Notas de rodapé
1. Os discursos de F Louçã e do nosso Presidente Sampaio foram os momentos altos das comemorações do 25 de Abril. Não comungando das suas ideias considero notável o discurso do primeiro (F Louçã entenda-se), verdadeira pedrada no charco do torpor mental em que a oligarquia do bloco central mergulhou o país desde há uns anos. O resto foi cumprir calendário, com o homem dos Açores - representava o partido do poder - a fazer um discurso de mau gosto - do tipo "sob a batuta do nosso primeiro ministro, o país..." por ai adiante.
2. Não te conhecia uma faceta persecutória besugo! Não foste tu ! A única coisa que me deves é uma amizade e consideração equivalentes á que eu tenho por ti. E por favor pára com o Costello. Pareces um pinga-amor ! Se me falares na esposa, tudo bem, apesar de entender que ela está a abusar da fórmula em vez de apostar na criatividade e na inovação ! O Costello vai acabar por vir cantar ao Casino daqui a alguns meses !
3. Vi na TV uma reportagem sobre o derbi (que nos vai levar á Liga dos Campeões). Dizia o comentador sobre o scp - Vai jogar-se toda a época no próximo domingo. Atendendo aos salários auferidos, aturamos os futeboleiros uma época inteira - D Cunha incluído - camisolas rasgadas- sistemas - JVP / Marisa Cruz - só para chegar a esta altura do ano e dizer-se que se joga tudo neste jogo ? E os palôncios dos sócios a pagar - e nós contribuintes a ver os nossos impostos aplicados em estádios (na sua maioria vazios...). Este desabafo, como compreendem é extensivo a todo o universo do futebol profissional português !
4. Apoio incondicional ao alargamento da CEE. Viva a Europa !
Onde é que eu estava no 25 de Novembro ...
Em casa, acordado.
As manifs do costume, a esse tempo já não gritavam "o povo unido jamais será vencido", mas antes "fuzilamento dos fascistas, já!".
O meu irmão mais velho foi do parecer que nesse dia se jogava tudo e entendeu levar o pessoal menor para fora de Lisboa.
Lembro-me de sair de Lisboa e de passar pelo RALIS do Otelo onde já se concentravam muitos populares que pretendiam defender a capital das forças reaccionárias que vinham do Norte. Colocaram uma anti-aérea na ponte sobre a segunda circular e canhões anti-tanque ao nível da auto estrada.
Ainda na auto estrada, já perto de Aveiras cruzámo-nos com a coluna de tanques que se dirigia para Lisboa. Eram as forças da reacção. Desejei-lhes sorte.
Em Rio Maior lá vi a placa a dizer "Aqui começa Portugal".
O resto é história. Ano e meio depois de cair o que restava do Estado Novo, caía também o PREC. Pelo meio ficaram muitos meses de que alguns têm romântica nostalgia, mas em que, tudo somado - e na minha opinião - criámos o caos de que ainda não sairam verdadeiramente as ex-colónias, e arriscámos cair numa "democracia popular" que de popular tinha pouco e de democracia não tinha nada.
Por acaso não arriscámos bem só isso. Arriscámos foi uma guerra civil.
Demorasse ela uns anos e teria eu tido também a oportunidade de pegar em armas. E pegaria, estou certo.
Não sei se me orgulhe de tal disponibilidade. Mas isto tudo vem a propósito da Dra. Isabel do Carmo. Ela, entre outros, lembra-me estas coisas. E, sobretudo, faz-me sorrir ... porque ela não venceu. E se calhar até mudou. Quem sabe se não será mesmo uma excelente pessoa, que acreditou que a liberdade se conquistava à bomba. Eu próprio, com 11 anos na altura, também acreditava nisso.
Nem ela me matou, nem eu matei ninguém. Ainda bem.
Onde é que eu estava no 25 de Abril ...
... em casa a dormir, claro!
Isto até que fomos acordados a meio da noite por um magala a dizer que o prédio tinha sido ocupado pelo exército e que estávamos proibidos de sair de casa.
Acontecia que morávamos em Lisboa ao tempo e que o nosso prédio ficava defronte do Quartel da Região Militar de Lisboa. Como era mais alto que o quartel houve uns soldados que tomaram posição no terraço.
Foi uma aventura.
Apelo do coração
Senhoras Ferreira Leite, Odete Santos, Celeste Cardona, Ana Salazar, ex-concorrentes do Big Brother Famosos e Teresa Guilherme: venham daí! Quando ele cantar "She" será, também, convosco! Reparem que
" she may be the beauty or the beast, may be the famine or the feast, may turn each day into a heaven or a hell" ! (*)
E, afinal, ele também não é lá muito belo, o raio do Elvis...
Já agora fica aqui tudo, menos a música, que não sei pôr.
She may be the face I can't forget
The trace of pleasure or regret
May be my treasure or the price I have to pay
She may be the song the summer sings
May be the chill the autumn brings
May be a hundred different things
Within the measure of a day
She may be the beauty or the beast
May be the famine or the feast
May turn each day into a heaven or a hell
She may be the mirror of my dreams
The smile reflected in a stream
She may not be what she may seem inside her shell
She who always seems so happy in a crowd
Whose eyes can be so crowded and so proud
No one's allowed to see them when they cry
She may be the love that cannot hope to last
May come to me from shadows of the past
But I'll remember till the day I die
She may be the reason I survive
The why and wherefore I'm alive
The one I'll care for through the rough and ready years
Me, I'll take her laughter and her tears
And make them all my souvenirs
For where she goes I've got to be
The meaning of my life is she
(*)
1 - Isto é a brincar.
2 - Apaguei, ali em cima, o nome de Manuel Luís Goucha.
3 - A Krahl virá?
Elvis Costello
Ora, então, lá nos encontramos... Não é verdade?
Sem esquecer
isto.
Como exemplo da consolidação da democracia...
Repare-se nas preocupações do BE, inegavelmente sintomáticas de graves e estruturantes problemas da sociedade portuguesa, que afectam, no caso, toda a eficácia do SNS. Sem qualquer dúvida.
Aqui.
No entanto...
... a democracia portuguesa está consolidada. A liberdade de expressão convive com a boçalidade, a liberdade de imprensa com a ficção das notícias e a manipulação da opinião, as utopias com a corrupção, as ideologias com os partidos, os socialismos moderados com as direitas extremistas. O comunismo morreu, os sindicatos burocratizaram-se, a esquerda aproxima-se do centro e a intelligenzia está quase toda demasiado comprometida para poder manipular livremente, mas contra a corrente. A era do betão está em franca decadência, a saúde foi mercantilizada e a educação continua sem rumo. Mas temos a Europa, a protectora Europa. O federalismo. Espanha e o iberismo. Durão Barroso e as suas alianças sinistras. Portas e a sua chicla. Saramago na Europa. MMG e a TVI. MMC e o filho Diniz. A família Loureiro. O Ricardo na selecção. O Baía fora da selecção.
And so on.
As reflexões "macro-políticas" são duras de enfrentar. Vou é voltar ao Elvis Costello enquanto dou o giro diário pelos blogues.
Faz favor de repetir?
Ó Paco: que eu saiba, a senhora Lili Caneças não te fez mal nenhum. É polida e educada, escusavas bem de te enfiar por vielas esconsas em que metes Esquerda, branqueamentos e "erres", só para, duma forma soez, te derramares em adjectivos contundentes. Não se faz, pá!
Vamos mas é vender a
ilha.
Por falar nisso,
estas não se vendem. Destas gosto.
O zoilo
Quanto a
isto, estou de acordo com o
G.S. e o Paco. Mas tem de ser breve, que estamos no fim do mês.
É capaz é de já não dar para vender aquilo, como cheguei a sonhar. Muito menos com o tipo lá dentro, enfim...
Comunicado
O senhor Presidente da República não se dignou, confesso, explicar-me os motivos que o levaram à condecoração da senhora Isabel do Carmo. Bom, também não tenho ido ver o meu
e-mail, de facto...
De qualquer forma, adianto o seguinte:
1 - Cuido que se terá tratado duma condecoração
"apesar de" , ou seja, que a senhora terá feito
"antes, se calhar durante e, às tantas, depois de" , algumas coisas que terão tido mérito. Claro, sob a óptica parcial do senhor Presidente da República que, repito, nada me referiu a respeito. Eu escrevo isto e vou já ler o
e-mail, prometo.
2 - Cuido ainda poder dizer, com todo o respeito que essa figura mítica da nossa "nomenklatu'a" me merece, que a condecoração não terá perdido seu brilho natural pela ausência do senhor Paulo Portas. Ele não foi
"apesar de" estar doente. E eu, "apesar de tudo", vou gostar de ver (como já disse) o exercício de manutenção de coerência em que se meteu o CDS-PP.
Não se esqueçam do ditado dos telhados de vidro. É que vos garanto uma coisa: ou nunca mais se condecora ninguém, neste País, sob proposta ou aplauso do PP, ou vai ser um tilintar de cacos.
Como é normal.
Hasta la victoria
O Blasfémias
relembra, a propósito, um dos grandes desígnios de Abril ainda por cumprir.
A independência das colónias
Mas o que vem a ser isto?
"...Um-colega-que-me-deve-tudo telefona-me a dizer disparates. Lá se vai a euforia do dente. Arrelio-me quase a sério. Liguei a TVI de novo. A minha mulher manda-me dar uma volta. Fui para o Porto. "
Não fui eu, OK?
1 - A única coisa que eu devo a este companheiro de estrada é uma garrafa de verde e vários telefonemas a piorar-me a azia, em ocasiões diversas, unidas no tempo por um denominador comum: derrotas do Sporting.
2 - Eu não digo, aliás, disparates. Como (bem) se infere de cerca de 35% dos meus escritos. E, a ser verdade que eu escrevo consoante falo,
voilà. Ainda por cima ao telefone.
3 - A euforia é um estado muitas vezes inexplicável. Mesmo tratando-se dum dente. Adiante.
4 - Ligar (e manter muito tempo ligada) a TVI costuma resultar em estados de profunda violência, ou de angustiada reflexão sobre o sentido da vida. Há quem corte os pulsos, quem empunhe machados e despedace mobiliário, quem decida contar estrelas e, num caso que eu conheço, quem adquira o hábito de repetir, compulsivamente, "meu Deus!" noites a fio. São efeitos laterais variados e, admito, não os conheço na sua vasta amplitude.
Que vem a ser isto, Manolo? Uma cabala (esta não gosto)? Desculpa lá mas tens de explicar melhor essa ida ao Porto. Que fique claro, contudo,
"Manola" (desculpa chamar-te assim, é o sigilo, já te basta teres de aturar esse tipo, eu sei...),
que eu não tenho nada a ver com isso!
A Democracia segundo J.Sampaio.
Pode ser construída à força de bomba.
Pelo menos, terá sido esse o contributo dado pela Drª Isabel do Carmo, que levou a que fosse agraciada (este verbo assenta-lhe que nem uma luva...) com a Ordem da Liberdade.
Apesar de tardiamente, percebo agora porque a Esquerda toda se eriçou com a atribuição de uma pensão ao Inspector Rosa Casaco.
Foi, sem dúvida, um serviço relevante prestado à Pátria meter uma bala no bucho do Gen. Humberto Delgado.
Já agora, proponho eu as segintes condecorações:
Carlos Silvino- Ordem da Instrução Pública que tem o intuito de galardoar altos serviços prestados à causa da educação e do ensino.
O ensino na Casa Pia nunca mais foi o mesmo.
Fátima Felgueiras - Ordem do Mérito que tem por finalidade galardoar actos ou serviços meritórios praticados no exercício de quaisquer funções, públicas ou privadas, ou que revelem desinteresse e abnegação em favor da colectividade.
A colectividade felgueirense e o Partido Socialista aplaudiriam de pé.
Otelo Saraiva de Carvalho - Re-atribuição da Ordem da Liberdade que se destina a distinguir serviços relevantes prestados em defesa dos valores da civilização, em prol da dignificação do Homem e à causa da liberdade.
Mais bomba menos bomba, ele e a Drª Isabel devem estar sempre juntos nos anais da História. A estes dois podiam ainda juntar o Bin Laden, o Moqtar Al Sadr, o Yasser Arafat e o
sheik Yassin (postumamente, graças a Deus e a Alá).
Avelino Ferreira Torres - Ordem Militar de Cristo que é concedida por destacados serviços prestados ao País no exercício das funções dos cargos que exprimam a actividade dos órgãos de soberania ou na Administração Pública, em geral, e na magistratura e diplomacia, em particular, e que mereçam ser especialmente distinguidos.
Vide as imagens recente e profusamente transmitidas que darão às gerações mais novas uma nova dimensão cívica e uma imagem do que deve ser um autarca moderno, acutilante e intransigente na defesa dos interesses dos que o elegeram.
Como diz um amigo meu, só me apetece falecer.
