler c Estaline — que logo que chegaram ao poder criminalizaram o aborto, até então legal. Mussolini, Ceausescu e inúmeros outros ditadores nacionalistas fizeram o mesmo. É claro que isto não constitui por si só um argumento a favor da escolha, mas é, pelo menos, um alerta para a possibilidade de a posição contrária ao aborto nem sempre ser sinónima de um profundo respeito pela vida humana."
Bolas, este alonso desconfia tanto de tudo e de todos que até das boas intenções do falecido Sagan (e das minhas, eu ainda percorrendo um caminho que espero seja longo e feliz até atingir o nirvana da página de necrologia regional) desconfia! O homem disse só aquilo, aquela inocência que ali está, em itálico! Ele aponta, de forma cristalina, a perversidade da inversão de posições dos dois excelentes senhores. Dos quatro, aliás! Que há ali que te transtorne, alonso?
E mais te digo, meu teimoso amigo: quem tem razão, como sempre, é a tua mulher. Tu penetra-te do teu
ponto 16 e que a virtude nele contida te perfure essa cabeça obstinada de jurista empedernido (para quem não conhece, a mulher do alonso é só jurista, não há ali vestígio de "empedernimento").
E, isto, eu nem me dou ao trabalho de justificar: sei ter uma aliada incondicional nesta verdade dura como punhos que aqui te arremesso!
Justiça social
Na sua habitual linha de comportamento condicionado do tipo behaviorista, o Alonso aproveitou novamente para lançar as suas achas habituais sobre os regimes comunistas (cuja análise alarga agora aos regimes nazis). Tudo por culpa do Sagan, que há dez anos reflectiu e escreveu sobre os "pró-vida" e sobre os "pró-escolha". Confesso que não vejo qualquer relevância na discussão de um tema como este no contexto de regimes político-patológicos (e extintos, Alonso, pela santinha, tu lembra-te disso; pareces o Fernando Rosas a falar da história contemporânea) sabendo-se que os termos e os pressupostos da discussão são outros, diversos e radicalmente opostos a comportamentos políticos desviantes.
Enfim, a discussão sobre o tema é infindável e impossível de qualquer integração. Por muito desconfortável que pareça, a solução a adoptar para um dilema tão essencialmente ético é transformá-lo numa questão estatística de saúde pública e dar-lhe uma solução de natureza estritamente pragmática. É pouco, no plano dos princípios, mas é eficaz.
Bagão Félix falou, entretanto, aos portugueses. Não vi o discurso todo; apenas excertos, previamente anunciados pela MMG mais os seus esgares insano-críticos. Apresentou-se humilde, informando desde logo, de forma solene, ser incapaz de milagres mas ter, em compensação, a obrigação de ser transparente na apresentação das contas do país. Fiquei intrigada: que eu saiba, ninguém (ainda) pôs em causa a sua transparência. Adiante...
Concordo com o princípio da diferenciação das taxas moderadoras. Não me impressiona nada que a distinção dos benefícios sociais seja primária - nos impostos - ou secundária - nas taxas. Também defendo que as prestações sociais deveriam ser redistribuídas de acordo com o princípio da inversa proporcionalidade dos benefícios face aos rendimentos e que, por exemplo, o abono de família passasse a ter apenas dois escalões de atribuição - os de rendimentos menos elevados - e que os titulares de rendimentos do terceiro escalão deixassem de receber a esmola mensal de quinze euros que em nada adianta ou atrasa o seu desafogo financeiro.
A questão é que tudo isto esbarra com uma endémica e profunda injustiça fiscal que torna os titulares de rendimentos de trabalho exclusivos contribuintes das receitas públicas que, por sua vez, servirão para suportar essas prestações sociais e a diminuição das taxas moderadoras. E que, assim, se tornam reféns das suas próprias prestações sociais: quanto menos qualidade de vida tiverem durante a sua vida activa, mais probabilidade existe de que, na sua velhice, recebam uma magra prestação de reforma.
Quando os governos formados ad-hoc, cujos ministros amuam porque não lhes mostram os relatórios das
suas empresas (leia-se: das empresas que tutelam), falam de
justiça social lembram-se dos pobres, dos indigentes, da caridade dos chás. O limiar mínimo do desenvolvimento.
Deles, claro.
Miscelânea (holandesas, ditadores, SNS, reformas, discussões conjugais e ... portagens)
1 - As holandesas lá foram embora, prometendo chatear o Zé Barroso sempre que puderem, e o Portas sempre que conseguirem. Boa sorte. Eles merecem ser chateados. Não por isso, mas por outras coisas.
