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20.9.04

Ai eu (2)

Nem sei que diga. O besugo veio por aí em grande tropel (ele dixit) e enfaralhou-se todo. Ó homem, tu ao menos leste o que eu escrevi?

Deixa-me esclarecer alguns equívocos, e sigo a sistematização do que escreveste:

1º Nem me lembrei do IRS dos médicos quando escrevi o que escrevi. Até porque tenho a ideia de que, mesmo "na privada", passam recibo de todas as consultas que dão. É que esses recibos, além de não terem IVA, dão para "meter no IRS", ao contrário dos de outros profissionais, como os Advogados.

2º O "emprego certo" dos médicos no Estado pode advir de muitos factores. Mas existe. E contra factos não há argumentos. Eu falei desse assunto apenas para explicar - e contrapôr - que a esmagadora maioria dos formados em Direito, depois de sair da faculdade, não tem escritório onde entrar, não tem dinheiro para criar escritório e tem que arranjar uns "ganchos maizómenos jurídicos" que lhe permitam sobreviver durante - pelo menos - os primeiros dez anos de carreira. Tudo isto, também, para explicar que não me surpreende a média fiscal que o "Expresso" terá indicado (digo "terá" porque não o li).

3º Eu sei que estás em dedicação exclusiva. Não faço ideia das razões dos "laranjinhas" para incentivarem a dedicação exclusiva (embora isso me tenha surpreendido, tendo em atenção que a eles são normalmente imputados outros "incentivos" na área da saúde).

4º Quando eu escrevi "Alonso, se pagasses mais impostos do que os que pagas nada disto acontecia ..." não estava a confessar nada de inconfessável. Estava singelamente a referir que podia ter menos gastos profissionais, como a continuação do que eu escrevi claramente revela.

5º Se, passado o jantar, leres com mais calma o que escrevi, vais perceber que as empresas não fogem aos impostos. Essas querem tudo documentado. O problema são os clientes individuais. Esses, nunca querem pagar IVA e nunca querem recibo. "Para quê, Sr.Dr.?". Normalmente são da classe média, trabalhadores por conta de outrém, e queixam-se imenso de que são os únicos que pagam impostos neste País.

6º Dizes que zurzo a função pública. Eu nem zurzi, na verdade. Só disse o que é óbvio. Que se deixo de fazer descontos e ponho a minha secretária a viver temporariamente à conta do Estado este vai ficar com menos dinheiro. Para aumentar a função pública. Que tem que ser aumentada todos os anos, quer o Estado tenha mais, quer tenha menos dinheiro. Sob pena de haver grossa contenda. Que prejudica o País. Disse alguma falsidade?

7º Por acaso disse. Liguei tal prejuízo aos Advogados e à falta de solidariedade daqueles que acham que pagam muito (muitos impostos) por muito pouco (pelos maus serviços que o Estado lhes presta). E que fizeram florescer, entre os Advogados, os chamados "fiscalistas". Ou seja, os Advogados que são consultados principalmente por quem quer - no respeito da Lei - pagar o menos de impostos que for possível. Que malandrice querer isto, heim, besugo?

8º Antes que leias isto tudo a correr outra vez, aproveito para esclarecer que não sou "fiscalista".

9º Espero que não tenhas tido necessidade de pôr o teu capacete preto antes de leres isto. Lembro-me bem desse capacete. Antes da corrida terminada já o tinhas arrumado. Parece que o teu kart deu problemas antes de eu ter tido a oportunidade de conhecer - sim, conhecer - a pista para onde me levaste. Além de que o meu kart tinha a produtividade de um chefe de divisão do Ministério da Educação (ups ... saiu zurzidela)

Post Scriptum (não escrevi P.S. para que não me levasses a mal) - A questão do "serviço nacional de assistência jurídica" é uma questão muito interessante. Mas, sobre isso, haveria mais a dizer e mais a discutir do que aquilo de que me sinto hoje capaz. Por isso, e porque hoje quebrei a ignóbil raridade dos meus escritos escrevendo duas (sim, duas) vezes no mesmo dia ... fico-me.

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