Ou ter um acesso de verborreia vernacular, igual ao que o besugo teve há dias após o descalabro do Bessa, e mandar tudo para casa do outro mais velho.
E a nossa Esquerda, uma velha pindérica e chéché, ainda tem a distinta e refinada lata de vir falar em branqueamento da História a propósito da (R)evolução de Abril.
Valha-nos Sant'Iago.
Médico explica futebol total a mal intencionados*
Caramba. Admito que os dois golos da Suécia, ontem, foram um bocadinho bizarros.
O primeiro sai duma biqueirada loira, desferida sem barreira.
De bola parada, vírgula. Parada, o caraças! Ia viva e a mexer! Saiu da bota do nórdico já meio enlouquecida, bateu na relva e entrou, completamente maluca, na baliza portuguesa. É fácil culpar o Ricardo, estes golos em que a bola entra muito perto do guarda-redes são sempre bizarros. Como já vi o Vítor Baía, outro excelente guardião, a sofrer golos tão estranhos como este, permito-me pensar que o portista seria o primeiro, caso lhe fosse dada essa oportunidade, a admitir a dificuldade daquele remate. E daquela defesa. E a redimir o colega.
Vítor, se você nos lê, mande-nos um e-mail que nos reconcilie com a sensatez. Sim? Se o fizer eu prometo que é a Lolita que responde.
Já o segundo golo é consequência da inabilidade do Rui Jorge, dirão alguns. Com a mesma
certeza no alvitrar, eu protesto: a culpa é do Quim, que desviou a bola fazendo-a embater no pé que Rui Jorge tinha menos à mão. Ora vejam lá a repetição com olhos de ver.
É para mim evidente que pela límpida mente dos senhores não passará, nem por um momento, a mais leve dúvida sobre a imparcialidade do que acabo de afirmar. Se o nosso guarda-redes se chamasse Nélson, se o desventurado defesa atendesse por Beto, podem crer que o meu discurso, todo ele eivado (também gosto desta) de poderosa lógica e profunda tolerância, se manteria.
* Peço desculpa pela utilização abusiva dum título que alude, de forma despudorada, a um Colega que nem costuma meter-se nestas coisas...
A evolução segundo Durão Barroso
Durão Barroso há-de ficar famoso, entre outras coisas, por nos recordar que a expansão do telemóvel é um forte indicador do desenvolvimento económico. Sabendo-se que Portugal tem um dos maiores índices de utilização do telemóvel por habitante da Europa, confirma-se então que aquela história de permanecermos na cauda é pura fraude. A cauda é, afinal, a crista da onda. Agradeço, por isso, ao Primeiro Ministro o oportuno alerta e o sinal de optimismo. Eu juntar-lhe-ia os centros comerciais e as compras em prestações, ambos irrecusáveis sinais do mais cristalino desenvolvimento. É destes ingredientes que nascem os grandes pensadores...
Outra coisa: conforme se viu, nós fazemos boas fintas, ao passo que os suecos jogam com a elegância de cromeléques. Por falar em elegância, registo aqui a suavidade das defesas do Ricardo. Apesar disso, eu confio que lá chegaremos, porque somos melhores do que os telemóveis do PM nos fazem parecer.
O problema da Suécia
Começa logo no facto de ser um país nórdico onde as pessoas, se não tiverem tendências suicidas, vivem relativamente bem. Tem uma (relativamente) baixa taxa de homicídios. Se comparada com o Perú, por exemplo.
Eu, aqui, devia sentir-me compelido a falar dos acontecimentos (que não vi, porque fiz criteriosa triagem informativa) que vitimaram, de forma ignóbil, um homem peruano. Mas não. Tenciono horrorizar-me (nunca hei-de ter couraça para coisas assim) em escrito estanque.
Limito-me a desculpar o
perú do Ricardo, o auto-golo do Rui Jorge e o falhanço do Figo, no penalty.
Há muita pressão. Reage-se bem a este lugar comum: é sempre fácil dizer que "profissionais bem pagos têm de saber suportar pressões". E ainda "é por isso que este País não vai para a frente". E, sobretudo, sibilinamente, "lembrem-se do primado da competência, do senhor Peter". É tranquilizador viver com estas regras, se tudo correr bem.
Depois, perante coisas como aquela do Perú, pensamos que há um grande desajuste entre raciocínios calmos, plácidos,
tán llenos de nosotros, e os
raciocínios sobre pressão.
Não quero imaginar, sequer, o que deve ter pensado, naquele tempo todo, macabro e de agonia, entregue à selvajaria cobarde e injustificável de outros homens, o peruano que mataram à pancada.
É mais fácil pensar na pressão do Figo, do Ricardo e do Rui Jorge. E do Scolari. E do Mourinho. E do próprio Bush, para dar um salto do charco para o pântano sem passar pela Luisiana.
Que tem isto a ver com a Suécia? Tudo.
DIÁRIO: OU COMO A AUTO-ESTIMA ANDA CÁ POR BAIXO...
Perdoem-me os meus corajosos compañeros que lerem isto. É uma espécie de diário - uma especie de "olhem para mim" "ouçam o que tenho para vos dizer". Num blog escorreito, bem escrito, alinhado, saudável, apetece-me quebrar o ciclo e falar simplesmente de nada. Ou como a vida pode ser banal, ás vezes mesmo muito deprimente. Mesmo para quem trabalha numa zona hospitalar pouco ou nada dada a banalidades ou monotonias. Mas que, por vezes, nos deixa exaustos, vazios de ideias, de vontade, de humor, de tudo... Hoje não me apetece escrever bem, não me apetece ter graça, muito menos chatear o besugo (fez noite) ou provocar a lolita. Hoje apetece dizer - "raios parta isto tudo, quero férias". É verdade, besugo, rendo-me: preciso de férias. Muitas ! Não me apetece pensar:
- Faço zap constante na TV.
- Já não me importa que os meus enfermeiros sintonizem a TVI - tento demonstrar científicamente que os meus doentes pioram nessas alturas: há mais agitação psicomotora, mais dificuldade em ajustar terapêuticas, baixam as diureses, etc...
- Li ontem o jornal O Jogo.
- Encolhi os ombros a uma provoção futebolística.
- Nem me interessei discutir mais a não inclusão do Dr J Loureiro nas listas do PSD para o PE - apenas um dos muitos péssimos momentos da política portuguesa - é melhor assim, pensei eu !
Porquê tudo isto ? Na verdade ando a atravessar um mau momento. Daqueles do tipo é TMC (tudo muito complicado). Os motivos: toneladas de desilusão, falta de concretização de muitas expectativas, alguma raiva, sentimento de injustiça (para mim avassalador), enfim como diria uma teenager de esquerda "Sei lá, tás-a-ver, ouve lá pá, não sei..." .
1. Dos que conheço sou o único médico que, como assistente de um quadro médico hospitalar, e responsável de qualquer coisa, faz um exercício saudável de análise retroespectiva, geralmente considerada exaustiva, do que foi o ano anterior em termos de movimento assistencial de doentes, patologias, diagnósticos, evolução, morbilidades, mortalidades, enfim tudo o que diz respeito á nossa actividade clinica. Incluo nessa análise, outros parametros: gestão, infecção, aspectos de organização, actividade científica realizada, etc - o que se chama de Relatório Anual de Actividades. Não vos direi qual a sua importância, porque é obvia - pedagogia, discussão crítica, trocas de ideias, sugestões, etc. Este ano mais uma vez, o único a fazê-lo. O Anormal ! Convocou-se a reunião com a devida antecedência, mas só 1/2 do staff o leu. A discussão não aconteceu. Não pude manolo, estive de urgência, de fim-de-semana, o meu PC não aceitou o teu CD onde gravas-te o relatório, desculpa lá pá que me esqueci, já agora queria levantar uma questão pertinente - quantos doentes tivemos o ano passado ?...
Não aguentei, agradeci os préstimos de todos e ao fim de 50 minutos encerrei uma reunião que em anos anteriores durava toda a tarde!
2. Antes da dita reunião parti um dos dentes da "frente" e de "cima". Mais tarde (ao olhar o espelho) percebi que tive sorte em não ter sido agredido pelos colegas. Dentes: a minha desgraça total. Andei durante anos a aguentar a transformação da minha boca, numa beirute em miniatura. Na minha meninice tive um dentista que não conhecia anestésicos, e que dizia: os transmontanos não são cagões ! Mais tarde, já muito tarde, quando não conseguia sorrir e nem falar sem pulverizar alguem, uma amiga atenta puxou-me as orelhas. Encontrei uma santa dentista que me recebeu a primeira vez sem recriminações (eu já era superespecialista), cuidou de mim, limpou-me as chagas, desinfectou-me as feridas, lavou-me os pés. Entreguei a minha vida nas suas mãos. Foi no Porto, nunca a esquecerei ! Deu-me uma boca nova, um look mais apetecivel, tornou-me mais decente aos olhos dos outros - sobretudo dos doentes. Agora o dente partido, barba por fazer, relatório - marimbaram-se para ele, TMC... Lá fui eu á dentista da família em Trás-os-Montes profundo. Esperava outro qualquer Dr J Mengele. Mas vá lá, correu bem: uma gengivectomia, muito sangue (já precisava de uma flebotomia, pois tinha um hematócrito alto por ser ex-fumador - até me fez bem), fragmentos de dente, dores ligeiras de tipo lancinante e, ao fim de 90 longos minutos, nem queria acreditar no magnífico dente reluzente, produto perfeito daquelas mãos de fada ! Levei não-sei-quantas-anestesias, suei a bom suar, hálito gástrico num ai jesus (aquela gente dos dentistas tem cá uma resistência - ao NBQ - nuclear biológica e quimica), mas saí de lá eufórico. De repente tudo azul, óptimo, excelente, magnífico, cool...
3. Avaria no automóvel na viagem de regresso !
4. Um-colega-que-me-deve-tudo telefona-me a dizer disparates. Lá se vai a euforia do dente. Arrelio-me quase a sério. Liguei a TVI de novo. A minha mulher manda-me dar uma volta. Fui para o Porto.
5. Reunião preparatória de um Congresso médico cá para os nossos lados: ó manolo deixa-te de merdas, isto por aqui está de rastos, as SA estão a dar cabo de tudo, não estás a ver ? - Mas os médicos ? pergunto eu. - Tu é que és de bom tempo, está tudo a marimbar-se, cada um faz o seu e ponto final. Regresso a casa ! A minha vizinha pergunta-me se é verdade que o doente X da enfermaria Y tem uma certa doença !
6. Reunião de condomínio: quase tudo quadros da UTAD. Ninguém quer saber se o portão da garagem está aberto ou fechado (já fomos assaltados), se o ruido noturno quase ensurdecedor da pizzaria do rés-do-chão incomoda ou não, se a vizinha esquizoide do lado, gosta de punir todos os condóminos com coisas mirabolantes: papeis nos interruptores para não desligarem, avaria intencional no portão da garagem (tem o seu espaço fechado ilegalmente) para estar sempre aberto talvez para os ladrões roubarem os vizinhos, abre as janelas das zonas comuns, quando está vento e chuva para chatear... ameaça verbalmente as mulheres, escreve papeis de tipo aviso (esta casa não vende móveis por ex) num momento em que alguem deixou uma mesa na zona comum da garagem. Ao fim de meia hora, acabou a reunião onde não se discutiu nem decidiu nada. Que mal fiz eu a Deus ?
7. Tento dormir e não consigo. Escrevo neste blog. Já sei que vou apanhar das boas, quando o besugo despertar da sua noite de urgência. Este blog tem, certamente, gente tolerante ! Menos no futebol...
"Sometimes words may tumble out...
...
but can't eclipse the feeling when you press your fingers to my lips". As noites calmas, pacificamente solitárias, completam-se com músicas suaves, como "Still", que Elvis Costello canta como um longo e reconfortante sussurro.
Doces
O interessante, simpático e altruísta
doce da avozinha atribuiu-nos o prémio
melhor tarte de amêndoa.
Agradecemos, mas o "simpático" é, evidentemente, condicional: é que ficamos sem saber se
o amigo gosta ou não dessa discutível tarte a que nos associa; e, mesmo, se nos acha mais ao jeito da amêndoa amarga ou da doce.
Muito obrigado, agora a sério.
Excitações
1 - Vai ser interessante apreciar a postura do CDS-PP em futuras condecorações. Quando se tomam atitudes assim, firmes e hirtas, é preciso muito cuidado, depois. Podemos passar a ser conhecidos por "professores Alexandrinos", o que é sempre remeter para o pensamento mágico atitudes que se pretendem sólidas e "doutrinárias".
É esperar para ver: se eles fazem mesmo doutrina ou se foi, apenas, mais um espasmo pueril que o
diazepam do tempo vai relaxar.