2 - Aqui, a conversa ficou circular. Não nos conseguimos entender, mas também conseguimos não nos desentender, o que já não é mau de todo, quando a matéria em discussão é esta.
3 - Uma nota apenas, que já não é propriamente sobre o aborto, mas sobre a alusão que o Sagan faz ao Hitler e ao Stalin no artigo que o besugo aqui referiu e que eu fui ler. Não acho a alusão inocente (nem o é a citação do Lutero, mas como o texto se dirigia a protestantes - nessa parte - estou-me nas tintas).
4 - E como não gosto, nem quero, que subconscientemente se assimilem as leis nazis ou comunistas sobre o aborto às ideias dos que pensam como eu penso, gostava de deixar esclarecido o seguinte: esses genocidas não regularam o aborto por serem contra ou a favor da proibição de se tirar a vida ao feto, ou em atenção a direitos da mulher sobre o mesmo. Esses gajos regularam-no por referência a supostos interesses colectivos que, para eles, se sobrepunham a qualquer espécie de direitos individuais.
5 - É por isso que é errado trazer esses sacanas (a minha linguagem vai piorando) para este debate ou usá-los para o que quer que seja.
6 - Curiosamente, o Hitler (sobretudo esse) costuma ser (mal) trazido a este debate pelos "anti-abortistas" (os "pró vida", os "proibicionistas", ponham-lhes o rótulo que quiserem). E, ao contrário do Sagan, por causa do fomento do aborto.
7 - Confusos? Não vale a pena. É aliás muito simples: sendo verdade que o Hitler proibiu o aborto às arianas, não o é menos que liberalizou a sua prática - sem quaisquer restrições de motivo ou fase da gravidez - às mulheres das restantes "raças" que iam ficando sob a alçada do Reich (judias, eslavas, ciganas e não arianas em geral). Sendo de qualquer modo sub-humanas, para que é que haviam de trazer a este mundo, ainda por cima no "espaço vital" que os arianos queriam ocupar, os seus - aliás geneticamente inferiores - rebentos? Que abortassem à vontado, portanto.
9 - Já o Stalin deu-se conta (depois de o Lenin - esse democrata - ter liberalizado o aborto) de que podia faltar "carne para canhão" na USSR (e/ou mão de obra nos "Sovkhozes"). Vai daí, e porque o superior interesse colectivo da pátria dos trabalhadores o exigia, toca de proibir as mulheres de interromperem a necessária "produção de filhos". Era uma questão de cumprimento dos planos quinquenais, que diabo.
10 - Enfim, quer num caso, quer no outro, nada há que se relacione com o que aqui se discutiu. E por isso, melhor teria feito o Sagan em não avocar a este debate tais alimárias.
Mudando de assunto ...
11 - Grassou ontem em minha casa (leia-se: entre mim e a minha mulher) acesa (mas civilizada, descansem os leitores) discussão sobre o projectado "pagamento escalonado das despesas de saúde nas unidades públicas consoante os rendimentos declarados pelos utentes".
12 - A questão não é tanto a da praticabilidade desse sistema ou da falibilidade das declarações de IRS. Sendo essa uma questão real, suponho que não altera as premissas de princípio. Mais que não fosse, haveria (mais um) bom motivo para se melhorar o regime fiscal e mais um incentivo para o Estado combater a evasão e a fraude fiscais com eficácia.
13 - A questão é esta: eu acho - sempre achei - que o papel assistencialista do Estado é isso mesmo. Assistencialista. E por isso, entendo que os serviços públicos, sempre que possível, devem fazer "discriminação positiva" a favor daqueles que não podem (por falta de meios) recorrer ao mesmo tipo de serviços que a iniciativa privada lhes proporciona.
14 - Aliás eu, que há uns anos acompanhava de perto a evolução dos números da segurança social (agora menos) não tenho quaisquer dúvidas de que, salvo improvável milagre, um dia as reformas acabam. E que, como não podem acabar para todos, devem acabar para aqueles que delas não precisarem.
15 - E que, até lá, convinha começar a meter na cabeça das pessoas que não podem existir "boas" reformas. E que, se o dinheiro escassear nos cofres do Estado, é para os que na verdade precisam que ele deve ser dirigido.
16 - Antes de divagar mais, e voltando ao serviço público de saúde ... a minha mulher não pensa como eu. Ela diz que a distinção que o Estado deve fazer é na colecta - quem ganha mais paga mais, quem ganha menos paga menos - e que é a esse nível que o esforço de solidariedade a que todos somos obrigados deve ser feito. E que, em consequência, não deve fazer depois uma nova diferenciação, quando as pessoas se dirigem aos serviços do Estado, desde logo, aos seus hospitais. E que - até - se as pessoas perceberem que têm (mais) um bom motivo para fugir ao fisco, mais fugirão ou tentarão fazê-lo.
