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25.9.04

O homem visto do avesso

Da história de filicídio do Algarve extrai-se, para além do irrecusável horror, a força da sordidez dos curiosos. Ontem de manhã, antes de sair de casa, vi-os na televisão, reunidos junto ao Tribunal de Portimão. Havia de tudo: a dona de casa de saquinho de compras no braço, o vendedor de aparelhos de ar condicionado que encostou o clio de dois lugares, o dono do mini-mercado da esquina, o reformado, o desocupado, o desempregado, a cacique - indispensável, a que lança os manifestos contra (assassinos!!) vestida de vermelho sangue (curioso simbolismo), anafada de histeria rouca - e, claro, a autoridade.

O arraial aumenta quando os directos das televisões entram no ar. O povo quer justiça, pudessem eles e a mãe e o tio morriam à pedrada. E são incansáveis, nestes hipnóticos instintos boçais. O que é inquietante é que não são estereótipos: existem mesmo e aparecem sempre que o sangue escorre, para que, dependendo deles, escorra ainda mais.

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