2 - Foram tocantes as imagens de populares iraquianos, transportando para a ambulância (acho que era para a ambulância) o fuzileiro americano ferido. Segundos depois, vimos uma horda ululante de populares "milicianos" iraquianos a prometer mortandades aos infiéis. E, logo depois, lá estavam os desgraçados reféns italianos, sentadinhos a comer, à espera da sua conjunção de sortes.
Vi um bocadinho do Guimarães - Braga. Uma tira de pano dos de Braga caiu, parcialmente, na bancada dos de Guimarães. Os de Braga puxavam para cima, os de Guimarães para baixo. Uma pequena batalha, como se aquele pano fosse o nosso estandarte, ou o estandarte do inimigo, consoante a bancada. Não se vislumbrou vitória no combate de puxar. Mas os de Guimarães, em baixo, acenderam isqueiros para queimar o símbolo. Depois veio a polícia, lá pararam com aquilo. Não se sabe, contudo, se foram constituídas milícias populares em Guimarães para caçar bracarenses. Ou em Braga, para expulsar vimaranenses que tivessem tido o topete de passar no "Sardinha Biba" a beber um copo.
Andamos quase todos muito excitados e era preciso mais calma, tenho a impressão (se calhar errada) que não estamos em altura de nervosismos.
O túnel
Suponho que toda a gente tem perfeita noção de que em Portugal todos os anos se iniciam, executam e usam obras públicas sem qualquer estudo de impacte ambiental, sendo certo que o EIA é obrigatório para a esmagadora maioria das obras públicas. A decisão tomada pelo Tribunal Administrativo no sentido de suspender as obras é a única possível face à lei, mas lamento o notório aproveitamento demagógico dos partidos opositores de Santana Lopes, por quem eu não nutro, de resto, nenhuma simpatia em especial. Antes do Santana e depois dele, com PSD e sem PSD, já se fazia e continuar-se-á a fazer obras, por esse país fora, sem EIA, sem consultas públicas, com projectos inconcretizáveis, expropriações deficientes e sem que, sequer, se assegurem antecipadamente fundos financeiros para o pagamento dos correspondentes custos. Todos sabemos da existência de leis bem intencionadas mas cuja aplicação não passa do papel, como se de uma eterna "vacatio legis" se tratasse. Esta, a que impõe o EIA prévio, é só mais uma. Para bem dos utentes de obras públicas, ainda bem que não há Sá Fernandes suficientes em todo o país que se mostrem empenhados na afirmação da cidadania, sob pena de se paralisarem uma boa parte das obras públicas portuguesas. Ou, pelo reverso, é lamentável que só tenha aparecido este Sá Fernandes - com muita, pouca ou nenhuma nobreza nas intenções - a erguer essa cidadania um degrau acima da inoperância de muitos gestores públicos.
Errata
Afinal a Isabel do Carmo não andou metida nas FP-25. Saliento, no entanto, que fundou o PRP e as Brigadas Revolucionárias. Eu errei, o Paulo Portas tinha razão. É que nunca se sabe: às tantas, isto da política armada fica-lhes no sangue e para comprar submarinos a prazo já estou cá eu. O Portas, claro.
Medalhões
Paulo Portas não aceita que Isabel do Carmo seja uma das condecoradas atendendo ao facto de ela ter participado nas FP-25. Em protesto, o PP não participará na atribuição das condecorações do Sampaio. Eu, por mim, pensei que a senhora já estava reformada e até me admira que não se tenha entretanto filiado no PSD.
Não custa nada...
Ó Francisco, deixe lá
isso. Vocês foram melhores, parabéns, a sério. Muito a sério.
Agora veja lá se faz uma forcinha para a gente vencer os lampiões. Se não for por mim, pela Lolita (ela disse que sim, que vamos ganhar, pelo menos eu percebi isso...).
Ela gosta que eu esteja contente desde que ela esteja mais...
Jardim
Alberto João Jardim borrifa-se para o 25 de Abril. Não sei se me espante pela boçalidade ou se lhe faça justiça. Ele não é mais boçal do que outros, é apenas mais ostensivamente desavergonhado.
E o futebol?
Vamos ficar em segundo. Ontem era pouco, agora já me chega, que remédio.
Desconversas
É muito tentador iniciar uma desconversa caprichosa se se sabe que o interlocutor tem o azar de, no mesmo momento, ter muita vontade de conversar. Às vezes seria bom poder fazer
rewind e começar de novo.
Competição automóvel
Hoje sim. Houve um grande prémio de fórmula 1 em que só houve uma ultrapassagem. Mesmo essa deu problemas analíticos, de trajectórias, que não sei como ficaram. Tirando isto, a corrida foi ordeira, como se quer. Quase consoante partiram, assim chegaram, tirando o alemão mais velho, que é doutro filme, devia ser futebolista.
Cada vez mais me convenço, aliás, que o alemão virtuoso é, no contexto
rampante, dispiciendo. O que conta é a marca das viaturas:
a Ferrari! Uau! Vodafone-se!. As pessoas torcem pelos carros, não pelos pilotos. Estranho desporto este.
Há-de passar a disputar-se apenas em países árabes com potencial petrolífero. E em Portugal, claro, se os comentadores lusos tiverem uma baba e um ranho influentes. Emocionante.
felicidade
Temos uma nova santa. Isso é bom, porque já íamos ficando fartos das santas mais antigas.
Por falar nisso, esta já é um bocado antiga, também, mas não enquanto santa a sério. Só como projecto de santa é que já é velhota, como santa é recente.
Eu gosto de santas. As santas são boas pessoas, é pena que muitas já estejam mortas e não se possam entrevistar. Ou seja, foram boas pessoas, só servem para documentários, não se pode questioná-las em directo sobre as coisas.
Desassombros
A
geração dos 30 anos não existia, sequer, como geração, sabe? Você gosta de tudo ao correr do pelo, deve detestar furúnculos. Eu também, mas eles existem, a cada passo se lancetam. É a vida.
Que coisa você me deu a ler, agora pela noite! Ia tudo muito bem até 7/8 do texto, você não gostou da Revolução de Abril nem do PREC, pronto, a gente percebe e cala-se, respeita. Pode-se não gostar e dizer que não se gosta, pronto.
Agora, quando você começa a fazer
futurologia pregressa , tentando provar (sem provas) que a Revolução não era necessária porque
havia a geração de 30 anos, francamente! Isso nunca existiu senão depois de Abril, meu caro. Depois de Abril, luminoso Abril, mesmo com os excessos do PREC, até imaginar que
teria sido possível haver luz doutra maneira lhe é permitido. Mas é só imaginação, não é mais nada.
Eu afirmo que essa geração iria ser estéril como as outras, as anteriores: incapaz de abolir um regime (que você mesmo afirma que estava podre ao ponto de não conseguir disparar um tiro) se não houvesse Abril a libertar-lhe o intelecto brilhante, é certo, mas preso pela cobardia do corpinho mole, esse corpinho que limita os pensadores
medrosos de porrada.
Ainda por cima você, no seu discurso corrido de "podia ser bem melhor doutra maneira", esqueceu-se de alguns
inúteis: Mário Soares, Álvaro Cunhal, Salgueiro Maia, tantos outros, misturados na História e no meu itálico, que foram dando o corpo ao manifesto para que
a sua geração de 30 anos pudesse, agora, lá porque você quer, passar por "inequivocamente boa".
Nunca saberemos se seria, mas provavelmente não. Quase de certeza. Não tinham ombros para tanto, os que você aí disse. Digo-lho eu, com o mesmo desassombro.
O poder do cachecol
Hoje voltei a ir ao estádio azul indigo, para ver o Porto - Alverca. Durante uns minutos depois de o jogo ter começado senti que faltava ali alguma coisa a que estava habituada: os comentários. Os benditos comentários que, para quem acompanha os jogos nas televisões e não conhece os jogadores, são indispensáveis. Um pequeno mas gentil espectador lá me foi fazendo o relato, de forma efusiva o suficiente para permitir que eu, algum tempo depois, já ajudasse. Faltavam-me, também, as repetições dos lances, que descobri, afinal, existirem. Bastava olhar para cima, onde uns televisores encastrados na bancada de imprensa mostravam a transmissão na RTP1. No final da primeira parte, já mais orientada, brindei com champanhe a vitória do Porto. Perdi o golo, porque entretanto fui comer. Na segunda parte, o Derlei entrou no relvado com uma estrondosa salva de palmas que eu também acompanhei e foi autor de dois remates que só não resultaram por uma unha negra. Devo acrescentar que o Ricardo Carvalho é um jovem corajoso, interventivo, multifacetado. Até eu percebi que ele tem garra de jogador-vedeta. Os portistas acorreram em peso ao estádio e festejaram, com calor genuíno, o vigésimo título do Futebol Clube do Porto. Com muito barulho - demasiado barulho -, caras sorridentes e cachecóis orgulhosos. Falo de vitórias merecidas, as que merecem fartas comemorações.
Se eu fosse mal intencionado
Talvez achasse que este 25 de Abril está a ser tratado, sobretudo nas televisões, como se fosse História. Apenas História. Apenas, já, História.
Documentários antigos entremeados de coisas modernas, música a preceito, tudo bem enquadrado pela nostalgia... para nos fazer sentir que apenas mexemos na poeira do tempo.
"- OK, já vimos que isto aconteceu, meninos. Agora já é 26, vamos às coisas importantes."
Não, eles não teriam coragem de planear isto assim. Pois não?
A mudança
Logo de manhã era visível o clima de apreensão. A minha mãe, como qualquer mãe o faria, tratou de se assegurar de que todos os seus filhos estavam em segurança. O meu pai telefonava incessantemente e suspirava; julgo que pensava no que seria o seu futuro. Alguém estava a fazer desmoronar as bases das suas rotinas diárias e das suas estratégias de vida, por muito limitadas que fossem. Fazia parte dos portugueses não politizados, para quem a guerra colonial não era um problema próximo. E naquele dia, naquele preciso dia, apercebeu-se intuitivamente dos riscos que corria e foi, por isso, forçado a politizar-se imediatamente. Percebeu, então, que, por azar, estava do lado errado da revolução e que esta já estava em marcha. Não era a favor, nem era contra. Apenas um português a fazer o melhor que podia para sustentar os seus. Mas era "patrão", pobre dele.
Numa família grande e cheia de adolescentes arrebatados, seria difícil impedir que a onda auspiciosa da revolução não os seduzisse. Os mais velhos foram festejar para a rua, enquanto os mais novos permaneceram na segurança do lar, eu incluida. Também me lembro dos desenhos animados na 2, entremeados com os comunicados do MFA na 1 que a minha mãe, ansiosa, procurava, enquanto angustiadamente esperava as notícias do meu pai que tardavam em vir. Os mais velhos voltaram à noite cheios de novidades e de manifestos revolucionários que nós, os mais novos, ouvíamos e repetíamos até à exaustão, até fazer o meu pai sorrir. Todos, nos meses que se passaram, nos tornamos fiéis apoiantes de uma revolução cujo sentido só conhecemos depois. Naquele dia, uns crianças e outros adolescentes, sentimos, apenas, os ventos da mudança. O tempo encarregou-se de demonstrar que o olhar apreensivo do meu pai não era em vão e que foi, também ele, vítima do encarniçado tom da defesa incondicional dos oprimidos. A revolução acabou por lhe ser favorável, embora mais tarde do que para outros. Para nós, os filhos, a revolução foi imediatamente visível; mas aprendemos, também, sobre o oportunismo.
Viva o 25 de Abril !
1. Foi numa aula de religião e moral, com um padre muito assustado. Senhor de uma cultura admirável, mas muito intolerante e reaccionário, marcado negativamente pela esquerda francesa durante os anos que passara com o pai em França. Continuei a ser amigo do padre, pela sua cultura. Mas nunca esquecerei esse dia, o brilho dos olhos dos meus pais, a brisa quente da liberdade. Vinte cinco de abril - SEMPRE !
2. Pela manhã dei uma volta pelo blog, as reflexões da lolita, as tiradas do besugo, vai daí um contributozinho em torno do caso da semana - nem tinha lido ainda o Expresso - já lhe chamava assassinato político e tudo - a revista diz tudo, do malandreco do presidente de tudo que há no "norte", enfim. Até comunguei da esperança (ponto 2) do besugo na vitória em Leiria. Passei a tarde a estudar e a preparar uma reunião médica com espanhois em Outubro. Lanchei bem, jantei ligeiro. Fui ao café no rés-do-chão do prédio - em vila real urbanisticamente tudo se permite...
3. Olhei para a TV, um lance do slb contra o EAmadora. Um penálti inexistente contra os desgraçados. Mas o valentim não tinha sido preso, admoestado, "ouvido" pela pj ? esperava boas arbitragens no fim de semana! Afinal o sistema ainda funcionava ! Não consegui ver mais nada. Voltei a casa. Vi um DVD com a minha filha, depois da 2ª sinfonia em ré maior, Op 73 do J Brahms (1833-1897) - versão Ricardo Muti / Orquestra de Filadélfia - Philips / Enciclopedia Salvat - Os grandes compositores.