17 - Assim, a questão é esta: o reequilibrio social que o Estado deve prosseguir deve ser centrado na sua política de receita (política fiscal) ou também na de despesa (seja na saúde, na educação ou em qualquer outra área em que o Estado presta serviços aos seus cidadãos)?
18 - Divagação final: de repente lembrei-me que a minha Espace - só por ser mais alta - paga o dobro da portagem que paga o Ferrari de uma pessoa que eu conheço ... acho que vou perguntar à minha mulher se acha isto justo, sem lhe dizer que estou ainda a pensar na conversa de ontem ...
Mau Maria!
O Ministério da Educação não sabe qual a data de saída das listas de colocações de professores.
Mas será que
eles sabem alguma coisa? É que, por incrível que pareça, nem a
senhora que por lá trabalha parece saber muito bem o que dizer nem o que fazer! Será que vai dizer alguma coisa mais do que a tão ouvida frase “o ano lectivo vai começar no dia 16”?
Haja paciência para tanto cromo no mesmo local de trabalho!
Mais mentiras! Ai Pinóquio Pinóquio!
As listas de colocação de professores foram adiadas! Segundo o Ministério da Educação este adiamento ficou a dever-se ao alargamento, por alguns dias, do prazo inicialmente previsto para os docentes apresentarem recurso.
Aqui deste cantinho digo só o seguinte: este argumento é falso!
Não houve alargamento no prazo de apresentação de recurso. O que continua a haver é cada vez mais incompetência neste Ministério da Educação!
Pronto, amanhã também passa.
Não me venham com a história do costume, que "o futebol é só o futebol".
Bolas, qualquer dia a minha mãe é só a minha mãe, foda-se. E o resto também é "só o resto", tudo corrido a "sós", piedosos e moles. Estes "sós" são uma maneira panasca de relativizar tudo o que a gente gosta, apoucando-o na timidez pegajosa e derretida do altaneiro e torpe "há outras coisas". Eu sei que há, não me chateiem agora.
Fico lixado, bolas!
Estou dorido. Detesto Setúbal e os setubalenses.
Não. Não detesto nada.
Detesto é ver o Sporting jogar mal e, ainda por cima, perder.
Ao menos que jogasse bem, perder jogando bem é perder na mesma, mas a gente fica mais ou menos triste e mais ou menos contente, ao mesmo tempo. Fica-nos uma espécie de
esperança para a próxima. Assim é uma tristeza, olha-se para aquilo e não se vê como é que pode ser melhor em próxima vez nenhuma. Admito que ganhar jogando mal também me conforta. Assim esta pasmaceira triste é que me dá raiva.
Falta ali muita coisa. Sobeja medo e ensimesmamento. O Garcia é nervoso, tenso, ensimesmado. O Hugo tem olhos de desgraça, um desgraçado que faz o que pode mas usa olhos de quem só pode aquilo. E ensimesma-se. O Pedro Barbosa (ah!, grande Pedro, que não jogaste uma merda, hoje) esteve amuado, amuos de quem, às vezes, já não pode senão ensimesmar-se, amuado. O Pinilla deve poder, mas é preciso mudar-lhe uma consoante ao verbo para ele se motivar. Tende a inseminar-se. Desculpem, a ensimesmar-se. O Niculae suspira por uma luz, que não lhe aparece. Não a há, realmente. Mas ele também não a procura, ensimesmado que anda. O Rogério é bom mas não lidera, não pode, chegou agora, anda ensimesmado naquela ceifa de mau ceifeiro: espiga que fica, alguém que a apanhe. Safa-se o Polga, mas já anda a ameaçar assobiar para o lado, ninguém aguenta tanta modorra sem se amodorrar. Sem se ensimesmar
O Paíto tem raça mas ainda é só o Paíto, é um puto. O Rochemback está tão gordo que quando puder começar a jogar vai ser preciso ligar o
slow-motion a qulquer Moreirense para ele se impor. Estes não se ensimesmam. Mas que importa? Uma andorinha (e um peru gordo à espera de Outubro) não faz a Primavera.
E o Peseiro vai-me tirar o Tinga, o único líder que agora temos? Feio, todo ele inestético à volta dos dentes, mas líder? O verdadeiro
jogador da bola?
