blog caliente.

20.4.04

Lemas

Não , não é "lesmas", é lemas memo ... quer dizer ... mesmo!

1 - "Força Portugal"

Pois ... que é que eu hei-de dizer sobre isto ... não é um "soundbyte", nem um lema feliz, nada diz sobre coisa nenhuma, é um aproveitamento do Euro ... o PS acha mal, o Tribunal Constiticional acha bem e o povo ... está-se nas tintas.

Entretanto, o PSD e o PP parece que comemoram retumbantemente a "primeira derrota do Sousa Franco" ... e o povo ... está-se nas tintas.

Assim é a política. Não a política à portuguesa, porque lá fora é igual. Deve ser da famosa "evolução".


2 - A "(r)evolução".

A ver se me lembro de, nas férias, ir buscar ao sotão ou à estante velhinha da casa paterna um livrinho que lá está, muito nacionalista, feito em 1940, a propósito da "Exposição do Mundo Português" (hoje seria a "EXPO'40", subordinada ao lema "Força Império Português!").

Nesse livro o pujante regime de então fazia o balanço da "evolução" da pátria desde os tempos em que o Gomes da Costa pôs fim à malandragem da 1ª República. Era impressionante, quer na educação, quer na saúde, quer na acção social do Estado ... de 1926 a 1940, e acreditando no que nesse livro vem escrito, o País evoluiu a passo de gigante.

António Ferro, se tivesse nascido 60 anos depois, seria sem dúvida ministro do PSD ... ou do PS, quiçá.

3 - "Apito de ouro".

A nossa PJ está moderna. Anda à caça de porcarias na arbitragem e chama "apito de ouro" à operação.

Salvo erro foi na Segunda Guerra Mundial que se começaram a dar nomes sugestivos às operações e batalhas mais significativas (no teatro europeu. No Pacífico, o MacArthur era um quadrado, só teve batalhas chamadas Iwo Jima, Guadalcanal e outras assim, que se vê logo onde foram).

Mas é que antes era sempre assim ... uma seca, a batalha de Waterloo tinha sido em Waterloo, Verdun em Verdun e por aí fora ...

Mas "Barbarossa", "OverLord", "Torch" ou, mais recentemente "Desert Storm", têm de facto outro encanto.

Daqui sugiro à PJ que dê às suas próximas investigações nomes como:

- "Barba de petróleo" - na busca de terroristas islâmicos
- "Rico Tijolo" - na investigação ao mundo dos empreiteiros de obras públicas
- "Luvas de prata" - idem, no mundo dos autarcas
- "pipeta de marca" - idem, no tenebroso mundo das farmácias, laboratórios e propagandistas médicos.
- "Paracetamol de farinha" - idem, no mundo dos genéricos marados.

São só sugestões ...

4 - "Camisa negra" (momento cultural - ou seja, a costumeira alfinetada no peixe deste aquário)

Li aí para baixo uma daquelas verborreias paternalistas de que este blog é fértil, dirigida em particular a um tal de camisa negra que comentou um "decálogo" de um tal de CAA. Eu sei que os links estão lá, mas como eu sou muito preguiçoso e não me dou ao trabalho de ler outros blogs que não este (e um outro que tb é muito levezinho de abrir, e que é de um velho conhecido virtual), não li as peças comentadas.

Não pude no entanto deixar de apreciar o tom comiserativo com que o nosso "doc" se refere à direita das "camisas negras". Como quer ser simpático até deixa no ar a ideia que o homem nem será bem um camisa negra, e que aquilo é coisa que lhe há-de passar.

Pelo meio diz que os liberais o irritam, que ouve Brahms para se acalmar e tece considerações sobre a igualdade de direitos e deveres como fundamento do direito pela diferença.

Ora bem, eu não tenho nada de camisa negra, nem muito menos castanha, mas como fui - e ainda sou - muitas vezes apelidado de "extrema-direita", gostava de dizer, sem obediência a decálogos (tirando os dez mandamentos, mas isso é outra conversa), que acho que a conversa da igualdade de direitos e deveres é muito bonita mas não permite perceber a verdadeira diferença entre o que pensa a esquerda e o que pensa a direita.