No fim, comecei a ouvir buzinar automóveis na rua. Não pode ser ! Preocupei-me imediatamente com o besugo, que devia estar a tomar neurolépticos por via PARENTÉRICA. Aproveito esta prosa para lhe prestar a minha total solidariedade, os meus préstimos médicos se necessário (não deve passar da benzodiazepinazinha... digo eu não sei) e também para lhe lembrar - que o glorioso slb tem o 2º lugar á espera. Ânimo !
O dia da (R)Evolução.
Para mim, já começou.
Já ouvi os foguetes da meia-noite.
E mais logo, pelas 9 da manhã, lá estarei perfilado a olhar para um mastro com a bandeira a esvoaçar enquanto a fanfarra dos Bombeiros presta a guarda de honra.
Tal como em outros anos, apenas as "entidades oficiais" estarão presentes.
O povo já se deixou de festejar.
Não terá razões para isso. Talvez...
Terá mais que fazer. Se calhar...
Não lhe apetece. Provavelmente...
Ter-se-á esquecido. Isso não.
Não se esquece o dia em que, mesmo sem perceber, tal como me aconteceu a mim há 30 anos, a luz volta a alumiar um País que teimava em viver na penumbra.
Só é pena o povo que "é quem mais ordena" não querer, ao menos neste dia, ver a bandeira livremente a esvoaçar.
25 de Abril
O dia amanheceu enevoado, mas havia sol entre as nuvens. Eu tinha treze anos e andava no liceu, no quarto ano. Corresponde ao oitavo, nos nossos dias.
O João Correia já andava no quinto e era de família informada. No intervalo duma aula matinal, o João estava numa roda de amigos, a falar. Estava lá o Duarte, que nunca mais vi, também. Não sei bem porquê fui até lá, com o Zé Póvoa e o Zé Guerra, acho eu. O Guerra já morreu, bom amigo, muito novo.
Soubemos da Revolução ali, no intervalo. Tínhamos sabido da "intentona" das Caldas, no mês anterior, e percebemos ali algumas coisas. Muito poucas. Mas sentia-se mudança séria e via-se muita luz nos olhos dos mais velhos.
O intervalo acabou. Lembro-me de ter tido uma aula de Física e outra de Ginástica, com professores muito novos, um era Rui, outro não me lembro, teriam vinte e poucos anos. Esfregavam as mãos de contentes e a gente percebia porquê, eles percebiam que a guerra ia acabar, que já não iam, percebiam outras coisas.
Lisboa era muito longe, mas sabíamos que aquilo também estava a ser connosco, aqui no Douro. Que nos dizia respeito. A reitora, coitada, desdobrava-se em telefonemas para a filha, em Lisboa, a ver se estava tudo bem. Estava, pelos vistos. Para ela piorou, depois, pagou a severidade reitora de gostar de punir catraios à lambada, com escritos nas paredes do liceu a mandá-la para a rua. Acabou por ir.
Já em casa, lembro-me de ter visto filmes e desenhos animados na televisão, a tarde inteira. Na RTP2. Na 1, havia música estranha, bonita, homens de barba a cantar coisas que eu conhecia de ouvir no gravador de fita do meu padrinho, que é cego. Ouvíamos sempre meio em segredo, eu julgava que era mania dele, os cegos são estranhos, às vezes.
O meu Pai disse-me, à noite, muito sério mas com os olhos a rir, que (se calhar) eu já não precisaria de ir para a guerra. E que ia haver liberdade. Eu fiquei contente. Nunca me tinha preocupado muito com isso da guerra, embora soubesse que a havia e que lá iria parar, um dia. Falava-se nisso em casa. Mas, ver o meu Pai com os olhos a rir, alegrou-me. Eram olhos diferentes dos do dia em que me ralhara, anos antes, angustiado, por eu me ter atravessado a declarar, na cadeira do barbeiro, que
"Salazar é burro, diz o meu Pai". A liberdade que ia haver devia acabar-lhe com a angústia
do que o filho podia dizer.
Não foi muito mais do que isto. O resto os senhores já sabem. Muito melhor do que eu.
O voto contra
Os resultados do referendo no Chipre seriam lamentavelmente normais, porque correntes, se ambas as partes da ilha se manifestassem contra a reunificação. Seriam, enfim, mais duas nações de costas voltadas, de posições irracionalmente extremadas, cada uma delas a negar evidentes afinidades com a outra. O que é intrigante e, atrevo-me a dizer, quase sinistro é que só os cipriotas-gregos votaram, quase massivamente, contra. No plano estritamente formal, não se põem em causa as decisões soberanas dos povos, se expressadas por meios democráticos, porque, nesse plano, nega-se a democracia. Mas estranha-se quando as decisões democraticamente expressadas manifestam orientações extremistas e intolerantes. Os cipriotas-gregos nada perderiam em votar favoravelmente e os cipriotas-turcos tudo ganhariam com isso. Os gregos votaram contra os turcos e não a seu favor. Está a ver, señor de Lanzarote? Você teve o sonho errado.
Afinal não, é só mais isto.
É só futebol, eu sei. O que é extremamente redutor: vistas as coisas assim "tudo é apenas aquilo que é". Não
é só futebol,
é futebol.
Todos nós temos outros empenhos, outros gostos, outras coisas, outros amores. Mas "isto anda tudo ligado". De certa forma, anda.
Não desdenhar uma derrota nossa, não a desvalorizar como se fosse "pouco importante", é a única maneira de legitimarmos futuros festejos, quando for a vez deles.
Amanhã é o 25 de Abril. Mas hoje o Porto é campeão. Confesso que ainda acreditava na possibilidade do contrário, paciência.
Os parabéns ao Porto, desta vez, são sentidos.
Raios me partam.
O segundo lugar
Preferiria que o Porto só amanhã fosse campeão, porque uma vitória é mais saborosa quando se ganha do que antecipadamente, quando outros perdem.
Aos sportinguistas, lembro o sugestivo momento de celebração revolucionária: a disputa continua. Ou, citando o José Mário Branco no Expresso de hoje,
resistir é vencer.
Perder é amargo
Parabéns ao Porto, que é campeão.
Se dependesse de mim juro-vos que ficávamos em segundo, mas já vi que não depende.
Não digo mais nada, hoje, sobre futebol, porque estou triste.
24 de Abril
1 - O presidente do Boavista é-me antipático. Aqui entre nós, é responsável por uma das maiores "secas" da minha vida! Não me lembro se foi em Serralves ou na Exponor, mas eu esqueço detalhes extra-profissionais. Sei que no IPO não foi. Mas estou, basicamente, de acordo com o
Manolo. Como
trasmontano daqueles que vêem o Douro (é sempre bom misturar alguma água corrente ao espírito montanhês) ainda vou mais longe: comovo-me com
jantares de sexta-feira com os filhos e os netos, com a tradição... e com a desfaçatez.
2 - Hoje vamos ganhar em Leiria. É uma fé que eu tenho. Uma equipa desfalcada tem, sempre, de se superar na fé e na roda pedaleira. Espero que o Engenheiro não esteja a preparar os jogadores para "um jogo difícil, mas basta ganharmos ao Benfica para assegurarmos o segundo lugar...". Nunca basta "ganharmos ao Benfica", até porque é difícil. Espero que estejam em Leiria de cabeça e de musculatura afeiçoada para ganhar aos rapazes do Vítor Pontes que, como todos sabemos, treina uma boa equipa e é amigo do José Mourinho. É ir lá ganhar e pronto, eis a táctica.
3 - Há agora um concurso na SIC para ver se se arranja uma Miss Portugal, ou coisa parecida. A paranóia dos "castings" está a fazer da juventude portuguesa uma manada de pimpolhos e pimpolhas em ânsias de aferição: "vejam lá se eu sirvo, vejam lá se sou bom, se sou boa,
para seja o que for. Há um júri? Vou lá!".
Depois, levam na cabeça de tipos como o filho do Daniel Serrão (a prova viva de que a montanha pode parir um rato... gordo) e, pior que isso, de mulheres atormentadas. Aquela mulher loira, com aspecto de ex-entertainer do Pérola Negra, é uma mulher atormentada. Tem uma característica em comum com os imbecis de hoje: é muito frontal. Ser frontal é
não ser lateral nem admitir lateralidades. A mulher diz às toscas
candidatas a não sei o quê "que são feias, que são tortas, que não prestam". A uma delas, que lhe fez "remarcas" (equivalente helvético de "críticas"), respondeu que "tu és feia e eu digo-te assim de caras, sem medos, porque sou frontal, e eu própria também sou feia e assumo!".
Pois bem. Suponhamos que aquilo era um concurso igual, mas para apurar gente limpa:
- "Tu, filha, és uma porca! Não serves! Eu própria sou pouco dada ao asseio, mas assumo! E estou no júri, porca, lava-te toda!"
- "Lava-te tu, vaca!"
E o que é certo é que deviam lavar-se ambas. Muito bem.
4 - Sobre o
Di Matteo fiquei na dúvida: não sei se foi o Di Matteo se foi o Di Cannio. Fica conforme estava, mas estou inclinado a pensar que, afinal, foi o Di Cannio... A Lady Di não foi, o que é uma graçola fácil e fútil. Penitencio-me já: vou escrever um texto sobre o 25 de Abril e mandar para o
Barnabé. Basta ele fazer-me um sinal.
Os estudos !
Lembrei-me daquela história (bem verdadeira) do Dr. X, homem transmontano dos quatro costados, que escreveu ao filho - a estudar na Universidade do Porto. - Meu filho, se o vinho de prejudica os estudos, deixa de estudar, volta para casa !
Multa de estacionamento ...
Esta história do Gondomarense é gira !O grande Valentim ouvido ao 3º dia conforme as escrituras, com outros tantos dias nos calabouços da PJ, por causa do Gondomarense ... Faz lembrar o Asterix na Corsega, quando a irmã do Octacatarinetabelatchitchix disse "não", e o irmão corso virou-se para o Asterix e disse: "Estás a ver, continua tagarela..." Ou o Al Capone que foi condenado, tendo um crime minor como pretexto, ou quando se enforcavam os bravos do Oeste por roubarem cavalos... O presidente da Liga, pai do homónimo do Bessa, do Metro do Porto, da Câmara de Gondomar, deputado... conselho nacional... da àrea Metropolitana do Porto, etc, etc.. foi finalmente assassinado (para já) politicamente. O filho já foi corrido do PE ! Como eu gostava de ver os intelectuais a falar contra esta segregação inqualificável ! então o rapaz só por ser filho de... já não tem capacidade para ...? Mas está tudo calado, tudo aceita pacifica e comodamente esta atitude, porque no fundo das nossas convicções, associamos os dois no que de perverso tem o assunto ! Oxalá eu venha a ler alguma coisa sobre isto, escrita com isenção ! Os meus compañeros de blog poderão pensar que defendo o ex-Ban ! Na verdade não nutro qualquer simpatia por ele, pelo seu discurso igual aos outros, pela forma de estar arruaceira, tão ao gosto dos fanáticos (sobre quem se escreveram coisas muito interessantes neste blog). Mas há que ser justo em tudo na vida e, especialmente, isento ! Porque é que o rapaz não pode ir para o PE ?
- Continua presidente do Boavista.
- É do partido do poder
- Não tem carreira profissional sólida, excepto a de compositor e vocalista dos Ban, com um top + : o "ideal - social"!
- Não se lhe conhece uma única reflexão sobre a Europa, sobre política portuguesa, sobre nada... O que pode ser uma qualidade (comum na maioria dos políticos.
Sobre este e muitos outros da nossa praça, e em todos os ciclos políticos exercitamo-nos atónicos a perguntar: Como é que alguem se lembrou de convidar um personagem como este para o cargo de ... ? ou como é que um tipo destes aceitou um cargo desta responsabilidade ?
No contexto de premiar a mediocriade nacional estes episódios não me admiram, e são reprodutíveis (infelizmente com os custos que bem conhecemos) em todos os sectores da vida portuguesa - evidentemente os dependentes do estado, porque os outros fazem contas...
Se, o único senão do ex-Ban, ir para o PE é o ser filho de quem é, e ninguem diz nada, então estamos perante uma barbaridade ! Sou contra!
Actualização de links
Dá-me sempre muito trabalho e por isso nem sempre me apetece. Os blogues que hoje entraram à esquerda são daqueles que visitamos regularmente e que só por preguiça (mais do besugo do que minha, garanto) ainda lá não estavam. São, a par de outros que já estão na lista, do melhor que se escreve por aqui ou, aliás, por onde quer que seja. A saber: o
Jorge Marmelo, o
Tiago, o
MacGuffin, o
maradona e a
formiga. Ei-los.
Justiça
Um olhar subjectivo sobre a justiça é sempre turvo. Um olhar auto-crítico sobre as fraquezas humanas é sempre justo.