Eu quero ser treinador do Sporting durante os jogos, a sério que quero. Levo de graça. Por favor, deixem-me ser eu a comandar os jogos do banco. Eu prometo que não sou o Álvaro Magalhães. Que não faço Loureiradas, nem telefonemas para as namoradas dos imbecis das claques. Tenho alguma educação, sou telegénico e não sou de peixeiradas. Garanto que leio todas as estatísticas que o Peseiro e o Caixinha gostam de fazer. Que analiso maduramente as taxas de passes errados do Hugo Viana e do Liedson, essas coisas importantes de que o Maradona (que vai morrer em breve) se riria aos soluços se tivesse decidido ser treinador do Boca. Asseguro que acredito na metodologia do treino: não peço para os treinar, que não sei. Eles que treinem com o Peseiro, e assim. Eu só queria era estar no banco no dia dos jogos, juro que aquela cambada de canalha ensimesmada e cheia de medo ia jogar melhor. E, quando perdesse, se perdesse, não haveria clone de besugo nenhum a ter moral para vir aqui dizer coisas destas. Porque iam jogar bem.
Que provas tenho disto? Nenhumas. Isto ainda não é um tribunal, pois não? Os tipos têm tanto medo nos olhos que ainda vão arranjar maneira de ser eliminados pelos parolos do Rapid de Viena, aquela equipa austríaca que, fora lá da parvónia deles, só ganha a quem não lhe sabe ganhar.
Bolas. O problema do Sporting é que às vezes parece que não sabe. O meu problema é que, às tantas, não sabe mesmo.
Paixão violenta
Ainda que me suscitasse alguma curiosidade, resisti até hoje a ver o controverso "Paixão de Cristo", de Mel Gibson. Vi-o hoje à tarde, com um pé dentro outro fora, mentalmente preparada para deixar de ver assim que a brutalidade do sacrifício se tornasse insuportável.
Rejeitei, desde sempre, os filmes suportados na estética da violência explícita, que nem caracterizo de gratuita para evitar redundâncias. Acredito que a ficção deve ser amenizadora dos medos e embelezadora das tristezas. Não gosto de filmes e não vejo filmes (e outras formas de arte, mas agora falo de filmes) que me suscitem sentimentos depressivos, que não me apontem soluções ou que, simplesmente, não me adoçem o pensamento. É por essas razões que vejo com todo o prazer filmes
very-light como os da Meg Ryan com o Billy Crystal e que me recusei liminarmente a ver o "
Saló" de Pasolini ou "
Brincadeiras Perigosas" do Michael Haneke, dos quais, esgotados os primeiros dez minutos de fita, fugi, pressentindo o horror negro e depressivo do enredo.
O filme do Mel Gibson é brutal, violentíssimo. Filma, em verosímil tempo real, todo o sofrimento inflingido a Jesus Cristo na cena do espancamento/flagelação pelos romanos e a caminhada até ao Monte de Gólgota, carregando a cruz. A tal ponto é violento que, a dada altura do filme, se sente uma espécie de efeito anestésico provocado pelos abundantes planos explícitos de Cristo - feito, entretanto, numa chaga viva (que me fez indagar como é que ainda estava vivo) - e que anulam ou diminuem o efeito devastador que teria, noutras circunstâncias, a crucificação.
Mas isto é sabido e corrente, a violência do filme. Por isso não o queria ver e não o veria se outras motivações não tivessem surgido ao longo do filme. Reparei, por exemplo, no inquietante abandono a que todos, mesmo os amigos, os indecisos, os críticos o devotaram, o intolerável medo dos inocentes às mãos dos brutais, abandonados por todos os que, podendo impedir, não impedem, porque "aquilo não é comigo" ou "prejudico-me, se impedir". A história da humanidade, sobretudo a mais recente, está recheada de episódios destes. E a história de cada indivíduo, também.
Não vi qualquer anti-semitismo no filme. O que não quer dizer que não seja essa a intenção subliminar, embora, se for, mal conseguida. Não se exalta o anti-semitismo pintando com cores primárias de maldade invejosa os fariseus do Sinédrio ou a homossexualidade apatetada de Herodes. Além disso, Pilatos, que eu sempre tive como um sacaninha, é neste filme um covarde que entrega Cristo aos fariseus em troca da
pax romana. Quanto mais hesita, mas covarde se torna. Antes fosse mau de uma vez. E Pilatos era, como sabemos, romano.
Gostei do azul da noite na cena inicial no monte das Oliveiras, quebrado pelo fogo alaranjado das tochas dos soldados. Pareceram-me esotéricas demais as cenas da lágrima a cair do céu e do diabo(?), vencido, a pragejar numa cratera de fogo infernal, depois da crucificação. Tiradas à Lars Von Trier, que não convencem num filme que, apesar de falado em aramaico e latim, ainda é americano.