Isto porque, em teoria, tal igualdade é invocada por todos. E por isso a diferença está na aplicação prática.

Isto, ditaduras à parte (tiremos portanto deste filme o Pinochet e o Fidel, mais o Stalin e o Hitler), porque nessas o "bem superior do povo" ou "o bem superior da pátria" não são mais do que chavões que permitem prender, torturar e matar pessoas pelas ideias que têm ou simplesmente porque são um estorvo ao poder e à respectiva clientela (ou "nomenklatura", como se quiser).

E, na aplicação prática em democracia, quer a direita (pelo menos aquela em que me reconheço) quer a esquerda conferem, sem limites, direitos políticos a cada indivíduo.

Onde está então a diferença? Entre muitas outras coisas, nos direitos sociais. A direita desconfia em teoria do Estado assistencial, tem a percepção difusa de que "a necessidade aguça o engenho" e acha justo o princípio de que "quem não trabuca não manduca". Daí que, no plano social, a direita é muito menos "generosa" do que a esquerda. E mais defensora do capitalismo como sistema económico que permite a produção de riqueza e a sua distribuição pela sociedade (de acordo com o princípio de "a cada um um segundo a sua capacidade").

É claro que a direita já não defende o capitalismo do séc. XIX (ou puro, se se quiser), porque dos limites deste sistema e dos vícios inerentes ao seu funcionamento já tudo (ou quase) se sabe. Daí que a direita hoje defenda hoje a existência de um sistema assistencial. Mas sempre mínimo.

Já a esquerda é mais compassiva, e acha que, por definição, para além de sermos iguais em direitos e deveres, devemos também ser iguais em nível de vida. E como não somos, o Estado que assegure que passemos a ser.

É claro que este princípio levado ao extremo significa o Estado socialista. Só que isso também teve historicamente resultados desastrosos. E, confrontando as experiências socialistas com as experiências capitalistas, a verdade é que se verificou que pobres eram os socialistas. Eram todos (tirando a dita "nomenklatura"), mas não era por serem todos iguais que deixavam de ser todos pobres.

Assim a esquerda lá teve que aceitar, contrafeita, que o capitalismo era indispensável à criação de riqueza. Tem com este sistema económico uma relação sempre difícil. Atura-o, com a noção amarga de que não consegue fazer melhor, mas não gosta manifestamente dele. E limita-o o mais que pode.

Nesta tensão vivem as sociedades democráticas de hoje. Entre uma direita que passou a aceitar o papel "providencial" e corrector do Estado, e uma esquerda que teve que se conformar ao capitalismo como meio de cobrar impostos para realizar um simulacro de sociedade igualitária.

No séc. XX tentaram-se outras vias ainda. Delas, talvez o "corporativismo" português e o fascismo italiano sejam das mais interessantes. Mas num plano puramente teórico. Na prática, o fascismo italiano acabou por ser marcado pela brutalidade dos "camisas negras" (nada de especial na europa central dos anos 20/30, mas nada que ver connosco) e pela megalomania do "Duce" que o fez embarcar na aventura do "Eixo". E o corporativismo português, embora conduzido de forma bastante mais sensata e prudente, revelou os limites de qualquer regime a que falta a liberdade política e económica: ficou para trás das democracias no plano económico; foi incapaz de se renovar no plano político.

É claro que as diferenças entre direita e esquerda não se resumem ao papel assistencial do Estado e à forma como ambas lidam com o capitalismo. É visível que há uma "mundivisão" diferente nos dois lados, com reflexos nos conceitos de família, de sociedade, de escola, de costumes (sendo que nesta parte a direita é feita de famílias muito diferentes, desde os liberais aos conservadores), na forma como encaram a criminalidade, ou nos conceitos de Europa, e na prática das relações internacionais. Mas isso são contas de outros rosários e eu já escrevi demais.

E pronto, eu sei que ninguém vai ler isto, e nem recomendo que o façam, porque deve estar cheio de erros e de frases truncadas, compridas demais ou simplesmente incompreensíveis. Como já disse, ando preguiçoso, e não estou com pachorra para verificar o que escrevi.



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