Chatices
- Sabes, Marina, eu quero morrer belo, como James Dean morreu!...
- Isso é possível. Claro, antes disso tens de renascer...
Rendibilidades
Jorge Andrade foi expulso por ter dado um pontapé amigável no Deco? Não. Foi expulso por dar um pontapé, embora leve, num jogador adversário caído. O árbitro não tem culpa. Deco sim. Podia, em vez de protestar (sem convicção, admito, sejamos justos), confirmar a versão do Jorge Andrade: "He's my friend, Dr. Merck".
Há uns tempos atrás, Di Matteo (acho que foi este), perante baliza adversária aberta por lesão do guarda-redes, chutou para fora, em falhanço premeditado, uma bola de golo feito. Foi aplaudido como nunca, o indisciplinado Di Matteo. Pelos próprios adeptos e pelo mundo.
Deco, que joga muito bem, podia ter feito pedagogia bela. Fez, apenas, bem, aquilo para que lhe pagam.
Prefiro Di Matteo.
Trajectos
Hoje disseram-me que
ainda estou a ir. E confirmei que os pequenos prazeres devem dominar os sofrimentos. E ser estanques a eles. Por uma questão de paz e de necessidade. Que a paz é necessária para sossegar o desassossego.
Aproxima-se o concerto do Elvis Costello. E eu passei a ouvir o "Still", enquanto aqui estou a "parlapatar".
Independencia al norte iberico
A
Tia Lólita tem, como sempre, o meu apoio. A Comunidade Autónoma da Galiza e toda a região ex-futura região administrativa a norte do Douro devem conjugar esforços para, unificadas, se transformarem num indivisível estado independente. O futuro país tomaria a patriótica designação de Urracagónia e a constituição havia de dispor sobre as quotas masculinas no parlamento e no executivo. Eu sei que a Tia não foi tão longe, mas também sei que só o seu enorme pragmatismo e infindável paciência a impedem de descrever, prematuramente, este sonho que a persegue de uma nação reunificada após novecentos anos de divisão imposta. Importante seria, também, negociar uma aproximação linguística. Os embaraçosos "bês de baca" deixariam, evidentemente, de existir; e eu não prescindiria de introduzir o "xota" galego nos dicionários. Imagine-se o Valentim Loureiro a dizer que, em tempos, foi Presidente de la Xunta Metropolitana de Oporto...
Românticos
O amigo do meu pai que, aqui há uns tempos, foi a enterrar com ambas as pernas (depois de me ensinar umas coisas sobre dignidade) legou-me uma linda colecção de discos de música clássica. E uma aparelhagem fantástica. Tão fantástica que dei a que tinha.
Hoje, a irmã do Zé (era o nome dele, para quem se recorda) trouxe-me mais uma relíquia, simples como todas as relíquias. Bonita, como tudo o que me dão "assim dado". Biografias de clássicos, cerca de 40. Para um tipo como eu, que gosta das coisas às vezes sem saber porquê, foi muito bom. Já estive para ali a sentir-me bem, enquanto relia sobre Brahms, sobre o amigo Schumann e a sua mulher Clara. Que, pelos vistos, Brahms amou muito, amigo de ambos que foi.
Encontrei um novo interesse: ler sobre quem foi enchendo o mundo de música, enquanto a oiço. Obrigado, Zé. Obrigado, também, ao
Filipe, que me aconselhou este filme: "Aimez-vous Brahms?".
Este prazer novo não traduz senão isso: uma coisa nova que descobri
tarde e a tempo, ao mesmo tempo que me vou descobrindo. Sou um inculto. Nada sei dos clássicos, está aí o Manolo (que sabe) para me confirmar a ignorante desfaçatez. Ele sim, sabe.
Mas é um dos meus mais recentes gostos. E vou escrever mais sobre isto, desculpem.
O problema do tempo
Já é um pouco tarde, às tantas, mas
isto é, geralmente, bom.
Azias
Penso que o Corunha vai acabar por eliminar o Porto. Eu não queria. Mas parece-me que sim.
Sobre o Jorge Andrade, é curioso:
"He's my friend!" bradou o
colored internacional luso sobre o "ôi?" que acabara de acariciar, com a bota. Também internacional luso, o "ôi?", não
colored, mas bexigoso, protestou.
A questão é funda. Mais funda. O alemão tem de saber de amizades prévias, Lolita? É que se tem, lá estamos nós: este regime de excepção (de esquerda, obviamente), vai acabar por provocar dores nas cruzes ao Alonso, ao Paco... a ti.
Temos aí o Tramadol, a Litotrícia... e o Kompensan para a azia. Eu já tive disso mas curei-me.
O fado
Leio sempre com prazer o Alonso. Desta vez escreveu longamente, mas eu gosto de coisas prolongadas. Como dizer o contrário do prazer de o ler?
Provavelmente (eu conheço-o relativamente bem, o que ele diz é verdade, não tem tempo para isto) escreveu
de esguicho. O que é sempre bom, as autenticidades são rápidas, embora devam degustar-se com placidez.
Boa definição (enquadrada) das coisas "da esquerda" e "da direita". Foca o problema, fundamentalmente, na "questão social". Percebe-se que não rejeita (eu sei que não) o
regime de excepção permanente a que a esquerda obriga (para defender os fracos é preciso definir o que é ser fraco, o que nem sempre é linear e, independentemente da definição e da triagem, pagar, bufando ou não), da mesma forma que se entende que se move melhor em áreas de "quem não trabuca não manduca". Ele define assim a direita, eu até concordo com esta definição de direita que ele dá mas, depois, apetece-me que não haja fome em sítio nenhum e prefiro que a minha caridade seja dispensável, que não haja fome porque não a há. Porque o Alonso e eu (e outros) pagamos, alegres, a saciedade dos famintos. Que querem, é defeito meu.
Pensar isto, que estas coisas de ser Pai e Mãe dos pobres são sempre um investimento a longo prazo... e, ainda por cima, pensar que o Alonso concorda... É obra!
Penso que ambos aceitamos, boamente, que os dois
manducamos porque trabucamos. Só comemos sardinhas em sardinhadas, mas a culpa é das patroas e das amigas das patroas, que só fazem sardinha assada em festa. Também há boa sardinha em festas do Avante, mas isso é conversa antiga, do Alonso e minha.
Posto isto, Alonso, veste uma camisa aos quadrados (como as minhas) ou um polo da Façonnable (é assim?), ou da Lacoste, como preferires, mas escreve mais. Entende-se tudo o que escreves e, concorde-se ou não (eu sobre isso não falo, pelo menos até acabar a história do "apito dourado"), tudo isto é fado.
O dentista alemão
Se aquele árbitro fosse oriundo de um país latino teria, não só, esboçado um sorriso perante o pontapé amigável como dado uma palmadita nas costas a cada um dos jogadores. Em compensação, seria provavelmente mais permeável às solicitações de adulteração da verdade desportiva.
Ainda a propósito...
do
blog de que fala a lolita.
Tivesse ele, o Saramago, habilidade para arranjar uma mulher assim, e de certeza, deixava de votar em branco, pelo menos, em questões importantes como se afiguram, para alguns de nós, certamente, as eleições europeias.
As vírgulas sobrantes são cortesia da casa.
Ai que já nem posso com as risas...
Este blog tem, por vezes, surpresas que nem ao diabo lembram.
Tive a grata felicidade de reencontrar por estas páginas o manolo de quem, de há muito tempo, apenas ouvia falar.
Porque rompeu o tendão de Aquiles, porque andava com um feitio tramado, porque estava cada vez mais difícil de aturar...etc e tal.
Como é óbvio e porque os relatos destes acontecimentos eram feitos na terceira pessoa, muitas destas asserções podem muito bem ser defeito do narrador (tirando aquelas que reproduziam factos objectivos como o episódio do tendão...).
Apesar do longo interlúdio, congratulo-me com a persistência deste caro co-blogueiro na sua luta pela verdade e admiro-me por só agora me dar conta do profundo sentido de humor que perspassa pela sua mente.
Aquela tirada de comparar o JNPC com o Hitler, Estaline, Milosevic, Mobutu, Mugabe e quejandos nem ao Diabo lembra.
Mas,
a lo mejor, terá razão.
Parece que, o Grande Líder Azul, já está na lista negra da Quercus por ter, de há duas dezenas de anos para cá, colocado em cativeiro e submetido a operações transgénicas 6 milhões de águias que esvoaçavam por esse Portugal fora e que agora, feitas galinhas de aviário, se limitam a cacarejar tristemente.
Mas adiante que se faz tarde.
Mais surpreso fiquei por ter lido um post desbragado (e atenção que este desbragado não tem qualquer conotação espanhola...) do besugo, que pelo andamento que pôs na escrita, mais parecia um xarroco.
Até parece que é uma surpresa o SCP perder com o Boavista! Mais a mais, estando a ganhar. Estava-se mesmo a ver (pelo menos eu estava)...
Há treinadores fadados para isto (e não troquem as vogais ao fadados...).
Já contei por estas bandas as dores de cabeça que o Fernando Santos me deu quando andava pelo Norte a dar catequese na igreja das Antas.
Mas não é nada que um JB com gelo e Castello não cure...
Do que gostei mais foi da sigla...Aquela do Grande e Magnífico Sporting é de ir às lágrimas.
Realmente um clube que faz um estádio em que os sanitários ficam do lado de fora...enfim. Depois queixam-se por os Juve Leos mijarem de encontro às colunas!
Também não gostei da afronta à família Graça Moura.
No dia em que o besugo for capaz de traduzir para aramaico um relato do Boavista-Sporting feito pelo Gabriel Alves e conseguir ser nomeado pela S.A. para três cargos distintos, ganhando três ordenados chorudos e sentir-se ofendido por o considerarem um ladrão e ser quase corrido ao pontapé pelos doentes, nesse dia pode falar à vontade do Vasco e do Miguel. Até lá, caluda!
Quanto ao Mourinho e ao JNPC, só deixo uma pergunta. Alquém quer trocar?
Se derem o Dias da Cunha e o Vieira juntos, pode ser que ainda recebam troco...
Cá por mim, só acho que os censores que deixaram o Zeca Afonso cantar a "Grândola, Vila Morena" deviam estar a dormir quando o besugo descarregou a bílis e desatou a chamar corno, paneleiro e filho da puta ao Paixão.
Ele já era isso tudo há uns anos atrás quando o José Soares andou a dançar o
pasodoble com o Mário Jardel. Na altura só passou despercebido...É a velha história do
sê-lo e parecê-lo.
Mas eu, também nem gosto de Zeca Afonso (e muito menos do panasca do Ary dos Santos) e, por mim, se tivessem escolhido os Green Windows ou o o Quarteto 1111 para servirem de senha para o 25 A era-me igual.
Dava a mesma merda de (R)Evolução...e talvez fosse mais vivaço, sempre tinha mais ritmo.
Fazendo horas
Quem escreve este
blogue há-de ser quase humilde, quase optimista e quase rigoroso. Mas ninguém precisa, para coisa nenhuma, que essas características sejam imaculadas. Pelo contrário. Quanto mais leio, mais gosto.
29 de Março de 1974
Li na Visão do mês passado um artigo que descrevia o "Primeiro Encontro da Canção Portuguesa", no qual participaram vários músicos"políticos" da época: Zeca Afonso, Manuel Freire, Adriano Correia de Oliveira, entre outros. Zeca Afonso havia sido proibido de cantar "Venham mais cinco" e "O que faz falta". Como escolha residual, optou por "Grândola Vila Morena", que pelos vistos pareceu aos censores uma indolente canção pró-folclórica sem quaisquer pretensões subversivas. Naqueles tempos da precipitada decadência do Estado Novo, até os censores já eram de terceira escolha. E, no dia do concerto, cuja realização esteve por um fio quase até à hora do evento, Zeca Afonso cantou-a duas vezes, acompanhado, a uma voz, pelo público que encheu o Coliseu dos Recreios. Menos de um mês antes da Revolução de Abril.
Depois da longa sarapantice feita de debate ideológico direita/esquerda que o Alonso deixou aqui em baixo, quase me apetecia soltar as bandeiras da revolução e transformar isto num manifesto anti-fascista, anti-comunista ou anti-qualquer coisa. As revoluções nascem de insatisfações colectivas e de repressões intoleráveis, só se socorrendo das ideologias quando passam, na fase pós-traumática, à demagógica e inevitável partidarização. Fico-me, no entanto, pelo espartano registo de um esperançoso prenúncio de mudança que eu desconhecia até há umas semanas atrás e que, sem quaisquer significações políticas, causa fascínio. Naquele tempo, a política clandestina fazia-se, sobretudo, a favor da utopia das liberdades e julgo que, então, não devia ser muito relevante para ninguém sentir-se esclarecido sobre as diferenças entre a direita e a esquerda.
Lemas
Não , não é "lesmas", é lemas memo ... quer dizer ... mesmo!
