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25.9.04

Como criar um homem de sucesso

Começam, se não antes, nos tempos da faculdade - nas associações de estudantes (onde frequentemente são presidentes), nas extintas RGA's ou em pueris manifestações estudantis que quase sempre redundam em medidas extremistas (de que é exemplo manter um professor preso no próprio gabinete), de onde se transportam para os braços jovens dos partidos políticos (onde também frequentemente são presidentes), em que a irreverência juvenil que se lhes espera consiste numa curiosa mistura de colagem discursiva ao político mais mediático do partido e de ânsia panfletária um nadinha mais à frente do programa do aparelho, através da qual defendem desde o reconhecimento das uniões de facto até ao lince da malcata. Nada de muito consistente, note-se; pretende-se, tão só, fazer o estardalhaço suficiente para obter a notoriedade intra-partidária que lhes permitirá ascender ao degrau seguinte da longa escalada do sucesso. Não recomendável, portanto, para rebeldes indisciplinados.

Chega, então, o dia em que lhes está reservado um lugar na lista de deputados elegíveis (da qual até então já faziam parte só para encher). Como tribunos, aprendem com os mais experientes da bancada os segredos das intervenções que passarão no telejornal, os sorrisos ensaiados de ironia, a postura displicente de homem de vistas longas, os truques para o desdobramento de viagens, a obíqua condição de estar fora com simultânea assinatura no livro de presenças, enfim, até o vestuário coincidente com a condição político-partidária. No seio do partido, a longa jornada a caminho do topo continua: de assessores ad-hoc dos barões do partido, de quem são uma espécie de moço dos recados (telefonemas para a imprensa e contactos com as bases), passarão, por mérito próprio, a membros da comissão política, de onde sonharão, assim que surjam a oportunidade e os apoios, poder vir a ser o líder e, principalmente, candidato a chefe de governo.

Só alguns, porém.

Porque daqui derivam duas hipóteses possíveis: os que efectivamente chegam a líderes do partido passam a notáveis, futuros candidatos a presidente da república ou a cargos internacionais de relevo: os chamados estadistas. Os outros, aqueles cuja ambição não obtém suficientes apoios, passam a históricos e tornam-se ministros. Alguns, até, super-ministros. E alguns dos históricos mais esforçados ascendem, às vezes, à condição de notáveis.

Os outros, os menos esforçados e/ou menos dotados passam, quando são demitidos, a ex-ministros. Um ex-ministro não é um notável, mas o aparelho deve-lhe reconhecimento e, mais importante do que isso, contrapartidas: é preciso, já se sabe, ter o cuidado de alimentar as influências bem cotadas. E, assim, na última e anseada etapa da caminhada, tornam-se administradores de uma qualquer empresa pública onde, finalmente, o merecido pé-de-meia os espera. Ou comentadores residentes dos telejornais, onde ganham menos mas, em compensação, são mais mediáticos. O dourado final do longo mas bem sucedido percurso.

Quase notável.

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