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26.4.04

Desassombros

A geração dos 30 anos não existia, sequer, como geração, sabe? Você gosta de tudo ao correr do pelo, deve detestar furúnculos. Eu também, mas eles existem, a cada passo se lancetam. É a vida.

Que coisa você me deu a ler, agora pela noite! Ia tudo muito bem até 7/8 do texto, você não gostou da Revolução de Abril nem do PREC, pronto, a gente percebe e cala-se, respeita. Pode-se não gostar e dizer que não se gosta, pronto.

Agora, quando você começa a fazer futurologia pregressa , tentando provar (sem provas) que a Revolução não era necessária porque havia a geração de 30 anos, francamente! Isso nunca existiu senão depois de Abril, meu caro. Depois de Abril, luminoso Abril, mesmo com os excessos do PREC, até imaginar que teria sido possível haver luz doutra maneira lhe é permitido. Mas é só imaginação, não é mais nada.

Eu afirmo que essa geração iria ser estéril como as outras, as anteriores: incapaz de abolir um regime (que você mesmo afirma que estava podre ao ponto de não conseguir disparar um tiro) se não houvesse Abril a libertar-lhe o intelecto brilhante, é certo, mas preso pela cobardia do corpinho mole, esse corpinho que limita os pensadores medrosos de porrada.

Ainda por cima você, no seu discurso corrido de "podia ser bem melhor doutra maneira", esqueceu-se de alguns inúteis: Mário Soares, Álvaro Cunhal, Salgueiro Maia, tantos outros, misturados na História e no meu itálico, que foram dando o corpo ao manifesto para que a sua geração de 30 anos pudesse, agora, lá porque você quer, passar por "inequivocamente boa".

Nunca saberemos se seria, mas provavelmente não. Quase de certeza. Não tinham ombros para tanto, os que você aí disse. Digo-lho eu, com o mesmo desassombro.

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