1 - "Força Portugal"
Pois ... que é que eu hei-de dizer sobre isto ... não é um "soundbyte", nem um lema feliz, nada diz sobre coisa nenhuma, é um aproveitamento do Euro ... o PS acha mal, o Tribunal Constiticional acha bem e o povo ... está-se nas tintas.
Entretanto, o PSD e o PP parece que comemoram retumbantemente a "primeira derrota do Sousa Franco" ... e o povo ... está-se nas tintas.
Assim é a política. Não a política à portuguesa, porque lá fora é igual. Deve ser da famosa "evolução".
2 - A "(r)evolução".
A ver se me lembro de, nas férias, ir buscar ao sotão ou à estante velhinha da casa paterna um livrinho que lá está, muito nacionalista, feito em 1940, a propósito da "Exposição do Mundo Português" (hoje seria a "EXPO'40", subordinada ao lema "Força Império Português!").
Nesse livro o pujante regime de então fazia o balanço da "evolução" da pátria desde os tempos em que o Gomes da Costa pôs fim à malandragem da 1ª República. Era impressionante, quer na educação, quer na saúde, quer na acção social do Estado ... de 1926 a 1940, e acreditando no que nesse livro vem escrito, o País evoluiu a passo de gigante.
António Ferro, se tivesse nascido 60 anos depois, seria sem dúvida ministro do PSD ... ou do PS, quiçá.
3 - "Apito de ouro".
A nossa PJ está moderna. Anda à caça de porcarias na arbitragem e chama "apito de ouro" à operação.
Salvo erro foi na Segunda Guerra Mundial que se começaram a dar nomes sugestivos às operações e batalhas mais significativas (no teatro europeu. No Pacífico, o MacArthur era um quadrado, só teve batalhas chamadas Iwo Jima, Guadalcanal e outras assim, que se vê logo onde foram).
Mas é que antes era sempre assim ... uma seca, a batalha de Waterloo tinha sido em Waterloo, Verdun em Verdun e por aí fora ...
Mas "Barbarossa", "OverLord", "Torch" ou, mais recentemente "Desert Storm", têm de facto outro encanto.
Daqui sugiro à PJ que dê às suas próximas investigações nomes como:
- "Barba de petróleo" - na busca de terroristas islâmicos
- "Rico Tijolo" - na investigação ao mundo dos empreiteiros de obras públicas
- "Luvas de prata" - idem, no mundo dos autarcas
- "pipeta de marca" - idem, no tenebroso mundo das farmácias, laboratórios e propagandistas médicos.
- "Paracetamol de farinha" - idem, no mundo dos genéricos marados.
São só sugestões ...
4 - "Camisa negra" (momento cultural - ou seja, a costumeira alfinetada no peixe deste aquário)
Li aí para baixo uma daquelas verborreias paternalistas de que este blog é fértil, dirigida em particular a um tal de camisa negra que comentou um "decálogo" de um tal de CAA. Eu sei que os links estão lá, mas como eu sou muito preguiçoso e não me dou ao trabalho de ler outros blogs que não este (e um outro que tb é muito levezinho de abrir, e que é de um velho conhecido virtual), não li as peças comentadas.
Não pude no entanto deixar de apreciar o tom comiserativo com que o nosso "doc" se refere à direita das "camisas negras". Como quer ser simpático até deixa no ar a ideia que o homem nem será bem um camisa negra, e que aquilo é coisa que lhe há-de passar.
Pelo meio diz que os liberais o irritam, que ouve Brahms para se acalmar e tece considerações sobre a igualdade de direitos e deveres como fundamento do direito pela diferença.
Ora bem, eu não tenho nada de camisa negra, nem muito menos castanha, mas como fui - e ainda sou - muitas vezes apelidado de "extrema-direita", gostava de dizer, sem obediência a decálogos (tirando os dez mandamentos, mas isso é outra conversa), que acho que a conversa da igualdade de direitos e deveres é muito bonita mas não permite perceber a verdadeira diferença entre o que pensa a esquerda e o que pensa a direita.
Isto porque, em teoria, tal igualdade é invocada por todos. E por isso a diferença está na aplicação prática.
Isto, ditaduras à parte (tiremos portanto deste filme o Pinochet e o Fidel, mais o Stalin e o Hitler), porque nessas o "bem superior do povo" ou "o bem superior da pátria" não são mais do que chavões que permitem prender, torturar e matar pessoas pelas ideias que têm ou simplesmente porque são um estorvo ao poder e à respectiva clientela (ou "nomenklatura", como se quiser).
E, na aplicação prática em democracia, quer a direita (pelo menos aquela em que me reconheço) quer a esquerda conferem, sem limites, direitos políticos a cada indivíduo.
Onde está então a diferença? Entre muitas outras coisas, nos direitos sociais. A direita desconfia em teoria do Estado assistencial, tem a percepção difusa de que "a necessidade aguça o engenho" e acha justo o princípio de que "quem não trabuca não manduca". Daí que, no plano social, a direita é muito menos "generosa" do que a esquerda. E mais defensora do capitalismo como sistema económico que permite a produção de riqueza e a sua distribuição pela sociedade (de acordo com o princípio de "a cada um um segundo a sua capacidade").
É claro que a direita já não defende o capitalismo do séc. XIX (ou puro, se se quiser), porque dos limites deste sistema e dos vícios inerentes ao seu funcionamento já tudo (ou quase) se sabe. Daí que a direita hoje defenda hoje a existência de um sistema assistencial. Mas sempre mínimo.
Já a esquerda é mais compassiva, e acha que, por definição, para além de sermos iguais em direitos e deveres, devemos também ser iguais em nível de vida. E como não somos, o Estado que assegure que passemos a ser.
É claro que este princípio levado ao extremo significa o Estado socialista. Só que isso também teve historicamente resultados desastrosos. E, confrontando as experiências socialistas com as experiências capitalistas, a verdade é que se verificou que pobres eram os socialistas. Eram todos (tirando a dita "nomenklatura"), mas não era por serem todos iguais que deixavam de ser todos pobres.
Assim a esquerda lá teve que aceitar, contrafeita, que o capitalismo era indispensável à criação de riqueza. Tem com este sistema económico uma relação sempre difícil. Atura-o, com a noção amarga de que não consegue fazer melhor, mas não gosta manifestamente dele. E limita-o o mais que pode.
Nesta tensão vivem as sociedades democráticas de hoje. Entre uma direita que passou a aceitar o papel "providencial" e corrector do Estado, e uma esquerda que teve que se conformar ao capitalismo como meio de cobrar impostos para realizar um simulacro de sociedade igualitária.
No séc. XX tentaram-se outras vias ainda. Delas, talvez o "corporativismo" português e o fascismo italiano sejam das mais interessantes. Mas num plano puramente teórico. Na prática, o fascismo italiano acabou por ser marcado pela brutalidade dos "camisas negras" (nada de especial na europa central dos anos 20/30, mas nada que ver connosco) e pela megalomania do "Duce" que o fez embarcar na aventura do "Eixo". E o corporativismo português, embora conduzido de forma bastante mais sensata e prudente, revelou os limites de qualquer regime a que falta a liberdade política e económica: ficou para trás das democracias no plano económico; foi incapaz de se renovar no plano político.
É claro que as diferenças entre direita e esquerda não se resumem ao papel assistencial do Estado e à forma como ambas lidam com o capitalismo. É visível que há uma "mundivisão" diferente nos dois lados, com reflexos nos conceitos de família, de sociedade, de escola, de costumes (sendo que nesta parte a direita é feita de famílias muito diferentes, desde os liberais aos conservadores), na forma como encaram a criminalidade, ou nos conceitos de Europa, e na prática das relações internacionais. Mas isso são contas de outros rosários e eu já escrevi demais.
E pronto, eu sei que ninguém vai ler isto, e nem recomendo que o façam, porque deve estar cheio de erros e de frases truncadas, compridas demais ou simplesmente incompreensíveis. Como já disse, ando preguiçoso, e não estou com pachorra para verificar o que escrevi.
Camisas negras
São como as brancas, até por isto: grupos de tipos vestidinhos da mesma uniformizada coloração, em não se tendo reunido, de chuteiras, para jogar à bola, lembram sempre alcateias. Uns mais, outros menos. Mas uivam.
O
CAA referido pelo
camisa negra (obrigado,
Ma-Schamba) é, presumo facilmente, o CAA do
blasfémias e da Nova Democracia. A ser verdade o que presumo encontro-lhe, desde logo, uma virtude que eu próprio não detenho: ele dá um rosto ao que escreve. O dele.
É um muito bom blogue colectivo, o blasfémias. Eu gosto. Claro, se um dia o blogame mucho decidisse classificá-lo em estrelinhas,
a SM e o GS (sobretudo este!!!) iriam pagar fortemente as duas míseras côdeas que nos atiraram, mas enfim...
Isto é a brincar, mas a seguir já não é.
Eu não pude ler o texto original do CAA (os tipos da Nova Democracia vão no nº 2, aquilo foi no nº1, pelos vistos...) que é referido pelo camisa negra. Mas percebe-se o que está em questão. E o que está em questão é o seguinte:
1 - Fica por provar que o tal decálogo de CAA seja disparatado. Pode acontecer, outrossim (adoro esta palavra, como já disse), que o camisa negra não seja, de facto, de extrema direita, "um fascista impenitente", como ele cuida ser. E que as pessoas que o conhecem, ao não o reconhecerem no decálogo, apenas infirmem esta possibilidade... "Ó camisa negra, nãaaa... afinal tu não és de extrema direita, pá.".
2- Por outro lado (pelo lado que mais lhe aprouver, obviamente), o camisa negra não se lembra de nenhum fascista "que reuna aqueles requisitos... pelo menos cumulativamente". Isto apenas lança mais uma dúvida: será que o camisa negra tem boa memória ou, muito simplesmente, anda a rotular mal quem vai conhecendo, pelo menos do ponto de vista da coloração do enxoval de camisaria?
3 - De extrema esquerda poderá ser, talvez, o camisa negra. Mas para isso teremos de esperar que CAA se decida a elaborar um decálogo para essa franja do espectro político-pensador mundial e, mais até do que isso, aguardar que o camisa negra o leia atentamente e se penetre (ou não) da sua aplicabilidade ao seu próprio bestunto intelectual.
4 - Depois, o camisa negra envereda pelo raciocínio tipo "marketing". Tenta que se pense que descobriu ali um paradoxo, no que CAA disse sobre "igualdades" e "diferenças". Ora, os liberais até são dados a enervar-me, às vezes. Eles marimbam-se para isso, eu depois também me acalmo e oiço Brahms, mas não se pressente ali paradoxo nenhum. A igualdade de que fala CAA é a dos direitos e dos deveres. Que é uma das bases de que as pessoas simples partem, honestamente, para legitimar o direito à diferença. Não há aqui qualquer contradição, parece-me.
O camisa negra diz isto, por fim, ironizando, quase queixoso:
Ou seja, para ser de extrema-direita é preciso rejeitar a igualdade e recusar a diferença entre os seres humanos. Fica assim muito difícil ser de extrema-direita."
Tudo correcto, de facto, homem: é preciso rejeitar a igualdade de direitos e deveres, exactamente, e recusar o legítimo direito à diferença, para ser (pelo menos) um embrião de
camisa negra.
Ainda bem, contudo, que lhe resulta difícil, sabe? Havia era de lhe ser ainda mais.
Purpurinas
Neste Abril está a passar-se uma coisa interessante. Há quem ache grave e denuncie a falta do "R" (nos cartazes que os rapazinhos da
criatividade tipo chiclette fizeram espalhar por essas avenidas), há quem se defenda dizendo que festejar a "Evolução" é que é um Abril moderno.
As discussões deste género são estimulantes mas também não é preciso eternizarem-se. De facto, trata-se aqui, apenas, da manipulação "espertalhaça" (e fácil, de tão óbvia) duma palavra, para criar, em cabecitas mais dadas ao fascínio destas pequenas habilidades, a ideia dum inexistente antagonismo entre a raiz e o fruto. Ora, já toda a gente percebeu que isto não é tudo um caule de 30 anos.
Por mim fica, apenas, a vantagem óbvia desta discussão prolongada: nunca um "R" foi tão útil à justiça do tempo como este. A rapaziada do "marketing", mais habituada ao "fast-food" do pensamento
SMS / notas de rodapé, não resiste a uma brisa mais demorada: o "R" que se lembrou de tirar à Revolução de Abril tem-se lido melhor do que nunca por esse País fora.
Má táctica. Ainda bem.
Outra coisa II
Eu lia a Première francesa, há muitos anos. Cheguei a interessar-me, até, pelos Cahiers du Cinema, até que um dia deparei com um parente embrulhado num exemplar do excelente pasquim, no Bolhão, e mudei de vida.
Isto para recordar à Lolita e aos cinéfilos em geral que, se bem me lembro, a Carole Laure também se atravessou... enfim... num filme-choque.
Ele há filmes-choque onde uma mulher quiser, de resto.
Outra coisa
A Lolita foi ver um filme em que se entediou bastante. Com um Gallo qualquer. Ainda se deixa tentar pelo que recomendam os cinéfilos (são uma espécie de zóofilos, percebem de animais mas são muito técnicos; pode haver um cinéfilo que descubra virtude num documentário sobre a assépsia na fábrica da Nestlé em Avanca, por exemplo...). Ela vai, no fundo, só para depois me humilhar com a minha incultura cinematográfica. "Quem é o Gallo, besugo?", "Sei lá, ó rama ó que linda rama...".
O filme, pelos vistos, chocou Cannes. Cannes, para quem não sabe, é uma cidade dada ao puritanismo. Fica ali na Riviera francesa. Águas azuis, estão a ver. E há lá bretões desalojados, "meridionalizados" mas, ainda assim, casmurros...
Cannes choca-se, ainda hoje, com um fellatio na tela.
Ó Maruschka Detmers, volta que estás perdoada.
Tu não, João César, tu fica aí às escuras, como gostas.
Semelhanças
Já quase refeito do forte trauma da noite passada (embora ainda fraquinho) deparei com a perspicácia do manolo. Tive um pico febril, mas o paracetamol é uma excelente droga para sezões europeias.
Se fosse uma mulher deveria chamar-me Maria da Assunção, tal o número de coisas que sou dado a assumir. Assumo mais esta: de facto, navego nas mesmas águas esoterico-explosivas do intelectual Omar Bakri Mohammed, que dizem ser da Al- Qaeda (e, em não o sendo, percebe-se, pelo menos que ele gosta que se diga isso).
Li a entrevista que lhe fizeram, num subúrbio londrino (pelos vistos podia ser num comboio). E impressionou-me, de facto, a similitude de chatices que ele (o Omar) e eu (o besugo) já tivemos de enfrentar.
Ele disse isto (o P. é de pergunta, foi o jornalista que perguntou; o R. é de resposta, foi o vicejante muçulmano que respondeu):
P. É verdade que dos oito detidos sob suspeita de organizarem um atentado em Londres, sete eram seus alunos?
R. É verdade. Mas lembro-me que eles nunca concordaram com o respeito pelo pacto de segurança. São "free-lancers", não pertencem à Al-Qaeda. Outros dois alunos meus também abandonaram um dia as aulas e foram-se fazer explodir na Palestina, sem me avisarem. Fiquei muito zangado.
Eu entendo perfeitamente o senhor professor Omar. Eu já dei aulas, em tempos. Se dois dos meus alunos (bastava até um, que eu sou um nervoso) me abandonassem as aulas para se irem fazer explodir, eu ainda entendia. Mas estilhaçarem-se sem me avisar previamente? E logo na Palestina? Caramba. Estavam tramados comigo: cartinha para os pais a exigir comparência no Conselho Directivo e, eventualmente, reprovação por faltas! Olarila*! Ou então, suprema condenação, provas globais no fim do ano. Era limpinho. Não havia pacto de segurança que os safasse.
*- Não, não é contigo, continua a emagrecer e a negociar submarinos.
Posta ao contrário
Nunca me tinha acontecido estar no cinema a reparar na arquitectura das paredes e nos dispositivos de som: contei quatro de cada lado. Mas por que raio tem um espectador de ficar sentado numa sala de cinema a assistir a um exercício narcisista em forma de filme realizado por um fulano com aspirações a sex-symbol intelectualizado? Nos últimos minutos do filme percebe-se, finalmente, porque é que a culpa o atormenta tanto e, sobretudo, a quem está a ver o filme. Gallo, ao mesmo tempo realizador, actor, guionista e mais uma série de funções de que agora não me lembro, faz ao longo do filme vários e demorados close-up's de cada centímetro do seu próprio esqueleto. O Gallo chora, o Gallo não fala, o Gallo tenta expressar um olhar de sofrimento mas só lhe sai um intenso olhar acanastrado. Grande parte da fita é filmada através do vidro do carro do Gallo, o que faz com que não se consiga ver bem o que se passa, ou porque o vidro está sujo ou porque está a chover. Por onde passa, vai conhecendo mulheres que beija demoradamente, para logo a seguir partir de novo, só. Cerca de uma hora e meia de
road-movie. O filme começa com uma longa e insuportavelmente ruidosa corrida de motos em New Hampshire em que o Gallo participa, perde e mete a viola no saco (ou a mota no carro, o que vai dar no mesmo) e inicia uma viagem de vários dias até à Califórnia.
Brown Bunny, o filme-choque em Cannes por causa de uma cena explícita de
fellatio, que, curiosamente, não é, afinal, aquilo que atormenta o Gallo ao longo de todo o filme. Confiando na opinião dos críticos do Público, ontem fui ao cinema.
Fanatismo - Terrorismo
Vale a pena ler com atenção o último post do besugo e a entrevista de hoje da revista do jornal "O Público" com o lider da Al-Qaeda londrina, para percebermos as semelhanças entre os dois discursos. Um cristão e outro muçulmano - infiéis um para o outro. Nada de tolerância, de diálogo, de criatividade. Apenas ódio bárbaro, ódio cego, como o que decreta fatwa's aos pobres dos árbitros portugueses, que já não toleram maus profissionais, malcriados, insurretos, que trabalham (deus me perdoe) toda a semana, para brindar o português pagante com as poucas vergonhas que conhecemos. Tal como o imã, o pensamento do besugo transpira intolerância. Foi assim com gente como o besugo, que puderam existir Hitler, Estaline, Milosevic, Mobutu, Mugabe, Jorge N Pinto da Costa e outros afins. Só espero, ao contrário do que disse o imã, que o nosso besugo não se suicide. Nós e os doentes precisamos dele. Muito !
A fúria do besugo
Nem sei o que diga: o besugo expôs aqui hoje a sua faceta hooligan em toda a sua dimensão mais vernaculosa. Deve ter alguma razão, porque até o Gabriel Alves* disse mal do árbitro, que eu ouvi. O lado positivo deste infortúnio é o de que, pela primeira vez, o Fernando Santos - sem chegar, nem de longe, à instintiva frontalidade besugal - mostrou, curiosamente, mais do que as costumeiras e sensaboronas reacções conciliadoras, expressadas em voz arrastada, de quem gostava de ganhar, mas "com licença, se isso não for incómodo para os senhores" porque se perder "isto é uma vida e o destino marca a hora, nós tentámos, mas não conseguimos, portanto está tudo bem". Qual quê! Está mal!
O besugo tem um azar do caraças. Tem azar pelo facínora do árbitro, tem azar pelo treinador pasteloso, tem azar pela equipa sem carisma, tem azar pelo clube de meninos-bem que apoia, incapazes de sujar os parentes e as lacostes na lama. O besugo é um sportinguista passionario, inconformado. Está para o Sporting como o País Basco para o resto de Espanha. O besugo, na verdade, nasceu portista, embora não tenha consciência disso.
A blogosfera, entretanto, já reagiu. O
Francisco gostou, o
Ma-Schamba afirma sentir-se reconfortado, o
PMF fez troça e a
Tia Lólita apresentou queixa. Da minha parte, e como soube há pouco que o Benfica se aproxima a passos largos do Sporting e que se aproxima o jogo entre ambos, expresso desde já o meu desejo de que o segundo lugar não venha a ser discutido. Tudo no seu devido lugar: o FCP indiscutivelmente em primeiro, o SCP esforçadamente em segundo e o SLB, enfim, mais abaixo.
*O Gabriel Alves é sportinguista? Aposto que sim.
Brahms e quero que morram
Eu gostava - e assumo isso com toda a sinceridade - que um grande míssil, de preferência disparado por mim - e também assumo isto, forneço o meu nome verdadeiro, morada e outros dados pessoais à brigada dos "correctos costumes" - acertasse nos cornos do árbitro com cara de paneleiro que parece dar pelo nome de Bruno Paixão e o partisse em vários pedacinhos de cor azul, vermelhusca ou axadrezada. Era da cor que ele quisesse. Era da cor da vergonha.
Parabéns FCP, que pelos vistos ninguém pode ameaçar o teu poderio de "cotovelos".
O Porto é bom e joga bem. Mas não perdeu, nem sequer empatou, nenhum jogo em que fosse roubado. E nós fomos. Hoje, outra vez. Duma forma despudorada. Por esse boi chamado Paixão, que tem dívidas eternas a pagar, o cara de cu. Com ele (com o cu, isso mesmo!) as pagasse, nas vielas do futebol, em vez de andar aí a meter-me nojo na televisão pública.
O Benfica tem o país por detrás. É um clube sociologicamente paneleiro, é gente a mais por trás de um clube que, ainda por cima, joga sempre em casa (estão sempre em maioria e, mesmo assim, têm dificuldades na "erecção" do título). Têm imensa tradição, como tradição tem a mutilação genital feminina em certos países, o matar toiros em Barrancos (terra dum dos tipos com mais ar de paneleiro que há, o inefável e galinhento Zé Maria do BB), ou o cortar da
mão que rouba nos países árabes mais panascas, ou mesmo o injectar cloreto de potássio "em bolus" nas veias dum condenado, em certas
civilizações de gravata.
Vasco Graça Moura que me desculpe, ele defendeu a pena de morte em certos casos, eu defendo que, em certos casos, ou seja HOJE, o míssil que acertaria, se eu pudesse, em Bruno Paixão, acertaria também em Vasco Graça Moura (desculpe, você traduz excelentemente, tem esse dom), no maestro Graça Moura, no Loureiro filho (gordo e feio, como o
beiças de braseira do pai dele), no Mourinho, pela sua presunção de "ter tudo previsto porque é sagaz" e a gente perceber que "está mesmo tudo previsto mas é por outros motivos", no Miguel Sousa Tavares (se resolver vir aí com análises de merda baseadas num clubismo igual ao meu mas, porque agora estou eu a escrever, as dele são muito bacocas), na Leonor Pinhão (esta, bastaria o facto de ter casado com um
laracho para eu ficar doente!) e no raio que parta esta merda, que eu hoje estou doente.
No Pinto da Costa não, que está muito velhinho. Nem no Vieira, que é bacoco. Nem no Dias da Cunha, por ambos os motivos.
Trabalhei 70 horas esta semana para isto, para ser roubado, sem possibilidade de retaliação imediata, por esta SAMPICDFPUPFOGEMS? Sociedade Anónima Mas Perfeitamente Identificada Composta De Filhos Da Puta Unidos Para Foder o Grande e Magnífico Sporting, exactamente o que estavam a pensar, não era?
Tudo para o caraças e considerem isto um interlúdio musical.
Graças a Deus ...
Finalmente o meu slb assinou em Braga um autêntico festival de bom futebol, daqueles que os miúdos rotulam "á benfica". Depois de tanta gente dar porrada nos nossos rapazes, a bt a perseguir bêbados inocentes (Zlatko...), apetece dizer como aquele jogador do Vitória de Setúbal. " Queriam fazer de nós bodes respiratórios !". Força benfica - o segundo lugar está á vista.
AVEIRO - BLOQUEIO
Talvez a nossa compañera lolita nos dê alguma luz sobre o que se passou em Aveiro. Se puder, claro. Liguei a TV e vi um garboso capitão da GNR dizer (várias vezes) que a "situação" estava controlada, e que "fizemos bem sim senhor, agimos com bom senso, a situação foi resolvida com bom senso e ponderação". Não percebi o que se passou antes. Apreciei a linguagem prática, muito comum nas F Armadas, e o repetido auto-elogio. Vi máquinas - retroescavadoras (faz-me lembrar jogador Paulo Bento do scp, descrito nos seus tempos áureus pelo impagável Gabriel Alves), e não entendi. Se calhar não foi nada de mais...
O desbloqueio
Hoje atiraram-me à cara que há muito poucos adeptos do Porto, se comparados com o número de adeptos do Benfica ou, até, do Sporting. Fiz, então, notar ao meu interlocutor a evidência de que cada adepto do Porto vale bem uns vinte benfiquistas e a de que, se se tratar de sportinguistas, a proporção aumenta vertiginosamente. Admito excepções; mas exijo que as demonstrem, que eu hoje estou como o São Tomé. Outro tratamento deverá, contudo, ser dado às questões da fé e eu até dou um exemplo: eu tenho a certeza absoluta que, numa das construtoras que organizaram o bloqueio em Aveiro há-de haver poucos mas orgulhosos portistas que souberam encontrar formas de consenso bastantes para que o Beira-Mar seja, no Domingo, novamente atingido pela maldição do Taveira.
Ai o caraças
Espero que o manolo tenha vindo aí partilhar connosco o Eugénio de Andrade por ser um poema muito bonito (e muito bem musicado, já agora). Que não nos tenha vindo dizer adeus porque se fartou.
Que fique claro, e estou a falar mais a sério do que nunca, que quando me referi, lá em baixo, a "alguns médicos, que preferem fazer estatísticas da sua pequena técnica mediática e monetariamente compensadora , a pensar-se, sequer" me referia à escassa ou abundante gente que, na nossa profissão, é exactamente o contrário do manolo.
Que fique bem claro, por ser verdade e justo.
PMC
São 23h. Chamam-me com "muita urgência" á sala de observações. Doente de 80 anos, sem reserva funcional de órgãos, dependente, qualidade de vida quase inexitente, insuficiências de orgãos (cardíaca - pace, encefalopatia vascular, renal crónica sob hemodiálise, etc, etc...). Quadro de ventre agudo com indicação cirúrgica. Agónica, sem qualquer condição anestésica, prognóstico fatal. Querem saber a minha opinião se "é para investir ou não"... Argumento que a decisão é do médico assistente (o cirurgião) e que a minha competência é decidir pela vida, não para decidir quem morre. Falo em qualidade e dignidade na morte que se deve proporcionar á doente, aliviar-lhe o sofrimento, poder ter a família junto a si nestes últimos momentos, com alguma intimidade (mesmo entre cortinas...). Algum tempo depois percebo que se sentem aliviados. Só queriam uma opinião, atenuar angústias...Não percebem o mal que me fazem... E estou nestes PMC's desde o dia 15 ás 8 h! Apetece-me ler poesia...
Balança
No prato da balança um verso basta
para pesar no outro a minha vida.
Eugénio de Andrade
Estes bloqueios modernaços...
Acho mal. Soube que "desbloquearam o bloqueio" apenas para permitirem que o Beira-Mar receba o Porto no estádio novo de Aveiro. Ora, é sabido que, naquele estádio, o Beira-Mar não ganha a ninguém. Donde se depreende que tudo isto não passa duma manobra de diversão, que nada tem a ver com as acessibilidades ao campo novo dos "rãs": é apenas para melhorar as acessibilidades do Porto ... ao título!
AFECTOS
Permitam-me o previlégio de partilhar convosco este poema:
Adeus
Já gastámos as palavras pela rua, meu amor,
e o que nos ficou não chega
para afastar o frio de quatro paredes.
Gastámos tudo menos o silêncio.
Gastámos os olhos com o sal das lágrimas,
gastámos as mãos à força de as apertarmos,
gastámos o relógio e as pedras das esquinas
em esperas inúteis.
Meto as mãos nas algibeiras e não encontro nada.
Antigamente tínhamos tanto para dar um ao outro;
era como se todas as coisas fossem minhas:
quanto mais te dava mais tinha para te dar.
Às vezes tu dizias: os teus olhos são peixes verdes.
E eu acreditava.
Acreditava,
porque ao teu lado
todas as coisas eram possíveis.
Mas isso era no tempo dos segredos,
era no tempo em que o teu corpo era um aquário,
era no tempo em que os meus olhos
eram realmente peixes verdes.
Hoje são apenas os meus olhos.
É pouco mas é verdade,
uns olhos como todos os outros.
Já gastámos as palavras.
Quando agora digo: meu amor,
já não se passa absolutamente nada.
E no entanto, antes das palavras gastas,
tenho a certeza
de que todas as coisas estremeciam
só de murmurar o teu nome
no silêncio do meu coração.
Não temos já nada para dar.
Dentro de ti
não há nada que me peça água.
O passado é inútil como um trapo.
E já te disse: as palavras estão gastas.
Adeus.
Eugénio de Andrade
O bloqueio
Estive a ler esta
notícia, a ver se me inteirava sobre o tema em questão. Fiquei a saber:
- Que houve, em Aveiro, um bloqueio de vias de circulação abertas ao tráfego;
- Que esse bloqueio foi organizado por duas construtoras;
- Que quem lhes deve dinheiro é o IEP;
- Que a Câmara de Aveiro não percebe a posição das construtoras, porque elas já tinham conhecimento dos atrasos;
- Que o Ministro Beatle (sic., Paco) desdramatizou o problema e garante que o problema vai ser prontamente resolvido e a tempo da realização do Euro 2004;
- Que a Câmara acedeu em retomar o diálogo na próxima segunda-feira.
Julgo que a única parte da notícia que é, notoriamente, exagerada é a que refere o valor da dívida às construtoras: sete milhões e quinhentos mil euros. Ninguém acredita...
Páscoas
Hoje não vi televisão, nem ouvi notícias. Estive de urgência, mais uma vez.
"Mais uma vez? Mas tu, agora, quase nunca fazes 24 horas!". Pois não. Bastam 12 horas a
dar-lhe seriamente, tentando desesperadamente que não nos escape nada (regra elementar para que, no fundo, só nos escape aquilo que não fomos capazes de equacionar no nosso desespero de conciliar perfeições e fadiga), para nos desgastarmos profundamente.
Ninguém tem de entender isto. Não se macem, que eu não estou para me maçar também.
Eu só vim aqui dizer que estive, mais uma vez, a fazer urgência numa área desenhada (teoricamente) para doentes agudos, paradoxalmente atulhada de doentes
crónicos agudizados. Ali, empilhados em macas, borrando-se em frente uns dos outros, os velhos de 80 anos transformam-se num problema "de vagas", de "falta de camas", "de cheiros" ... transformam-se num problema. Os velhos funcionam mal. Funcionam como velhos. Têm dores, faltas-de-ar, faltas-de-dinheiro, faltas-de-filhos. Falta de tudo. Um crónico agudizado é um velho com falta de tudo, no seu trajecto recorrente entre o domicílio e o destino, que pode ser novamente o domicílio ou a (um dia) inevitável campa. O que se nos pede é que vençamos o cansaço e, para evitar dissabores maiores, que evitemos que lhes saia "campa" no nosso dia de martírio de "estar ali".
Há quem fale, no gozo, de PMC ("problemas muito complicados") como se falasse de "PMC" (Parece Mesmo Carnaval). Mas não é Carnaval nenhum. As urgências hospitalares, os
hospitais quase inteiros , na sua área médica, são, cada vez mais, um depósito de cadáveres adiados. Que nós, internistas, vamos adiando o melhor que podemos para que não nos culpem, um dia, pela antecipação do inevitável. O resto é TVI, é ignorância parva de jornalistas e doutros parasitas da vida e da morte. Como alguns médicos, que preferem fazer estatísticas da sua
pequena técnica mediática e monetariamente compensadora , a pensar-se, sequer.
Amanhã lá estarei outra vez. Ha sábados de Abril que parecem Páscoas adiadas.
A prova
Lê-se, no texto abaixo (também) sobre o Propofol, o seguinte:
Every person, both male and female, had a certain degree of knowledge about medicine, magic, and withcraft, but the shamans had familiar spirits, and their duties involved rainmaking, divination, curing, and ceremonial leadership.
Hesitei entre epítetar (belíssima palavra!) este poste como "ciências acessíveis" ou "curandices afins". Afinal, optei por lhe dar um título neutro, embora normativo...
Guaranis, hostages and propofol.
Society-GUARANI
At the time of the first European contacts in the early sixteenth
century, the Guarani occupied vast areas of southern Brazil, the neighboring
territories of Uruguay and Argentina, and land lying to the east of
the Paraguay River in the modern state of Paraguay. The area occupied
ranged from lat. 26 degrees-33 degrees S by long. 48 degrees-52 degrees
W.
The term Guarani has been used in a number of different ways, and
this has led to confusion concerning the identification of the Guarani.
According to Watson (1952: 18-19), the term Guarani has been used
in at least three different ways. First, it has been used to refer
to a language spoken by a rather large group of people who inhabited
the area first colonized by the Spanish. In a second and related sense,
the term has been used to designate a generalized cultural pattern
characteristic of the Indians who spoke the Guarani language.
The term Guarani is often found in the compound expression Tupi-Guarani,
which is also used in the two senses discussed above. The Tupi inhabited
the area north of the Guarani in Brazil and were first encountered
by Portuguese explorers and colonists. Watson seriously doubts that
there ever were any significant differences, linguistically or culturally,
between the Tupi and the Guarani. The terminological distinction is
merely indicative of the presence of two different European colonial
administrations.
The third sense in which the term Guarani has been used is to differentiate
acculturated from non-acculturated Indians. The missionized Indians
became known as Guarani, while those who avoided conversion became
known as Cayua or Caingua, a name which roughly translates as "men
of the forest." The Cayua are also speakers of the Guarani language.
In the sense that Guarani signifies a vaguely-defined group of acculturated
Indians (including Mestizos), the entire rural population of Paraguay
is often referred to as Guarani (Metraux 1948: 69).
There are several other factors that contribute to the confusion in
nomenclature and classification. Although the Guarani-speakers all
shared a generalized cultural pattern, they were divided into many
small local groups or bands. These bands were often named for their
chiefs or for the localities they inhabited. Hence, over the 400 years
in which people have been writing about the Guarani, many names have
been used either as alternatives to Guarani or to indicate subgroups,
with their exact status and relationship to each other unclear. Anthropologists
and others who have studied the Guarani have each studied slightly
different groups inhabiting slightly different territories. Each of
these writers has constructed his or her own model of who the Guarani
are and how they are subdivided.
In this description, the example set by Metraux and Watson will be
followed, i.e, using the term "Cayua" to refer to the Guarani who
were not missionized and who have been subject to a minimal amount
of acculturation. At the present time, these Cayua live in small reservations
or villages under government supervision and protection in isolated
areas of southern Brazil and Paraguay. Population figures are extremely
difficult to find for the Guarani, and they are usually in the form
of rough estimates. The estimate of the Brazilian Cayua population
as of 1943 was between 2,000 and 4,000 individuals.
Aboriginally, subsistence was based on slash-and-burn agriculture.
The principal crops were manioc, maize, sweet potatoes, beans, squash,
peanuts, cara (Dioscorea sp.), mangara (Aroidea sp.), mbakuku (a leguminosea),
watermelons, bananas, pineapples, and papaya. This diet was supplemented
by hunting, limited fishing, and gathering. Men did the hunting and
fishing and were responsible for the initial clearing activities in
agriculture. The actual cultivation was left to the women.
The most important economic unit was the extended family. This group
owned the agricultural fields and worked them communally. The extended
family was also the most important residential and social unit. They
lived in a longhouse known as a tapui. Tapui were often located at
some distance from each other, which gave some early chroniclers the
impression that each tapui was a separate "tribe." Territorial organization
beyond the tapui is unclear. According to Watson, each tapui was ruled
by an old man, and the extended family was probably patrilineal and
patrilocal (1952: 33). Schaden, however, points out that the bilateral
kindred was also important, and that the Cayua also practiced matrilocality
(1962: 94, 137).
Although the identity and the responsibilities of the headman are
uncertain, it seems clear that the shaman exercised a great deal of
supernatural and secular influence. Every person, both male and female,
had a certain degree of knowledge about medicine, magic, and withcraft,
but the shamans had familiar spirits, and their duties involved rainmaking,
divination, curing, and ceremonial leadership. The secular power and
importance of the shamans may have increased after White contact,
particularly in response to the intense missionary activity conducted
by the Jesuits. During the nineteenth century, there were numerous
revivalistic and messianic movements instigated and led by shamans.
Although the Cayua are relatively unacculturated, there have been
important changes in their way of life. The most significant of these
have been in technology, economic sex roles, and the shift of emphasis
to the nuclear family. The tapui has almost entirely disappeared,
and nuclear families now live in single-family dwellings. However,
related families still tend to locate their dwellings near each other,
approximating what would have been a tapui group in former times.
The Cayua continue to subsist by agriculture, hunting, and fishing.
In recent times, however, hunting and fishing have decreased in importance,
and men have become much more active in agriculture. Both men and
women are now described as being primarily agriculturalists. Changa,
a kind of wage labor in exchange for White trade goods, is practiced
by a few Cayua.
Politically, the Cayua are now under the administration of the government,
and village officials are appointed by the administrators in charge
of the area.
The basic orienting source to the culture is Metraux (1948), which
is a general cultural summary based on a wide range of secondary source
material, including many early historical documents. It portrays what
may be characterized as the mythical, pure, traditional Guarani, who
exist in the timeless ethnographic present.
The spatial focus here is on the Cayua of southern Brazil. Although
field dates range from 1943 to 1962, large amounts of material have
been derived from secondary sources, covering a 400-year time span.
The guarani health care is a very important issue. Blunt trauma is the leading cause of diasability among guarani population. Cayua central hospital is the most important clinical center in brasilian surgical critical care. The use of anaesthesic agents in guarani population are limited, with propofol lipuro the most wide used substance. No fatal events were reported, even with two patients (hostages in tribal fight) submited to damage controle surgery after open abdominal trauma. They recovered with no disability.
Culture summary by Marlene M. Martin, John M. Beierle and Manolo Carmelito.